'Fic��es s�nicas 02', o filme-pe�a de Grace Pass�, estreia no YouTube

A plataforma Brasil Cena Aberta estreia, nesta ter�a-feira (9/11), o projeto “Daqui, para onde vamos?”, que apresenta a produ��o c�nica brasileira tanto ao p�blico quanto a programadores e curadores internacionais interessados em experi�ncias teatrais em novos meios e formatos desenvolvidas no pa�s.

“Fic��es s�nicas 02”, que abre a programa��o e ser� exibida at� 18 de novembro, tem dire��o e dramaturgia assinadas pela premiada Grace Pass�. O projeto inclui ciclo de debates, oficinas t�cnicas e espet�culos criados especialmente por artistas convidados, que v�o cumprir temporadas on-line.

A partir da chegada da pandemia, o Brasil Cena Aberta inaugurou o ciclo Cenas Abertas ao Ins�lito, em julho de 2020, propondo reflex�es sobre a expans�o do teatro para o universo virtual. Paralelamente, organizou a edi��o on-line de seu encontro internacional de artes c�nicas, que ocorreu em dezembro de 2020.

Entre os convidados estavam artistas com os quais a idealizadora e diretora-geral do Brasil Cena Aberta, a mineira Andrea Caruso – ex- integrante do grupo Armatrux –, vinha estabelecendo di�logos e trocas: Grace Pass�, com quem desenvolve projetos h� mais de 20 anos, desde quando as duas moravam em Belo Horizonte, e a companhia canadense Porte Parole, a partir da qual se desenvolveu “A assembleia S�o Paulo”, que cumpre temporada virtual a partir de 19 de novembro.

“Fic��es s�nicas 02” � desdobramento do projeto que Grace desenvolve desde o ano passado e gerou outros dois produtos culturais. O primeiro – “Fic��o s�nica 0” – � uma pe�a radiof�nica criada a convite do festival de arte sonora Novas Frequ�ncias. O segundo, uma instala��o sonora para a 34ª Bienal de S�o Paulo, em cartaz at� dezembro.

Grace chama “Fic��es s�nicas 02” de filme-pe�a. “Desde ‘Vaga carne’, espet�culo com que rodo desde 2016, tenho pesquisado a dimens�o sonora da palavra, da fala na cena. De alguma forma, as coisas de ‘Fic��es s�nicas’ s�o resultado de um repert�rio da minha vida, de outros trabalhos anteriores, de desejos que j� estavam em outros projetos”, conta a artista.

A dimens�o sonora da palavra falada � um pilar da pe�a. O outro s�o as quest�es relacionadas � sociedade brasileira no que diz respeito � negritude. “Quis reunir isso como um projeto s�. Na instala��o sonora da Bienal de S�o Paulo, tem coisas que atravessam esse filme-pe�a que estreia agora. H� um caminho de pensamento que perpassa as obras”, destaca.

“Fic��es s�nicas 02” foi filmada no Theatro Municipal de S�o Paulo, sob dire��o de Andrea Caruso. Re�ne artistas que trabalham ativamente em circuitos e linguagens distintos: a soprano Marly Montoni, a bailarina de dan�as urbanas Silvia Kamyla, o ator e artista multim�dia Lucas Andrade, o m�sico e performer Nov�ssimo Edgar e o m�sico Barulhista. A pe�a ainda conta com o percussionista Mauricio Bad� e o Coral Paulistano, sob a reg�ncia de Ma�ra Ferreira.

Grace explica que tr�s pessoas de sua equipe j� s�o velhas conhecidas de produ��es em Belo Horizonte: Barulhista, criador da trilha sonora, tamb�m est� morando em S�o Paulo; Silvia Kamyla, que ela conheceu assistindo � Fusion Cia. de Dan�as Urbanas; e Aline Vila Real, assistente de dire��o e dramaturgia, com quem j� trabalhou no grupo Espanca!.

“O Lucas Andrade � ator aqui de S�o Paulo, a Marly Montoni � uma cantora l�rica, a Silvia Kamyla � dan�arina tamb�m imersa no mundo musical. Nov�ssimo Edgar � performer, cantor e tamb�m poeta. S�o pessoas que se relacionam de modos diferentes com o som e com a palavra em seus repert�rios. Eu queria essas diferentes texturas, diferentes modos de abordagem para expandir as possibilidades de pensar numa fic��o sonora”, aponta Grace.

Andrea destaca que um dos motes para a cria��o de “Fic��es s�nicas 02” veio da observa��o do centro da metr�pole esvaziado por causa da pandemia e, ao mesmo tempo, povoado pelos que n�o pararam de circular por ali e moradores das ruas.

