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Estado de Minas AUDIOVISUAL/Entrevista/QUENTIN TARANTINO

Quentin Tarantino explica por que 'n�o � f� de streaming'

Para diretor, formato veio para ficar, mas 'n�o consegue reproduzir a emo��o de se assistir a um filme em uma tela grande'


13/07/2021 04:00 - atualizado 12/07/2021 23:02

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Com o "fim" precoce de sua carreira como cineasta anunciado, Tarantino diz que, no caso dos diretores longevos, "encerrar uma trajet�ria com um filme decente � raro" (foto: Kevork Djansezian/Getty Images/AFP)
 

"Acho que esse � realmente o meu melhor dom, escrever di�logos. � algo que me vem muito facilmente quando estou criando uma cena - basta saber um pouco da personalidade de cada um dos personagens que as falas surgem naturalmente"

A consagra��o do filme “Era uma vez em... Hollywood” (2019), vencedor dos Oscars de melhor ator coadjuvante (Brad Pitt) e melhor design de produ��o, incentivou seu diretor, o cineasta Quentin Tarantino, a realizar um sonho antigo: novelizar o pr�prio roteiro, ou seja, escrever um romance a partir da trama do filme. F� desse tipo de literatura, ele trabalhou durante seis meses at� finalizar “Era uma vez em Hollywood” (agora, sem os tr�s pontos), que a Intr�nseca acaba de lan�ar.

Engana-se, por�m, quem espera por uma simples transposi��o do roteiro para o texto escrito – Tarantino promoveu um "repensar completo" da trama, tornando-a mais melanc�lica e at� um pouco mais obl�qua em seus significados. Ou seja, o cineasta expandiu o mundo do filme, ao mesmo tempo em que aproveitou para fazer coment�rios sobre ele. "Foi um repensar completo de toda a trama e n�o apenas o de buscar cenas que ficaram de fora, na edi��o", disse ele em entrevista realizada por telefone na quinta-feira passada (8/07).

O que n�o falta, � verdade, � a grande profus�o de cita��es de artistas de cinema e programas de TV que marcaram o final dos anos 1960, �poca em que � ambientada a hist�ria. E, no livro, Tarantino aproveita para explorar mais profundamente alguns personagens, al�m de alternar o foco da narrativa.

Assim, se no filme a expectativa � a chegada do fat�dico 9 de agosto de 1969, quando a seita de jovens man�acos comandados por Charles Manson assassinou brutalmente a atriz Sharon Tate, no livro, o crime � mais um fato, pois o foco agora est� no cowboy da TV Rick Dalton (representado, no cinema, por Leonardo DiCaprio) e seu melhor amigo e dubl�, Cliff Cabine (Brad Pitt), ambos vivendo um momento de encruzilhada em suas carreiras, com os produtores preterindo-os por jovens gal�s.

Como no filme, Rick e Cliff pulam de set em set na busca por um papel decente, mas o leitor � brindado com mais detalhes sobre o nebuloso passado de Cliff – muito do que � apenas sugerido no longa ganha explica��es na escrita, como as suspeitas de assassinato.

Antes, um aviso: a partir desse trecho, os spoilers ser�o constantes. Assim, descobre-se que Cliff n�o apenas matou dois mafiosos que o provocavam durante um almo�o como tamb�m deu cabo da pr�pria mulher com um tiro de espingarda, que, acredite, quase a dividiu em dois. Arrependido, Cliff a manteve viva durante sete horas, detalhe nada surpreendente na cartilha de viol�ncia expl�cita de Tarantino – mas ela n�o resistiu e morreu antes da chegada da Guarda Costeira.

BRUCE LEE 

O livro tamb�m traz mais detalhes de uma importante cena do filme, quando Cliff � desafiado por Bruce Lee, que se sente ofendido quando o dubl� zomba dele por acreditar que era capaz de vencer Muhammad Ali em uma luta. Eles partem para briga e Cliff derrota o artista marcial, jogando-o contra um carro.

A leitura torna mais evidente a mentalidade movida a viol�ncia de Cliff e tamb�m sua esperteza, ao tra�ar uma estrat�gia para enganar o rival. A cena revivida no livro, ali�s, despertou novas acusa��es da filha de Lee, Shannon, que mais uma vez revelou seu descontentamento com a forma desrespeitosa como seu pai foi retratado no filme.

