Chico Neves n�o se dobra � crise e aposta no futuro com o Est�dio 304 Selo

Com a chegada da pandemia, o que se viu na cena cultural, de modo geral, foi o movimento de retra��o. O produtor musical Chico Neves, conhecido por trabalhos com Los Hermanos, Lenine, O Rappa e Paralamas do Sucesso, entre muitos outros, resolveu expandir, na contram�o da crise.

Depois de longa temporada no Rio de Janeiro, o mineiro voltou � terra natal em 2013. H� cerca de cinco anos ele mant�m o Est�dio 304 na regi�o de Macacos, em Nova Lima. Ali, gravou trabalhos de artistas de Minas e de outros estados. Durante o avan�o da COVID-19, Chico Neves ampliou o raio de a��o do est�dio, que agora funciona tamb�m como selo, cuidando diretamente dos lan�amentos e se desdobrando em v�rias a��es. “� uma porta nova, que est� abrindo milh�es de possibilidades para o futuro”, diz.

Desde que assumiu a nova fei��o – e o novo nome, Est�dio 304 Selo –, o quartel-general de Chico Neves, plantado em meio � natureza, j� chancelou �lbuns de Herbert Vianna (“HV sessions – Volume 1”), Rafael Martini (“V�rtice”), Tamara Franklin (“Fugio”), Lucas Santtana (a edi��o de 20 anos de “Eletro Ben Dod�”) e Quito Ribeiro (“Uma coisa s�”).

Neste momento, est� �s voltas com trabalhos do carioca Vov� Beb�, o segundo �lbum solo de J�lia Branco, que come�a a ser gravado no final de setembro, e o disco de estreia de Diego Bagagal – nome conhecido da cena teatral mineira, que encenou espet�culos baseados nas personagens Salom� e Cle�patra, atuou como curador do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua (FIT-BH) e, desde 2017, mora em Portugal.

Chico pretende lan�ar o material de arquivo da lend�ria Kamikaze. Pioneira da cena heavy metal de Belo Horizonte e muito conhecida nesse c�rculo pela m�sica “Machado de guerra” a banda, com mais de 30 anos de hist�ria, voltou aos palcos em 2016.

“A gente tem parceria com a Alta Fonte, que faz a distribui��o digital de todos os artistas do selo. Isso foi estruturado, durante a pandemia, com amigos que se agregaram pelo desejo de fazer coisas em comum. O que nos move � a vontade de produzir juntos, essa coisa do selo abriu muitas portas. O que est� motivando a gente � a possibilidade de agregar o est�dio �s minhas produ��es. E n�o s� a elas, pois estamos abertos a artistas com trabalhos com os quais nos identificamos”, destaca Chico, citando as pessoas que comp�em a equipe: Rafael Degelo, L�via Avelar, In�s Rabelo, Patr�cia Bastos, J�lia Branco e sua mulher, M�rcia Bonomi, CEO do Est�dio 304 Selo, al�m de Ti�o da Cruz (da produtora audiovisual Ca�amba Digital).

Lan�amentos vindouros se vinculam ao projeto que Chico come�ou a desenvolver antes da pandemia, retomado agora com mais abrang�ncia. Trata-se do “Est�dio 304 convida”, que promovia uma s�rie de shows intimistas com artistas com os quais o produtor vinha trabalhando, como Sara N�o Tem Nome e J�lia Branco, de quem gravou o �lbum solo de estreia.

“Est�vamos com v�rios projetos, ter�amos tamb�m o show do Vov� Beb�, que acabou cancelado por causa da chegada da pandemia. O 'Est�dio 304 convida' est� voltando, em parceria com o Espa�o 104, na Pra�a da Esta��o. Agora temos um est�dio compacto l� dentro do 104, onde vamos fazer eventos, inicialmente sem p�blico, e em parceria tamb�m com a Ca�amba Digital, respons�vel pelos registros audiovisuais”, informa Neves.

As a��es do 'Convida' ser�o lan�adas pelo selo, que as disponibilizar� em seu canal no YouTube. “Estou muito motivado, porque esse projeto permite � gente fazer muita coisa legal de cultura. N�o necessariamente s� de m�sica, mas algo mais amplo”, explica.

