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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Inhotim inaugura instala��es feitas sob encomenda e exp�e obras do acervo

Instituto apresenta a partir deste s�bado (28/8) trabalhos dos brasileiros Rommulo Vieira Concei��o e Lucia Koch, e da polonesa Aleksandra Mir


28/08/2021 04:00 - atualizado 28/08/2021 07:41

Produzida a convite do Inhotim, a obra
Produzida a convite do Inhotim, a obra "Propaganda", da ga�cha Lucia Koch, teve como ponto de partida os outdoors que a artista observou em Brumadinho (foto: Lucia Koch / Divulga��o )
O Instituto de Arte Contempor�nea Inhotim inaugura neste s�bado (28/8) duas obras in�ditas, criadas por meio do programa de comissionamento da institui��o: “O espa�o f�sico pode ser um lugar abstrato”, do baiano radicado em Porto Alegre Rommulo Vieira Concei��o, e "Propaganda", da ga�cha radicada em S�o Paulo Lucia Koch. 

Ambas s�o instala��es que dialogam com o eixo curatorial escolhido para o bi�nio 2021/2022, intitulado Territ�rio Espec�fico, que prop�e investiga��es no entorno do Inhotim e lan�a um olhar sobre as rela��es estabelecidas entre o Instituto e a regi�o. 

Tamb�m hoje ser� aberta a exposi��o tempor�ria “Entre terras”, da artista polonesa Aleksandra Mir, na Galeria Pra�a, com desenhos em grande escala da s�rie “Mediterranean”, trabalho em que ela questiona as for�as sociopol�ticas que moldam as identidades nacionais.

O curador do Inhotim, Douglas de Freitas, explica que os trabalhos de Rommulo e Lucia tiveram in�cio em 2019, ap�s convite feito no ano anterior. “Eles vieram para o Inhotim na �ltima inaugura��o de obra, em 2019, e ficaram uns dois ou tr�s dias para dar uma olhada na regi�o, conhecer Brumadinho (cidade onde o instituto est� localizado), olhar para esse espa�o com outra vis�o”, diz. 

Depois desse primeiro contato, os dois artistas retornaram em 2020, quando ficaram um per�odo maior, circulando pelas cidades que cercam o instituto, para empreender efetivamente as pesquisas que resultaram nas obras que ser�o inauguradas hoje.

A instala��o de Rommulo nasceu a partir de um trabalho de campo realizado nas cidades de Brumadinho e M�rio Campos, al�m de outras da regi�o que circunda Inhotim, e tamb�m em Belo Horizonte e em cidades hist�ricas de Minas Gerais. 

Sua obra, de grandes dimens�es, justap�e arcos, c�pulas, paredes, grades, andaimes, quartinhas e front�es, o que, segundo o artista, expressa valores sobre a hist�ria da arquitetura e da arte, ambas influenciadas por diversas manifesta��es socioculturais ao longo dos s�culos, mais notadamente a religi�o.

COLE��O 

“Rommulo foi colecionando imagens, fotos, desenhos, men��es de fachadas e arquiteturas religiosas, todas que foi encontrando pelas cidades por onde passou e a partir disso criou um trabalho que �, ao mesmo tempo, uma fragmenta��o e uma jun��o dessas imagens, que abarca v�rias arquiteturas religiosas”, diz Freitas. 

O curador aponta que, mesclando fragmentos de arquiteturas sacras, o artista cria um conjunto que, simbolicamente, sustenta sua ideia de f� no conhecimento e em uma constru��o conjunta da humanidade. Rommulo explica que a percep��o de uma crescente intoler�ncia religiosa associada �s tradi��es arquitet�nicas de Minas Gerais – aplicadas, sobretudo, �s igrejas – foi sua motiva��o para criar a obra.

“Essa rela��o �ntima entre arquitetura, arte e religi�o � uma tend�ncia mundial nas artes. Na medida em que as religi�es v�o crescendo, elas desenvolvem aspectos culturais. Tem uma coisa atrelada entre as manifesta��es de f� e a institui��o cultural. O movimento da arte est� vinculado, em grandes momentos da hist�ria, � religi�o. Me pareceu interessante falar disso agora, quando assistimos a uma intoler�ncia crescente”, diz o artista. 

Ele observa que as religi�es neopetencostais n�o constroem uma linguagem arquitet�nica ou de artes visuais, mas recuperam uma est�tica greco-romana, com informa��es que ficaram no passado, mas que consolidam um lugar de pujan�a, como um front�o ou as colunas que aparecem quase como s�mbolo da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo.

