
Teles relata a trajet�ria do grupo desde a sua estreia, em 1971, em Nova Jerusal�m, cidade-teatro constru�da no agreste pernambucano, at� mais recentemente, com o projeto “Na estrada”, realizado com a Banda de Pau e Corda, por�m interrompido em 2020, por causa da pandemia.
Em 2012, o autor lan�ou pelas Edi��es Baga�o seu livro sobre o Quinteto Violado, na sequ�ncia das comemora��es dos 40 anos do grupo, completados no ano anterior. Teles explica que esta � a terceira edi��o de “L� v�m os violados”, refeita, atualizada e acrescida de mais 10 anos de hist�ria.
IMPORT�NCIA
Em sua avalia��o, na m�sica brasileira, o Quinteto Violado tem import�ncia equivalente a Chico Science & Na��o Zumbi, a banda recifense que lan�ou o movimento mangue beat, no come�o da d�cada de 1990. “Eles conseguiram levar para fora do estado ritmos como caboclinho, cavalo-marinho e ciranda, entre outros”, observa.
Na esteira do Quinteto Violado, surgiram em Pernambuco grupos como a pr�pria Banda de Pau e Corda e o Concerto Viola; e em Sergipe, o Bolo de Feira. Teles ressalta que o Quinteto trouxe � tona uma m�sica popular at� ent�o ignorada no pa�s e que, mesmo em Pernambuco, havia sumido de cena.
“Eles tamb�m foram pioneiros na renova��o do carnaval de Pernambuco, mesmo gravando frevos com outra instrumenta��o, tendo a flauta como instrumento solo.”
O primeiro sucesso nacional do grupo foi uma vers�o feita para a can��o “Asa branca” (Luiz Gonzaga & Humberto Teixeira), lan�ada em 1972, no �lbum “Quinteto Violado em concerto” (Phillips). Gonzag�o(1912-1989) elogiou o resultado e considerou o arranjo como o mais lindo feito para a sua m�sica. Esse disco chegou a ser lan�ado no Jap�o, por�m com o t�tulo de “Asa branca”.
A cria��o de arranjos originais � o ponto forte do Quinteto, que dividiu o palco com convidados ilustres, como Dominguinhos (1941-2013), com quem fizeram tantos shows que muitos pensavam que o sanfoneiro pernambucano fazia parte da banda. Gonzaguinha (1945-1991) tamb�m chegou a fazer a abertura de v�rios shows da banda.
FORMA��O

Originalmente, o Quinteto era formado por Toinho Alves (1943-2008), na voz e baixo ac�stico, Marcelo Melo (voz, viola e viol�o), Fernando Filizola e Luciano (percuss�o) e Sando (flauta). Da forma��o inicial, Marcelo � o �nico remanescente. Al�m dele, fazem parte hoje Ciano Alves (flauta), Sandro Lins (baixo), Dudu Alves (tecladista e arranjador) e Roberto Medeiros (percussionista).
Teles lembra que, na �poca em que o Quinteto Violado surgiu, as gravadoras usavam o formato do compacto para apresentar ao p�blico novos m�sicos. “O objetivo disso era ver como seria a receptividade do p�blico para aquele artista. Se fosse boa, a�, sim, sairia o vinil (LP). Por�m, o disco de estreia ‘Quinteto Violado em concerto’ foi logo um LP, o que era dif�cil acontecer. ‘L� v�m os violados’ � nada menos do que a hist�ria de uma banda que escreveu e continua escrevendo um dos mais ricos cap�tulos da MPB.”
A repercuss�o que o grupo conseguiu foi enorme desde o in�cio da carreira, segundo observa o autor do livro. “Impulsionado pela Polygram-Phillips, que tinha grandes nomes naquela �poca, o grupo conquistou o pa�s logo de cara. E estourou com o primeiro, o segundo e terceiro discos, tendo uma fase de sucesso na Phillips, que estava no auge, assim como a MPB. Inclusive, foi para o exterior, coisa que n�o era comum naquela �poca. Depois, para outras gravadoras, at� que se tornou independente.”
O papel do grupo na divulga��o da cultura pernambucana em plano nacional foi importante, segundo ele diz. “O Quinteto gravou o primeiro disco em 1972, e esse disco foi uma novidade na m�sica brasileira. Isso porque existem muitos ritmos em Pernambuco que praticamente s�o s� conhecidos no estado, como cavalo-marinho, caboclinho e ciranda e, felizmente, o Quinteto conseguiu estiliz�-los e coloc�-los em seus shows mundo afora.”
CULTURA POPULAR
A valoriza��o dos ritmos tradicionais pernambucanos, no entanto, j� vinha sendo feita, conforme aponta Teles. “Tivemos o Movimento de Cultura Popular (MCP), na �poca em que Miguel Arraes (1916-2005) era prefeito, em 1961/62. Esse movimento foi fundado por Paulo Freire, Ariano Suassuna e Herm�nio Borba Filho, entre outros. Eles usavam a cultura popular para alfabetizar e conscientizar o povo, e isso ficou na cultura pernambucana. Ent�o, na d�cada de 1960, quando surgiu a MPB, o pessoal de Pernambuco come�ou a fazer m�sica, ligado muito nessa coisa da cultura popular.”