A hist�ria de Chico Neves com o Est�dio 304 come�a em 1998, com a grava��o do �lbum “Lado B lado A”, da banda O Rappa. Em 1977, ele saiu de Belo Horizonte, aos 17 anos, para posteriormente desenvolver trabalhos nas gravadoras EMI, com Andr� Midani, Odeon e Warner; com Liminha, no est�dio Nas Nuvens; e no Est�dio 302, que fundado por ele com o compositor Ronaldo Bastos em um apartamento (de n�mero 302) no Jardim Bot�nico, no Rio de Janeiro.

Depois de um tempo trabalhando com Bastos, o mineiro alugou o apartamento 304, no mesmo pr�dio e no mesmo andar, e l� instalou o Est�dio 304, que funcionou naquele endere�o at� 2013.

“Criei o 304 para poder existir. N�o me identificava mais com aquela coisa de mercado, de ind�stria, n�o queria fazer concess�es. Ent�o, criei esse espa�o para poder existir com meus sonhos, minhas utopias. Meu orgulho � ter aberto algo em que n�o h� nada me limitando, onde posso dividir sonhos com as pessoas que me convidam, onde tudo � permitido. �s vezes � dif�cil. Voc� paga um pre�o para poder existir dessa forma, livre de gravadoras e de pessoas de fora limitando seus desejos”, diz.

A volta para Minas deu continuidade a essa hist�ria e veio refor�ar a independ�ncia de Chico. “O fato de estar em Macacos, no meio da natureza, sem cobran�as, possibilita que a gente troque, no sentido de transformar em realidade as inspira��es. N�o tem tax�metro rodando. N�o � a coisa comercial, se fosse, eu estaria trabalhando com trilhas, com publicidade. Sou muito ligado � arte, �quele caldeir�o que vai formando coisas e, de repente, quando voc� v�, a obra surgiu de uma forma inusitada, que n�o foi pensada”, destaca. s parcerias com o Espa�o 104 e a Ca�amba Digital chegam para fortalecer os sonhos do produtor. O fato de dar ao est�dio a dimens�o de selo permite a Neves tirar v�rios projetos do plano das ideias e coloc�-los em pr�tica.

“Quero que muita coisa aconte�a. N�o precisa ser s� com artistas do selo, mas gente cujos trabalhos me interessam e quero ajudar a acontecer. Al�m disso, tenho muito material arquivado de trabalhos que fiz, como a trilha do filme ‘Deus � brasileiro’, do Cac� Diegues, com Nan� Vasconcelos, Heraldo do Monte e v�rios m�sicos. Tem a trilha do ‘Eu, tu, eles’, que produzi com o (Gilberto) Gil no 304: h� registros de muitas coisas que n�o entraram, coisas experimentais. Sonho em pegar todo o material do meu HD e ir lan�ando pelo selo. S�o tantas possibilidades... O futuro est� em aberto”, ressalta.

A partir da experi�ncia com os pontos de cultura, criados durante a gest�o de Gilberto Gil como ministro da Cultura, o produtor pretende compartilhar o conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de of�cio.

“Meu est�dio meio que serviu de exemplo para os pontos de cultura. O Hermano Vianna (antrop�logo, irm�o de Herbert Vianna), que contribuiu para a formata��o do projeto, levou o Gil l� para mostrar que n�o precisa de uma coisa muito grande, com muita estrutura, para funcionar. Os pontos de cultura poderiam ser algo pequeno. Dei aulas num ponto de cultura em Vargem Grande, no Rio, ajudei a montar o est�dio, ia uma vez por semana para mostrar o b�sico do b�sico. Aquilo era uma coisa incr�vel para aquelas pessoas”, conta o produtor. “Gostaria de dividir minhas experi�ncias, promover cursos, workshops. Tenho muita vontade de fazer isso.”

Chico Neves planeja passar conhecimento e criar multiplicadores, pessoas que levem a��es culturais para as respectivas comunidades. “Com o est�dio sendo selo, uma coisa expandida, a gente abre a possibilidade de fazer essas coisas todas. S�o pequenos movimentos que a gente lan�a, tendo o canal do YouTube, o Instagram. � uma porta de entrada para todas as m�dias sociais”, conclui.

De Macacos para o mundo