Cena de ''Round 6''

O seriado ''Round 6'', trama dist�pica que denuncia a mis�ria, obteve 111 milh�es de acessos em seus primeiros 28 dias de exibi��o

Netflix/Reprodu��o

Trama afiada, alegoria social e cenas contundentes de viol�ncia s�o os ingredientes do sucesso de “Round 6” (“Squid Game”), a dist�pica trama da Netflix que se tornou o mais recente fen�meno global criado na Coreia do Sul. A atra��o se tornou a s�rie mais assistida da plataforma durante os primeiros 28 dias de exibi��o, com 111 milh�es de acessos, desbancando “Bridgerton”, que estreou no in�cio deste ano e foi vista por 82 milh�es de contas no mesmo per�odo.

Assim como “Parasita”, que em 2020 se tornou a primeira produ��o n�o falada em l�ngua inglesa a ganhar o Oscar de melhor filme, os protagonistas de “Round 6” v�m das camadas marginalizadas da sociedade sul-coreana.

Cidad�os afundados em d�vidas, um empobrecido trabalhador imigrante e uma desertora da Coreia do Norte competem em jogos infantis para ganhar 45,6 bilh�es de won (US$ 38 milh�es). Se perderem, pagam com a vida.

MAIOR PRODUTO

Poucos dias depois da estreia, ocorrida em setembro, Ted Sarandos, copresidente-executivo da Netflix, j� apontava a possibilidade de a atra��o se tornar o “maior produto at� hoje” da plataforma. Com efeito, “Squid games” conquistou o mundo.

Escrita e dirigida por Hwang Dong-hyuk, a s�rie confirma a crescente influ�ncia da cultura popular sul-coreana, com fen�menos mundiais como o grupo de k-pop BTS e o filme “Parasita”, do cineasta Bong Joon-ho.

Para os cr�ticos, a explica��o para tamanho sucesso do audiovisual sul-coreano est� nos temas abordados e na cr�tica aos males do capitalismo – problemas universais, especialmente depois da pandemia que ampliou a desigualdade social.

“A tend�ncia crescente de priorizar os benef�cios sobre o bem-estar do indiv�duo � um fen�meno que vemos nas sociedades capitalistas de todo o mundo”, afirma Sharon Yoon, professor de estudos coreanos na Universidade Notre-Dame, nos Estados Unidos.

Em fevereiro, a Netflix anunciou o plano de investir US$ 500 milh�es, em 2021, em s�ries e filmes produzidos no pa�s asi�tico.

“Nos �ltimos dois anos, vimos o mundo se apaixonar pelo incr�vel conte�do criado na Coreia do Sul”, afirmou Ted Sarandos. “Nosso compromisso com a Coreia � forte. Continuaremos investindo e colaborando com narradores coreanos em uma ampla gama de g�neros e formatos.”

A hist�ria do pa�s asi�tico � repleta de guerras, pobreza e governos autorit�rios. Temas e fen�menos explorados em obras coreanas remetem ao poder, � viol�ncia e a mazelas sociais. Isso criou a cena cultural vibrante que, em diferentes formatos, atingiu amplo p�blico internacional.

No in�cio, os dramas sul-coreanos, chamados k-dramas, eram muito populares nas emissoras asi�ticas. Depois, o cinema do pa�s foi premiado em respeitados festivais europeus. Mais recentemente, grupos de k-pop, como a banda BTS, conquistaram f�s em todos os continentes.

A “coroa��o” veio com os pr�mios Oscar dados a “Parasita”, �cida cr�tica � desigualdade entre ricos e pobres na Coreia do Sul, cuja trama explora o lado sombrio da 12ª economia mundial. Foram seis estatuetas, nas categorias filme, diretor, filme estrangeiro, roteiro original, dire��o de arte e montagem.

Hwang Dong-hyuk, diretor de “Round 6”, finalizou o roteiro do seriado h� uma d�cada, mas as produtoras se recusaram a apostar na hist�ria que consideravam “muito sangrenta, estranha e dif�cil”.

Trabalhos anteriores do diretor – todos eles inspirados livremente em fatos – abordaram abuso sexual, ado��o internacional e defici�ncia f�sica.

