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Estado de Minas LIVRO

Itamar Vieria Junior: 'A literatura n�o tem lado, fala da condi��o humana'

Autor do best seller 'Torto arado'9 lan�a nesta ter�a (08/06) a colet�nea de contos 'Doramar ou a Odisseia' e diz que tem "imensa f� no poder da literatura"


07/06/2021 04:00 - atualizado 06/06/2021 23:10
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Geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA, o escritor baiano Itamar Vieira Junior concilia a literatura com o cargo de servidor do Incra
Ge�grafo e doutor em estudos �tnicos e africanos pela UFBA, o escritor baiano Itamar Vieira Junior concilia a literatura com o cargo de servidor do Incra (foto: Adenor Gondim/Divulga��o )

Quem sabe um dia o autor se torne mais conhecido do que o livro”, comenta Itamar Vieira Junior, falando de si e de sua principal obra at� aqui, o romance “Torto arado”. “A refer�ncia t�o forte me incomodaria se eu fosse vaidoso, pois teria ci�me de minha pr�pria cria��o.” Mas n�o. Neste momento, o escritor baiano de 41 anos n�o pode nem quer entrar numa briga com o fen�meno editorial. 

A partir desta ter�a-feira (08/06), um novo t�tulo dele chega �s livrarias. “Doramar ou a Odisseia” (Todavia) � uma colet�nea de 12 contos de Vieira Junior. Sete deles haviam sido editados em “A ora��o do carrasco” (2017), volume cuja tiragem �nica de 700 exemplares da pequena editora Mondrongo estava h� muito esgotada. Os cinco restantes foram escritos depois de “Torto arado”. Dois deles, “O que queima” e “Voltar”, s�o totalmente in�ditos. 

“Doramar ou a Odisseia” � dedicado �s mulheres. “Maternas, ancestrais, que se fizeram movimento em meu caminho”, escreve o autor. Por meio das irm�s Bibiana e Belon�sia, as protagonistas de “Torto arado”, Vieira Junior tornou-se voz dos que n�o t�m voz. 

"O que percebo do tempo da pandemia � que n�o foi um tempo prop�cio para a cria��o. � um tempo adverso, de um evento novo, em que voc� gasta energia para ler tudo o que est� acontecendo com o mundo. E tamb�m n�o deixa de sofrer com todos que adoecem. E n�o � s� a pandemia, mas o momento pol�tico do pa�s. Estar � deriva � algo que me impacta"

Itamar Vieira Junior, escritor


A colet�nea traz mulheres igualmente fortes e � margem, como Divina, a velha senhora que vive em um casebre do conto “Voltar”. Miser�vel e solit�ria, ela se recusa veementemente a deixar o lugar remoto de uma �rea que ser� encoberta pelas �guas com a constru��o de uma hidrel�trica. 

“A literatura � o terreno da liberdade. Podemos (os escritores) ser um esp�rito, uma �rvore, um animal. Os personagens se imp�em em cada hist�ria. Em ‘Voltar’ h� tamb�m um homem, assim como os homens protagonizam (os contos) ‘A ora��o do carrasco’ e ‘Manto da apresenta��o’, que emula Arthur Bispo do Ros�rio”, diz o escritor.

Tomado de surpresa pela repercuss�o de “Torto arado” – publicado originalmente em 2019, havia vendido 10 mil exemplares at� setembro de 2020, quando explodiu em vendas, venceu os pr�mios Jabuti e Oceanos, e hoje est� na casa dos 165 mil exemplares vendidos – Vieira Junior tem escrito menos do que gostaria.

Ge�grafo e doutor em estudos �tnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), h� 15 anos � funcion�rio do Instituto Nacional de Coloniza��o e Reforma Agr�ria (Incra). Trabalhando no hor�rio comercial como servidor p�blico, tem tentado se equilibrar nas duas fun��es. 

“Sempre tive uma jornada muito longa. O trabalho exige muito de mim, mas muito menos do que no passado, j� que trabalhei como empacotador de supermercado, repositor, balconista de farm�cia, copiador de xerox, professor. A vida de artista � muito inst�vel. Nunca se sabe o que vai acontecer. Mas meus pais me ensinaram a ter os p�s no ch�o”, diz ele, na entrevista a seguir ao Estado de Minas.

“Doramar ou a Odisseia” � o seu quarto livro. Contudo, para a maior parte de seus leitores, � o seu segundo. Lan��-lo depois do impacto provocado por “Torto arado” lhe traz qual sentimento?
O de algu�m que est� iniciando, inaugurando algo novo. N�o sei como ir�o receb�-lo, guardo um pouco essa espera dos leitores. Mas tento n�o me preocupar com o peso de “Torto arado”. O que tenho em mente, e � muito claro, � que meu exerc�cio liter�rio n�o se resume a este livro. Preciso inclusive guardar um pouco de todo este momento de descoberta da escrita, de experimenta��o, para meus pr�ximos escritos. N�o quero que “Torto arado” seja uma sombra.