J� a figura do man�aco Charles Manson � mais detalhada na obra escrita, que revela sua tentativa de se tornar m�sico (uma de suas composi��es, ali�s, chegou a integrar um disco dos Beach Boys) e de sua a��o como cafet�o.

Na invers�o que promove na hist�ria escrita, Tarantino oferece um grande momento para Rick e Trudi Frazer, a precoce atriz de 8 anos que surpreende com uma bem-embasada concep��o do ato de representar. O livro se encerra com uma conversa telef�nica entre eles: Trudi quer passar os di�logos que v�o trocar na filmagem do dia seguinte, o que inicialmente n�o agrada a Rick. Mas o ensaio logo se torna um momento sublime, tornando o desiludido Rick em um homem um pouco mais esperan�oso. A cena chegou a ser filmada, mas cortada na edi��o final, como Tarantino conta na seguinte entrevista.

O �ltimo cap�tulo do livro � muito tocante e at� surpreendente em rela��o ao filme.
� meu cap�tulo preferido e chegamos a rodar a cena. Foi emocionante, todos ficaram muito tocados. Brad ficou com os olhos marejados. Mas tive de cort�-la na edi��o, pois notei que criava uma falsa expectativa de que o filme estava acabando. Por isso decidi colocar como encerramento do livro.

Ali�s, sobre sua nova carreira como romancista – quando voc� decidiu colocar suas ideias em um texto?

Era algo que senti que seria natural. H� anos que escrevo roteiros, o que me deu um aprendizado. Mas, quando terminei este, percebi que havia mais o que contar sobre Rick e Cliff, dois personagens fascinantes. E, como cresci lendo noveliza��es de filmes, algo que era comum nos anos 1970, sabia que aquele era o melhor caminho para apresentar essa dupla de forma mais expansiva e at� com mais profundidade.

Voc� precisou fazer muita pesquisa para escrever o livro?

At� que n�o, pois embora eu tenha pretendido criar um novo produto, que estivesse um tanto afastado do filme, o ambiente � o mesmo, ou seja, a Hollywood do final dos anos 1960. E conhe�o muito bem os longas produzidos naquela �poca, os filmes B, as s�ries de TV. Percorri muito aquelas ruas de Los Angeles, assim, foi at� mais f�cil do que possa parecer.

Stephen King disse, em uma entrevista, que usou o m�todo Tarantino para alcan�ar a tens�o necess�ria em um di�logo que escreveu para a s�rie “Lisey’s Story”. Como voc� cria di�logos?

Acho que esse � realmente o meu melhor dom, escrever di�logos. � algo que me vem muito facilmente quando estou criando uma cena – basta saber um pouco da personalidade de cada um dos personagens que as falas surgem naturalmente.

H� quem diga que, quando Cliff fala mal de filmes estrangeiros, estamos escutando na verdade a voz de Tarantino. � verdade?

Olha (rindo), todo mundo me diz isso, e, claro, h� opini�es dele que batem com as minhas (risos), mas tenho de dizer que ali � o pensamento de Riff, um homem que acompanhou o cinema americano produzido durante a 2ª Guerra Mundial, portanto, escapista, em contraste com o cinema europeu do p�s-guerra, com muitas cicatrizes. Isso o tornou um grande conhecedor cinematogr�fico e, portanto, um cr�tico criterioso, especialmente em rela��o a Hollywood.

Falando de Hollywood, o que voc� acha da disputa entre cinema e streaming?

N�o sou f� de streaming, pois � um servi�o que n�o consegue reproduzir a emo��o de se assistir a um filme em uma tela grande. Mas sei que � uma forma de divertimento que veio para ficar.

Que recorda��es voc� guarda da sua passagem por S�o Paulo, em 1992, durante a Mostra de Cinema?

Olha, fui a diversos festivais em minha vida, mas aquele me marcou profundamente. Pude ver muitos filmes que me marcaram, fui a restaurantes que me encantaram, conheci pessoas muito interessantes. S�o Paulo realmente marcou minha vida.

E, por falar em vida, voc� realmente se despede do cinema depois de seu pr�ximo filme, como prometeu?

� um assunto do qual todos gostam de falar (risos). Veja bem, a maioria dos cineastas dirige seus piores filmes no final da carreira. Encerrar uma trajet�ria com um filme decente � raro. � o que penso. 

“Era uma vez em Hollywood”
Quentin Tarantino
Intr�nseca (560 p�gs.)
R$ 49,90


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