A pandemia “provocou” a percussionista a, finalmente, se dedicar ao projeto solo. “Foi como um espelho que apareceu na minha frente”, comenta Naroca, dizendo que isso � fruto da paralisa��o total de eventos coletivos, festivos e realizados na rua dos quais participava. “O encontro com o Rafa (Fantini) me proporcionou as ferramentas, os instrumentos e o apoio para tirar as m�sicas do papel.”
L� BORGES
Instrumentista desde 2008, Naroca est� entre os criadores do bloco Chama o S�ndico e da Fanfarra Feminina Sagrada Profana, integrou as bandas Trov�o das Minas e Baque de Minas, trabalhou com os grupos Frito na Hora, Iconili e Orquestra At�pica de Lhamas. Recentemente, contribuiu com sua percuss�o para o �ltimo disco de L� Borges.
O �lbum “Meridiana” foi surgindo do resgate de “caderninhos e grava��es”, conta ela. “H� can��es compostas h� mais tempo, mas tamb�m cheguei a compor algumas durante o per�odo pand�mico, inclusive durante o processo de grava��o.”
A liberdade � o fio condutor do trabalho de estreia dela. “Tenho uma trajet�ria de tocar v�rios estilos de m�sica, sempre com pegada mais percussiva, mais r�tmica, mas sem me limitar a um ritmo espec�fico”, comenta.
Naroca gosta, mesmo, � de misturar: “Digo que sou da linhagem tropicalista.” Em “Meridiana” h� samba-reggae, funk, bossa nova, afrobeat, rap, percuss�o experimental, coral e beatbox.
As letras vieram das leituras dela sobre o mundo. “Falo de natureza, feminismo e machismo, sobre o carnaval de rua de Belo Horizonte.” Outro tema � a quest�o ind�gena. O t�tulo do �lbum, “Meridiana”, � met�fora que remete tanto aos meridianos geogr�ficos quanto ao autoconhecimento.
“Tirei esse conceito da acupuntura. Meridianos s�o canais que temos em nosso corpo, segundo a medicina chinesa, ligando nosso universo interior ao mundo exterior. Este disco liga meu universo interior ao mundo”, afirma. O repert�rio ora � extrovertido e dan�ante, ora introspectivo, voltado para a solitude, segundo ela.
O projeto foi gravado em casa por Naroca e Rafael Fantini. “Misturamos eletr�nico e instrumentos org�nicos como viol�o, percuss�o e voz.” O hibridismo � a base da sonoridade. “Recursos eletr�nicos podem ser grandes aliados de percussionistas e bateristas, porque agilizam a quest�o log�stica dos instrumentos, gerando resultados interessantes”, comenta Naroca.
O clima caseiro ajudou a cantora estreante a se soltar. “Se tivesse gravado no est�dio, com pessoas me olhando, talvez fosse diferente. Fui entendendo minha voz no sentido mais amplo da express�o, da comunica��o, e n�o apenas como ferramenta t�cnica do cantar”, explica.
“Durante a pandemia, fiz um mergulho interior e passei a cantar cada vez mais, estudando cantoras incr�veis como Nath Rodrigues, J�lia Vargas, Vanessa Moreno, Josy.anne e Claudia Manzo”, comenta. Mariana Cavanellas, ex-Rosa Neon, divide com ela a faixa “Curumim tupinamb�”.
HIPPIE
Ao comentar o repert�rio, Naroca diz que “Tangar�” mostra seu lado buc�lico, “neo-hippie”, enquanto “Quero” traz outros ambientes, com hip-hop, R&B e trap. J� a feminista “Tempos sombrios” usa o rap como base sonora e reverencia a fanfarra Sagrada Profana, formada por mulheres.
Depois de “Meridiana”, a artista mineira realizar� outro sonho, viabilizado pela aprova��o de seu projeto pela Funda��o Municipal de Cultura de BH. “Vou fazer o LP, um formato mais duradouro. H� essa coisa de o vinil estar voltando, mas al�m da durabilidade, de atravessar gera��es, ele tem algo muito legal: a rela��o com a arte visual.”
A lei de incentivo � fundamental para o LP de Naroca. “Prensar � muito caro para um artista independente”, comenta, observando que o apoio tamb�m permitir� que o vinil chegue ao consumidor com pre�o razo�vel.
Outra luta � financiar clipes – por ela, cada uma das 11 faixas teria o seu. “Artisticamente, � muito interessante faz�-los. Acho at� que completam o sentido da m�sica, al�m de mostrar a est�tica do trabalho. Mas para o artista independente isso se torna dif�cil, principalmente em tempos de pandemia”, diz Naroca.
“Foi um desafio enorme lan�ar tr�s single-clipes. O primeiro, ‘Tangar�’, fiz com equipe maior, com loca��o e tudo. Os outros dois, ‘Quero’ e ‘Tempos sombrios’, fiz em casa mesmo, filmando com o celular e investindo mais na p�s-produ��o.”
Por falar em dificuldade, Naroca manda seu recado para o p�blico: “Para n�s, artistas independentes que estamos batalhando, n�o � f�cil fazer m�sica neste momento sem shows, a nossa fonte de renda. � muito importante que as pessoas escutem, compartilhem, deem play nas plataformas. A m�sica est� a� para nos fortalecer nestes tempos t�o dif�ceis.” Os shows de “Meridiana” est�o previstos para dezembro.
“MERIDIANA”
. Disco de Naroca
. Tratore
. 11 faixas
. Dispon�vel nas plataformas digitais
REPERT�RIO
» “TANGAR�”
De Naroca e Rafael Fares
» “OMOLU”
De Naroca e Rafael Fantini
» “AVE”
De Naroca
» “QUERO”
De Naroca
» “TEMPOS SOMBRIOS”
De Naroca
» “AMOR DE CARNAVAL”
De Naroca e Rafael Fantini
» “UM CANTINHO”
De Naroca
» “SOU LUA”
De Naroca
» “CURUMIM TUPINAMB�”
De Rafael Fantini
» “MATIAS”
De Naroca e Rafael Fantini
» “DJUN DID”
De Naroca e Rafael Fantini