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Estado de Minas CINEMA

Wagner Moura: 'Marighella' � 'resposta � trag�dia do governo Bolsonaro'

Filme sobre o guerrilheiro baiano, �cone da esquerda, tem sess�es de pr�-estreia a partir desta segunda-feira (1/11) em salas de BH, Contagem e Betim


01/11/2021 04:00 - atualizado 01/11/2021 07:36

Seu Jorge ouve instruções do diretor Wagner Moura no cenário do longa 'Marighella'. Ao fundo, há machado, lampião e panelas pendurados na parede
Seu Jorge, que vive Marighella, e Wagner Moura no set do filme sobre o guerrilheiro que enfrentou a ditadura militar (foto: Ariela Bueno/divulga��o)
Um filme n�o pode ser descolado de seu tempo. E o tempo de “Marighella” � hoje. Passaram-se oito anos desde que Wagner Moura anunciou sua estreia na dire��o com a hist�ria de Carlos Marighella (1911-1969). Rodaria, a partir da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (2012), de M�rio Magalh�es, os �ltimos anos do ex-deputado e guerrilheiro baiano, declarado o maior inimigo da ditadura militar (1964-1985).

Dificuldades de financiamento, amea�as nas filmagens, imbr�glio com a Ag�ncia Nacional do Cinema (Ancine), o que acarretou o cancelamento da estreia, h� dois anos (censura, � o que Wagner Moura sempre afirmou), ataques virtuais e, no �ltimo ano e meio, uma pandemia. Os percal�os em si dariam quase outro filme. 

Depois de participar de festivais em todos os continentes, a partir de Berlim, no in�cio de 2019, “Marighella” finalmente chega ao circuito comercial brasileiro. A estreia oficial ser� nesta quinta-feira (4/11), exatos 52 anos depois do assassinato do militante de esquerda em emboscada numa rua dos Jardins, em S�o Paulo. 

A partir desta segunda-feira (1º/11), pr�-estreias est�o programadas em todo o pa�s, inclusive em BH. A hist�ria parte de uma cena de alta propuls�o – o assalto a um trem protagonizado por Marighella (Seu Jorge) e os jovens integrantes da A��o Libertadora Nacional (ALN) ao som de “Mon�logo ao p� do ouvido”, de Chico Science e Na��o Zumbi. A ALN foi fundada por ele logo ap�s sua expuls�o do Partido Comunista, em decorr�ncia de seu envolvimento com a guerrilha, explica um flashback.

A partir desse momento, o longa acompanha seus movimentos com a luta armada; sua vida pessoal distante da companheira Clara (Adriana Esteves) e do filho Carlinhos (Matheus Ara�jo), e a persegui��o empreendida pelo delegado L�cio (Bruno Gagliasso). “N�o fiz um filme sobre os que lutaram contra a ditadura nos anos 1960 e 1970 apenas, fiz um filme sobre quem est� lutando agora. Isso � o que me d� mais alegria”, afirma Wagner Moura ao Estado de Minas.

"N�o estou pedindo a ningu�m para gostar de 'Marighella'. N�o fiz uma hagiografia"

Wagner Moura, ator e diretor

 

Os problemas enfrentados pelo filme “Marighella” come�aram muito antes das quest�es com a Ancine, certo?
Desde que anunciamos, em 2013, que ir�amos adaptar o livro do M�rio Magalh�es. Na hora de ir atr�s de dinheiro para financiar o filme, pela Lei do Audiovisual, foi incrivelmente duro. Pessoalmente, fui a v�rias reuni�es junto com o pessoal da O2 Filmes para tentar financiamento. Foi zero por cento, n�o houve nada. As mensagens (recebidas das empresas) eram de que n�o queriam associar (as marcas) ao projeto.

