
"Vou colocar as minhas motiva��es, contar por que escrevo, como acabei me tornando escritor e o que eu desejo transmitir com a minha obra", ele conta. "O meu trabalho est� ligado � cultura dos povos origin�rios do Brasil, da qual fa�o parte e tenho o maior interesse em divulgar."
Nascido em Bel�m do Par�, filho do povo ind�gena munduruku, Daniel cursou as faculdades de filosofia, hist�ria e psicologia. Tornou-se professor, mas logo o talento por contar hist�rias falou mais. "Comecei contando as hist�rias que ouvia na aldeia. Depois de um tempo, descobri que podia report�-la, transformando-as em literatura", relembra.
"Entre erros e acertos, fui criando um jeito pr�prio de escrever e as hist�rias ca�ram no gosto de quem as l�. Aos poucos, fui me dando conta de que meu trabalho poderia ajudar o povo brasileiro a pensar e entender a sua pr�pria origem", explica.
Segundo ele, as pessoas n�o aceitam muito bem a ideia de que o Brasil tem povos origin�rios. "A cultura nacional est� muito intrincada nas culturas originais. Ent�o, gosto de trazer na minha escrita esse tipo de informa��o para lembrar (as pessoas) de sua origem e mostrar que podemos conviver uns com os outros, sem nos anular", comenta.
POL�TICAS P�BLICAS
Munduruku concorda que o interesse do p�blico leitor em literatura ind�gena cresceu nos �ltimos anos. Para ele, isso n�o seria poss�vel sem pol�ticas p�blicas garantindo a diversidade de narrativas na educa��o. "Depois da Constitui��o de 1988, n�s (ind�genas) passamos a ter direitos e lutar por uma equidade de participa��o na sociedade. As mudan�as no sistema educacional ajudaram a fazer com que esse tipo de literatura aparecesse como novidade. Em 2008, uma lei que garantia a tem�tica ind�gena na sala de aula criou a necessidade por esse tipo de produ��o. Isso garante que v�rias vozes possam compor a nossa hist�ria", afirma.
Segundo Munduruku, nessa �poca ela j� era escritor e, dessa forma, ajudou a criar v�rios outros autores. “Tudo isso passa por pol�ticas p�blicas. A literatura ind�gena aparece no momento exato em que a sociedade se cansou de olhar para si mesma atrav�s dos olhos de seus pares. E, afinal, � uma literatura de qualidade, reconhecida n�o apenas pelos leitores, como pela academia e tamb�m por premia��es", completa.
Apesar disso, o autor afirma que, sob o atual governo, "as pol�ticas p�blicas de inclus�o t�m sido abaladas", o que reflete diretamente nos povos ind�genas e em sua produ��o intelectual e liter�ria. "O governo destruiu o Minist�rio da Cultura e trabalha com foco em desconstruir o Minist�rio da Educa��o. O mercado editorial como um todo foi abalado. O governo n�o adquire mais os livros. A isso, soma-se a pandemia, que representa outro trope�o para tudo o que a gente vem vivendo desde 2018", analisa.
OBRAS
Entre as obras de Daniel Munduruku que fazem parte da Flipo�os est�o os livros "Cr�nicas de S�o Paulo" (Callis), fruto das andan�as do escritor pela capital paulista; "Como surgiu: Mitos ind�genas brasileiros" (Callis), em que ele reconta mitos dos povos apinaj�s, temb�s e caiap�s; e "O menino e o pardal" (Callis), que fala sobre o amadurecimento das crian�as.
A programa��o on-line e gratuita do Flipo�os vai at� este domingo (25/07). Al�m da Sala Sesc Flipocinhos, o evento tamb�m conta com a Sala Autores e Lan�amentos, ambas dispon�veis no site oficial.
MESA COMO SURGIU – MITOS IND�GENAS BRASILEIROS
Com Daniel Munduruku e media��o de Claudia Leonardi. S�bado (24/07), �s 10h, na Sala Sesc Flipocinhos, no evento oficial da Flipo�os 2021. Informa��es e programa��o completa: flipo�os.com