
Dificuldades de financiamento, amea�as nas filmagens, imbr�glio com a Ag�ncia Nacional do Cinema (Ancine), o que acarretou o cancelamento da estreia, h� dois anos (censura, � o que Wagner Moura sempre afirmou), ataques virtuais e, no �ltimo ano e meio, uma pandemia. Os percal�os em si dariam quase outro filme.
A partir desta segunda-feira (1º/11), pr�-estreias est�o programadas em todo o pa�s, inclusive em BH. A hist�ria parte de uma cena de alta propuls�o – o assalto a um trem protagonizado por Marighella (Seu Jorge) e os jovens integrantes da A��o Libertadora Nacional (ALN) ao som de “Mon�logo ao p� do ouvido”, de Chico Science e Na��o Zumbi. A ALN foi fundada por ele logo ap�s sua expuls�o do Partido Comunista, em decorr�ncia de seu envolvimento com a guerrilha, explica um flashback.
A partir desse momento, o longa acompanha seus movimentos com a luta armada; sua vida pessoal distante da companheira Clara (Adriana Esteves) e do filho Carlinhos (Matheus Ara�jo), e a persegui��o empreendida pelo delegado L�cio (Bruno Gagliasso). “N�o fiz um filme sobre os que lutaram contra a ditadura nos anos 1960 e 1970 apenas, fiz um filme sobre quem est� lutando agora. Isso � o que me d� mais alegria”, afirma Wagner Moura ao Estado de Minas.
"N�o estou pedindo a ningu�m para gostar de 'Marighella'. N�o fiz uma hagiografia"
Wagner Moura, ator e diretor
Os problemas enfrentados pelo filme “Marighella” come�aram muito antes das quest�es com a Ancine, certo?
Desde que anunciamos, em 2013, que ir�amos adaptar o livro do M�rio Magalh�es. Na hora de ir atr�s de dinheiro para financiar o filme, pela Lei do Audiovisual, foi incrivelmente duro. Pessoalmente, fui a v�rias reuni�es junto com o pessoal da O2 Filmes para tentar financiamento. Foi zero por cento, n�o houve nada. As mensagens (recebidas das empresas) eram de que n�o queriam associar (as marcas) ao projeto.
“Marighella” foi rodado no final de 2017, momento em que Jair Bolsonaro era realidade, mas n�o uma certeza. O longa que voc� filmou quatro anos atr�s ganha novo significado agora?
Um filme � e sempre ser� a conjun��o entre o que pensa o realizador na hora em que estava filmando com o tempo em que a obra � apreciada. Est� muito claro para a maioria da popula��o brasileira a trag�dia que � o governo Bolsonaro. No in�cio de 2019, ainda havia certo otimismo por parte dos antipetistas que votaram nele. Hoje em dia, vejo que � um governo que depende unicamente dessa gente que sai no 7 de Setembro para pedir o fim do Supremo e a volta da ditadura. Estamos em um pa�s em que 19 milh�es de pessoas est�o passando fome, com 600 mil mortos por COVID. ‘Marighella’ � um filme que luta contra um governo federal para existir.
At� hoje, aquele cara da Secretaria de Cultura (o secret�rio M�rio Frias) e o outro da Funda��o Palmares (o presidente S�rgio Camargo) ficam atacando o filme no Twitter, mobilizando sua milit�ncia para dar nota baixa no IMDB (Internet Movie Database, maior base de dados da ind�stria audiovisual do mundo). S�o ataques de gente louca, radicais, fascistas mesmo. N�o estou pedindo a ningu�m para gostar de ‘Marighella’. N�o fiz uma hagiografia. Na �poca do ‘Tropa de elite 1’ (2007), a gente foi para o debate, ouvimos acusa��es. Isso n�o � problema. O que acho grave � o quanto a gente retrocedeu. L� atr�s t�nhamos um filme na rua, hoje em dia � um filme com tentativa de interdi��o.
