Artistas e produtores defendem a continuidade de shows remotos em BH
Medo da variante Delta e log�stica mais simples mant�m agenda cultural on-line. Festivais Todos os Sons, Cantos de Beag� e Tambor na Pra�a adotam novo formato
O produtor Barral Lima, que comanda o Festival Todos os Sons, diz que formato on-line � seguro e "�timo neg�cio" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 15/4/14 )
Com o avan�o da vacina��o e a queda nos �ndices de cont�gio e ocupa��o de leitos relacionados � COVID-19, eventos presenciais v�o sendo gradualmente retomados em Minas. Por�m, v�rios produtores e artistas ainda optam por manter as atividades no modelo remoto. As raz�es para isso s�o muitas: log�stica menos complicada, estrutura mais simples, custo menor, e por quest�o de seguran�a, pois a pandemia se mant�m presente e o cen�rio � de incertezas, devido � expans�o da variante Delta.
Se, por um lado, na agenda cultural de Belo Horizonte – e de outras cidades do pa�s – come�am a constar espet�culos com a presen�a de p�blico, por outro, atividades on-line seguem em alta. E profissionais nos bastidores dessas atividades acreditam que esse � o modelo que veio para ficar.
Em 11 e 12 de setembro, ser� realizada a terceira edi��o do Festival Cantos de Beag�, que tem foco no samba e nas tradi��es bo�mias da capital mineira. O evento prop�e um giro por quatro bares da cidade que s�o redutos do samba, com direito a pr�tica culin�ria e apresenta��es musicais de Giselle Couto e de Tavinho Leon. A transmiss�o ocorrer� por meio do canal da Favo Cultural no YouTube.
GRAVA��O
O percussionista Paulo Santos, ex-Uakti, se apresenta no pr�ximo domingo, no Tambor na Pra�a on-line (foto: Youtube/reprodu��o)
As visitas aos estabelecimentos – bares Op��o, no Cai�ara, Purarmonia, no Castelo, Canto do Beto, na Cidade Nova, e Esta��o Krug Bier, na Savassi – foram previamente gravadas, bem como as entrevistas com os propriet�rios de cada boteco e as incurs�es pelas respectivas cozinhas. J� os shows de Giselle, no dia 11, e de Tavinho, no dia 12, ser�o transmitidos ao vivo.
L�cia R�go, diretora da Favo Cultural, que responde pela realiza��o do festival, explica que o evento j� nasceu on-line, por meio do edital Quatro Esta��es, da Belotur. “Naquela �poca de in�cio da pandemia, com todo mundo meio perdido, a gente pensava em como seguir com as atividades. Entramos e fomos aprovados no edital com a proposta dessas tr�s edi��es do Cantos de Beag� j� no formato on-line. Fomos descobrindo como fazer durante o processo”, conta.
Apesar do ineditismo e da falta de refer�ncias a respeito do novo formato, edi��es do festival tiveram um bom retorno, comenta L�cia. “Tinha gente do Amazonas e at� de Portugal acompanhando”, diz.
Mesmo depois de toda a popula��o vacinada e quando for seguro transitar, a Favo Cultural deve seguir com suas atividades de forma h�brida, fazendo uso do ambiente virtual. A produtora ressalva que caso a quarta edi��o do Festival Todos os Cantos seja aprovada no edital da Belotur, o formato dever� ser presencial, em dezembro.
“A quest�o agora � reaprender a fazer, j� com p�blico. Fiquei pensando: ser� que sei fazer?. � muita preocupa��o, � um mundo novo e as mudan�as acontecem a todo momento”, pondera L�cia R�go.
Tanto a quest�o da log�stica quanto do custo e da seguran�a das pessoas envolvidas pesam na op��o pelo modelo presencial ou remoto, diz a produtora. L�cia se diz ainda insegura para abrir m�o do formato em que o Todos os Cantos foi criado.
“Quando a gente foi gravar agora nos bares, o Purarmonia estava aberto, mas era um ambiente meio estranho, com distanciamento, as pessoas com medo de chegar perto das outras. O Op��o ainda est� fechado, o (sambista) Ronaldo Coisa Nossa, o dono de l�, tem medo de reabrir. Eu mesma, que atuo como produtora h� 30 anos, � como se estivesse come�ando agora, porque � tudo muito novo e incerto”, aponta.
