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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Jayme Monjardim quer fazer justi�a a Aracy, a brasileira que salvou judeus

Diretor da miniss�rie 'O anjo de Hamburgo' diz que o Brasil n�o conhece a paranaense que arriscou a pr�pria pele ao enfrentar o nazismo e a ditadura Vargas


17/08/2021 04:00 - atualizado 16/08/2021 22:49

Sophie Charlotte interpreta Aracy, a destemida funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo que livrou famílias judias da morte(foto: Globo/reprodução)
Sophie Charlotte interpreta Aracy, a destemida funcion�ria do consulado brasileiro em Hamburgo que livrou fam�lias judias da morte (foto: Globo/reprodu��o)

O diretor Jayme Monjardim tem predile��o por personagens femininas de grande estatura. Em sua carreira, destacam-se as miniss�ries “Chiquinha Gonzaga” e “A casa das sete mulheres”, al�m do filme “Olga”, para n�o falar da s�rie “Maysa – Quando fala o cora��o”, que retrata a trajet�ria da grande cantora, sua m�e. Agora, Monjardim se prepara para colocar mais uma figura feminina de destaque em sua cole��o, depois de terminar a filmagem de “O anjo de Hamburgo”, primeira coprodu��o internacional da Globo, em parceria com a Sony Pictures.

Trata-se da hist�ria de Aracy de Carvalho Guimar�es Rosa (1908-2011), mulher do grande escritor mineiro e que, durante o per�odo em que viveu na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, desafiou autoridades para ajudar centenas de fam�lias de judeus a fugirem do nazismo.

“Ela n�o apenas confrontou o governo alem�o, como tamb�m o Itamaraty, pois o governo brasileiro da �poca, de Get�lio Vargas, restringia a entrada de judeus no Brasil”, comenta o diretor, que trabalha agora na edi��o da s�rie, que ter� oito epis�dios.

DESQUITADA 

Aracy, de fato, desafiou as normas de seu tempo. Desquitada, situa��o totalmente reprov�vel na �poca, a paranaense chegou a Hamburgo, na Alemanha, em 1934, acompanhada do filho de 5 anos, Eduardo, para morar na casa de uma tia. Como falava fluentemente alem�o, franc�s e ingl�s, conseguiu emprego como chefe de vistos no consulado do Brasil naquela cidade.

O regime nazista e a persegui��o aos judeus revoltaram Aracy, que conseguia falsos atestados de resid�ncia para os judeus em Hamburgo e, assim, liberava a emiss�o de vistos. Os passaportes eram deixados em meio � papelada para o c�nsul, que, entediado com a burocracia, assinava-os sem ler.

Com isso, ela colocava a vida em risco, pois uma determina��o do governo varguista orientava as miss�es diplom�ticas a n�o concederem vistos que permitissem a entrada em territ�rio nacional de pessoas de origem semita.

Aracy chegou a transportar em seu pr�prio carro judeus para al�m das fronteiras alem�s. Foi no consulado que ela conheceu e se apaixonou por Jo�o Guimar�es Rosa (1908-1967), ent�o vice-c�nsul, que tamb�m passou a facilitar a fuga dos perseguidos, especialmente quando assumiu a posi��o do c�nsul, que, em janeiro de 1939, saiu de f�rias e retornou ao Brasil.

“Quando conheci a hist�ria desta mulher incr�vel, eu me senti determinado a cont�-la para mais pessoas, pois Aracy � pouco conhecida no Brasil e, em geral, o p�blico se lembra dela como a esposa do grande escritor”, explica Monjardim.

Criada e escrita por Mario Teixeira com colabora��o da autora inglesa Rachel Anthon, a miniss�rie conta com consultoria de um time de historiadores e especialistas em cultura judaica, al�m de pesquisadores de rela��es internacionais.

“O anjo de Hamburgo” tem produ��o caprichada. Rodada no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, onde edif�cios hist�ricos reproduzem com rara perfei��o a arquitetura do consulado brasileiro na Alemanha, a s�rie tem Sophie Charlotte no papel de Aracy e Rodrigo Lombardi como Guimar�es Rosa. No elenco est�o Tarc�sio Filho, que vive o c�nsul Souza Ribeiro, e Gabriela Petry, que interpreta Taibele Bashevis, judia dividida entre o sonho de ser cantora e a necessidade de estar perto da fam�lia.

A maior parte dos talentos tem diferentes nacionalidades. “S�o 13 atores estrangeiros, vindos de Israel, Alemanha, Pol�nia e It�lia”, conta o diretor, informando que a hist�ria � narrada em ingl�s para facilitar a distribui��o internacional. A produ��o ser� dublada em portugu�s quando ficar dispon�vel nas plataformas da Globo, estreia prevista para at� dezembro.

(foto: João Miguel Jr./Globo/divulgação )
(foto: Jo�o Miguel Jr./Globo/divulga��o )

"Quando conheci a hist�ria desta mulher incr�vel, eu me senti determinado a cont�-la para mais pessoas, pois Aracy � pouco conhecida no Brasil"

Jayme Monjardim, diretor


ARQUIVO 

Por causa da pandemia, a produ��o sofreu interrup��es. Iniciada em 2020, s� foi finalizada em maio deste ano. “Contamos com o grande apoio da fam�lia de Aracy, especialmente do neto Eduardo, que nos abriu seu arquivo com mais de 10 mil documentos, entre di�rios de guerra e fotos”, explica Monjardim.

