
Nascida em fam�lia de escritores e irm� mais velha de S�rgio Sant'Anna (1941-2020), considerado mestre do conto, Sonia Sant'Anna construiu uma carreira liter�ria baseada em romances hist�ricos. Seu novo livro, “Rond�” (Editora Penalux), lan�ado ap�s um hiato de 10 anos, re�ne 17 contos e uma novela autobiogr�fica, representando o retorno da autora ao g�nero em que come�ou a exercer o of�cio.
Nesta entrevista, Sonia explica que parou de lan�ar livros devido ao encolhimento do mercado editorial, mas n�o deixou de escrever durante a �ltima d�cada – tem guardados dois in�ditos, a serem publicados.
Aos 83 anos, ela decidiu contar a sua vers�o de uma hist�ria de fam�lia, com a qual teve contato aos 13. Em maio do ano passado, Sonia perdeu S�rgio, que morreu aos 78 anos, de COVID-19. Apesar de mais velha que ele, a mod�stia a faz pensar que n�o influenciou o irm�o, mas espera, sim, ter sido influenciada por ele.
“Rond�” interrompe um hiato de 10 anos sem lan�amentos in�ditos. O que a levou a parar de lan�ar livros? O que a senhora fez nesta �ltima d�cada?
O governo, cliente certo para livros did�ticos e de literatura para distribuir nas escolas, passou a comprar menos. Por outro lado, algumas cadeias de livrarias deixaram de pagar as editoras. O mercado editorial encolheu. A Zahar, pela qual publiquei meus livros mais bem-sucedidos, foi absorvida pela Companhia das Letras, e nossos contratos descontinuados. Mas n�o passei esses 10 anos sem escrever. Al�m do trabalho como tradutora, tenho dois in�ditos, sendo que um deles com contrato assinado para publica��o h� cinco anos. Foi quando as pequenas editoras, tamb�m chamadas independentes, come�aram a ocupar mais e mais espa�o. E com uma delas, a Penalux, venho publicar “Rond�”.
“Rond�” � composto por 17 contos e uma novela autobiogr�fica. Quando ocorreu a produ��o desses textos? A edi��o e o lan�amento do livro foram influenciados, de alguma maneira, pelos dias em casa por conta da pandemia?
A pandemia dura pouco mais de um ano, e os 17 contos foram escritos em �pocas diferentes. A novela autobiogr�fica foi dif�cil de escrever – interrompi e recomecei in�meras vezes. Durante a pandemia, apenas a revis�o, e as conversas com editores, at� chegar a um acordo com um deles.
Em rela��o aos contos, qual � a particularidade desse tipo de narrativa que mais a atrai? “Rond�” traz a hist�ria real de sua pr�pria fam�lia. Por que decidiu escrever sobre ela?
Costumo dizer que uma determinada hist�ria me aparece pedindo para ser escrita. Ser� que � isso que se costuma chamar de inspira��o? Sou uma contadora de hist�rias, e disso se comp�em meus romances hist�ricos, contos e a novela autobiogr�fica. Esta eu sempre desejei escrever, mas custei a criar coragem para public�-la. De vez em quando me arrependo de t�-lo feito, mas n�o tem mais volta.
Sua carreira � marcada por romances hist�ricos. No entanto, “Rond�” � um livro de contos. Por que a decis�o de aderir a esse formato?
Minhas primeiras produ��es foram no g�nero conto, que n�o chegaram a ser publicados. Mas eu havia feito, por encomenda do irm�o Ivan, uma pesquisa sobre a hist�ria de Goi�s. Com parte do que ele n�o utilizou, escrevi um romance hist�rico para entrar em um concurso. Fui premiada, e o livro, “Mem�rias de um bandeirante”, publicado pela Editora Global. Mas a hist�ria n�o se desenrola em compartimentos estanques, um fato hist�rico se liga a outro, da� surgiram outros romances. Dois deles t�m por personagens antepassados meus, inclusive a quinta-av� Iria, irm� de B�rbara Heliodora. Como v�, a hist�ria familiar j� vinha me rendendo livros h� bom tempo.
Seu irm�o S�rgio Sant'Anna faleceu em maio do ano passado. Ele era reconhecido como um grande escritor que construiu legado irrefut�vel na literatura brasileira. A senhora se considera influenciada pelo trabalho dele? Acredita que o influenciou de alguma forma?
Seria pretensioso da minha parte imaginar que influenciei o S�rgio de alguma forma. Apenas, sendo ele o ca�ula, indiquei algumas leituras para o S�rgio ainda adolescente. Se fui influenciada por ele? Espero que sim.
A senhora desenvolveu trabalhos durante a pandemia?
Traduzi alguns livros infantis para a Editora Moderna e trabalhei em um projeto que me � muito caro. Escrever hist�rias para crian�as, em coautoria com a neta mais velha, Irene Pinheiro, de 33 anos, que costuma escrever desde pequena.
O Brasil atravessa um momento de tens�o pol�tica que afeta, principalmente, os setores da cultura. Na opini�o da senhora, o que significa produzir neste atual cen�rio brasileiro?
Os produtores de cultura agem sob a influ�ncia do tempo em que vivem. A literatura, inclusive a de fic��o e as recentes produ��es do cinema brasileiro, � prova disso. E o humor costuma florescer nessas �pocas – como se viu durante a �ltima ditadura militar e vemos agora.

“ROND�”
.De Sonia Sant'Anna
.Editora Penalux
.138 p�ginas
.R$ 40
