
� a hist�ria de um confinamento. Mas n�o h� nenhuma rela��o com a pandemia de COVID-19. No longa franc�s “Os tradutores”, que estreia nesta quinta-feira (28/10) em Belo Horizonte (Cine UNA Belas Artes, Sala 1, 16h10 e 20h10), uma alem� (Ana Maria Sturm), um brit�nico (Alex Lawther), um chin�s (Fr�d�ric Chau), uma dinamarquesa (Sidse Babett Knudsen), um espanhol (Eduardo Noriega), um grego (Manolis Mavromatakis), um italiano (Riccardo Scamarcio), uma portuguesa (Maria Leite) e uma russa (Olga Kurylenko) s�o convocados a traduzir para seus respectivos idiomas, simultaneamente, o volume final de uma trilogia best-seller cujo autor oculta sua identidade sob um pseud�nimo.
O diretor R�gis Roinsard teve a ideia de desenvolver essa trama quando leu reportagens sobre o confinamento de 12 tradutores na It�lia, em condi��es semelhantes, para realizar a tradu��o de “Inferno” (2013), de Dan Brown.
Em seu longa, enquanto o trabalho de tradu��o est� em andamento, as 10 primeiras p�ginas do livro in�dito s�o publicadas na internet, e Angstrom passa a ser chantageado pelo hacker, que amea�a publicar todo o conte�do restante caso n�o veja suas condi��es atendidas.
Avesso a ceder e �vido por identificar quem � o hacker entre os tradutores, Angstrom lan�a m�o de viol�ncia f�sica e tortura psicol�gica, desequilibrando as rela��es do grupo, que basculam da camaradagem para a desconfian�a m�tua.
At� que o enigma seja resolvido, o espectador descobrir� que h� mais mist�rios por tr�s do vazamento de “Dedalus” do que suspeita a v� economia de um editor mercen�rio.
Na entrevista a seguir, o cineasta R�gis Roinsard (“A datil�grafa”) explica as raz�es que o levaram a filmar “Os tradutores”, seu segundo longa-metragem.
"Mesmo que voc� tenha em casa a maior tela e o melhor som poss�veis, eles n�o ser�o equivalentes � qualidade de difus�o do cinema. Al�m disso, somos seres sociais, temos necessidade de nos comunicar. Ver um filme juntos numa sala n�o � a mesma coisa que enviar coment�rios pelo telefone. O cinema � um lugar onde olhamos todos na mesma dire��o durante duas horas, e eu considero isso muito importante"
R�gis Roinsard, diretor
O epis�dio do “encarceramento” dos tradutores do livro de Dan Brown, que o inspirou a escrever seu filme, lhe pareceu uma boa oportunidade para fazer uma cr�tica ao mercado de arte?
Quando li que havia 12 tradutores num por�o da editora de “Inferno”, em Mil�o, trabalhando em tempo recorde e sendo vigiados por guardas armados, para garantir que o romance sa�sse ao mesmo tempo no mundo todo e fizesse o m�ximo de dinheiro poss�vel, evitando a pirataria, achei aquilo muito louco. Essa condi��o de trabalho � uma forma de escravid�o e choca sobretudo porque se tratava de um livro. Ainda que a literatura de Dan Brown n�o tenha um valor enorme, em todo caso, ainda � um livro. Achei que havia ali uma base excelente para fazer um huis clos (uma trama que se desenrola a portas fechadas). Quanto � cr�tica � mercantiliza��o da arte, efetivamente h� ali uma s�tira, nas entrelinhas dos discursos.
Num pa�s que valoriza tanto o cinema de autor, como a Fran�a, o senhor abra�ou o cinema de g�nero, filmando um romance (“A datil�grafa”) e um suspense (“Os tradutores”). Como encara a quest�o cinema de autor x cinema de g�nero?
Adoro cinema de g�nero. Para mim, � o cinema democr�tico. Cresci vendo cinema de g�nero. Um faroeste de Sergio Leone foi dos primeiros filmes que vi. Havia ali uma rela��o com o espectador emocionalmente muito forte e, ao mesmo tempo, um conte�do art�stico. Quando crian�a, meu pai me levou para ver os filmes de Hitchcock colorizados. Isso me deixou completamente maluco. Hoje, o cinema que mais aprecio � o sul-coreano.
Dizer isso tornou-se quase um clich�, mas � o cinema que consegue ser, ao mesmo tempo, de g�nero e completamente sens�vel, tratando de quest�es profundas. Meu primeiro filme, “A datil�grafa”, � uma com�dia rom�ntica e esportiva, como certos filmes coreanos. “Os tradutores” �, mas n�o � um whodunit. Vejo-o como um thriller rom�ntico e sentimental. Meu terceiro filme (“En attendant Bojangles”, previsto para janeiro de 2022) � uma com�dia melodram�tica. Fa�o cinema de g�nero e espero que o espectador encontre nos meus filmes a mesma sensa��o que tive quando descobri os filmes com os quais fui criado.
Dizer isso tornou-se quase um clich�, mas � o cinema que consegue ser, ao mesmo tempo, de g�nero e completamente sens�vel, tratando de quest�es profundas. Meu primeiro filme, “A datil�grafa”, � uma com�dia rom�ntica e esportiva, como certos filmes coreanos. “Os tradutores” �, mas n�o � um whodunit. Vejo-o como um thriller rom�ntico e sentimental. Meu terceiro filme (“En attendant Bojangles”, previsto para janeiro de 2022) � uma com�dia melodram�tica. Fa�o cinema de g�nero e espero que o espectador encontre nos meus filmes a mesma sensa��o que tive quando descobri os filmes com os quais fui criado.
Al�m de ser bons atores, os int�rpretes dos tradutores teriam de ser fluentes em franc�s. Como foi o processo de escala��o do elenco?
