Mostra 'A tens�o' instala piscina com ilus�o de �tica no CCBB-BH
Maior exposi��o individual no Brasil do artista pl�stico argentino Leandro Erlich ser� aberta nesta quarta (15/9) e conta com palestra sobre as obras
Leandro Erlich vive entre Buenos Aires, Montevid�u e Paris. O artista veio a Belo Horizonte para acompanhar a abertura da exposi��o, e ter� encontro com o p�blico hoje (foto: Fotos: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS
)
Esque�a o que os seus olhos mostram e preste aten��o no que a sua cabe�a est� dizendo. � basicamente esse o jogo proposto pelo artista Leandro Erlich na exposi��o “A tens�o”, que abre nesta quarta (15/09) para o p�blico no Centro Cultural Banco do Brasil.
Maior mostra do argentino no pa�s, tem um car�ter retrospectivo, j� que os 20 trabalhos apresentados foram produzidos nos �ltimos 25 anos. Belo Horizonte abre a agenda da individual, que segue em janeiro para o CCBB do Rio de Janeiro e em abril para o de S�o Paulo.
Instala��o criada em 1999, “Swimming pool” (‘Piscina”), montada no p�tio da institui��o, deve concentrar boa parte do interesse do p�blico – e das postagens em redes sociais. �, literalmente, uma piscina na qual o visitante ter� dois pontos de vista: de dentro e de fora.
Quem est� do deck ver� as pessoas de dentro, como se estivessem mergulhadas nas �guas azuis. E quem est� de dentro n�o molha um s� fio de cabelo. Tal imagem � tornada poss�vel gra�as a uma fina camada de �gua colocada na parte superior de uma folha de vidro. Jatos d’�gua simulam o movimento.
Com refer�ncias de arquitetura, a obra de Erlich tem na janela um de seus elementos constantes
PALESTRA
O pr�prio Erlich, que est� em BH para a abertura – participa hoje de uma palestra no CCBB, ao lado de Marcello Dantas, curador da exposi��o –, � quem explica como se forma essa imagem. N�o s� essa, mas a de todas as demais obras.
“Gosto da ideia de que as pessoas saibam reconhecer como os trabalhos s�o feitos. Em alguns deles, o visitante vai encontrar seu pr�prio papel nele”, diz o artista. “O tempo todo o trabalho dele lida com a d�vida. Mas o bonito � que n�o tem truque, est� tudo na sua cara”, comenta Dantas.
A instala��o “Hair saloon” (“Sal�o de beleza”, 2008), que abre a mostra, no terceiro andar, � a primeira a ter um “papel” para cada visitante. O que encontramos � um tradicional sal�o de beleza, com suas poltronas e aparatos.
Uma vez sentados, n�o nos vemos refletidos, simplesmente porque n�o h� espelho. A imagem que temos � a da pessoa que est� na poltrona em frente – a nossa imagem vai aparecer no espelho do outro lado do bloco de poltronas.
"Estudei arte e filosofia e cresci em uma fam�lia de arquitetos. Minha inten��o � questionar nosso entendimento sobre a realidade. A arquitetura � uma express�o forte de algo real. Um pr�dio � s�lido e real. Nestes espa�os, que nos s�o familiares, as coisas s�o do jeito que s�o. Mas podem ser de outra maneira"
Leandro Erlich, artista pl�stico argentino
Outro trabalho que provoca a mesma sensa��o � “Lost garden” (“Jardim perdido”, 2009), em que o visitante observa, da janela, uma esp�cie de jardim de inverno. Voc� se v� em uma diagonal e acredita que est� em frente a uma �rea como um cubo – mas o formato da instala��o � triangular.
Janelas, por sinal, est�o presentes em v�rias obras. Em “Blind window” (“Janela cega”, 2016), Erlich prop�e uma troca de pap�is: uma estrutura de vidro suporta uma janela feita de tijolos. “El avi�n” (“O avi�o,” 2011) e “Night flight” (“Voo noturno”, 2015) s�o um d�ptico: duas janelas de avi�o que mostram imagens diurnas e noturnas de um voo.
“The view” (“A vista”, 1997/2017) � uma videoinstala��o que muitos v�o relacionar com o cl�ssico “Janela indiscreta” (1954), de Alfred Hitchcock. Por entre persianas, assistimos a nove janelas com pessoas dentro de casa – todos familiares e parentes do artista.
A instala��o %u201CPr�ximamente%u201D tem cartazes de filmes hipoteticamente dirigidos por Charlie Lendor (acr�nimo de Leandro Erlich)
PORTAIS
“As janelas s�o um importante elemento da arquitetura, pois s�o elas que nos permitem luz. Eu as vejo tamb�m como portais”, afirma Erlich, cujo trabalho prop�e, o tempo inteiro, uma interse��o entre arte e arquitetura.
