Come�a hoje a edi��o virtual da Bienal Mineira do Livro, com 150 convidados
Ign�cio de Loyola Brand�o, Olavo Romano, Leo Cunha e a atriz Maria Flor, agora romancista, participam do encontro on-line, cuja programa��o ter� 10 dias
Ign�cio de Loyola Brand�o vai falar sobre "N�o ver�s pa�s nenhum", livro que h� 40 anos previu as mil�cias e abordou o desprezo obscurantista � ci�ncia
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Programada para maio de 2020, a 6ª
Bienal Mineira do Livro
sofreu, ao longo de um ano e meio de pandemia, sucessivos adiamentos. Diante da impossibilidade de ser realizada presencialmente, foi criada a edi��o
virtual
, de vulto (10 dias de dura��o,
60 horas de atividades e 150 convidados), que marca o novo momento do evento.
A partir desta ter�a-feira (21/09), a Bienal Virtual vai oferecer
programa��o
pautada em
debates
com autores – s�o nove eixos tem�ticos – de manh� at� a noite. Uma vez exibidas nos dias e hor�rios previstos, as
lives
ficar�o dispon�veis por pelo menos um m�s na plataforma do evento.
Olavo Romano, de 83 anos, abre a Bienal Virtual explicando por que est� reescrevendo a pr�pria obra
(foto: Caravana Editorial/reprodu��o)
LIVRARIA
Com apoio do
Estado de Minas
, a edi��o digital abre um novo flanco. Tamb�m hoje ser� inaugurada a livraria virtual
lojabienal.com.br
, de car�ter cont�nuo.
“� um lan�amento importante, pois a loja d� um car�ter de perman�ncia � Bienal. E h� o desafio da leitura: hoje, cada brasileiro l� 2,55 livros durante um ano inteiro”, afirma Marcus Ferreira, diretor da Bienal.
De acordo com ele, a loja servir� como ponto de encontro entre leitores e assinantes (os antigos expositores; 28 livrarias, distribuidoras e editoras). A iniciativa virtual permitir� a intera��o constante e n�o apenas nos anos pares, como ocorria at� ent�o com as edi��es presenciais do evento.
Para o p�blico, uma boa not�cia: os livros da loja virtual ter�o frete gratuito para todo o pa�s. A cada 20 t�tulos vendidos, um volume ser� doado para escolas p�blicas e participantes de programas de incentivo � leitura.
Embora este momento seja marcado pela presen�a constante no mundo digital, o presencial � o grande atrativo do mercado livreiro. A edi��o de 2020 ser� realizada de 13 a 22 de maio de 2022, no BH Shopping.
“Logo que a pandemia come�ou, tivemos uma rea��o r�pida e criamos a��es por meio de lives para ficar mais pr�ximos das pessoas. � importante n�o perder o contato para estimular a leitura”, afirma Gl�ucia Gon�alves, presidente da C�mara Mineira do Livro.
Cada eixo tem�tico da Bienal Virtual tem sua curadoria espec�fica. O jornalista Rog�rio Faria Tavares est� � frente do Caf� Liter�rio, ponto de encontro com autores da cena contempor�nea. Um dos convidados � Ign�cio de Loyola Brand�o, que conversa com Tavares sobre um de seus mais importantes livros, “N�o ver�s pa�s nenhum” (1981).
Quarenta anos depois de publicada, essa obra ganhou nova leitura justamente por “antecipar” o momento de agora. No romance, o governo brasileiro nega a ci�ncia, mil�cias tomaram o lugar da pol�cia e a Amaz�nia, vale dizer, virou deserto.
Tamb�m conversam com Tavares v�rias autoras, entre elas Cris Guerra e a atriz Maria Flor, que est� lan�ando seu primeiro livro, o romance “J� n�o me sinto s�”.
Outros eixos tem�ticos s�o Mais idade, mais livros, sobre os desafios da longevidade; Palavras com tempero, destacando diferentes nuances da obra de Fernando Sabino; e programas destinados a educadores, crian�as e jovens.
