
Quando as luzes do palco do Grande Teatro, no Pal�cio das Artes, se apagaram na noite do �ltimo domingo (11/07), foi encerrada a curta temporada de “...Incomoda, incomoda, incomoda...”, espet�culo de formatura dos alunos do curso t�cnico de teatro do Centro de Forma��o Art�stica e Tecnol�gica (Cefart) da Funda��o Cl�vis Salgado.
A montagem, com dramaturgia e dire��o de Rita Clemente, encerra um ciclo, mas marca tamb�m o in�cio de outro. Onze novos atores chegam agora a um mercado de trabalho que sempre viveu de criatividade e poucos recursos. O espet�culo tamb�m traz outros significados. Foi a primeira montagem teatral a receber plateia em meio � nova abertura das atividades culturais em Belo Horizonte. E ainda marca os 35 anos do curso.
Rita Clemente foi escolhida para trabalhar com o grupo pelos pr�prios formandos. Atriz, diretora e dramaturga com franca dedica��o � pesquisa, ela � egressa do mesmo curso. Formou-se na primeira turma, em 1989, �poca em que o Centro de Forma��o ainda atendia pelo nome de Cefar. Integrou o elenco do espet�culo de formatura, “A flor da obsess�o – Fragmentos”, de Nelson Rodrigues, com dire��o de Eid Ribeiro.
FAZER
Nesse per�odo, j� dava aulas na escola, onde passou quase uma d�cada como professora. “Em uma escola t�cnica, o processo pedag�gico precisa principalmente da experi�ncia do fazer. E � a� que mora a quest�o: fazer o qu�, para quem e para qu�?. As responsabilidades s�o muito grandes. Para mim, a coisa mais importante para um professor � discernir do que � que ele gosta, prefere, da linguagem. A linguagem, em uma escola, n�o precisa ser a do professor, sen�o ele tira do aluno a possibilidade da escolha.”H� muitos anos sem dar aulas no Cefart, mas volta e meia dirigindo espet�culos de formatura, Rita comenta que, a partir do momento em que � convidada, ela busca levar para os alunos a experimenta��o com quem trabalha.
“...Incomoda, incomoda, incomoda...” � resultado disso, pois trata da rela��o dos animais, humanos e n�o humanos, segundo a pr�pria Rita. “N�o acho que � o ponto de que todas as pessoas t�m que ser veganas. A quest�o � a crueldade de um sistema que envolve comercializa��o. E h� ainda nossa rela��o com os humanos, de encarceramento, explora��o.”
O t�tulo da montagem � facilmente explicado quando vemos, em cena, um boneco de um elefante, bastante realista e em tamanho real (criado por Eduardo F�lix e Ant�nio Lima), dominar o palco do Grande Teatro. Hari, o nome do personagem, � solto do zool�gico de Belo Horizonte por ativistas e vai parar na Avenida Assis Chateaubriand, na altura do Viaduto de Santa Tereza. � ali, em meio ao tr�nsito da cidade, que o caos se instala.
Todo o elenco est� praticamente o tempo todo em cena. A policial interpretada por Mariana Babeto mostra o despreparo das pessoas que vivem sob regras e nunca tiveram interesse (ou intelig�ncia) para contest�-las. A crian�a de nome M�nica (a refer�ncia � a personagem de Mauricio de Sousa) vivida por Helena Correa tem personalidade forte e posi��o questionadora. J� a jornalista sensacionalista criada por Sara Silva atua como uma esp�cie de narradora – os escr�pulos, que somem quando ela est� em frente �s c�meras, a fazem pagar um pre�o caro quando ela sai do ar.
“...Incomoda, incomoda, incomoda...” nasceu como um formato virtual. A dois dias da estreia, a equipe soube da autoriza��o para a plateia. Mesmo terminada a temporada, ele segue dispon�vel por mais uma semana em formato on-line. E o elenco segue unido, j� pensando em novas temporadas e numa possibilidade de virar grupo.

