
O pesquisador volta � quest�o com “Gera��o 2010 – O sert�o � o mundo”, sele��o de 25 autores que ele considera representantes da boa produ��o lan�ada ultimamente. Gente que publica de forma independente – ou n�o – e est� longe da cena liter�ria das grandes capitais.

SEM LISTA
O foco, ele avisa, n�o � fazer a lista dos melhores escritores, o que seria imposs�vel com 25 nomes apenas, mas destacar “�timos autores vindos dos sert�es, florestas e pequenas cidades”.
O interesse de Giacomo est� nas narrativas, especialmente aquelas descolonizadas e de tem�ticas particulares. Nessa lista entraram, por exemplo, Ailton Krenak, Marcia Kambeba e Mailson Furtado, que ganhou o Pr�mio Jabuti em 2018.

Para Giacomo, a colet�nea � uma prova de que a literatura brasileira vive seu melhor momento dos �ltimos 50 anos.
“Nossa literatura � escrita por autores e autoras espalhados pelo Brasil, muitos dos quais s�o escritores e escritoras negros, ind�genas, LGBTQIA%2b e vindos das classes trabalhadoras. Mas eles n�o s�o bons autores por ter esses lugares de fala apenas. Fazem, de fato, uma arte excelente, como os leitores, cr�ticos e pr�mios t�m reconhecido”, afirma.
A demanda por autores fora do eixo cresceu, segundo Di Giacomo, ap�s a ado��o de sistemas de cotas e de pol�ticas de inclus�o, que permitiram o acesso de minorias e de povos discriminados � universidade.
“Gra�as � luta dos movimentos sociais, dos movimentos negros, dos movimentos ind�genas, tivemos avan�os que permitiram uma pequena 'reforma agr�ria' do campo liter�rio brasileiro. Quem s�o os autores mais populares hoje no Brasil? Krenak, Itamar Vieira Junior, Djamila Ribeiro e Jarid Arraes. Nenhum deles � branco”, constata.
“Com leitores demandando esses livros, editoras e pr�mios tiveram que abrir suas portas para continuar vendendo. 'Torto arado' vendeu 200 mil exemplares, isso � muito em um Brasil que n�o l�. A Djamila Ribeiro � best-seller. Nenhuma editora faz trabalho social publicando autoras negras ou ind�genas, elas est�o lucrando com isso. Algo que o racismo e o colonialismo nunca permitiram que se pensasse ser poss�vel”, observa Fred di Giacomo.
A colet�nea “Gera��o 2010” re�ne Ailton Krenak, Bruno Ribeiro, D�bora Ferraz, Franklin Carvalho, Fred Di Giacomo, Gilvan Eleut�rio, Isabor Quintiere, Itamar Vieira Jr., Jarid Arraes, Julie Dorrico, Krishna Monteiro, Mailson Furtado, Marcelo Maluf, M�rcia Kambeba, Maria Fernanda Elias Maglio, Maria Val�ria Resende, Mariana Basilio, Maya Falks, Micheliny Verunschk, Monique Malcher, Nara Vidal, Nat�lia Borges Polesso, Raimundo Neto, Santana Filho e Victor Guilherme Feitosa.
Duas perguntas para...
Fred Di Giacomo escritor e pesquisador
Sua pesquisa foca a mudan�a no panorama liter�rio brasileiro. Qual o impacto disso nas narrativas? Do que trata essa “nova literatura brasileira”?
Uma mudan�a imediata na literatura � que quem era “objeto” passa a se tornar “sujeito”. Quem era “tema” passa a tornar-se “autor”. Mailson Furtado fala: quem escrevia antes sobre os sertanejos eram os senhores de engenho. H� a mudan�a na ra�a e no g�nero das protagonistas dos nossos contos e romances e dos cen�rios onde eles se passam. H� um retrato menos estereotipado e “folcl�rico” de quest�es de ra�a e g�nero, das religi�es de matriz africana e dos diferentes povos ind�genas. E h� o que Grada Kilomba, mulher negra, resume assim: “Enquanto escrevo, eu me torno a narradora e a escritora da minha pr�pria realidade, a autora e a autoridade na minha pr�pria hist�ria. Nesse sentido, eu me torno a oposi��o absoluta do que o projeto colonial predeterminou.”
Como as editoras independentes t�m participa��o nisso?
Sem as editoras independentes n�o haveria essa mudan�a – que ainda � pequena, pensando no contraste entre o perfil dos autores publicados no Brasil e o da maioria do povo brasileiro. O poeta cearense Mailson Furtado ganhou o pr�mio de Livro do ano, no Jabuti de 2018, com uma obra independente. Isso � revolucion�rio. Dois anos depois, a poeta pernambucana Cida Pedrosa ganhou o mesmo pr�mio com uma obra lan�ada pela Cepe, de Pernambuco. Ambos definem-se como sertanejos, v�m de fam�lias pobres. A revolu��o est� em tomar os meios de produ��o. Acho que 90% dos autores que inclu� na antologia foram lan�ados por editoras pequenas espalhadas pelo Brasil. Seria imposs�vel para meia d�zia de editoras do Sudeste ter essa capilaridade e vis�o.