(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas FLIR

Festival Livro na Rua come�a nesta ter�a-feira em 10 espa�os de BH

Terceira edi��o do FLIR ser� em formato h�brido, com programa��o presencial e virtual. Carolina Maria de Jesus � a � a homenageada deste ano


04/10/2021 04:00 - atualizado 04/10/2021 08:42

Escritora mineira Carolina Maria de Jesus
Escritora mineira Carolina Maria de Jesus (1914-1977) vai inspirar temas como literatura feita por mulheres, escravid�o, mem�ria e justi�a social na programa��o do Flir (foto: Arquivo)

A terceira edi��o do Festival Livro na Rua (Flir) come�a nesta ter�a-feira (5/10) com a promessa de ser o primeiro grande evento liter�rio presencial de Belo Horizonte desde o in�cio da pandemia. At� o pr�ximo domingo (10/10), o evento oferece uma programa��o h�brida com atividades presenciais e virtuais que v�o movimentar as principais livrarias da cidade. Como nesta edi��o o Flir presta homenagem a Carolina Maria de Jesus (1914-1977), a filha da escritora, Vera Eunice de Jesus, participa do festival em duas ocasi�es.

Na sexta (8/10), �s 19h, Vera conversa com Adriane Garcia, uma das curadoras do evento, na Livraria Bantu, que permitir� a presen�a do p�blico. No domingo (10/10), ela tamb�m participa da mesa virtual "Sentei ao sol para escrever",  que contar� com a presen�a de Telma Borges e Rafaella Fernandez.

Quando recebeu o convite para estar na programa��o do Flir, Vera Eunice logo relacionou o nome do evento com a literatura de Carolina. "Ela foi uma escritora de rua. A vida da minha m�e era catar papel nas ruas. Desde a adolesc�ncia, ela dormia na rua. Quando chovia e a �gua subia onde n�s mor�vamos, na favela do Canind�, n�s �amos atr�s de abrigo nos albergues de S�o Paulo. Era dif�cil achar vaga nesses espa�os, ent�o �amos para a rua e dorm�amos por l� mesmo", explica.

Nascida em 1953, Vera conviveu com a m�e at� os 23 anos, quando Carolina Maria de Jesus morreu, aos 62. Suas principais lembran�as da conviv�ncia familiar envolvem a pobreza e a fome, mas a figura materna est� sempre associada com a escrita. Ela se lembra de que, desde que nasceu at� o dia em que se casou, aos 18 anos, sempre dormia junto � m�e e, portanto, sempre a via escrevendo.

"Minha m�e escreveu a vida inteira. Ela escrevia muito � noite. Estava sempre com um papel e um l�pis � m�o, guardados nos bolsos. Me lembro bem, j� adolescente, onde n�s mor�vamos n�o tinha luz el�trica e usava-se lamparina. Ela apoiava a lamparina no meu corpo e escrevia. Consigo me lembrar bem do barulhinho da caneta no papel. Aquilo me incomodava um pouco, mas eu tinha muito medo de dormir sozinha. Ela dizia: 'Ou fica quieta ou vai dormir sozinha'", recorda Vera Eunice.

''Ela foi uma escritora de rua. A vida da minha m�e era catar papel nas ruas. Desde a adolesc�ncia, ela dormia na rua''

Vera Eunice de Jesus, professora e filha de Carolina Maria de Jesus


GOSTO PELA ESCRITA

Nos momentos de maior necessidade, Carolina Maria de Jesus sa�a de casa com a promessa de retornar somente quando conseguisse algo para comer. "Ela dizia: 'Vou atr�s de dinheiro...'. Eu e meus irm�os fic�vamos muito preocupados. O meu irm�o mais velho, Jos� Carlos, ficava acompanhando as not�cias no r�dio. Ele dizia que, se ela morresse, seria noticiado, j� que era escritora. Passava alguns dias, �s vezes at� uma semana, e ela voltava com comida. J� voltava e ficava escrevendo, sempre com um dicion�rio ilustrado embaixo do bra�o".
Apesar da falta de recursos enfrentada durante a inf�ncia e a adolesc�ncia, Vera Eunice lembra que a m�e n�o abria m�o de uma educa��o formal para os filhos. Quando entrou na escola, ela j� sabia ler e, posteriormente, tamb�m tomou gosto pela escrita.

"� como dizem: n�s n�o t�nhamos comida, mas t�nhamos cultura. Minha m�e sempre foi uma mulher muito culta. Al�m de escrever, cantava e dan�ava. N�s ador�vamos ver ela dan�ar. Fic�vamos os tr�s em p� na cozinha, batendo palmas, e ela dan�ava. Carolina tamb�m lia muito para a gente. Quando eu tinha uns 10 anos, estava na quarta s�rie, j� me sobressa�a no portugu�s, tanto que uma professora, dona Idalina, enviava as minhas reda��es para um jornal e eles chegaram a publicar algumas", conta.

Segundo ela, Carolina Maria de Jesus tinha consci�ncia de que n�o escrevia de acordo com a norma-padr�o, mas isso n�o a impediu de escrever livros, entre eles "Quarto de despejo: Di�rio de uma favelada", publicado pela primeira vez em 1960. A escritora, entretanto, tinha vontade de aprender e recorreu � ajuda da filha, hoje professora.