Leo Cunha lan�a o livro de cr�nicas 'Memes e mem�rias'
(foto: Youtube/reprodu��o)
HOMENAGEM
Quem abre a programa��o de encontros liter�rios � Olavo Romano, que conversa com Leonardo Costaneto hoje, �s 10h45 – os dois s�o editores da Caravana Grupo Editorial. Abrir com Romano n�o � meramente circunstancial. Ele seria o autor homenageado da Bienal 2020 – portanto, o ser� na edi��o de 2022.
“� a homenagem mais longa que vai haver. Como ainda n�o houve, continuo sendo homenageado”, brinca o escritor e editor.
Presidente em�rito da Academia Mineira de Letras, Romano, de 83 anos, come�ou a escrever j� adulto – lan�ou duas dezenas de livros. Com hist�rias adaptadas para os palcos e as telas, o menino m�ope de Morro do Ferro, distrito de Oliveira, aprendeu a ler bem cedo e a agu�ar os sentidos para que o que estava perto dele.
“A vida toda, a �nica coisa que eu sabia � que queria escrever. Mas fui por outros caminhos e s� aos 40 achei o meu”, comenta Olavo Romano, que escolheu falar do Brasil a partir de Minas.
“Hoje, estou refazendo minha obra, reescrevendo minhas coisas para deixar um legado”, afirma ele, que desde janeiro vive em uma ch�cara distante 40 quil�metros de Belo Horizonte.
O autor cita “Viagem em torno do meu quarto” (1794), do franc�s Xavier de Maistre, lido por Machado de Assis, como inspira��o para estes tempos. “Estamos numa situa��o de confinamento em que ler � o melhor rem�dio. Ao ler, voc� faz viagens incr�veis, conhece pessoas incr�veis, mas sem correr riscos, sem colocar m�scaras”, comenta.
Neste momento, o autor mineiro tem trabalhado na escrita de mais de 30 hist�rias, casos que foram adaptados e encenados por contadores de est�ria. “Estou me apropriando ainda mais desse material, porque tenho o privil�gio de chegar aos
83 l�cido e animado. Tenho de usar isso a meu favor.”
Como editor, Romano comemora a publica��o de 500 t�tulos pela Caravana. “� uma aventura magn�fica. Estamos h� tr�s anos com uma editora que nem sede pr�pria tem e, com a pandemia no meio, estamos mergulhados nas letras.”
A atriz Maria Flor estreia na literatura com 'J� n�o me sinto s�'
(foto: Globo/divulga��o)
CONVERSA
Outra trajet�ria liter�ria que dever� render boa conversa � a do escritor, professor e tradutor Leo Cunha. Um dos nomes mais conhecidos (e prol�ficos) da literatura infantojuvenil de Minas, ele conversa na sexta-feira (24/09), �s 16h30, com Rog�rio Tavares.
A partir de “Poemas para ler num pulo” (2009), os dois falam sobre a obra de Cunha, que j� perdeu a conta de quantos livros lan�ou. “Quando eram quatro ou cinco, eu sabia...”, brinca ele, que deve estar se aproximando dos 80 t�tulos.
S�o 55 anos de vida e 28 desde a estreia com “Pela estrada afora” (1993). A pandemia n�o afetou sua produ��o. Traduziu livros, escreveu e publicou. Nesta semana, Cunha lan�a “Memes e mem�rias” (Editora do Brasil), colet�nea de cr�nicas com alguns textos curtos produzidos em 2020.
A crise sanit�ria, no entanto, afetou muit�ssimo um dos maiores prazeres do escritor: percorrer o Brasil para visitar escolas, feiras de livros e bienais.
“Sou do tipo que viaja 20, 25 vezes por ano. Tem escritor que � meio recluso. J� eu saio muito, gosto de autografar, ir a escolas, bater papo com crian�as. S� n�o conhe�o o Amap� e o Tocantins, todos os outros estados conheci por causa dos livros”, conta.
Durante a pandemia, a atividade com os leitores continuou no formato on-line. “Os meninos participam, mas n�o t�m a mesma espontaneidade. � um paliativo, o que d� para fazer”, comenta Leo. Nos pr�ximos dias, ele come�a a matar a saudade. Depois de um ano e meio em casa, viaja para o Sul do pa�s por uma semana para participar de eventos liter�rios.