LIBERDADE PARA EXPERIMENTAR
. Mariana Babeto
Aos 21 anos, ela conhece bem o Pal�cio das Artes. Tinha 12 quando entrou para o Coral Infantojuvenil da Funda��o Cl�vis Salgado. Ficou s� um tempinho, pois j� naquele tempo havia se encantado pelo teatro. Fez o curso b�sico de teatro at� 2017 e, um ano mais tarde, entrou para o curso t�cnico.
“O teatro me encantou justamente pela liberdade que ele te d� para experimentar”, comenta Mariana, que vem de uma fam�lia de muitos m�sicos, “curiosos”, n�o profissionais. Ass�dua, como boa estudante de artes c�nicas, na plateia traz como refer�ncia duas companhias mineiras que surgiram tamb�m com o encontro de ex-alunos do Cefart: a Luna Lunera e a Mi�da.
Neste ano, al�m do teatro, Mariana ter� outra formatura. Vai se graduar no fim de 2021 em ci�ncias biol�gicas pela UNA.
Ainda que sejam duas carreiras absolutamente distintas, ela pretende seguir em frente com as duas. “N�o quis abrir m�o de nenhuma”, comenta ela, que sabe que o futuro n�o ser� f�cil. “A gente escuta muita coisa, mas tento aprender com as hist�rias que ouvi . Vou ter que ralar muito como atriz, mas estou preparada.”
Ainda que sejam duas carreiras absolutamente distintas, ela pretende seguir em frente com as duas. “N�o quis abrir m�o de nenhuma”, comenta ela, que sabe que o futuro n�o ser� f�cil. “A gente escuta muita coisa, mas tento aprender com as hist�rias que ouvi . Vou ter que ralar muito como atriz, mas estou preparada.”

ATRA��O PELA IDEIA DA REDE
. Sara Silva
O teatro faz parte da vida de Sara desde os 12 anos, quando entrou para a Escola do Sesc. Foram idas e vindas e uma passagem mais intensa pelo curso livre do Galp�o Cine Horto, at� que se formasse na FCS. Hoje, aos 28, tamb�m formada em jornalismo pela PUC-Minas, ela tem consci�ncia de que n�o consegue ficar longe dos palcos.
“Quero investir na carreira. Sentia falta de estar em cena, de ensaiar, do calor que sinto no fazer teatral”, conta ela, que pensa no teatro coletivamente. “Gosto muito da ideia de ter uma rede, de fazer tudo junto, algo que o teatro prop�e.” Como espectadora ela se interessa por montagens que ativam suas emo��es. “Quando entro na hist�ria que est� sendo transmitida, entro na fic��o junto com o ator. � isso que busco como atriz.”
F� da dramaturgia de Rita Clemente – “que traz reflex�es e cr�ticas” –, Sara cresceu no Sagrada Fam�lia. Ent�o, desde muito nova teve o Galp�o, com sede no Horto, bairro vizinho, como refer�ncia. Outros grupos que ela admira s�o Luna Lunera, Zula e o Morro Encena, nascido no Aglomerado da Serra.

TROCAS DE EXPERI�NCIA
. Helena Correa
Assistir a uma apresenta��o de “Os gigantes da montanha” (2013), do Grupo Galp�o, na Pra�a do Papa, marcou profundamente Helena, de 26 anos. “Ali foi a primeira vez que o teatro me deixou emocionada”, diz ela. Tanto que ela pensa o fazer teatral sempre em grupo. “A conviv�ncia te permite trocar com pessoas mais experientes e com aquelas que est�o no mesmo n�vel que voc�”, diz.
Estudante de pedagogia na UFMG, antes de chegar � FCS Helena passou pelo Galp�o Cine Horto. Sua primeira experi�ncia como atriz foi na montagem infantil “O firme soldadinho de chumbo”, com dire��o de Simone Ordones, atriz do Galp�o. Ela sabe que o mais dif�cil come�a agora. “Um dos desafios � a inser��o do ator no mercado de trabalho. E para quem est� saindo da escola, � complicado entrar no meio.”
Mas Helena j� tem projetos em vista. Em setembro, vai apresentar, com uma amiga, em formato de radionovela, uma cena curta na A.Mostra-LAB, dedicada a formatos breves de teatro. E h� ainda a inten��o de continuar com a carreira de “...Incomoda, incomoda, incomoda...”, inscrevendo o projeto do espet�culos em editais e festivais.
ESPET�CULO DISPON�VEL
O v�deo com a apresenta��o de “...Incomoda, incomoda, incomoda...” ficar� dispon�vel no canal do YouTube da FCS at� as 11h da pr�xima segunda-feira (19/07).