"Por isso que eu digo que ela foi a minha primeira aluna. Ela tinha muita vontade de aprender a escrever corretamente. Ent�o, eu ensinava para ela encontro voc�lico e separa��o sil�bica, por exemplo. V�rias vezes corrigi os manuscritos por cima. Me tornar professora foi atender a um pedido que ela me fez antes de morrer, para nunca parar de estudar", recorda Vera Eunice,

BIOGRAFIA

Ap�s se decepcionar com biografias j� publicadas sobre Carolina Maria de Jesus, ela est� escrevendo sua pr�pria vers�o da hist�ria da m�e. "Elas contam muitas coisas que n�o s�o verdade. Em uma delas, est� escrito que minha m�e bebia. Pelo que me lembro, ela bebia Caracu com ovo e Biot�nico Fontoura. Em outra, h� uma passagem que fala sobre uma vez em que ela queimou as m�os dos filhos. N�o me lembro de nada disso, e isso � algo que n�o se esquece", diz. "Nessas biografias faltam muitos elementos da hist�ria de Carolina. Os bi�grafos deveriam ter feito uma pesquisa mais aprofundada, visitar os lugares em que ela viveu, conversar com pessoas que conviveram com ela", acrescenta Vera.

De acordo com ela, o texto da biografia s�o as lembran�as que ela tem da m�e, como a vez em que Carolina foi at� a casa de Jorge Amado (1912-2001) e o escritor baiano n�o quis receb�-la. E tamb�m a rela��o com o jornalista Aud�lio Dantas (1929-2018), respons�vel por impulsionar a carreira liter�ria da escritora ao ajud�-la a publicar seu primeiro e mais c�lebre livro.

Mas Vera Eunice ainda n�o sabe quando a biografia deve ser publicada e n�o pretende fazer isso at� que toda a obra de sua m�e seja reeditada. Atualmente, ela integra um conselho editorial na Editora Companhia das Letras respons�vel por organizar e lan�ar obras de Carolina, entre reedi��es e materiais in�ditos. At� agora foram publicados dois volumes de "Casa de alvenaria". O primeiro, com o subt�tulo "Osasco", e o segundo, "Santana".

"Quero dar um tempo porque n�o quero ofuscar a obra dela. Esse primeiro lan�amento j� deu um rebu danado. Agora estamos come�ando a pensar nos pr�ximos livros que ser�o publicados", explica.

Curadora do Flir ao lado do escritor, poeta e professor universit�rio Kaio Carmona, a poeta Adriane Garcia acredita que homenagear Carolina Maria de Jesus � uma forma de jogar luz para temas como o protagonismo feminino na literatura nacional.

APRENDIZAGEM 

"Acredito que n�o tinha algu�m melhor para homenagear do que ela. Tanto eu quanto Kaio nos guiamos pela obra dela para compor a programa��o. Juntos, chegamos � conclus�o de que as mesas deveriam passar pelas tem�ticas da escrita dela, sem ser necessariamente sobre ela. Ent�o, � coerente que os convidados discutam temas como a literatura feita por mulheres, a escravid�o, a mem�ria e a justi�a social", explica Adriane.

Adriane ser� a mediadora da conversa com Vera Eunice de Jesus e adianta que o encontro ser� focado na trajet�ria da convidada, e n�o da homenageada. "Ela tem uma hist�ria de vida de quem conseguiu superar heran�as muito terr�veis da escravid�o. De certa forma, � uma mesa que falar� sobre aprendizagem."

Outra quest�o que marca a terceira edi��o do Flir � a internacionaliza��o do festival. O evento deste ano foi pensado para atingir o p�blico de Angola, por isso tamb�m est�o na programa��o escritores e pesquisadores do pa�s africano.

"As mesas virtuais t�m o objetivo de ser assistidas tamb�m por quem est� em Angola. Como o Kaio est� atualmente em Luanda, n�s tivemos facilidade em fazer essa ponte", explica Adriane.

REALIDADE

J� as atividades presenciais acontecer�o em 10 espa�os de Belo Horizonte – Livraria P�ginas, Livraria da Rua, Livraria Outlet de Livro, Livraria Esquerda Liter�ria, Livraria Ouvidor, Quixote Livraria, Livraria Bantu, Livraria do Belas, Livraria Leitura e Papelaria Mercado Novo – e um em Divin�polis (Livraria Boutique do Livro).

"N�s que reivindicamos a cultura como enfrentamento da barb�rie, estamos numa encruzilhada. Ao mesmo tempo em que ainda precisamos tomar muito cuidado por conta da COVID-19, chegou um momento em que tamb�m temos que enfrentar a realidade e retomar as atividades. Por isso, um evento como o Flir � extremamente importante para a cidade, para as livrarias e para a cultura como um todo", defende Adriane.

FLIR –  FESTIVAL LIVRO NA RUA
De ter�a (5/10) a domingo (10/10). A programa��o virtual ser� transmitida ao vivo no perfil do festival no Instagram (@festivallivronarua). Programa��o completa: www.festivallivronarua.com.br



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)