Para a edi��o desta nova colet�nea voc� trabalhou nos contos anteriormente publicados? Quando d� por conclu�dos seus textos?
Um escritor nunca para, est� sempre reescrevendo. O trabalho da escrita � cont�nuo, quase de lapida��o, e parece que isto nunca acaba.  Agora, quando o livro � publicado, n�o releio. Tenho participado de eventos em que �s vezes tenho que ler um trecho de “Torto arado”. J� tenho os trechos separados. Mas reler o romance n�o, s� se me disserem que haver� uma nova edi��o, como aconteceu agora com os contos.

Estamos falando de 12 hist�rias curtas, com personagens muito fortes, que revelam tamb�m um pouco de sua hist�ria. Como as hist�rias surgem para voc�: o que � fabula��o e o que vem da experi�ncia pessoal?
As hist�rias v�m de todas as formas. A narrativa “Alma”, por exemplo, foi inspirada em uma hist�ria real, de uma cativa que fugiu e andou 400 km. A �nica coisa que se sabe foi que ela fundou (a comunidade) Tijua�u, no sert�o da Bahia. Essa hist�ria ficou comigo muitos anos antes de eu sentar para escrev�-la. Os fatos hist�ricos nos d�o alguma certifica��o documental, mas eles n�o permitem adentrar na subjetividade humana, que vem da literatura. O conto que abre o livro, “A floresta do adeus”, veio de uma fotografia de uma fam�lia falando em lados diferentes de uma mesma cerca, j� que estavam impedidos de passar para o outro lado. 

A diferen�a est� no tempo. E falo no tempo da narrativa e tamb�m no da escrita. Escrever um conto n�o � nada desafiador, de outro mundo. Mas escrever uma colet�nea � algo t�o trabalhoso quanto se dedicar a um romance. Nos dois casos voc� transita em muitos personagens e tramas. O conto tem a est�tica mais pr�xima do poema, e um poema se resolve em si mesmo. J� o romance vai te demandar um trabalho di�rio para chegar ao desfecho da hist�ria. E como o escritor passa um tempo muito maior com os personagens do romance, por consequ�ncia ter� mais afinidade com eles.

“Torto arado” virou uma refer�ncia entre leitores mais afinados com a pauta progressista. Voc� acredita que o romance tenha falado tamb�m com o leitor que est� fora da “bolha”?
Acho que ele tem um p�blico bem diverso, de diferentes ideologias e condi��o social, o que me deixa bem satisfeito. A literatura n�o tem um lado, fala da condi��o humana, que � intr�nseca a todos n�s. Quando a literatura fura a bolha, atingindo n�o s� pessoas engajadas, politizadas, mais progressistas, atinge seu papel. Tenho imensa f� no poder da literatura. Quem sabe ela n�o desperta uma centelha de mudan�a, um olhar mais atento para o outro, para aquele que sofre, que est� em um lugar adverso? A literatura nos apresenta as subjetividades humanas. E falo como leitor. N�o saio o mesmo depois de uma leitura, pois ela me d� uma compreens�o maior da vida.

E como voc� � como leitor? �vido ou cuidadoso?
Sou seletivo. Estou sempre buscando coisas novas, mas tamb�m tento recuperar coisas que li e me tocaram. Minha leitura � quase de trabalho. Mas at� isso “Torto arado” me tirou um pouco. S�o tantos convites para escrever pref�cios, textos cr�ticos de livros que est�o sendo lan�ados. Acho bom, mas nos �ltimos meses n�o tenho escolhido minhas leituras. Elas v�m das demandas que me s�o apresentadas. Tenho me surpreendido com coisas boas, mas neste momento n�o sou eu que estou tirando o livro da estante. Espero recuperar as r�deas das minhas leituras. 

A explos�o editorial de “Torto arado” se deu durante a pandemia. De que maneira ela afetou sua produ��o? 
Acho que minha escrita n�o fluiu da maneira que deveria ter flu�do por conta dos compromissos de “Torto arado”. N�o imaginava que o romance teria tantos leitores. No momento da divulga��o do livro, tive que fazer escolhas. E como sou servidor p�blico, parte do meu tempo estava ocupado com o trabalho. Restou pouco para me dedicar � literatura. Al�m disto, o que percebo do tempo da pandemia � que n�o foi um tempo prop�cio para a cria��o. � um tempo adverso, de um evento novo, em que voc� gasta energia para ler tudo o que est� acontecendo com o mundo. E tamb�m n�o deixa de sofrer com todos que adoecem. E n�o � s� a pandemia, mas o momento pol�tico do pa�s. Estar � deriva � algo que me impacta.

Seu pr�ximo livro ser� um romance. Em que p� ele est�?
De uma maneira mais lenta do que eu gostaria, pois ainda tenho muitos compromissos, entrevistas, eventos virtuais. Quando escrevi “Torto arado” eu tinha consci�ncia de que ele n�o se esgotaria ali. Queria um desdobramento da hist�ria, n�o dos personagens, mas do tema, a terra. � assim que a (nova) hist�ria est� sendo conduzida. N�o me dei um prazo, mas, se tudo correr bem, ele sai at� o ano que vem. 


“Doramar ou a Odisseia”
Itamar Vieira J�nior
Todavia (160 p�gs.)
R$ 49,90 (livro) e 
R$ 39,90 (e-book)
Nas livrarias a partir desta ter�a (08/06) 


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