At� hoje, aquele cara da Secretaria de Cultura (o secret�rio M�rio Frias) e o outro da Funda��o Palmares (o presidente S�rgio Camargo) ficam atacando o filme no Twitter, mobilizando sua milit�ncia para dar nota baixa no IMDB (Internet Movie Database, maior base de dados da ind�stria audiovisual do mundo). S�o ataques de gente louca, radicais, fascistas mesmo. N�o estou pedindo a ningu�m para gostar de ‘Marighella’. N�o fiz uma hagiografia. Na �poca do ‘Tropa de elite 1’ (2007), a gente foi para o debate, ouvimos acusa��es. Isso n�o � problema. O que acho grave � o quanto a gente retrocedeu. L� atr�s t�nhamos um filme na rua, hoje em dia � um filme com tentativa de interdi��o.
Fala-se muito mais dos percal�os da produ��o do que do filme propriamente. Para voc�, estreante na dire��o de longas,isso � frustrante?
Com o ‘Tropa’ foi a mesma coisa e � natural. Tenho certa frustra��o, eu tamb�m queria falar um pouco de cinema, da linguagem que usei. Se viv�ssemos numa situa��o normal, talvez fosse poss�vel. Por outro lado, � um filme pol�tico, sobretudo no momento pelo qual o Brasil passa, ent�o esse enfrentamento � importante tamb�m. Fiz um filme sobre o Marighella, n�o posso n�o estar presente nesse embate importante contra o fascismo. O Bolsonaro ataca todos n�s, a democracia, o jornalismo, o tempo inteiro. N�o podemos deixar esse campo avan�ar sobre o campo democr�tico, seria um desservi�o � mem�ria de Marighella.
“Marighella” � um filme tenso, com c�mera na m�o, muito focado nos atores. Como voc� se preparou para dirigir?
O filme sintetiza muito a minha rela��o com o cinema brasileiro. Sou um ator muito identificado com a retomada do cinema a partir dos anos 2000. Fiz personagens brasileiros de todos os tipos e acho que o cinema nacional tem muito isso, desde o Cinema Novo, de falar do pa�s como ferramenta revolucion�ria, de transforma��o. Filmei ‘Marighella’ do jeito que gosto de ser filmado como ator. � um filme dirigido por um ator, ent�o voc� sente que a minha c�mera est� dentro, nunca observando de fora. Meu interesse � sempre nos personagens, que s�o a porta de entrada de entendimento do contexto.
Quando o filme termina, no momento dos cr�ditos, h� uma sequ�ncia com atores cantando a plenos pulm�es o “Hino Nacional”. � uma forma de tentar recuperar um de nossos s�mbolos?
O hino � nosso. Vou assistir � Olimp�ada, um brasileiro ganha, toca o hino, come�o a chorar. Entendo a dificuldade que temos de nos relacionar hoje com os s�mbolos que foram apropriados. Uma camisa da CBF nunca mais vou usar na vida, n�o tem jeito. Mas a gente n�o pode entregar para essa galera, eles n�o podem se apropriar do Brasil. Agora, a sequ�ncia n�o � uma cena. O comprometimento dos atores era muito grande, eles faziam exerc�cios de prepara��o antes de todas as cenas. Naquele dia, iam fazer uma cena muito dif�cil. Ent�o se juntaram e n�o fui eu que pedi a eles. Deram as m�os e come�aram a cantar o hino. Achei bonito e pedi para o diretor de fotografia (Adrian Teijido) filmar.
Carlinhos Marighella, filho de Marighella, e Clara Charf, companheira dele, tiveram alguma participa��o no projeto?
A fam�lia Marighella sempre nos apoiou muito, desde o come�o. Foi a Maria Marighella (que est� no elenco) quem me deu o livro do M�rio Magalh�es e disse que a gente tinha de fazer um filme sobre o av� dela. Maria � minha amiga da vida inteira de Salvador. Sou marighelista muito antes de pensar em fazer um filme sobre ele. A fam�lia foi muito generosa, nunca fez exig�ncia, n�o pediu para ler roteiro, todos sempre abertos para conversar. Conversei com Carlinhos muitas vezes, com dona Clara algumas.