“Marighella” foi rodado no final de 2017, momento em que Jair Bolsonaro era realidade, mas n�o uma certeza. O longa que voc� filmou quatro anos atr�s ganha novo significado agora?
Um filme � e sempre ser� a conjun��o entre o que pensa o realizador na hora em que estava filmando com o tempo em que a obra � apreciada. Est� muito claro para a maioria da popula��o brasileira a trag�dia que � o governo Bolsonaro. No in�cio de 2019, ainda havia certo otimismo por parte dos antipetistas que votaram nele. Hoje em dia, vejo que � um governo que depende unicamente dessa gente que sai no 7 de Setembro para pedir o fim do Supremo e a volta da ditadura. Estamos em um pa�s em que 19 milh�es de pessoas est�o passando fome, com 600 mil mortos por COVID. ‘Marighella’ � um filme que luta contra um governo federal para existir.

At� hoje, aquele cara da Secretaria de Cultura (o secret�rio M�rio Frias) e o outro da Funda��o Palmares (o presidente S�rgio Camargo) ficam atacando o filme no Twitter, mobilizando sua milit�ncia para dar nota baixa no IMDB (Internet Movie Database, maior base de dados da ind�stria audiovisual do mundo). S�o ataques de gente louca, radicais, fascistas mesmo. N�o estou pedindo a ningu�m para gostar de ‘Marighella’. N�o fiz uma hagiografia. Na �poca do ‘Tropa de elite 1’ (2007), a gente foi para o debate, ouvimos acusa��es. Isso n�o � problema. O que acho grave � o quanto a gente retrocedeu. L� atr�s t�nhamos um filme na rua, hoje em dia � um filme com tentativa de interdi��o.

Fala-se muito mais dos percal�os da produ��o do que do filme propriamente. Para voc�, estreante na dire��o de longas,isso � frustrante?
Com o ‘Tropa’ foi a mesma coisa e � natural. Tenho certa frustra��o, eu tamb�m queria falar um pouco de cinema, da linguagem que usei. Se viv�ssemos numa situa��o normal, talvez fosse poss�vel. Por outro lado, � um filme pol�tico, sobretudo no momento pelo qual o Brasil passa, ent�o esse enfrentamento � importante tamb�m. Fiz um filme sobre o Marighella, n�o posso n�o estar presente nesse embate importante contra o fascismo. O Bolsonaro ataca todos n�s, a democracia, o jornalismo, o tempo inteiro. N�o podemos deixar esse campo avan�ar sobre o campo democr�tico, seria um desservi�o � mem�ria de Marighella.

 

“Marighella” � um filme tenso, com c�mera na m�o, muito focado nos atores. Como voc� se preparou para dirigir?
O filme sintetiza muito a minha rela��o com o cinema brasileiro. Sou um ator muito identificado com a retomada do cinema a partir dos anos 2000. Fiz personagens brasileiros de todos os tipos e acho que o cinema nacional tem muito isso, desde o Cinema Novo, de falar do pa�s como ferramenta revolucion�ria, de transforma��o. Filmei ‘Marighella’ do jeito que gosto de ser filmado como ator. � um filme dirigido por um ator, ent�o voc� sente que a minha c�mera est� dentro, nunca observando de fora. Meu interesse � sempre nos personagens, que s�o a porta de entrada de entendimento do contexto.

Quando o filme termina, no momento dos cr�ditos, h� uma sequ�ncia com atores 
cantando a plenos pulm�es o “Hino Nacional”. � uma forma de tentar recuperar um de nossos s�mbolos?
O hino � nosso. Vou assistir � Olimp�ada, um brasileiro ganha, toca o hino, come�o a chorar. Entendo a dificuldade que temos de nos relacionar hoje com os s�mbolos que foram apropriados. Uma camisa da CBF nunca mais vou usar na vida, n�o tem jeito. Mas a gente n�o pode entregar para essa galera, eles n�o podem se apropriar do Brasil. Agora, a sequ�ncia n�o � uma cena. O comprometimento dos atores era muito grande, eles faziam exerc�cios de prepara��o antes de todas as cenas. Naquele dia, iam fazer uma cena muito dif�cil. Ent�o se juntaram e n�o fui eu que pedi a eles. Deram as m�os e come�aram a cantar o hino. Achei bonito e pedi para o diretor de fotografia (Adrian Teijido) filmar.