Atualmente, ele trabalha em S�o Paulo, de forma remota, na edi��o dos epis�dios, que v�o contar com recursos gr�ficos e efeitos especiais. “A tecnologia me permite manter contato constante com os computadores da Globo no Rio de Janeiro”, comenta.

Maysa vai ganhar 
museu em Maric�

Jayme Monjardim prepara musical sobre a mãe, a cantora Maysa(foto: Geraldo Viola/O Cruzeiro/Arquivo EM -21/11/73 )
Jayme Monjardim prepara musical sobre a m�e, a cantora Maysa (foto: Geraldo Viola/O Cruzeiro/Arquivo EM -21/11/73 )

O norte dos pr�ximos trabalhos de Jayme Monjardim ser�o produ��es tecnicamente impec�veis e com conte�do social integrado. “Apoio a ind�stria do bem, como a Universidade dos Sentimentos, que desenvolvo com o escritor e psiquiatra Augusto Cury”, revela o diretor. “Nossa filosofia prega ter cuidado com o que se pede para o destino, pois pode acontecer.”

Outro importante projeto envolve a obra de sua m�e, a cantora e compositora Maysa (1936-1977), uma das principais int�rpretes da m�sica brasileira. Ao lado de artistas que se destacaram nos anos 1950, como Nora Ney, �ngela Maria, Cauby Peixoto e Dolores Duran, Maysa contribuiu para um novo padr�o vocal.

A vida tumultuada da estrela, que se confundia com a profissional, poder� inspirar um musical, no qual Monjardim trabalha com a cantora Claudia Netto. “Ela escreve bem e cedi acesso ao material de que disponho”, conta ele. Esse trabalho tamb�m foi interrompido pela pandemia.

Um dos grandes desejos de Monjardim � oficializar o museu em homenagem � sua m�e, a ser montado em Maric�, munic�pio da Regi�o Metropolitana do Rio de Janeiro. Ser� constru�da uma casa, onde os visitantes poder�o conhecer a Maysa de verdade.

“No planejamento, h� at� recursos de 3D que o transformar�o em um museu de sensa��es”, revela o diretor. “Haver� totens nos quais ser� poss�vel acessar as m�sicas, at� mesmo as in�ditas.”

Para isso, ele vai dispor o acesso ao seu arquivo pessoal, que conta com aproximadamente 20 documentos. A previs�o � de que o museu fique pronto at� o final de 2022.

O segredo est� 
nos detalhes

Camila Morgado no filme
Camila Morgado no filme "Olga", dirigido por Jayme Monjardim (foto: Globo Filmes/divulga��o)

Jayme Monjardim busca o perfeccionismo em tudo o que faz, mesmo quando detalhes passam despercebidos pelo grande p�blico. No filme “Olga” (2004), que conta a hist�ria de Olga Ben�rio Prestes, a judia e militante do movimento comunista deportada gr�vida pelo governo Vargas para a Alemanha nazista, h� o predom�nio das cores azul e cinza, que revelam justamente as dificuldades enfrentadas pela personagem.

Monjardim decidiu que apenas a bochecha rosada de Olga, no in�cio do filme, teria alguma cor quente, al�m dos longos closes nos verdes olhos da atriz Camila Morgado, int�rprete da personagem.

“PANTANAL” 

Para o surgimento de tais detalhes, � preciso estreito relacionamento com a equipe criativa, algo decisivo para o sucesso do projeto, acredita ele. Isso explica o estrondoso �xito da novela “Pantanal”, exibida pela extinta TV Manchete em 1990, que ganhar� um remake pela Globo.

“Trabalhei diretamente com o autor, Benedito Ruy Barbosa, em todas as possibilidades de execu��o da produ��o, o que foi essencial, pois nenhum diretor salva um texto mal constru�do”, explica, apontando os contrastes de sua vers�o com a planejada pela Globo.

“Na �poca, a regi�o do Pantanal era desconhecida, as pessoas s� falavam da Amaz�nia. Assim, sab�amos que despertar�amos a curiosidade sobre aquela natureza.” Monjardim relembra as dificuldades t�cnicas de gravar no Pantanal. “N�o disp�nhamos de eletricidade e o acesso era por avi�o. Tivemos de levar at� os tijolos para a constru��o de banheiros”, conta, refor�ando que n�o ter� nenhum contato com a nova vers�o.

“Atualmente, os recursos s�o maiores, como os drones, e a regi�o � bem mais conhecida. E as recentes queimadas n�o poder�o ser ignoradas, portanto, ser� um grande desafio.”

Com 40 anos de profiss�o, Jayme Monjardim se orgulha de ser um profissional essencialmente de televis�o. “� um meio de r�pida comunica��o, que exige detalhado entendimento de seu funcionamento. Sabemos contar bem uma hist�ria, pois Hollywood est� para o cinema assim como o Brasil est� para as novelas”, conclui. (Ag�ncia Estado)


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