O baiano Rommulo Vieira Conceição decidiu abordar a religiosidade em interface com a arquitetura, construindo uma instalação que reúne características arquitetônicas de diversas igrejas da região(foto: Isis Medeiros / Divulgação )
O baiano Rommulo Vieira Concei��o decidiu abordar a religiosidade em interface com a arquitetura, construindo uma instala��o que re�ne caracter�sticas arquitet�nicas de diversas igrejas da regi�o (foto: Isis Medeiros / Divulga��o )

PASSADO 

“Sempre tem essa associa��o com uma certa arquitetura apropriada. Eu queria ver como Minas, que tem um passado muito importante no sentido de uma tradi��o arquitet�nica religiosa, estava neste momento”, conta.

O artista diz ter visitado o estado com esse olhar. “E, de repente, me deparei com cidades de acervo hist�rico – caso de Ouro Preto – com uma vizinhan�a que traz igrejas que n�o se vinculam com essa arquitetura, porque para essas novas religi�es qualquer casa pode ser uma igreja.”

A obra do baiano procura amalgamar tudo, arcos romanos, arcos isl�micos, domos judaicos e elementos arquitet�nicos de diversas outras culturas. “Os moradores do entorno do Inhotim � que foram trabalhar nessa obra, construindo esse neg�cio que est� dentro do sistema das artes, mas tamb�m est� dentro da cultura deles. De repente, tem l� um cat�lico erguendo uma c�pula isl�mica. Isso pode reverberar. Uma vez sabendo o que estavam construindo, ser� que essas rela��es e essas reflex�es chegaram ao pensamento dessas pessoas? Espero que eu tenha promovido isso, que � o mais bacana.”


OUTDOORS 

Lucia Koch, por sua vez, ficou impressionada com a quantidade de outdoors existentes em Brumadinho, anunciando, sobretudo, novas constru��es e empreendimentos imobili�rios, conforme diz Douglas de Freitas. Isso deu o rumo para a cria��o de sua obra. 

Desde 2011 a artista desenvolve um trabalho que consiste em fotografar o interior de caixas de produtos, como macarr�o ou sapatos, vazias, e ampliar as imagens numa escala gigantesca, de forma que se assemelhem a espa�os arquitet�nicos. 

“A gente alugou outdoors publicit�rios em Brumadinho, e ela aplicou essas imagens, fotos de 8 metros por 5 metros. Lucia tamb�m desenhou estruturas de outdoor, com um conceito arquitet�nico, na Galeria Pra�a, no Inhotim, e exp�s nesses espa�os as mesmas imagens que est�o em Brumadinho. Isso passa por um conceito de propagar, passa pela ideia de que as coisas se espalham, se expandem”, diz.

Outra obra de Lucia que ele destaca � um outdoor trif�sico, uma esp�cie de prisma que gira, instalado no Inhotim. Em uma face do outdoor aparece um comercial de farm�cia, na seguinte, um de mercado, e na terceira est� estampada a obra da artista, que se infiltra nessa l�gica publicit�ria de Brumadinho.

ESTRANHAMENTO 

“Cria um estranhamento e um respiro, porque tem s� aquela imagem da caixa, como um certo esvaziamento do an�ncio. � uma obra que brinca com essa ideia de novos espa�os. � quase como se ela estivesse anunciando um novo empreendimento imobili�rio, porque essas caixas parecem espa�os que convidam para serem ocupados”, explica.

Douglas destaca que tanto Rommulo quanto Lucia foram convidados porque seus trabalhos j� t�m, naturalmente, uma rela��o com o espa�o, com a arquitetura, e eles comumente atuam no �mbito da obra comissionada, produzindo em fun��o do territ�rio que pesquisam. 

“O eixo curatorial Territ�rio Espec�fico traz a��es que pensam as rela��es do Inhotim com o espa�o que ele ocupa. O conceito de territ�rio � expandido de maneira transversal para uma investiga��o sobre os aspectos ambientais, sociais e art�sticos que se d�o dentro do Inhotim como espa�o, em seu entorno e na multiplicidade de rela��es que, a partir dele, se desdobram”, aponta.

