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Estado de Minas LITERATURA

'Sem querer querendo', de Roberto G�mez Bola�os, ganha edi��o em portugu�s

Autobiografia do mexicano que ganhou fama com as s�ries de TV ''Chaves'' e ''Chapolin'' traz texto bem-humorado e curiosidades que incluem Pel� e Maradona


16/08/2021 04:00 - atualizado 16/08/2021 07:13

Ator mexicano Roberto Gómez Bolaños (C), que morreu em 2014, aos 85 anos, alcançou o estrelato com as séries de TV ''Chaves'' e ''Chapolin'', cujo bordão do personagem infantil, ''sem querer querendo'', dá título ao livro(foto: Luis ACOSTA/ AFP)
Ator mexicano Roberto G�mez Bola�os (C), que morreu em 2014, aos 85 anos, alcan�ou o estrelato com as s�ries de TV ''Chaves'' e ''Chapolin'', cujo bord�o do personagem infantil, ''sem querer querendo'', d� t�tulo ao livro (foto: Luis ACOSTA/ AFP)
Uma mulher gr�vida se desesperou ao descobrir que tomou um antigripal sem saber que continha ingrediente abortivo. Diante de seu estado de dor aguda, o m�dico recomendou que ela aceitasse perder o beb�, mas a mo�a insistiu em manter a gravidez, mesmo sob o grave risco de morte, o que tornou a gesta��o um per�odo de grande sofrimento. "Por causa disso, eu nasci em 21 de fevereiro de 1929", afirma o mexicano Roberto G�mez Bola�os que, anos depois, alcan�ou grande sucesso nas s�ries de TV “Chaves” e “Chapolin”.

A frase consta logo no in�cio de “Sem querer querendo”, autobiografia publicada em 2006 e que s� agora ganha vers�o em portugu�s, lan�ada pela editora Est�tica Torta. Com um texto bem-humorado, mas temperado por algumas alfinetadas em certas personalidades, o livro, cujo t�tulo repete um de seus mais conhecidos bord�es, detalha a evolu��o do jovem boxeador frustrado (a baixa estatura o convenceu a abandonar o esporte), que abandonou o curso de engenharia para se tornar um �cone da com�dia infantil latino-americana.

Ao longo da vida, Bola�os, que morreu em 2014, revelou uma enorme capacidade de se reinventar quando necess�rio – resist�ncia herdada da m�e. Segundo de tr�s filhos de um pintor e ilustrador e de uma secret�ria bil�ngue, ele sonhava jogar futebol e lutar boxe, mas acabou entrando em uma faculdade de engenharia mec�nica, logo abandonada por considerar entediante.

A grande virada de sua vida come�ou quando se interessou pelo an�ncio de emprego como aprendiz de produtor em uma empresa de publicidade. Ao chegar l�, viu que havia cerca de 60 candidatos � vaga que ambicionava, mas, ao lado, havia outra fila, com apenas cinco pessoas, aspirantes ao cargo de redator aprendiz. "Meu futuro profissional foi definido pela diferen�a de tempo que eu deveria passar em uma fila", diverte-se ele, no livro.

Aos 22 anos, portanto, Bola�os come�ou a escrever freneticamente roteiros para programas de r�dio, televis�o e cinema – at� ensaiou uma primeira carreira como ator no final dos anos 1950. Foi nessa �poca que ganhou o apelido de Chespirito, forma elogiosa nascida da admira��o do cineasta Agust�n Porfirio Delgado, que o chamava de "pequeno Shakespeare", brincadeira por escrever muito apesar da pequena estatura: em espanhol, grafa-se "Shakespearito", cuja pron�ncia, "Chekspirito", resultou em "Chespirito".

''Chaves foi o melhor exemplo de inoc�ncia e ingenuidade das crian�as. E � bem prov�vel que tenha sido esta caracter�stica que gerou o grande carinho que o p�blico passou a sentir por ele''

Roberto G�mez Bola�os, ator, em sua autobiografia


SUCESSO

Na autobiografia, Roberto G�mez Bola�os conta como, em 1968, assinou contrato com uma emissora de TV em ascens�o, a Televisi�n Independiente de M�xico, para inicialmente fazer um programa de meia hora nas tardes de s�bado. A atra��o se chamava Chespirito e dois personagens se destacavam El Chavo del Ocho e El Chapul�n Colorado. Os esquetes curtos e bem-humorados fizeram tanto sucesso que ele logo ganhou o hor�rio noturno da segunda-feira – e em uma atra��o de uma hora de dura��o.