A primeira produ��o de Hwang Dong-hyuk para a televis�o trouxe refer�ncias a experi�ncias coletivas traum�ticas gravadas na mem�ria dos sul-coreanos, como a crise financeira asi�tica de 1997 e as demiss�es da at� ent�o poderosa montadora SsangYong Motor, ocorridas em 2009.

“A Coreia do Sul se tornou uma sociedade muito desigual de forma relativamente r�pida e recente. Isso ocorreu nas �ltimas duas d�cadas”, observa Vladimir Tijonov, professor de estudos coreanos na Universidade de Oslo, na capital da Noruega.

TRAUMA

A mobilidade social se tornou “muito menos poss�vel” agora em compara��o a 1997, afirma o especialista.  “O trauma da crescente desigualdade transborda para as telas”, resume.

Brian Hu, professor de cinema da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, afirma que o fato de “Round 6” fazer sucesso em quase 100 pa�ses comprova que a s�rie n�o foi criada apenas para o Ocidente.

“O p�blico ocidental associou, em grande medida, produ��es estrangeiras a descri��es da pobreza, e isso se tornou uma forma de menosprezar o resto do mundo”, diz Hu.

De acordo com ele, o singular no filme 'Parasita' e no seriado 'Round 6' � que, “embora mostrem a pobreza e a desigualdade de classes, as duas produ��es fazem isso de uma forma que real�a a modernidade t�cnica e cinematogr�fica da Coreia do Sul”.

''Round 6''

M�scaras negras s�o produzidas em s�rie por comerciantes chineses e vendidas em plataformas digitais

Netflix/reprodu��o

Chineses driblam a censura para ver s�rie


Embora n�o esteja dispon�vel na China, a s�rie “Round 6” causa sensa��o neste pa�s, onde f�s driblam os controles para baix�-la ilegalmente e compram produtos vinculados � produ��o, como seus trajes peculiares.

A dist�pica s�rie sul-coreana se tornou o lan�amento mais popular da hist�ria da plataforma americana, mas dificilmente conseguir� a aprova��o dos censores chineses devido a seu conte�do violento.

DOCE

Isso n�o foi inconveniente para conquistar uma legi�o de f�s em cidades como Xangai, onde verdadeira multid�o se aglomera diariamente em uma loja que vende dalgona, doce sul-coreano que aparece na s�rie.

“As pessoas come�aram a enviar piadas relacionadas � s�rie nas conversas de grupo quando comecei a assistir”, revela um cliente apelidado Li. “� acelerado e, por isso, bastante emocionante”, afirma ele, ao comentar o ritmo do seriado.

Depois de comprar o doce, Li e seu amigo se gravaram imitando um desafio da s�rie, no qual as personagens devem recortar formas na iguaria sem quebr�-la.

Os fabricantes chineses, sempre perspicazes, n�o perderam a oportunidade e come�aram a produzir fantasias e m�scaras da s�rie, que j� inundam as plataformas de com�rcio digital do pa�s.

O comerciante Peng Xiuyang revela que suas vendas cresceram 30% depois que colocou os produtos da s�rie nas prateleiras.

Xiuyang ignorava o seriado at� um cliente lhe perguntar se vendia as m�scaras pretas usadas pelos guardas de seguran�a da competi��o mortal.

Chineses driblaram os controles na internet e conseguem assistir � s�rie por meio de p�ginas de download ilegal de f�cil acesso.

“Nosso c�lculo � que 'Round 6' � distribu�da ilegalmente em cerca de 60 sites da China”, disse o embaixador da Coreia do Sul na China, Jang Ha-sung, em recente audi�ncia parlamentar.

Outra prova de que o fen�meno chegou ao gigante asi�tico vem do fato de o nome “Round 6” alcan�ar quase 2 bilh�es de visualiza��es nas redes sociais.

Nos coment�rios, usu�rios chineses falam sobre como superariam os desafios da trama sul-coreana e se perguntam como seria a vers�o chinesa da s�rie-fen�meno.

“N�o passaria pela censura se fiz�ssemos uma produ��o assim... Se fosse muito violenta, seria removida”, afirmou um internauta.