Foi a coisa mais dif�cil do filme. Al�m de serem muito bons atores e falar franc�s muito bem, alguns tinham que corresponder fisicamente ao papel. O processo de casting durou um ano. �s vezes consegu�amos um ‘sim’ na mesma semana; �s vezes lev�vamos tr�s, quatro meses para encontrar o ator, como foi o caso do grego. Achei que seria mais f�cil, porque h� muitos franc�filos na Gr�cia. O mesmo se deu com Portugal. Foi duro, muito mais dif�cil do que pensei.
E com os ingleses era ainda pior, porque nenhum ator ingl�s fala franc�s. At� que, um dia, minha diretora de elenco me mandou um v�deo de Alex Lawther (“O jogo da imita��o”). Ele ainda n�o tinha feito “The end of the fucking world”, essa s�rie da Netflix que o tornou muito famoso. Quando o vi, achei grandioso. Era necess�rio tamb�m que o grupo se desse bem, porque eu ia formar uma trupe de teatro. Isso � o que me dava certo receio, mas funcionou perfeitamente. Eles se tornaram amigos nas filmagens e ainda hoje s�o amigos �ntimos.
E com os ingleses era ainda pior, porque nenhum ator ingl�s fala franc�s. At� que, um dia, minha diretora de elenco me mandou um v�deo de Alex Lawther (“O jogo da imita��o”). Ele ainda n�o tinha feito “The end of the fucking world”, essa s�rie da Netflix que o tornou muito famoso. Quando o vi, achei grandioso. Era necess�rio tamb�m que o grupo se desse bem, porque eu ia formar uma trupe de teatro. Isso � o que me dava certo receio, mas funcionou perfeitamente. Eles se tornaram amigos nas filmagens e ainda hoje s�o amigos �ntimos.
Retrospectivamente, o senhor considera ir�nico que o filme tenha sido lan�ado nos cinemas na Fran�a em janeiro de 2020, dois meses antes do confinamento pela pandemia do novo coronav�rus?
A pandemia fez mal ao meu filme. Ele estreou em 29 de janeiro, e a explora��o nas salas n�o havia terminado quando tivemos que nos confinar, no come�o de mar�o. No entanto, assim que ele saiu em v�deo sob demanda, foi um estrondo. Agora, quando as salas reabrem pouco a pouco no mundo, ele est� indo muito bem em todo lugar.
Como o senhor enfrentou a pandemia?
Eu comecei a rodar em 14 de janeiro (de 2020) a adapta��o do romance franc�s “En attendant Bojangles”, que conta uma hist�ria de amor bem louca. Acabamos de rodar dois dias antes do confinamento. Fiz a montagem a dist�ncia. Incrivelmente, achei mais f�cil. O tempo de concentra��o era diferente. Quase diria que trabalhei melhor desse jeito. Tive sorte, porque a pandemia n�o me impediu de trabalhar e criar. Foi o contr�rio para a maior parte dos meus amigos.
O senhor acredita no futuro das salas de cinema num cen�rio p�s-pand�mico?
Acredito imensamente no cinema. Mesmo que voc� tenha em casa a maior tela e o melhor som poss�veis, eles n�o ser�o equivalentes � qualidade de difus�o do cinema. Al�m disso, somos seres sociais, temos necessidade de nos comunicar. Ver um filme juntos numa sala n�o � a mesma coisa que enviar coment�rios pelo telefone. O cinema � um lugar onde olhamos todos na mesma dire��o durante duas horas, e eu considero isso muito importante.
Na Fran�a, estamos come�ando a ter o mesmo patamar de espectadores que t�nhamos antes da pandemia. O dado curioso � que o p�blico jovem, que antes estava na Netflix, agora est� de volta ao cinema. O cinema n�o vai desaparecer, e isso n�o � uma quest�o de nostalgia. Pode at� acontecer como foi com o disco, que desapareceu por um tempo e agora est� voltando, porque todo mundo se deu conta de que o som do vinil � o melhor.
Na Fran�a, estamos come�ando a ter o mesmo patamar de espectadores que t�nhamos antes da pandemia. O dado curioso � que o p�blico jovem, que antes estava na Netflix, agora est� de volta ao cinema. O cinema n�o vai desaparecer, e isso n�o � uma quest�o de nostalgia. Pode at� acontecer como foi com o disco, que desapareceu por um tempo e agora est� voltando, porque todo mundo se deu conta de que o som do vinil � o melhor.
O senhor tem algum arrependimento em rela��o a “Os tradutores”?
� da minha natureza tentar n�o ter arrependimentos. Quando fa�o um filme, sou obsessivo, um verdadeiro control freak. Controlo tudo o que posso – cen�rio, figurinos, som. Trabalho o m�ximo poss�vel e raramente tenho arrependimentos, a n�o ser em microdetalhes, e a� eu fa�o de conta que n�o tenho.
O que o senhor conhece do cinema brasileiro?
Infelizmente, n�o conhecemos o suficiente o cinema da Am�rica do Sul e da �frica. Conhe�o algo do cinema brasileiro recente, mas nada do patrim�nio cinematogr�fico do pa�s. “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles, 2002) � um filme cult na Fran�a, eu diria que � o mais conhecido do Brasil. Conhe�o tamb�m os filmes de Kleber Mendon�a Filho “Aquarius” e “Bacurau”.
“OS TRADUTORES”
(“Les traducteurs”, Fran�a, 2019, 118min) Dire��o: R�gis Roinsard, com Lambert Wilson, Alex Lawther, Ana Maria Sturm, Fr�d�ric Chau, Eduardo Noriega, Maria Leite. Em cartaz a partir desta quinta-feira (28/10), no Cine UNA Belas Artes (Sala 1, 16h10 e 20h10)