Grace observa que n�o s� o vazio da cidade, mas tamb�m dos teatros, serviu de mote para sua pe�a-filme. A hist�ria foca artistas e performers que, em meio � paralisa��o dos equipamentos culturais e do pr�prio fazer art�stico presencial, resolvem ir para o teatro e ensaiar mesmo assim.

“Ir para o Theatro Municipal passa a ter outros significados, � uma forma que os artistas encontram para acessar algo que parece perdido. O ir para o teatro � um ir em dire��o � vitalidade, ao movimento”, diz.

A aus�ncia do p�blico acaba por fazer do pr�prio Municipal uma esp�cie de personagem. “A hist�ria se passa com artistas e performers se relacionando com esse edif�cio, tentando refletir e criar outros valores para o espa�o sem plateia. Nosso cen�rio � o teatro no Centro de S�o Paulo, na Pra�a da Rep�blica, que, durante a pandemia, tem din�mica diferente. A gente tenta deslocar o olhar do espectador para dentro do teatro, mas numa perspectiva que permita ver tamb�m o lado de fora”, salienta.

Por sua vez, “A assembleia S�o Paulo” nasceu de um experimento desenvolvido pela companhia canadense Porte Parole, que teve in�cio em 2017, em v�rias cidades, como projeto itinerante documental de longo prazo.

Em cada cidade, a equipe criativa da Porte Parole montava e registrava jantares em que quatro pessoas que n�o se conheciam –  e tinham posi��es ideol�gicas diferentes – se enfrentavam e se confrontavam francamente a partir de temas surgidos naquele encontro.

O roteiro de perguntas de cada jantar era criado pela companhia. A partir da grava��o do longo encontro, gerava-se um texto mais curto. No palco, atores interpretam os quatro personagens da vida real.

“Assisti e me tocou muito. Era uma esp�cie de document�rio que trazia em cena o debate de ideias antag�nicas numa estrutura teatral muito interessante. No Brasil, j� em 2018, havia a dificuldade de sentar para conversar, a dificuldade de di�logo. Achei aquele projeto do Porte Parole genial por isso, as coisas est�o cada vez mais antag�nicas no mundo, e eles trouxeram isso para uma forma teatral”, diz Andrea Caruso.

Ela convidou o grupo, que j� havia passado por Alemanha, Litu�nia e Estados Unidos, para desenvolver a experi�ncia tamb�m no Brasil. “Eles viriam estabelecendo parceria com os artistas daqui”, diz, acrescentando que se juntaram � empreitada Beatriz Sayad e Juliana Jardim, que ficaram a cargo da curadoria, da media��o e da dire��o da linguagem que ela chama de teatro expandido.

“Em 2019, fiz o primeiro encontro do Brasil Cena Aberta. Eles vieram, apresentaram o projeto e as institui��es se entusiasmaram. Veio a pandemia, tivemos que adaptar e fazer a coisa com a cabe�a no on-line. O projeto foi trabalhado durante um ano e meio, com muitas trocas com a Porte Parole, at� o momento de a gente fazer o jantar de forma virtual”, aponta.

O primeiro ato de “A assembleia S�o Paulo”, em sua vers�o on-line, rep�e o jantar, agora em composi��o dramat�rgica, com duas atrizes mediadoras que participaram tamb�m da experi�ncia real. S�o elas que convidam o p�blico, no segundo ato, a dar prosseguimento � discuss�o em uma plataforma de encontro.

Tanto Andrea quanto Grace acreditam que o pr�ximo passo tanto do “Daqui, para onde vamos?” quanto do “Fic��es s�nicas” � levar as produ��es para o formato presencial.

“O projeto come�a com uma pe�a radiof�nica, tem uma instala��o e agora um filme-pe�a. Ent�o, o pr�ximo passo ser� um espet�culo presencial, que j� ser� outra coisa. As possibilidades s�o in�meras”, aponta Grace Pass�.

Primeira parte: 60min. Segunda parte: 18min. Estreia nesta ter�a (9/11), com sess�es �s 20h (primeira parte) e 21h (segunda parte), seguidas de bate-papo ao vivo com Grace Pass� e equipe. Temporada de 10 a 12 de novembro, �s 20h (primeira parte) e 21h (segunda parte); 13 e 14 de novembro, �s 16h (primeira parte) e 17h (segunda parte); 15 a 18 de novembro, �s 20h (primeira parte) e 21h (segunda parte). Gratuito. Transmiss�o no canal do Brasil Cena Aberta no YouTube