Fani Bracher comemora 77 anos com filme sobre sua trajet�ria art�stica
Pintora exibe os 13 pain�is que criou para as paredes da casa de sua fam�lia, em Piau. Document�rio � assinado por Blima e Larissa Bracher, filhas da artista
"Temos que aproveitar a pandemia para repensar a vida. Al�m disso, tem muita gente precisando de ajuda. O que esse tempo todo em casa me ensinou � que o mundo � global e o que a gente faz aqui repercute em muitos outros lugares"
Fani Bracher, artista pl�stica
Ao longo de 54 anos de carreira, a artista pl�stica mineira Fani Bracher n�o se ateve a um �nico suporte para sua express�o art�stica. Lembrada pelas pinturas a �leo, ela tamb�m produziu chitas, estandartes, bordados, santu�rios e assemblages, deixando claro que a inspira��o pode estar em qualquer lugar, at� mesmo numa parede em branco, como prova o seu trabalho mais recente: 13 pain�is pintados nas paredes da casa dela em Piau, na Zona da Mata mineira.
As pinturas, que Fani come�ou a fazer em 2019, foram a motiva��o inicial do document�rio “A casa verde de todas as cores”. Na sexta-feira (11/06), dia em que ela completa 77 anos, a produ��o entra no ar, �s 20h, no canal do YouTube e no Instagram do Ateli� Casa Bracher.
Dirigido por Blima Bracher e produzido por Larissa Bracher, filhas de Fani e do pintor Carlos Bracher, o filme conta uma parte da trajet�ria art�stica da mineira de Coronel Pacheco, que desde os anos 1970 vive em Ouro Preto, onde desenvolveu trabalho influenciado pelas cores do Quadril�tero Ferr�fero.
“Em 2019, quando passei quatro meses em Piau, comecei a fazer interven��es art�sticas em m�veis e objetos da casa”, explica. “Usando a t�cnica de craquel�, pintei mesas, cadeiras, ba�s, bules, espelhos, azulejos, geladeira. Gosto de interferir no meio em que estou vivendo. Comecei pintando um lugar para tratar passarinhos que era do meu pai, depois fui para o dep�sito de lenha.”
Fani Bracher diz que o trabalho com a chita a fez "perder o pudor" em rela��o �s cores
PAREDES
N�o demorou muito para Fani come�ar a trabalhar nas paredes, hoje tomadas por pinturas abstratas, que, somadas, totalizam 30 metros quadrados. Diferentemente dos quadros a �leo, nos quais predominam tons s�brios como preto e cinza, os pain�is s�o marcados por cores fortes e vibrantes.
“Depois que comecei a trabalhar com chita, perdi um pouco o pudor das cores. A chita mistura laranja com roxo e d� certo, n�o tem um filtro”, afirma. A isso soma-se o fato de Piau ocupar o espa�o da inf�ncia na produ��o de Fani. Quando crian�a, ela passava as f�rias escolares na casa verde.
“Toda a minha fam�lia materna � de Piau, tenho liga��o com a cidade desde pequenininha. S� n�o fui batizada l�, mas fiz a crisma e a primeira comunh�o, al�m de ter passeado muito l� na minha juventude. Considero a obra como uma volta a esse per�odo da minha vida”, diz.
O fato de o tema dos pain�is ser “festivo, alegre” tamb�m est� associado ao fato de a casa verde ser “muito aberta, estar sempre cheia”, comenta a pintora. “Sempre tem crian�a por l�. A gente faz sarau de poesias, ainda que as crian�as de hoje n�o tenham tanto interesse por isso. Meu neto gosta muito de futebol, ent�o ele est� sempre jogando. � bastante animado”, revela.
Para ela, o uso de cores alegres remete � Zona da Mata, regi�o marcada por belezas naturais. “O colorido l� � muito forte, as cores s�o muito exuberantes. No Quadril�tero Ferr�fero, as cores s�o naturalmente mais escuras”, explica, referindo-se a Ouro Preto e arredores.