O m�sico Tavinho Leon, atra��o do Festival Cantos de Beag�, vai tocar ao vivo
(foto: Lu Gontijo/divulga��o)
SEM EXPECTATIVAS
Quem tamb�m aderiu ao modelo remoto, sem alimentar muitas expectativas em rela��o ao reencontro presencial, � Barral Lima, diretor da UN Music – misto de produtora, selo e est�dio –, que realiza o Festival Todos os Sons.
O evento, que tem modelo competitivo, com artistas inscritos para concorrer a pr�mios em dinheiro e trof�us, est� iniciando sua quarta edi��o com a abertura, nesta quarta-feira (1º/09), do per�odo de inscri��es, que seguem at� o pr�ximo dia 12.
A fase classificat�ria ficar� a cargo de uma curadoria especializada, que selecionar� 10 can��es finalistas. Elas ser�o apresentadas ao vivo no Ultra Est�dio, em 2 de outubro, com transmiss�o pelo YouTube. Nas edi��es anteriores, a etapa final foi realizada em espa�os p�blicos de Itabirito e Ouro Preto.
“A hist�ria desse festival � na rua, na pra�a. A gente acha que ainda n�o � hora de juntar pessoas em espa�os p�blicos”, diz Barral. “A op��o pela transmiss�o on-line se deve, primeiramente, � quest�o de seguran�a. Se voc� fizer num teatro sem p�blico, ent�o pode fazer no est�dio ou em qualquer lugar. Fica mais em conta o espa�o menor, que a gente domina, onde h� melhor controle de imagem e de som”, explica. “O artista se apresenta, voc� grava, mixa com os melhores equipamentos, e isso chega ao p�blico de maneira direta, na hora.”
ULTRA
A pr�xima edi��o do Palco Ultra, outro evento com a chancela da UN Music, est� prevista para o in�cio de 2022. J� est� resolvido que ela ocorrer� de forma remota, com os artistas tocando no est�dio. Barral destaca que, independentemente da situa��o epidemiol�gica, todas as a��es de sua produtora seguir�o o formato h�brido. De acordo com ele, o modelo on-line se revelou um �timo neg�cio, com muitas possibilidades.
“Voc� chega a um p�blico maior, isso � moeda de troca com as marcas que eventualmente v�o te patrocinar. E � um �timo custo/benef�cio, � muito mais compensador pelo retorno que se pode ter. Adorei fazer eventos on-line e, por mim, continuo fazendo para sempre”, refor�a.
Antes da chegada da pandemia, a UN Music tradicionalmente realizava festivais em espa�os p�blicos, o que Barral diz ter o seu encanto, mas tamb�m problemas.
“Quando voc� faz um evento na rua, torce para come�ar e torce para acabar logo, pois o maior risco � o p�blico. Voc� n�o sabe quem est� ali. Tem gente que vai s� pra arrumar confus�o. Nesse cen�rio de pandemia, na rua voc� n�o tem controle, ent�o, de repente, sem que isso tenha sido planejado, h� ali mil pessoas aglomeradas. E � voc� quem est� levando as pessoas para aquele lugar”, salienta. “No caso do evento fechado, on-line, voc� n�o corre esse risco. A possibilidade de dar um problema qualquer � muito remota”, completa.
Ao comentar a �ltima etapa da quarta edi��o do Festival Todos os Sons, em 2 de outubro, Barral acredita que at� l� todos os envolvidos j� ter�o tomado a segunda dose da vacina. Isso representa uma tranquilidade a mais, pois as inscri��es s�o abertas para todo o estado e � comum a presen�a de artistas que se deslocam de diversas regi�es.
“A gente s� pensa em anunciar evento com p�blico quando a pandemia tiver acabado mesmo, quando o risco for m�nimo. Preferimos continuar com nossas a��es dentro do est�dio. Ali h� um grau de seguran�a maior. Mesmo sabendo que tudo pode acontecer, nossa filosofia � essa”, diz.
