
Depois de somar passagens por festivais de jazz e colecionar elogios da cr�tica especializada no Brasil e no mundo, Jonathan Ferr chegou em 2020 confiante em que o ano seria agitado. Seus planos foram interrompidos pela pandemia da COVID-19 e, em meio a crises de ansiedade, ele comp�s um inesperado segundo disco, que n�o por acaso se chama "Cura" (2021).
Agora, o pianista se prepara para retomar a rotina de shows pelo Brasil. A abertura da agenda ser� em Belo Horizonte, onde ele participa do Savassi Festival, que come�a nesta quinta-feira (21/10), �s 21h, com o show da banda Delicatessen, no Cine Theatro Brasil, e vai at� o pr�ximo dia 31. A apresenta��o de Jonathan Ferr ocorre no dia 30, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
ALENTO
"Durante a pandemia, fiz muito show on-line. Foi um alento para n�s, artistas, e tamb�m para o p�blico. Cheguei a fazer um show de lan�amento do 'Cura' presencial no Rio de Janeiro, mas a sensa��o que tenho � de que agora � que ser� o primeiro show de fato. As pessoas est�o vacinadas, mais tranquilas. A arte � a celebra��o da vida. Quando voc� coloca o p�blico em risco de alguma maneira, essa celebra��o n�o acontece."
O show que ele realiza em BH est� programado para ter dura��o de 1h15min e ter� um repert�rio formado por m�sicas de seus dois discos. No palco, Ferr estar� acompanhado de Alex S� (saxofone), Caio Oica (bateria) e Harrison Luz (contrabaixo).
"Mais do que nunca, estou preparando uma celebra��o ao amor", ele afirma. "N�o o amor rom�ntico, mas o amor como uma energia de cura e reconex�o. O meu show � uma passagem sem volta para voc� mesmo", ele afirma.
Jonathan Ferr define o seu trabalho como "urban jazz" em raz�o da mistura com outros g�neros musicais associados ao pop. Ao vivo, ele pretende acentuar ainda mais essa fus�o, apresentando uma experi�ncia musical imersiva, "diferente de tudo o que o p�blico j� ouviu".
"Fa�o m�sica para democratizar, para que mais pessoas cheguem e compreendam a for�a da m�sica instrumental. Para ir ao meu show, o cara n�o precisa ser ouvinte de jazz, por exemplo. Ele pode ser um superf� de pagode e decidir ir ao meu show que ele vai se surpreender e vai se conectar. Mais do que entreter, o meu objetivo � promover uma conex�o com quem est� assistindo aos shows", ele explica.
Numa carreira solo iniciada h� pouqu�ssimo tempo, ele j� colhe provas de que esse objetivo tem sido alcan�ado. Uma delas ocorreu no Rio de Janeiro. Ap�s uma apresenta��o numa casa de shows da cidade, ele foi abordado por uma senhora.
"Ela veio at� mim, me deu um abra�o superapertado e disse: 'Meu filho, � a primeira vez que eu venho em um show de jazz. Eu achava que jazz fosse outra coisa. Sempre achei que era algo muito distante de mim. Agora, toda vez que algu�m me chamar para um show de jazz, eu vou'. Eu marquei a vida dela e ela marcou a minha", diz.
Defender a democratiza��o do g�nero � algo que ele faz de forma consciente e esclarecida. Para n�o ser mal-interpretado, o pianista e compositor faz quest�o de dizer que democratizar o jazz n�o quer dizer que ele acredita que esse tipo de m�sica seja o melhor.
"Tenho cuidado para n�o parecer que eu quero levar m�sica 'boa' para as pessoas. Levar cultura para a favela. A favela j� tem cultura. A cultura est� acontecendo e existe, independentemente de qualquer coisa, n�o tem a ver com classe social. Para mim, democratizar � possibilitar novos olhares", ele afirma.
A pr�pria trajet�ria de Jonathan Ferr � um exemplo da democratiza��o que ele defende. Quando o m�sico diz querer aproximar o jazz de seus amigos que moram no Bairro de Madureira, onde cresceu, ele n�o est� se referindo somente a trazer o g�nero para o cotidiano deles, mas tamb�m apontar para o quanto os redutos dedicados ao g�nero normalmente est�o em bairros nobres das cidades.
