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Estado de Minas M�SICA

Em shows, S�rgio Perer� ressalta liga��o da m�sica de Milton com a �frica

S�rie 'Canto negro para Milton Nascimento' tem quatro apresenta��es, com 10 artistas convidados. Estreia ser� nesta ter�a-feira (28/12), no YouTube


28/12/2021 04:00 - atualizado 28/12/2021 07:43

Sérgio Pererê no palco, toca instrumento e sorri
'Milton, como artista, s� me trouxe alegria o tempo todo. A m�sica dele sempre me deu vontade de viver mais, e j� tive a chance de falar isso para ele', afirma S�rgio Perer� (foto: A s�rie de shows gravados no teatro do Minas T�nis Clube conta com a presen�a de 10 convidados, entre eles o cantor Tom Nascimento)

S�rgio Perer� quer terminar o ano “aben�oado”, trazendo para perto de si e de seu p�blico uma entidade da m�sica capaz de emanar essas b�n��os. Essa � uma das raz�es, entre tantas outras de cunho afetivo e hist�rico, que justificam a s�rie de shows “Canto negro para Milton Nascimento”.

Nos quatro dias de show, a partir desta ter�a-feira (28/12), ele repassa, ao lado de convidados, a obra de Bituca, sua maior inspira��o art�stica. Acompanhado por sua banda, Perer� desfila as m�sicas de Milton em nova roupagem, que ressalta sua rela��o com a �frica.

Gravadas no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, as apresenta��es ser�o exibidas pelo canal do cantor e compositor no YouTube. Participam Ohana, J�ssica Gaspar, Guilherme Ventura, Douglas Din, Tamara Franklin, Raphael Sales, Robert Frank, Azulla, Nath Rodrigues e Tom Nascimento. 

A cada dia, o p�blico poder� conferir Perer� dividindo o palco com esses nomes para interpretar um repert�rio que foi montado a partir das escolhas dos pr�prios convidados. “Falei da homenagem e perguntei a cada um o que gostaria de cantar do Milton. Alguns tiveram d�vidas, da� eu sugeria, pensando no que encaixaria melhor em termos de tom e de timbre. A partir das 10 m�sicas pensadas com cada convidado, fui me organizando, vendo outras coisas”, diz. 

Essa organiza��o do repert�rio, bem como a escolha dos artistas que participam dos shows, passou pelo desejo de real�ar a negritude da obra de Milton, segundo Perer�. Ele diz que quis acentuar a africanidade, por isso escolheu can��es que permitissem de forma mais concreta uma ponte com esse universo. 

Temas como “Louva-a-Deus”, “Janelas para o mundo” ou “Filho” s�o executados com instrumentos africanos, como a mbria, presente em Mo�ambique e no Zimb�bue, a ilimba, t�pica da Tanz�nia, o djeli ngoni, comum no Mali e no Senegal, e o tambor falante, oriundo da Nig�ria, do Senegal e de Burkina-Faso.

ROTEIRO 


Perer� aponta que o repert�rio abarca, ainda, temas como “Cio da terra”, que diz cantar desde pequeno, “San Vicente”, que aparece na s�rie de shows em duas vers�es, “Cravo e canela”, “Circo marimbondo”, “Bola de meia, bola de gude”, “A lua girou” e tamb�m o que ele considera cl�ssicos incontorn�veis, como “Ponta de areia”, “Maria, Maria” e “Travessia”. “Vim desenhando esse roteiro musical com o cora��o. � muito impressionante a pot�ncia da m�sica de Milton”, destaca.

Perer� comenta que a presen�a da m�sica de Milton em sua vida foi uma constante. “Tem uma passagem bonita, embora triste, que foi quando meu pai faleceu. Minha m�e pediu que eu cantasse alguma coisa que o Milton gravou, porque meu pai tamb�m sempre gostou muito. Um m�s depois da morte dele, me encontrei com Milton, eu ainda estava no Tambolel�, e fizemos um show juntos no Pal�cio das Artes”, recorda, acrescentando que, a partir dali, aconteceram outros encontros importantes com o homenageado.

