
“M�scaras est�o caindo.” “Aulas em voltas.” “Apoie um artista dando beijo na boca.” “Libertas el culo tambi�n.” Tais mensagens, que permitem mais de uma interpreta��o, est�o impressas em quatro faixas. Integram a instala��o “Dar bandeira”, criada pelo coletivo Uma Quest�o de Joyces para inaugurar o Projeto Vitrine, da galeria Perisc�pio.
Na Rua Tenente Brito Melo, no Barro Preto, em frente � Sala Minas Gerais, essas provoca��es est�o � vista dos passantes, j� que a vitrine (com 10 metros quadrados) � literal. Levando a galeria para a rua, a Perisc�pio pretende chegar a outro p�blico, n�o necessariamente aquele que frequenta o meio da arte contempor�nea.
“O importante � comunicar para al�m dos nossos grupos sociais, perceber que n�o estamos falando s� com os que concordam com a gente. No final, todos lutamos pelos mesmos direitos, por uma vida melhor”, afirma Rafael RG, que criou a instala��o com Andr� Victor e Lygia Pe�anha.
No �ltimo s�bado (29/05), o trio do Uma Quest�o de Joyces saiu com a faixa “M�scaras est�o caindo” para a manifesta��o “Fora Bolsonaro: O povo nas ruas pela vida”. Os artistas foram at� a Pra�a Sete e uma live, transmitida na conta do Instagram da Perisc�pio, chamou a aten��o, ganhando coment�rios de apoiadores e detratores. “A discuss�o acaba sendo positiva, pois um p�blico que n�o viu a instala��o (na galeria) tamb�m foi atingido pelo trabalho”, comenta Rafael.

PRA�A SETE
A instala��o ficar� na vitrine da galeria por cerca de tr�s meses. Ganhar�, inclusive, novos trabalhos, com imagens do protesto da semana passada. E outros registros de manifesta��es dos anos 1960 e 1970, tamb�m na Pra�a Sete – em formato de lambe-lambe, ser�o instalados na pr�xima semana. “Isto vai revelar como o lugar est� presente na hist�ria das manifesta��es de Belo Horizonte”, diz Rafael.
A inaugura��o do Projeto Vitrine abre novo flanco para a Perisc�pio. A despeito das dificuldades decorrentes da pandemia, a galeria vem aumentando seu poder de atua��o, no �ltimo ano. Fundada em 2015 por tr�s s�cios – Rodrigo Mitre, Altivo Duarte e Alexandre Romanini – em uma casa tombada em Lourdes, no final de 2020 mudou-se para o novo endere�o, uma loja com 200 metros quadrados.
“(O antigo endere�o) Era uma casa dos anos 1920 e, como t�nhamos que lidar com patrim�nio, n�o consegu�amos fazer a��es na rua e na fachada. Tamb�m quer�amos baixar custos e criar novas formas de acesso para o p�blico”, diz Mitre. A proximidade com a Sala Minas Gerais foi determinante para a mudan�a. “Quando a programa��o voltar, temos a inten��o de fazer uma a��o conjunta com a (Orquestra) Filarm�nica, como abrir exposi��o em dia de concerto”, diz.
Juntamente com o Projeto Vitrine, a Perisc�pio abriu uma nova exposi��o. Em cartaz at� o fim deste m�s, a mostra “Brechas” � a primeira individual do artista paulistano Caio Carpinelli. Com curadoria de Marina C�mara, a exposi��o re�ne 18 pinturas e quatro desenhos produzidos de 2016 at� 2021. “Enquanto v�rios artistas jovens pensam na figura��o, o Caio, corajosamente, traz um trabalho que remete � pintura cl�ssica, mas com um olhar contempor�neo, do dia a dia”, diz Mitre.
Ex-assistente dos artistas mineiros Paulo Nazareth e Solange Pessoa, Carpinelli apresenta em “Brechas” pinturas em papel, madeira, linho, algod�o. “A parte da produ��o mais recente j� remete � paisagem da pandemia, quando, de dentro de casa, ele pintou vis�es de pr�dios, do c�u. Tanto que a fase azul dele vem desta �poca”, acrescenta Mitre.
No per�odo inicial da pandemia, a Perisc�pio, como todas as galerias de arte, teve suas a��es voltadas para o ambiente virtual. Participou, por exemplo, do projeto Partilha, que uniu 17 pequenas galerias de seis capitais para uma venda conjunta, com obras negociadas em condi��es especiais.
O lema de uni�o faz a for�a acabou gerando uma nova empreitada da galeria. A partir de encontros virtuais com outras quatro galerias – Kubik, no Porto, em Portugal; Cavalo, no Rio de Janeiro; Casanova e o espa�o de projetos 55SP, ambos de S�o Paulo – foi criada a plataforma Cama. Para al�m do espa�o virtual, que prev� a��es colaborativas, o projeto tamb�m ganhou um espa�o f�sico.

COLETIVO
Localizado no Jardim Paulista, em S�o Paulo, o espa�o Cama foi criado em uma das casas de uma vila na Alameda Lorena projetada em 1938 pelo artista e arquiteto Fl�vio de Carvalho (1899-1973), nome referencial da gera��o modernista. “A gente j� vinha se falando desde 2019 para entender o que � o mercado de arte hoje, como subverter as feiras. Ent�o criamos esse espa�o coletivo. A partir do momento que comecei a ir mais a S�o Paulo, vi como o ritmo de l� � diferente do daqui”, conta Mitre.
A casa, alugada pelos pr�ximos dois anos, tem dois andares. A parte de baixo � dedicada a exposi��es (cada temporada fica a cargo de uma das galerias do coletivo); a parte de cima � voltada a projetos. Em maio, a Perisc�pio abriu no Cama a exposi��o “Megazord codinome Esperan�a”, do artista Randolpho Lamonier, de Contagem.
Lamonier, que retornou ao Brasil em janeiro passado, ap�s um ano de resid�ncia art�stica na Cit� Internationale des Arts, em Paris, apresenta na exposi��o uma leitura �cida e colorida do mundo atual. Trabalhando com materiais t�xteis, pl�sticos e objetos coletados no ambiente urbano, o artista criou obras de dimens�es diversas, que j� no pr�prio t�tulo s�o pura ironia. “TV fake news”, “Panela�o” e “O revolucion�rio ex�rcito dos memes” s�o alguns deles.
A mostra de Lamonier fica em cartaz at� o pr�ximo s�bado (12/06). “O Cama � um projeto que realmente est� dando certo. Trabalhando coletivamente, os custos s�o menores. E n�o dividimos apenas os custos, mas tamb�m trabalhos, clientes, funcion�rios. Para as galerias jovens, � poss�vel fazer desta maneira para ter um espa�o em outra pra�a”, afirma Mitre.

GALERIA PERISC�PIO
Rua Tenente Brito Melo, 1.217, Barro Preto. Visita��o: de ter�a � sexta, das 10h �s 19h; s�bados, das 10h �s 16h.