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Estado de Minas LITERATURA

Selva Almada explora a viol�ncia e rupturas familiares em 'N�o � um rio'

Escritora e jornalista argentina exp�e crueldade do dominador universo masculino em seu novo romance


04/10/2021 04:00 - atualizado 04/10/2021 09:20

Escritora e jornalista argentina Selva Almada
Escritora argentina usa poucas palavras para dizer muito em seu novo livro (foto: Vale Fiorini/Divulga��o)

A escrita da argentina Selva Almada � precisa, econ�mica, n�o admite firulas. Mas isso n�o impede que seus textos sejam carregados de poesia – Selva consegue a proeza de usar poucas palavras para dizer muito. Ou, �s vezes, mais sugerir que afirmar. � o que o leitor pode observar em “ N�o � um rio ”, lan�ado pela Editora Todavia.

A trama se passa no interior da Argentina, regi�o pontuada por vilarejos onde o tempo parece congelado, s� quebrado por casos de viol�ncia ou rupturas familiares. Aqui, durante uma pescaria, tr�s homens revelam os contornos de sua exist�ncia, da mesma forma que o rio por onde navegam tem o curso tracejado.

Enero Rey e Negro levam Tilo, o filho adolescente de Eus�bio, um amigo j� morto, nessa pescaria e, depois de comer e beber vinho, eles ficam com o humor alterado e entram em um estado de estupor – cozinham, falam e dan�am, eles lutam com os fantasmas do passado e do presente.

� o ponto de partida para Selva Almada investigar a crueldade e a viol�ncia de um universo dominador, o masculino, que se sustenta por meio de alian�as secretas. Trata-se de um terreno j� conhecido por ela –  em “Garotas mortas”, lan�ado aqui em 2018, a autora argentina apresentou o relato ficcionalizado da morte de tr�s meninas nos anos 1980.

Ela viajou a tr�s prov�ncias argentinas para apurar a morte das garotas, um caso mal resolvido, com nenhum culpado cumprindo pena. L�, conversou com amigos e familiares e, com um vasto material � m�o, escreveu um texto de n�o fic��o. Mas, ao perceber que o texto n�o tinha a sua voz, optou por usar os dados e escrever com as ferramentas da fic��o. Com isso, conseguiu narrar um assunto espinhoso de uma forma menos dura. Sobre sua obra, Selva respondeu, por e-mail, � entrevista a seguir.

Como em seus dois romances anteriores, o territ�rio da narrativa � um conflito: a religi�o em “O vento que arrasa”, a inimizade entre fam�lias em “Ladrilleros”. Em “N�o � um rio”, � apenas uma troca de olhares. De onde vem seu interesse pelos detalhes?
Gosto de pensar em uma hist�ria (seja ela curta ou um romance, ou mesmo uma longa hist�ria) como uma cena que se v� pelo canto do olho: um fragmento muito pequeno de algo maior que n�o podemos ver, mas que podemos intuir ou perceber ou come�ar a construir a partir desse fragmento. Normalmente, � assim que come�o a escrever, aquela coisa min�scula que n�o consigo ver completamente e que a escrita revela.

Por que a natureza em sua narrativa � um territ�rio e um personagem ao mesmo tempo?
Talvez tenha a ver com a minha pr�pria hist�ria de vida: cresci em um lugar onde a natureza era algo vivo, mutante, desafiador... N�o gosto de pensar nisso apenas como um cen�rio, mas como o que �: um sistema vivo do qual n�s, humanos, fazemos parte – h� di�logo, interfer�ncia, conflitos e atos de amor, como em qualquer sistema.

Os personagens s�o pescadores e, para pescar, � preciso sil�ncio. Essa poderia ser uma das raz�es para uma narrativa t�o fragmentada?
Sim, mas n�o entendi isso desde o in�cio. Na verdade, o romance tinha uma primeira vers�o de que n�o gostei justamente porque “era muito falado”. Aconteceu tamb�m com os outros dos meus romances, em que a forma de narr�-los me foi ditada pela mesma trama. “N�o � um rio” � um romance com uma presen�a estelar da paisagem: o rio, a montanha, tudo o que neles vive... A pesca � a desculpa para que os personagens estrangeiros, aqueles que ativam o conflito, estejam l�. Para pescar, � preciso se calar; para escrever tamb�m... E esse � um romance feito de sil�ncios.

O cen�rio desse romance (a ilha, o rio), me parece, favorece a presen�a do m�stico, do supersticioso. Estou certo?
� um cen�rio muito sugestivo. O litoral argentino, onde o romance � ambientado, � muito rico em lendas, contos orais de fantasmas, m�sica que recria essas hist�rias. Tamb�m vieram de l� alguns dos nossos maiores poetas, como Juan L. Ortiz (o maior de todos, na minha opini�o), que escrevem para aquele rio e para aquela montanha. E, se nos referimos � literatura universal, a ilha sempre foi constru�da como um espa�o m�tico, onde tudo pode acontecer.

Como voc� v� o significado dos nomes e que tipo de coisas voc� pode transmitir ao leitor por meio da experimenta��o com o conceito de um nome?
Os nomes costumam aparecer simplesmente. Enero (‘janeiro’, em espanhol) vem de uma anedota que me contaram, sobre um campon�s que deu aos filhos o nome do m�s em que nasceram. Janeiro � ver�o, gostei disso para o personagem que, na primeira vers�o, era muito mais expansivo. Tilo � porque moro em um quarteir�o cheio de t�lias e o aroma de suas flores anuncia o ver�o, minha esta��o preferida. Depois, h� muitos nomes que s�o t�picos da regi�o, como Aguirre. E Siomara era o nome de minha av�.

A amargura e o t�dio s�o os grandes males contempor�neos? Por que vivemos em tempos t�o angustiantes?
N�o sei. No que diz respeito � ang�stia, estamos no meio de uma pandemia h� mais de um ano, milhares de pessoas morrem todos os dias, h� mais de um ano estamos imersos na morte e na incerteza, n�o me ocorre que isso pudesse gerar outra coisa que n�o ang�stia. (Estad�o Conte�do)


N�O � UM RIO
• Selva Almada
• Editora Todavia
• 96 p�ginas
• Pre�o:R$ 49,90 e R$ 34,90 (e-book)


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