Ele diz que, logo depois do show no Pal�cio das Artes, acompanhou, com seu grupo e com Maur�cio Tizumba, Milton em um show no Lincoln Center, em Nova York, e, um m�s depois, voltaram a se apresentar juntos, na Serraria Souza Pinto. “Foi uma sequ�ncia esparsa de encontros, sempre muito bons”, diz. Perer� ressalta que a rela��o com Milton se estreitou ainda mais a partir do espet�culo “Bituca – Vendedor de sonhos”, que ele estrelou ao lado de Tizumba, Titane e Laura Castro.
Sérgio Pererê no palco observa o cantor Tom Nascimento, que segura microfone e ergue o braço
A s�rie de shows gravados no teatro do Minas T�nis Clube conta com a presen�a de 10 convidados, entre eles o cantor Tom Nascimento (foto: Fotos: Tam�s Bodolay / divulga��o )


EMO��O 


“Fizemos uma temporada no Rio de Janeiro e ele foi nos assistir, esperou o p�blico todo sair e veio comentar com a gente, muito emocionado, sobre a minha interpreta��o e sobre os arranjos. Senti que tinha cumprido minha miss�o. Milton, como artista, s� me trouxe alegria o tempo todo. A m�sica dele sempre me deu vontade de viver mais, e j� tive a chance de falar isso para ele”, diz.

Com “Canto negro para Milton Nascimento”, Perer� convida o p�blico a participar da homenagem. “Esses shows ao longo de quatro dias s�o um presente para ele, para n�s e para quem estiver disposto a viver essa experi�ncia. Quando decidi reunir algumas das p�rolas que o Milton tem e colocar num festival, com v�rios artistas convidados, foi no intuito de homenagear mesmo.”

Num cen�rio de pandemia, a iniciativa representou, tamb�m, uma forma de o cantor e compositor estar pr�ximo de artistas que admira e que s�o grandes amigos seus. “Criamos a ideia do ‘Canto negro para Milton Nascimento’ trazendo cantores e cantoras negras, colocando a voz do Milton dentro desse lugar, que � leg�timo, mas nem sempre observado. Como o barroco est� muito presente na cultura de Minas, a gente �s vezes se esquece de que ela tamb�m est� impregnada de africanidade”, afirma, ressaltando que procurou trazer a m�sica do homenageado para dentro de seu pr�prio universo.

Nesse sentido, Perer� fala em “transcria��o” da obra de Milton. “Falo isso at� para n�o dar margem para compara��es. Amo o Milton do jeito que ele �, mas jamais conseguiria cantar a obra dele como ele canta, por isso trago para meu universo o que tem a ver com meu canto e com os instrumentos que toco, meus tambores. N�o � para procurar semelhan�as, pelo contr�rio, � para observar as diferen�as. A� � que est� o brilho da coisa”, aponta.

Ao longo de sua trajet�ria, tanto com o grupo Tambolel�, a partir de meados dos anos 90, quanto na carreira solo, Perer� construiu uma vasta rede de parcerias. Com um amplo tr�nsito na cena musical n�o s� de Minas, mas do Brasil, ele teria uma enorme e variada gama de artistas para convidar para participar da s�rie “Canto negro para Milton Nascimento”. A rela��o de amizade, de admira��o e o diferencial de cada um dos 10 artistas que est�o presentes no projeto foi o que norteou a escolha dos nomes, conforme explica.

CONVIDADOS 


“Quis chamar vozes muito impressionantes e distintas, que chegam bem aos meus ouvidos, cada uma de uma forma. Quando chamo o Tom Nascimento, � porque tem um timbre raro e que me agrada muito escutar. J� o Guilherme Ventura tem uma leveza, uma suavidade no canto que tamb�m me agrada. O Douglas Din vem do universo do rap, do Duelo de MCs, e mergulha num outro lugar mel�dico, com muita propriedade no uso da palavra. Nessa mesma linha, trouxe Tamara Franklin e Ohana, que tamb�m v�m do universo do hip-hop, mas j� dialogando com outras coisas”, comenta.