Carlinhos Marighella, filho de Marighella, e Clara Charf, companheira dele, tiveram alguma participa��o no projeto?
A fam�lia Marighella sempre nos apoiou muito, desde o come�o. Foi a Maria Marighella (que est� no elenco) quem me deu o livro do M�rio Magalh�es e disse que a gente tinha de fazer um filme sobre o av� dela. Maria � minha amiga da vida inteira de Salvador. Sou marighelista muito antes de pensar em fazer um filme sobre ele. A fam�lia foi muito generosa, nunca fez exig�ncia, n�o pediu para ler roteiro, todos sempre abertos para conversar. Conversei com Carlinhos muitas vezes, com dona Clara algumas.

Seu Jorge, no papel de Marighella, grita de dor durante sessão de tortura no filme Marighella
Carlos Marighella (Seu Jorge) � torturado em cena do filme de Wagner Moura (foto: O2 Filmes/divulga��o)
 

Voc� est� vivendo com sua fam�lia em Los Angeles desde 2018. Como � o retorno agora ao Brasil para lan�ar o filme?
Nunca me desconectei do Brasil. Leio todos os jornais do Brasil todos os dias, falo com meus amigos todos os dias. Vivo onde estou trabalhando. Vivi na Col�mbia (para rodar a s�rie ‘Narcos’) e depois nos EUA por causa do filme do S�rgio Vieira de Mello. Fiquei preso por causa da pandemia. Mas sou um artista e cidad�o brasileiro conectado com o pa�s. Minha produ��o art�stica sempre tem a ver com o Brasil, mesmo quando filmo fora. O que tenho de interessante como ator l� fora � o fato de ser da Bahia.

De forma realista, qual � a sua expectativa de p�blico para o lan�amento nos cinemas?
N�o sei dizer. Todos os filmes que est�o estreando no cinema n�o t�m o mesmo retorno que teriam antes da pandemia, da for�a do streaming. O cinema mudou. Agora, meu filme � um filme popular. Dentro das circunst�ncias, e a� falo independentemente da pol�tica, mas considerando a pandemia, o avan�o do streaming e a diminui��o do n�mero de salas, tenho muita esperan�a de que dentro desse contexto ele fa�a uma performance muito boa. Porque a censura, al�m de tudo, � burra. Ela ati�a a curiosidade das pessoas. Mais do que isso, tenho sentido que as pessoas est�o abra�ando o filme por conta de tudo, inclusive o estado das coisas no Brasil de hoje. As pessoas est�o dizendo: ‘Eu quero prestigiar’. Para os movimentos sociais isso � muito claro, n�o s� pela hist�ria, mas pelo que ele significa hoje.

“MARIGHELLA”

O filme estreia nesta quinta-feira (4/11). Pr�-estreias a partir desta segunda nos cines BH (1º e 2/11, �s 20h30, e 3/11, �s 20h40); Boulevard (1º a 3/11, �s 20h40); Cidade (1º a 3/11, �s 14h20, 17h20 e 20h20); Contagem (1º a 3/11, �s 17h30 e 20h30); Del Rey (1º a 3/11, �s 20h35); Diamond (1º a 3/11, �s 20h20); Itaupower (1º a 3/11, �s 20h30); Minas (1º a 3/11, �s 20h30); Monte Carmo (1º a 3/11, �s 20h30); UNA Belas Artes (2 e 3/11, �s 20h10); Via Shopping (1º a 3/11, �s 20h20). 

NA TV

Nesta segunda-feira (1º/11), Wagner Moura � o entrevistado do programa “Roda viva”, que come�a �s 22h, naTV Cultura e na Rede Minas.


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