Por influ�ncia do Quinteto, diversos grupos, em v�rios estados, come�aram a atentar para a m�sica regional e faz�-la com uma vis�o moderna. “O grupo introduziu a viola em outros ritmos. Naquela �poca, quem tocava esse instrumento era somente os repentistas e cantadores de viola. A turma do underground tocava mesmo era guitarra, queria saber de Woodstock, aquelas coisas, e o Quinteto fez ver que a viola era um instrumento que tamb�m poderia ser usado na MPB. Ali�s, o Quarteto Novo fazia isso, inclusive com Heraldo do Monte, que � recifense.”
Teles explica o envolvimento dos integrantes originais do Quinteto com a cultura popular. “Eles eram todos de classe m�dia, mas conheciam o MCP, que acabou dando origem ao Centro Popular de Cultura (CPC), da Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1963, em um congresso da UNE, em Recife, o pessoal conheceu o MCP e resolveu criar o CPC.”
“Criados sob a inspira��o do pr�prio MCP, esses centros eram formados por jovens escritores, compositores, artistas pl�sticos e cineastas. Durante o golpe militar, os primeiros locais invadidos pelo Ex�rcito em Recife foram a sede do MCP, que trabalhava muito as festas populares de Recife, e o pal�cio do governo”, cita o autor.
O Quinteto Violado se manteve firme no prop�sito de continuar em Recife. “Por causa disso, sumiram um pouco da m�dia, mas continuaram numa carreira sempre constante, cheia de viagens, chegando a gravar discos tamb�m no exterior. � uma banda que tem uma carreira enorme; afinal, s�o 50 anos. O grupo mudou muito, mas o cerne e o som dele continuam. Ele n�o fez concess�es a modismos”, diz Teles.
ANIVERS�RIO
Sobre a primeira edi��o, o autor conta que era inten��o do Quinteto fazer um livro para o seu anivers�rio de 40 anos, mas a dificuldade de encontrar uma editora acabou atrasando o projeto. “Lan�o meus livros pela Editora Baga�os, que topou fazer a obra. S� que estava muito em cima da hora, j� tinha passado, inclusive, o anivers�rio de 40 anos, que foi em 2011, e lan�amos o livro em 2012. Como eles t�m um arquivo grande de recortes, acrescentei agora mais 10 anos de hist�ria.”
Marcelo Melo elogia a atualiza��o feita por Teles. “Ele fez um levantamento de todos os momentos. S�o cinco d�cadas de tudo que aconteceu, as gravadoras pelas quais passamos, os concertos que fizemos, os projetos, diretores que estiveram pr�ximos do Quinteto e a manuten��o do grupo no Nordeste. Nunca inventamos de sair para o Sul, embora soub�ssemos que, no in�cio, quando o grupo come�ou, era l� que estava toda a febre do grande mercado cultural brasileiro, principalmente no eixo Rio-S�o Paulo.”
O m�sico conta como surgiu o nome do livro, que permaneceu inalterado. “� que Dudu, filho de Toinho, que formou o Quinteto comigo, fez um poema, mais ou menos narrativo, sobre como o grupo surgiu, em cima das pedras de Nova Jerusal�m, quando fez o primeiro show l�, em 1971. E uns meninos que estavam por perto, quando nos viram descendo, segurando viol�o e viola, disseram, ‘L� v�m os violados’. Esse termo acabou dando origem ao nome Quinteto Violado.”
Antes de se tornar produtor de discos comerciais, o Quinteto participou do projeto M�sica Popular do Nordeste, em 1973, do publicit�rio e pesquisador musical Marcus Pereira, criador do selo Discos Marcus Pereira, dedicado � m�sica brasileira de qualidade.
GRAVADORA
“Ele tinha a inten��o de fazer um mapeamento cultural brasileiro atrav�s da m�sica e o Quinteto, por indica��o do escritor, teatr�logo, cr�tico liter�rio e pesquisador pernambucano Herm�nio Borba Filho (1917-1976) decidiu participar do trabalho. Gravamos nos quatro LPs que compunham a cole��o e foi um sucesso”, relembra Melo.
“Fizemos tamb�m um tratamento, mostrando a possibilidade de proje��o dessa m�sica, enriquecendo com harmonias, com formatos que permitiam ao p�blico geral um entendimento melhor da m�sica brasileira”, orgulha-se Melo.
A grava��o seguinte, com a Phonogram, marcou o primeiro lan�amento comercial do grupo, “Quinteto Violado em concerto” (1972). O diretor da gravadora na �poca era Roberto Menescal. “Ficamos l� por nove anos e come�amos a viajar pelo Brasil e pelo exterior. Todo ano faz�amos um disco, um espet�culo e uma turn�. Come�amos a participar de festivais e turn�s internacionais”, diz o remanescente da forma��o original do Quinteto.
Marcelo Melo anuncia para mar�o do ano que vem a retomada do projeto “Na estrada'', com a Banda de Pau e Corda. “Por enquanto, faremos esse concerto no dia do lan�amento do livro. O repert�rio traz um apanhado desses anos todos e vamos rever momentos cl�ssicos da nossa carreira.”

“L� VEM OS VIOLADOS – 50 ANOS DA TRAJET�RIA ART�STICA DO QUINTETO VIOLADO”
De Jos� Teles
Cepe Editora (248 p�gs.)
R$ 50 (impresso) e R$ 15 (e-book)
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