“Estudei arte e filosofia e cresci em uma fam�lia de arquitetos. Minha inten��o � questionar nosso entendimento sobre a realidade. A arquitetura � uma express�o forte de algo real. Um pr�dio � s�lido e real. Nestes espa�os, que nos s�o familiares, as coisas s�o do jeito que s�o. Mas podem ser de outra maneira”, diz.
"O tempo todo o trabalho dele lida com a d�vida. Mas o bonito � que n�o tem truque, est� tudo na sua cara"
Marcello Dantas, curador
Um elevador e um olho m�gico, tamb�m elementos comuns do cotidiano, ganham novos perspectivas na exposi��o. H� obras que brincam com a ideia do reflexo. Uma delas � “Traffic jam” (“Engarrafamento”, 2018), uma vers�o compacta de uma instala��o que Erlich criou em Miami Beach para a Art Basel. A obra original, que discute a crise clim�tica, colocou 66 ve�culos de tamanho natural produzidos de areia na praia na Fl�rida – muitos deles aparecem soterrados.
A mostra termina com a instala��o “Pr�ximamente” (“Em breve”, 2019), que remete ao sagu�o de uma sala de cinema. Nas paredes da sala, em tons avermelhados, vemos v�rios p�steres, na verdade, pinturas realizadas por Erlich a partir de fotos.
Al�m da refer�ncia cinematogr�fica, essencial em sua obra, os filmes nunca realizados (todos dirigidos por um certo Charlie Lendor, na verdade um acr�nimo de Leandro Erlich) se relacionam com as obras apresentadas na mostra.
O “filme” “Paranoid”, por exemplo, cujo p�ster apresenta um homem olhando por um olho m�gico, se relaciona com a instala��o “Neighbors” (1996-2017).
A obra %u201CHair saloon%u201D abre a exposi��o e promove um jogo de espelhos
no qual a imagem refletida contraria a expectativa do visitante
MONTAGEM
Para a exposi��o, Erlich, que vive entre Montevid�u, Buenos Aires e Paris, visitou os tr�s CCBBs no Brasil para ver as possibilidades de cada espa�o. “A tens�o” foi adiada de 2020 para 2021 em decorr�ncia da pandemia. Praticamente todas as obras foram constru�das em uma empresa de cenot�cnica no Rio e finalizadas em BH. A montagem no CCBB consumiu quatro semanas.
“A prepara��o, que envolveu pessoas da Europa e da Argentina, foi feita remotamente. Isso foi uma parte das dificuldades. Mas acho que a exposi��o agora traz um elemento simb�lico, pois v�rias das obras mudaram de significado”, comenta Dantas, que j� havia trabalhado com Erlich na coletiva “Invento: As revolu��es que nos inventaram”, na Oca, em S�o Paulo.
Um dos trabalhos mais significativos deste novo olhar decorrente da pandemia � a instala��o “Classroom” (“Sala de aula”, 2017). O p�blico chega ao espa�o escuro e vazio e se assenta em carteiras negras – ao olhar para o lado, voc� se v� refletido em outra imagem de sala de aula.
Se antes (da crise sanit�ria) a obra nos remetia a uma nostalgia, hoje ela expressa a realidade, com salas de aula vazias no mundo inteiro e em que n�s viramos fantasmas digitais”, comenta Dantas.
“A piscina”, na opini�o dele, tamb�m pode ser relida. “Ela se torna uma bolha de exclus�o em que as pessoas mergulham no universo privado, desconectando-se do restante do planeta. Ningu�m sabe o que est� acontecendo fora dela, fazendo uma met�fora do nosso tempo”, observa o curador.
%u201CSwimming pool%u201D oferece ao espectador duas vis�es distintas caso ele escolha apreciar a obra do lado de dentro ou de fora da piscina, instalada no p�tio do CCBB
“A TENS�O”
Exposi��o de Leandro Erlich no Centro Cultural Banco do Brasil, Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, (31) 3431-9400. Abertura para o p�blico nesta quarta-feira (15/09), a partir das 10h. Visita��o de quarta a segunda, das 10h �s 22h. Os ingressos, gratuitos, dever�o ser retirados antecipadamente no site Eventim (www.eventim.com.br/artist/leandro-erlich/). Ser�o disponibilizados 100 ingressos por hora (o �ltimo hor�rio de visita � 21h). Hoje, �s 15h30, haver� no teatro do CCBB palestra com Leandro Erlich e o curador Marcello Dantas. O acesso do p�blico ser� liberado a partir das 15h30.