Marxista convicto, l�ngua afiada e defensor da integridade das ra�zes culturais brasileiras, Tinhor�o deixa como legado a pol�mica, desafetos famosos (Chico Buarque e Tom Jobim) e acervo monumental, hoje pertencente ao Instituto Moreira Salles. Guardou 13 mil discos, al�m de 35 mil documentos, entre partituras, jornais e fotografias. Sua biblioteca chegou a reunir 14 mil livros sobre cultura popular.
LIVROS
Historiador, ensa�sta, escritor e jornalista, Tinhor�o lan�ou cerca de 25 livros, entre eles “Hist�ria social da m�sica popular brasileira”, “As origens da can��o urbana”, “Os sons que v�m da rua”, “O samba agora vai: A farsa da m�sica popular no exterior”, “M�sica popular, teatro e cinema”, “Festa de negro em devo��o de branco” e “Pequena hist�ria da m�sica popular: da modinha � can��o de protesto”.
Cr�tico ferrenho da incorpora��o de refer�ncias estrangeiras � m�sica brasileira, o nacionalista Tinhor�o “fuzilou”, com sua verve contundente, tanto bossa nova, tropicalismo e MPB quanto jovem guarda, ax� e funk. O materialismo hist�rico, pilar do marxismo, fundamentou as cr�ticas e os ensaios dele.
Enquanto Jo�o Gilberto, Tom Jobim e companhia deslumbravam o mundo nos anos 1960, Tinhor�o acusava a bossa nova de ser elitista, al�m de uma esp�cie de “jazz pasteurizado”.
“O pessoal da bossa nova todo � representante de uma classe m�dia carioca ligada ao jazz. Quando aparece o viol�o de Jo�o Gilberto, toda a harmonia da m�sica norte-americana, pela qual esse povo era fan�tico, se encaixa perfeitamente. Ali, monta-se uma harmonia norte-americana t�o disfar�ada que parece m�sica brasileira. Isso n�o � uma vit�ria da m�sica brasileira. Os brasileiros ofereceram aos norte-americanos uma nova vis�o da sua pr�pria m�sica. � mais f�cil para o norte-americano ouvir. Por que Frank Sinatra canta Tom Jobim e n�o Nelson Cavaquinho? Porque n�o casaria”, declarou ele � revista “Cult”.
“O aparecimento da bossa nova na m�sica urbana do Rio de Janeiro marca o afastamento definitivo do samba de suas origens populares”, criticou Tinhor�o, cujas ideias foram tachadas de “hist�ricas” por Caetano Veloso. Em 2015, durante um debate na Festa Liter�ria Internacional de Paraty (Flip), o cr�tico afirmou ter “pena” de Jobim. “Ele tinha um equ�voco fundamental: Achava que compunha m�sica brasileira.”
Se essa defesa enf�tica das ra�zes da m�sica popular brasileira sempre causou muita controv�rsia, a import�ncia de Tinhor�o como pesquisador foi reconhecida por intelectuais respeitados, como o ensa�sta, m�sico e professor Jos� Miguel Wisnik.
SERPENTE
Aldir Blanc n�o o poupou quando criticou o parceiro Jo�o Bosco, incluindo o jornalista entre as serpentes venenosas da letra de “Querelas do Brasil”. Por�m, reconheceu: “Tinhor�o � sin�nimo de pol�mica enriquecedora. Sua obra cr�tica e hist�rica engrandecem nossa cultura. Eu n�o s� respeito o Tinhor�o. Tamb�m o admiro muito”.
Paulista de Santos, nascido em fam�lia humilde, Jos� Ramos Tinhor�o iniciou a carreira de jornalista na reda��o do jornal Di�rio Carioca, nos anos 1950. Logo virou personagem de Nelson Rodrigues no folhetim “Asfalto selvagem”.
Ali�s, o sobrenome famoso – na verdade, apelido – logo virou piada. Quando ironizou um disco em que o produtor Herm�nio Bello de Carvalho cantava, Herm�nio e Tom Jobim, em entrevista, disseram que Tinhor�o era uma planta da fam�lia das Ar�ceas, na qual costumavam urinar...
IMPRENSA
Jos� Ramos Tinhor�o fez longa carreira na imprensa, a partir dos anos 1950: Di�rio Carioca, Jornal do Brasil (na �poca da reforma), Jornal dos Sports, Correio da Manh�, TV Excelsior, TV Rio, Pasquim, revista Senhor, Veja e TV Globo.
“Eu me sinto objeto”, brincou ele em entrevista a Pedro Alexandre Sanches, ao comentar a biografia “Tinhor�o – O legend�rio”, lan�ada por Elizabeth Lorenzotti em 2010.
H� seis anos, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que a cr�tica cultural acabou no pa�s. “Primeiro, n�o existem cr�ticos de m�sica popular ou cr�tica sobre m�sica popular. Existe o cara que d� not�cia e louva conjuntos estrangeiros, que nunca v�m ao Brasil, mas que, quando v�m, ganham p�gina inteira dos cadernos culturais.” (Com Estad�o Conte�do e ag�ncias)