Ao longo de um m�s, a grava��o do document�rio foi feita em Ouro Preto e Piau. Em uma das cenas, Fani aparece concluindo um dos pain�is. A jornalista Blima Bracher, diretora do filme, descreve o trabalho da m�e como “rural”, realizado em Piau, em contraposi��o ao “mineral”, no Quadril�tero Ferr�fero.
“Um dos principais desafios foi equacionar essas duas fases da carreira dela. Em Ouro Preto, ela usa temas enegrecidos, pigmentos em �xido de ferro. Em Piau, ela vai em busca do colorido da Zona da Mata. Foi dif�cil achar uma linha para ligar esses dois aspectos”, diz.
Blima afirma que a m�e fez uma esp�cie de di�rio de sua vida. “Ela conta que teve uma inf�ncia linda e � poss�vel identificar isso nos pain�is. N�o de forma literal, mas os quadros falam, sim, da inf�ncia feliz e a pr�pria casa � o testemunho desse per�odo da vida dela.”
RACIONAL
Blima descreve Fani como uma pessoa bastante “racional”. Por conta disso, n�o foi f�cil faz�-la se abrir sobre as pr�prias mem�rias. Ainda assim, aos poucos a pintora foi se soltando diante da c�mera e deu um depoimento emocionado sobre o seu trabalho.
“� um filme simples, que conta a hist�ria dela. Por conta da pandemia, usei muitas imagens de arquivo para contextualizar algumas passagens de sua vida. O roteiro foi uma longa entrevista com ela. N�o foi f�cil faz�-la falar dos pr�prios sentimentos, mas tentamos trazer essa emo��o para o document�rio”, diz Blima.
Fani Bracher discorda. Conta que a entrevista com a filha a deixou “mexida”. E comenta: “� uma coisa que inevitavelmente mexe com voc�. Traz � tona coisas que estavam guardadinhas.”
O lan�amento de “A casa verde de todas as cores” faz parte da s�rie de iniciativas on-line que o Ateli� Casa Bracher iniciou em dezembro de 2020, no anivers�rio do pintor Carlos Bracher. A institui��o, localizada em Ouro Preto, pretendia inaugurar �rea aberta para a visita��o do p�blico, o que n�o ocorreu devido � pandemia.
Preocupada com a atual situa��o do pa�s, Fani Bracher afirma que o Brasil vive uma “cat�strofe”. “Temos de tomar muito cuidado para n�o perder a coragem. Estamos vivendo dias sombrios, terr�veis, com perdas irrepar�veis. A COVID continua solta por a�”, diz.
No in�cio da pandemia, quando o Brasil e o mundo foram tomados por incertezas, ela acreditava que as coisas voltariam ao normal em poucos meses. “Infelizmente, n�o voltaram por conta de v�rios problemas no pa�s. Temos que aproveitar a pandemia para repensar a vida. Al�m disso, tem muita gente precisando de ajuda. O que esse tempo todo em casa me ensinou � que o mundo � global e o que a gente faz aqui repercute em muitos outros lugares”, analisa.
“A humanidade est� sendo testada e quero ver se a gente vai aprender alguma coisa com isso”, acrescenta.
SANTOS
Nos primeiros meses de quarentena, Fani fez uma s�rie de interven��es com estamparias de santos. Depois disso, come�ou a bordar poemas de Manoel de Barros, Nietzsche e Fernando Pessoa. “Trabalhar com as m�os � uma coisa boa porque volta a gente para o interior de n�s mesmos”, afirma.
Apesar de isso ser novidade em seu fazer art�stico, ela n�o considera o bordado uma nova fase art�stica. “� algo que fa�o para mim mesma. � terap�utico”, pontua.
Em seu segundo anivers�rio durante a pandemia, Fani planeja visitar o neto Valentim no Rio de Janeiro, filho de Larissa Bracher com o cantor, compositor e ator Paulinho Moska. “N�o estamos no momento de comemorar muitas coisas”, conclui.
“A CASA VERDE DE TODAS AS CORES”
Filme de Blima Bracher sobre a trajet�ria de Fani Bracher. Lan�amento nesta sexta-feira (11/06), �s 20h, no canal do YouTube e no perfil do Instagram do Ateli� Casa Bracher (@ateliecasabracher). Informa��es: www.ateliecasabracher.com