Voc� est� vivendo com sua fam�lia em Los Angeles desde 2018. Como � o retorno agora ao Brasil para lan�ar o filme?
Nunca me desconectei do Brasil. Leio todos os jornais do Brasil todos os dias, falo com meus amigos todos os dias. Vivo onde estou trabalhando. Vivi na Col�mbia (para rodar a s�rie ‘Narcos’) e depois nos EUA por causa do filme do S�rgio Vieira de Mello. Fiquei preso por causa da pandemia. Mas sou um artista e cidad�o brasileiro conectado com o pa�s. Minha produ��o art�stica sempre tem a ver com o Brasil, mesmo quando filmo fora. O que tenho de interessante como ator l� fora � o fato de ser da Bahia.
De forma realista, qual � a sua expectativa de p�blico para o lan�amento nos cinemas?
N�o sei dizer. Todos os filmes que est�o estreando no cinema n�o t�m o mesmo retorno que teriam antes da pandemia, da for�a do streaming. O cinema mudou. Agora, meu filme � um filme popular. Dentro das circunst�ncias, e a� falo independentemente da pol�tica, mas considerando a pandemia, o avan�o do streaming e a diminui��o do n�mero de salas, tenho muita esperan�a de que dentro desse contexto ele fa�a uma performance muito boa. Porque a censura, al�m de tudo, � burra. Ela ati�a a curiosidade das pessoas. Mais do que isso, tenho sentido que as pessoas est�o abra�ando o filme por conta de tudo, inclusive o estado das coisas no Brasil de hoje. As pessoas est�o dizendo: ‘Eu quero prestigiar’. Para os movimentos sociais isso � muito claro, n�o s� pela hist�ria, mas pelo que ele significa hoje.
De forma realista, qual � a sua expectativa de p�blico para o lan�amento nos cinemas?
N�o sei dizer. Todos os filmes que est�o estreando no cinema n�o t�m o mesmo retorno que teriam antes da pandemia, da for�a do streaming. O cinema mudou. Agora, meu filme � um filme popular. Dentro das circunst�ncias, e a� falo independentemente da pol�tica, mas considerando a pandemia, o avan�o do streaming e a diminui��o do n�mero de salas, tenho muita esperan�a de que dentro desse contexto ele fa�a uma performance muito boa. Porque a censura, al�m de tudo, � burra. Ela ati�a a curiosidade das pessoas. Mais do que isso, tenho sentido que as pessoas est�o abra�ando o filme por conta de tudo, inclusive o estado das coisas no Brasil de hoje. As pessoas est�o dizendo: ‘Eu quero prestigiar’. Para os movimentos sociais isso � muito claro, n�o s� pela hist�ria, mas pelo que ele significa hoje.
“MARIGHELLA”
O filme estreia nesta quinta-feira (4/11). Pr�-estreias a partir desta segunda nos cines BH (1º e 2/11, �s 20h30, e 3/11, �s 20h40); Boulevard (1º a 3/11, �s 20h40); Cidade (1º a 3/11, �s 14h20, 17h20 e 20h20); Contagem (1º a 3/11, �s 17h30 e 20h30); Del Rey (1º a 3/11, �s 20h35); Diamond (1º a 3/11, �s 20h20); Itaupower (1º a 3/11, �s 20h30); Minas (1º a 3/11, �s 20h30); Monte Carmo (1º a 3/11, �s 20h30); UNA Belas Artes (2 e 3/11, �s 20h10); Via Shopping (1º a 3/11, �s 20h20).
NA TV
Nesta segunda-feira (1º/11), Wagner Moura � o entrevistado do programa “Roda viva”, que come�a �s 22h, naTV Cultura e na Rede Minas.