
“Ficaremos bem” est� dispon�vel no Brasil em plataformas digitais (Claro Now, Amazon Prime, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes). Ao saber disso, Maria comenta: "O mundo audiovisual n�o � mais o mesmo. � cedo para saber se as pessoas ainda v�o ao cinema, mas � bom que os filmes cheguem at� elas de alguma forma".
MEM�RIAS
Muito do que se v� em “Ficaremos bem” saiu de suas mem�rias. � o caso da parceria no dia a dia entre ela e o marido, o tamb�m cineasta Hans Petter Moland (que filmou o cult “O cidad�o do ano” e rodou seu remake americano “Vingan�a a sangue-frio”).
Cuidadoso no per�odo de sua convalesc�ncia, Moland inspirou a ideia de ela escolher um casal de artistas para protagonizar a love story em est�gio terminal. Tamb�m foi oportuno para o processo criativo – que a diretora n�o v� como um exorcismo – tomar emprestado para a personagem principal uma peculiaridade da pr�pria Maria: fazer anivers�rio em 31 de dezembro.
Para arrematar as similaridades entre fatos e fic��o, a cineasta escalou o ator constante na obra de Moland, o sueco Stellan Skarsgard, para viver o companheiro devotado – e devastado – de sua protagonista, Anja, interpretada pela atriz Andrea Braein Hovig.
ESTEROIDES
"H� uma sequ�ncia do filme em que Anja devora comida, sob efeitos de esteroides que aumentam seu apetite. Essa sequ�ncia entrou ali para real�ar o lado t�til do que eu experimentei, um sensorialismo excessivo, que demarca um apego desenfreado por tudo o que � s�lido. A gente se agarra. E eu quis discutir isso numa hist�ria que celebra a luta de um amor para se manter vivo. N�o poderia fazer um filme sobre o c�ncer e, sim, um longa sobre o querer", diz Maria.
Conhecida nos festivais por “Limbo” (2010), rodado em Trinidad e Tobago, a realizadora trabalhou com o fot�grafo habitual de Lars von Trier, o chileno Manuel Alberto Claro, na busca por uma paleta de cores que traduzisse as ang�stias do casal Anja e Tomas nas festas de fim de ano.
"O cinema escandinavo carrega um certo r�tulo de sombrio, que vem de outras manifesta��es art�sticas, como a nossa literatura. E, de fato, pelo frio, o Natal noruegu�s � mesmo monocrom�tico. Mas Manuel � um artista de cabe�a aberta, que sabe oferecer solu��es inusitadas, mesmo para um filme de visual tenebroso” diz a diretora.
Segundo ela, “o ponto central desse processo � que ele deveria compartilhar algo sentimental, pois h� uma despedida sendo desenhada ali. E ele deveria ter algo universal. No set, Manuel trabalhava como se fosse um dos atores, movendo-se em resposta aos corpos dos protagonistas, como se respondesse �s a��es deles".
"Eu nunca quis que esse filme fosse a minha biografia, mesmo tendo muito do que vivi. Tampouco eu desejava uma sess�o de terapia. Escrever sobre essas pessoas foi terap�utico, pois fez com que eu me olhasse e soubesse me distanciar. Mas o filme precisava se libertar disso. N�o poderia ser uma hist�ria sobre mim e, sim, sobre como pessoas tocam sua vida quando s�o confrontadas com uma situa��o de perda que parece irrepar�vel."
O clima intimista com que Maria narra caiu como iguaria no paladar de Skasrgard, um f� do sil�ncio. "O que d� um diferencial ao cinema em rela��o � atua��o � a verdade que existe nas brechas entre as palavras", disse o ator, em Berlim. "� pela quietude que as imagens falam. � nelas que encontro o norte que o personagem busca para al�m do que as causalidades do roteiro imp�em."