� com a disposi��o de dar � obra de Baden Powell o acento de negritude que ela originalmente guarda em si que a cantora Glaw Nader sobe, nesta ter�a-feira (26/10), ao palco do teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas para o show que encerra a temporada deste ano do Sarau Minas T�nis Clube.
Com foco principalmente nos afros-sambas compostos pelo violonista com Vinicius de Moraes, mas reservando espa�o para parcerias de Baden com Paulo C�sar Pinheiro e Lula Freire, o repert�rio abarca “Canto de Xang�”, “Cai dentro”, “Lapinha”, “Labareda”, “Deixa” e “Canto de Ossanha”, entre outras can��es.
RETOMADA
“Escolher Baden tem a ver com uma retomada de narrativa, porque a hist�ria dos negros no Brasil tem sido contada por pessoas brancas. Quando um artista negro se levanta para dar voz a essas hist�rias, a gente est� retomando o protagonismo da narrativa”, diz a cantora e pianista paulistana, radicada em Belo Horizonte desde 2010.
Glaw destaca que tanto no show quanto em seu disco “Tempo de amor”, previsto para 2022 e baseado na obra de Baden, os elementos de matriz africana est�o em relevo. De acordo com ela, a percuss�o aparece t�mida na maioria das releituras dos afrossambas. Essas vers�es, aponta, sempre tenderam para o “embranquecimento”, privilegiando a levada bossa-novista.
“Tive o cuidado de pensar arranjos que flertem com a m�sica afro-brasileira e com o viol�o do Baden. Tanto no disco quanto no show tem muito samba-jazz tamb�m, trouxemos essa linguagem para somar, porque o Baden era muito ligado ao jazz, gravou v�rios standards ao longo da carreira”, diz.
O contato de Glaw com a obra de Baden Powell (1937-2000) vem da inf�ncia, pois o pai era violonista e mantinha em casa uma vasta cole��o de vinis. Assim como Moacir Santos, T�nia Maria e outros criadores negros da MPB, tanto na seara da m�sica instrumental quanto da can��o Baden � uma refer�ncia fundamental para ela, sobretudo pelo sentido est�tico de sua obra.
“Falando especificamente de ‘Os afro-sambas’, � um disco com ficha t�cnica inteira branca: letras de Vinicius de Moraes, arranjos de Guerra-Peixe, vozes do Quarteto em Cy. No entanto, ‘capaz de enegrecer a m�sica popular brasileira’, como diziam os cr�ticos da �poca. O que tinha de negro nesse disco era s� o Baden. Fiz essa escolha para o Sarau do Minas T�nis Clube porque a obra dele ainda n�o foi relida por artistas pretos”, afirma. “� uma retomada de narrativa”, refor�a.
O instrumental de seu novo �lbum, “Tempo de amor”, j� foi gravado. Falta apenas colocar a voz em algumas faixas antes da mixagem. “� um trabalho muito bem cuidado. Vou mostrar no show algumas m�sicas que gravei, mas de outro jeito, com outros arranjos, para n�o estragar a surpresa”, adianta.
Ao comentar sua viv�ncia em BH, ela diz que a cidade tem cen�rio musical muito rico, com vasta produ��o autoral tanto de m�sica instrumental quanto de cantautores. Por�m, observa que o int�rprete encontra pouco espa�o fora do circuito noturno informal de bares e restaurantes.
“Acredito que isso tem muito a ver com o movimento criativo da cidade, algo que vem desde o Clube da Esquina. Belo Horizonte tem a tradi��o de compositores, muitos artistas de renome. Essa verve autoral tomou conta, mas realmente s�o poucos os espa�os para a interpreta��o”, afirma, ressalvando que, obviamente, n�o tem nada contra a cria��o.
SARAU MINAS T�NIS CLUBE
Com Glaw Nader. Nesta ter�a-feira (26/10), �s 20h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). � obrigat�rio o uso de m�scara. Informa��es; (31) 3516-1360