Inaugura��es no Inhotim
Novas obras de Lucia Koch e Rommulo Vieira Concei��o e mostra “Entre terras”, de Aleksandra Mir. Na Galeria Pra�a. Visita��o: de quinta a sexta-feira, das 9h30 �s 16h30; e aos s�bados, domingos e feriados, das 9h30 �s 17h30. Ingressos: R$ 22 (meia) e R$ 44 (inteira), no Sympla. Entrada franca na �ltima sexta de cada m�s, exceto feriados, mediante retirada pr�via via Sympla. Moradores de Brumadinho cadastrados no programa Nosso Inhotim e Amigos do Inhotim tamb�m t�m entrada franca.

Mar adentro

A exposi��o de Aleksandra Mir a ser aberta na Galeria Pra�a tamb�m se vincula � proposta curatorial do Territ�rio Espec�fico, mas de uma maneira diferente. O curador Douglas de  Freitas explica que a s�rie “Mediterranean”, criada a partir de 2007, resulta da experi�ncia que a artista viveu enquanto morou, entre 2005 e 2010, na Sic�lia, ilha mediterr�nea que integra a It�lia. 

O trabalho, segundo o curador, chama a aten��o para as manifesta��es culturais carregadas por aquelas �guas ao longo de mil�nios, como agentes de troca entre sociedades e no deslocamento de indiv�duos.

“Os desenhos parecem representa��es de matas, s� que focalizam o mar, focalizam o que acontece nas �guas, com as hist�rias e os elementos sociais, culturais e pol�ticos que o mar carrega. O desenho ocupa o espa�o do mar, e n�o da terra. Nessa medida, tamb�m est� dentro do eixo Territ�rio Espec�fico. N�o � o nosso territ�rio, mas lida com a ideia de como as pessoas interagem com um determinado espa�o”, aponta.

Desenhos em grande formato feitos com caneta Sharpie pela artista polonesa Aleksandra Mir e pertencentes ao acervo do Inhotim serão expostos pela primeira vez ao público, a partir de hoje(foto: Aleksandra Mir / Divulgação )
Desenhos em grande formato feitos com caneta Sharpie pela artista polonesa Aleksandra Mir e pertencentes ao acervo do Inhotim ser�o expostos pela primeira vez ao p�blico, a partir de hoje (foto: Aleksandra Mir / Divulga��o )
Obra foi produzida durante o período em que a artista viveu na Sicília (foto: Aleksandra Mir / Divulgação )
Obra foi produzida durante o per�odo em que a artista viveu na Sic�lia� (foto: Aleksandra Mir / Divulga��o )


IN�DITA 

Ele explica que o conjunto de quatro desenhos pertencentes � s�rie “Mediterranean” que integram a mostra “Entre terras” foi adquirido pelo Inhotim em 2008, mas nunca esteve em exposi��o. “Temos uma cole��o grande de obras de diversos artistas guardada e, de tempos em tempos, realizamos exposi��es tempor�rias. Essa obra de Mir permanecia in�dita para o p�blico.” 

Freitas observa que os desenhos fazem refer�ncia � est�tica de cartum, o que deriva da admira��o que a artista tinha, quando crian�a, pela escola polonesa de p�steres de filmes dos anos 1970. “Com um tipo de caneta que � meio porosa e vai enfraquecendo durante o uso, chamada Sharpie, Mir explora uma variedade de tons que v�o do preto ao cinza com o desgaste da caneta”, diz.

O eixo tem�tico Territ�rio Espec�fico se relaciona, segundo o curador, com um trabalho que o instituto desenvolve desde 2019, de estreitar rela��es com seu entorno, criando programas como o Nosso Inhotim, em Brumadinho. Ele aponta que a no��o de site specific foi o elemento que mais contribuiu para tornar Inhotim famoso no circuito art�stico mundial. 

O termo faz men��o a obras criadas de acordo com o ambiente e com um espa�o determinado. Trata-se, em geral, de trabalhos planejados – muitas vezes fruto de convites – em local preestabelecido, em que os elementos esculturais dialogam com o meio circundante, para o qual a obra � elaborada.

“A ideia do eixo curatorial partiu dessa no��o, com o desejo de desdobrar e questionar: o que � site specific? Expandimos para Territ�rio Espec�fico, para pensar o que consolidou Inhotim como um lugar de refer�ncia no mundo”, diz. Outras a��es est�o previstas, como a cria��o de um podcast e o lan�amento de uma nova exposi��o, em novembro, que vai discutir a no��o de territ�rio, mas tamb�m de deslocamento. “A gente faz 15 anos em 2021 e essa proposta reflete o percurso do Inhotim, tem a ver com repensar o pr�prio hist�rico do instituto.” (DB)


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