Perer� se entusiasma ao falar de seus convidados e faz quest�o de iluminar o que considera not�vel em cada um, como “a voz apaixonante” de J�ssica Gaspar e o “timbre especial” de Robert Frank, de quem diz ser admirador h� muito tempo, tamb�m por seu trabalho como ator e artista pl�stico. Com Azulla e Nath Rodrigues, que integrou sua banda como instrumentista (“� o tipo de artista que joga em v�rias posi��es”, destaca), ele afirma ter uma rela��o pr�xima que vem de h� muito tempo. Sobre Raphael Salles, diz ficar encantado com a do�ura de sua voz
.
“De fato, eu teria mais um tanto de gente para chamar, muitas pessoas, porque uma coisa que sempre digo � que tenho muito amor por essa cena art�stica de Belo Horizonte e de Minas Gerais. Daria para fazer uma longa hist�ria s� com a mo�ada que est� atuando aqui.”

Ele ressalta que esse conjunto de vozes unidas � sua pr�pria est� a servi�o de uma obra e de um artista que reverberam em esfera planet�ria. “Acho que Milton ensinou ao mundo um outro jeito de ser artista. Ele n�o trabalha em cima dos padr�es convencionais, nem no jeito de estar no palco, nem no jeito de cantar, nem no jeito de compor. Tem ali elementos muito diferentes de qualquer outra coisa que voc� j� tenha visto”, diz, apontando tamb�m a capacidade que seu homenageado tem de driblar expectativas.

“Quando se esperava que Milton poderia estar mais pop, ele vai para o Xingu e traz uma experi�ncia ligada aos povos ind�genas. Quando voc� acha que ele poderia estar indo para um outro lugar, mais global, ele mergulha na sonoridade do congado. Quando voc� espera que ele chegue com novas composi��es, ele aparece com o �lbum ‘Crooner’, em que se coloca como int�rprete, com as coisas de baile que cantava na juventude”, exemplifica.

“Me d� a sensa��o de que Milton n�o fez tentativas, ele sempre prop�s, o tempo inteiro, o que para mim � uma coisa muito ousada. � um cantor que voc� n�o vai ver no palco tentando ganhar ou seduzir o p�blico com nada al�m da m�sica. Em qualquer lugar do mundo, ele � entendido como Milton Nascimento; n�o � blues, n�o � samba, n�o � bossa, � Milton Nascimento. Ele ensinou que a gente pode ser do jeito que �, n�o precisa seguir nada. A trajet�ria dele como artista � uma express�o da verdade”, diz.

CARREIRA 


Perer� destaca que aprendeu essa postura com Milton e sempre a aplicou em sua pr�pria trajet�ria. Em uma entrevista recente ao Estado de Minas, seu filho, Imane Rane, que lan�ou seu primeiro EP neste ano, disse n�o se iludir com a vida de artista, porque acompanha de perto a do pr�prio pai. 

“A carreira n�o necessariamente est� relacionada com fama, sucesso, dinheiro. � claro que o palco � uma energia extracotidiana, mas a m�sica � minha caminhada e minha constru��o di�ria. Meus filhos veem assim tamb�m”, aponta, acrescentando que �s vezes fica assustado com a press�o do mercado sobre os artistas jovens.

“Tenho visto artistas incr�veis que se sentem pressionados pelo mercado, pela necessidade de atender �s demandas de streaming, de fazer m�sica em formatos aceit�veis para o mercado. Acho que fazer m�sica � um neg�cio da alma, ent�o n�o tem que sofrer muito para atender a demandas que n�o s�o nossas. Aquilo que voc� tiver de verdade vai ser para sempre. � fazer a nossa arte com alma, isso � o que vai dar resultado.”

“CANTO NEGRO PARA MILTON NASCIMENTO”
S�rgio Perer� e convidados interpretam a obra de Milton Nascimento, numa s�rie de quatro shows que ser�o exibidos a partir desta ter�a-feira (28/12), no canal do YouTube do artista


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