O �xito novamente foi t�o estrondoso, especialmente entre as crian�as, que cada personagem ganhou uma s�rie semanal pr�pria. El Chavo (cuja tradu��o seria "O menino", mas se tornou Chaves, no Brasil) era um menino �rf�o de 8 anos que vivia em um barril de madeira enquanto El Chapul�n (Chapolin) era um her�i atrapalhado que sempre aparece quando algu�m precisa de ajuda.

A conex�o imediata com os pequenos era motivada, segundo Bola�os, pela imediata identifica��o – no livro, ele revela suas suspeitas em rela��o ao sucesso dos personagens. "Chaves foi o melhor exemplo de inoc�ncia e ingenuidade das crian�as. E � bem prov�vel que tenha sido esta caracter�stica que gerou o grande carinho que o p�blico passou a sentir por ele", comenta ele, acrescentando: "Nunca pretendi que o p�blico pensasse que eu era uma crian�a. Tudo o que eu procurava era que aceitasse que eu era um adulto fazendo o papel de uma crian�a".

Chaves e Chapolin estrearam no Brasil pelo SBT/Alterosa, em 1984, com alguns anos de atraso em rela��o a outros pa�ses. Na �poca, as duas s�ries j� n�o existiam mais como programas independentes. "Era o in�cio de uma jornada de mais de 35 anos das obras de Chespirito no Brasil", observa o coletivo F�rum Chaves, site de f�s do programa, que assina a introdu��o do livro. "Nesse per�odo, os seriados se tornaram parte do imagin�rio do p�blico brasileiro, que se diverte at� hoje com aqueles personagens – e com nomes pr�prios ao nosso portugu�s: Chaves (El Chavo), Quico, Seu Madruga (Don Ram�n), Chiquinha (Chilindrina), Dona Florinda, Chapolin Colorado (El Chapul�n Colorado), Racha Cuca (Rascabuches) e Quase Nada (Cuajinais), entre tantos outros."

Ainda que tenha sido o �ltimo pa�s latino a descobrir Chaves e sua turma, o Brasil logo desenvolveu uma paix�o incomum pela s�rie, a ponto de alguns mexicanos acreditarem que a idolatria aqui era maior que no pr�prio local de cria��o.

(foto: Televisa/SBT/Divulgação)
(foto: Televisa/SBT/Divulga��o)
POL�TICA

A autobiografia de Bola�os � repleta de lances curiosos – como sua rela��o com a pol�tica. Em geral, manteve-se distante, relacionando-a com pr�ticas de corrup��o e trocas de favores. Um grande exemplo aconteceu quando seu primo Gustavo D�az Ordaz foi presidente do M�xico, entre 1964 e 1970. Ele relembra que, ao saber da not�cia da candidatura do parente, decidiu n�o manter contato com Ordaz durante todo o seu mandato.

Curioso tamb�m � o relato sobre o breve contato que teve com Pel�. Certo dia, Bola�os estava em um est�dio da Televisa quando lhe informaram que, em um telefone, o Rei do Futebol estava do outro lado da linha com uma proposta: realizar um filme juntos. "Ele queria que eu atuasse interpretando Chaves, e isso era algo que eu sempre tinha evitado e que continuaria evitando", conta o mexicano, que explicou o motivo: o personagem ficaria grotesco na telona, pois era um produto da televis�o e assim deveria permanecer.

Bola�os conta que Pel� entendeu os motivos e se despediram afetuosamente. Outro grande nome do futebol, o argentino Diego Maradona, tamb�m procurou o int�rprete de Chaves, anos depois. "Voc� tem que saber que � meu �dolo", disse o jogador, por telefone. "N�o perco nenhum de seus programas e levei um bom n�mero deles gravados em v�deo para Cuba", continuou Maradona, que viajou para a ilha a fim de fazer um tratamento m�dico. "Assisti-los era (e continua sendo) o melhor rem�dio que tive para combater meus estados de depress�o."

AMOR AO BRASIL

Em 2019, estreou em S�o Paulo o espet�culo “Chaves – Um tributo musical”, elogiado trabalho dirigido por Z� Henrique de Paula sobre o famoso personagem e seus amigos e que chegou a arrancar l�grimas de Heriberto Lopez de Anda, diretor do Grupo Chespirito e que auxiliou Bola�os na dire��o c�nica da s�rie durante 13 anos.

Roberto G�mez Bola�os morreu em 28 de novembro de 2014, aos 85 anos, v�tima de parada card�aca, em sua casa, em Canc�n. Dois dias antes, ele escreveu no Twitter para a f� Maria do Carmo: "Todo o meu amor para o Brasil". (Estad�o Conte�do)
(foto: Estética Torta/reprodução)
(foto: Est�tica Torta/reprodu��o)

SEM QUERER QUERENDO
•  Roberto G�mez Bola�os
•  Editora Est�tica Torta
•  448 p�ginas 
•  R$ 79,90


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