Quando era mais jovem, Ferr tinha que ir at� a Zona Sul do Rio de Janeiro para assistir a apresenta��es de jazz. Desde pequeno, ele � incentivado pelo pai a explorar seu lado musical. Por isso, recorreu a uma forma��o em piano na Escola de M�sica Villa-Lobos, tamb�m no Rio. Depois que descobriu a possibilidade de ser um artista autoral de m�sica instrumental, Jonathan Ferr come�ou a construir a est�tica que hoje define seus trabalhos.
"A m�sica instrumental � completamente subjetiva. Uma can��o te indica uma dire��o, se trata de amor ou � sobre algum tema triste. A m�sica instrumental � o contr�rio: ela mexe com a subjetividade. Duas pessoas podem ouvir a mesma m�sica e ter uma experi�ncia completamente diferente. O jazz toca nesse lugar. O poder do jazz e da m�sica instrumental est� nisso", ele analisa.
"Tenho cuidado para n�o parecer que eu quero levar m�sica 'boa' para as pessoas. Levar cultura para a favela. A favela j� tem cultura. A cultura est� acontecendo e existe, independentemente de qualquer coisa, n�o tem a ver com classe social. Para mim, democratizar � possibilitar novos olhares"
Jonathan Ferr, pianista e compositor
Em "Cura", Jonathan Ferr realiza esse movimento por meio de nove faixas minimalistas, cujo objetivo est� expl�cito no t�tulo do �lbum. O trabalho conta com sete temas totalmente instrumentais – um deles, "Sens�vel", tem participa��o do arranjador Jaques Morelenbaum –, e duas m�sicas com voz, mas que n�o se enquadram como can��es.
Em "Esperan�a", o ator, cantor, comediante e compositor Serj�o Loroza recita um texto que chama a aten��o para o racismo. "Caminho" conta com a voz da fil�sofa Viviane Mos�. J� a faixa "Nascimento" � uma homenagem a Milton.
"Com a agenda de shows parada, fiquei em casa sozinho criando e, de repente, esse trabalho ganhou vida a partir do momento em que comecei a fazer viagens dentro de mim mesmo. Pude tratar de coisas para as quais eu n�o tinha tempo de olhar, porque estava sempre viajando e fazendo shows. Eu n�o conseguia tempo para esse auto-olhar. Foi o momento que eu encontrei de observar novas possibilidades de exist�ncia", ele afirma.
Segundo Jonathan Ferr, "Cura" pode ser, sim, associado � COVID-19, mas n�o para por a�. "� para al�m da doen�a f�sica. N�o � s� sobre ter COVID ou n�o ter COVID. � sobre estar curado de traumas, cuidar do nosso emocional e espiritual. Dentro dessas reflex�es, comecei o que eu chamo de pianoterapia. Eu acordava triste e ia tocar."
Para ele, ap�s a cura vem a liberta��o, fase que ele pretende transformar em �lbum, com previs�o de lan�amento para o in�cio de 2022. "Liberdade" ser� um disco formado por samples das faixas do "Cura" e contar� com participa��es especiais de artistas da cena musical brasileira que Jonathan Ferr prefere manter em segredo por enquanto. O que ele pode adiantar � que essa liberta��o tem voz e o registro – que j� est� em produ��o – tamb�m ser� formado por can��es.
JONATHAN FERR NO SAVASSI FESTIVAL
Em 30 de outubro pr�ximo, �s 20h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia). Vendas pelo site Eventim. Mais
informa��es no site
.
SAVASSI FESTIVAL
A edi��o 2021 do Savassi Festival come�a nesta quinta-feira (21/10), com o show presencial da banda Delicatessen. O evento contar� com shows presenciais do compositor e violonista Guinga, do pianista norte-americano Aaron Goldberg, da pianista e cantora mineira Carla Sceno e da compositora, cantora e instrumentista Jennifer Souza. Programa��o
completa no site do evento
.