Tambores on-line direto do teatro
(foto: Belis�rio Tonsich/divulga��o)
"A gente tem de continuar mantendo o cuidado, porque a pandemia n�o foi embora. S� vou acreditar que ela foi embora, parar de usar m�scara e aglomerar, quando tiver certeza absoluta de que o cont�gio zerou"
Maur�cio Tizumba, m�sico
Projeto realizado h� 12 anos em espa�os p�blicos, o Tambor na Pra�a, capitaneado por Maur�cio Tizumba, inicia sua temporada de 2021 no pr�ximo s�bado (4/09), em formato virtual, como ocorreu no ano passado. Antes da pandemia, as apresenta��es reuniam multid�es para assistir a 50 ou 60 percussionistas tocando tambores para receber os convidados especiais, com grande equipe de profissionais envolvidos em diversas fun��es. No modelo remoto, ser� apenas Tizumba ao lado de seu convidado, no palco do Teatro Santo Agostinho, acompanhados por um produtor e tr�s t�cnicos de �udio e v�deo.
“Para mim, � dif�cil, n�o vou mentir. Sou o cara de fazer ao vivo, preciso da resposta do povo na hora”, diz Tizumba. Ele considera, contudo, que o momento exige cautela e o formato on-line se justifica por uma quest�o de seguran�a da popula��o.
“A gente tem de continuar mantendo o cuidado, porque a pandemia n�o foi embora. S� vou acreditar que ela foi embora, parar de usar m�scara e aglomerar quando tiver certeza absoluta de que o cont�gio zerou. Todo mundo tem que pensar nisso. A gente que faz evento na rua deve dar o exemplo, porque a coisa � muito s�ria. A gente n�o deixa de fazer a nossa m�sica, o nosso evento, mas � evento de pandemia, � on-line, sem aglomera��o”, diz.
CHAT
A solu��o encontrada para minimizar a dist�ncia do p�blico foi criar um chat. As apresenta��es desta temporada do Tambor na Pra�a, cuja abertura tem como convidado o cantor, compositor e violoncelista Cid Ornelas, ser�o transmitidas ao vivo do Teatro Santo Agostinho. Ao final do show, os m�sicos permanecer�o no local para um bate-papo virtual com as pessoas.
“Voc� pode conversar ali na hora, a gente tira uns 20 minutos para trocar uma ideia com quem est� assistindo, fala das curiosidades dos instrumentos. O convidado conta um pouco da hist�ria dele. � uma forma de voc� se aproximar do p�blico mesmo estando do outro lado da tela”, observa Tizumba.
“O tempo passou, as coisas mudaram e a gente tem que dar um jeito de se adaptar”, diz. “Mas assim que a pandemia passar, a gente volta para a rua, porque ali � o nosso lugar. A cultura do congado, do tambor mineiro, � uma cultura de rua.”
A programa��o do Tambor na Pra�a 2021 segue com dobradinhas de Tizumba com Paulo Santos (5 de setembro), Lu�sa Mitre (12 de setembro), Cleber Alves (13 de setembro), Theo Lustosa (2 de outubro), La�rcio Vilar (3 de outubro) e Camila Rocha (9 de outubro).
A sele��o de convidados, segundo o anfitri�o, � orientada pelo desejo da mistura. “O Tambor Mineiro se prop�e a quebrar preconceitos, juntar um estilo com outro. Entre as pessoas escolhidas, a maioria tem conhecimento acad�mico. Ent�o, juntamos a cultura popular, que vem do tambor, com a linguagem do piano da Lu�sa, do violoncelo do Cid Ornelas, da bateria de jazz do La�rcio Vilar”, conclui.
TAMBOR NA PRA�A AO VIVO
>> Maur�cio Tizumba convida: Cid Ornelas (4/09), Paulo Santos (5/09),Lu�sa Mitre (12/09), Cl�ber Alves (13/09), Theo Lustosa (2/10), La�rcio Vilar (3/10) e Camila Rocha (9/10)
>> Direto do Teatro Santo Agostinho. Gratuito. Sempre �s 20h, transmitido por YouTube.com/CiaBurlantins