Filmes voltam �s salas de cinema em 2021, mas o streaming veio para ficar
Atra��o da telona, Homem-Aranha ''salva'' bilheterias em todo o mundo, batendo US$ 1 bilh�o. Estreias conquistam ainda mais espa�o nas plataformas digitais
Zendaya e Tom Holland em "Homem-Aranha: Sem volta para casa", o blockbuster campe�o da pandemia (foto: Sony/reprodu��o)
Efetivamente, s� houve, em Belo Horizonte, cinema no cinema no segundo semestre de 2021 – em fevereiro, quando ocorreu breve flexibiliza��o, apenas alguns complexos reabriram na cidade. Desta maneira, na nova autoriza��o da prefeitura para reabertura no in�cio de julho, o parque exibidor da Grande BH retornou com 11 salas de portas fechadas, sem planos de voltar a funcionar.
Cinco delas ficavam no Cine Paragem, no shopping de mesmo nome no Buritis, que fechou em mar�o de 2020 e n�o mais reabriu, e seis no Cine Pampulha, do Pampulha Mall, na Avenida Ant�nio Carlos, que chegou a operar na abertura de outubro de 2020 e fechou definitivamente em janeiro deste ano. Nesse meio tempo, o Cine Ponteio, com quatro salas no Belvedere, fechou em setembro, reabrindo apenas neste dezembro.
CAMPANHA EM BH
Mas houve not�cias positivas, apesar do cen�rio dif�cil. O Cine Belas Artes, fechado desde mar�o de 2020, reabriu em agosto ap�s vitoriosa e sensibilizadora campanha de financiamento coletivo e um patroc�nio h� muito sonhado. O �nico cinema de rua de BH voltou com cara nova, agora com o nome UNA Cine Belas Artes – gra�as ao apoio, pelos pr�ximos tr�s anos, do Grupo �nima Educa��o, respons�vel pelo Centro Universit�rio UNA, cujo c�mpus Liberdade � vizinho ao espa�o.
Houve troca de poltronas, de carpete e de telas. Tamb�m foi realizado projeto de preven��o de inc�ndio, com instala��o de rede de hidrantes, e reforma dos banheiros. O sistema de bilheteria passou a contar com lugares numerados.
�nico cinema de rua da capital mineira, Belas Artes voltou a funcionar em agosto, agora patrocinado pela UNA (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
N�o h� mais como falar de cinema sem falar de plataforma de streaming. E o per�odo viu nascer duas iniciativas on-line mineiras voltadas para a produ��o independente e de autor. A primeira veio ainda em 2020. Sem possibilidade de ser realizada presencialmente em decorr�ncia da pandemia, a 22ª edi��o do FestCurtas BH, marcou, em outubro do ano passado, o lan�amento do Cine Humberto Mauro Mais (cinehumbertomauromais.com), plataforma on-line p�blica e gratuita.
A partir da bem-sucedida experi�ncia no festival, a plataforma passou a exibir a programa��o regular da sala, com suas mostras tem�ticas, programas permanentes e debates. O Cine Humberto Mauro s� voltou a funcionar em julho – desde ent�o, sala e plataforma atuam com sess�es regulares, gratuitas, com programa��es diferentes, uma complementando a outra.
A outra iniciativa on-line, lan�ada em maio, foi a Emba�ba Play (embaubaplay.com). Depois de funcionar tr�s anos como distribuidora, a Emba�ba criou sua pr�pria plataforma de streaming, que se distingue por exibir exclusivamente a produ��o autoral contempor�nea brasileira dos �ltimos 15 anos, entre curtas, m�dias e longas-metragens. A plataforma atua com dois modelos: filmes gratuitos e produ��es para loca��o – o aluguel, via de regra, custa at� R$ 10.
BLOCKBUSTERS
O circuito de exibi��es, obviamente, segue impactado pela COVID-19. Mas no apagar das luzes de 2021 houve resultados animadores em n�vel mundial. Ap�s 12 dias de sua estreia global, “Homem-Aranha: Sem volta para casa” arrecadou mais de US$ 1 bilh�o em bilheterias de todo o mundo. Foi o primeiro filme a atingir a marca na pandemia.
Com isso, o ranking de 2021 vai fechar com uma produ��o de Hollywood no topo. At� ent�o, os chineses dominavam a lista das maiores bilheterias. Dos 10 longas mais assistidos do ano, tr�s vieram do gigante asi�tico, segundo o site Box Office Mojo.
S�o eles “A batalha do Lago Changjin” (segundo colocado, com bilheteria de US$ 900 milh�es); a com�dia “Oi, m�e” (terceiro lugar, com arrecada��o de US$ 822 milh�es); e o policial “Um detetive em Chinatown 3” (sexto lugar, com renda de US$ 686 milh�es).
Tais t�tulos figuraram na mesma lista de “Sem tempo para morrer”, a �ltima aventura de Daniel Craig como James Bond (quarto no ranking dos mais assistidos, com bilheteria na casa dos US$ 775 milh�es) e “Velozes & furiosos 9” (quinto lugar, com renda de US$ 726 milh�es).
No Brasil, o resultado se repetiu. O terceiro t�tulo da franquia do Homem-Aranha estrelado por Tom Holland � o filme mais assistido ano no pa�s este ano. J� foi visto por quase 10 milh�es de pessoas, arrecadando, em seus primeiros 12 dias de exibi��o, R$ 180 milh�es. Tais n�meros fizeram com que a aventura dirigida por Jon Watts se tornasse quinta maior bilheteria de todos os tempos no Brasil.
O m�rito n�o � somente do filme, vale dizer. Houve agressiva distribui��o do longa, a maior j� vista no pa�s. Em sua semana de estreia, 16 de dezembro, “Homem-Aranha” ocupou 2,8 mil telas brasileiras. Quinze dias mais tarde, a domina��o continua. Gra�as aos resultados, o filme, em sua terceira semana, ocupa cerca de 65% das salas do grupo Cineart, o maior exibidor de Minas Gerais.
Seu Jorge e Adriana Esteves protagonizam "Marighella", que migrou para o streaming um m�s depois de estrear nas salas (foto: O2 Filmes/divulga��o)
DISPUTA NO BRASIL
A discrep�ncia com as demais produ��es � enorme. “Marighella”, o filme nacional mais visto em 2021, levou cerca de 320 mil pessoas aos cinemas. � um bom n�mero, mas nada parecido com os resultados pr�-pandemia. Esse longa, n�o custa nada repetir, teve sua estreia original adiada em dois anos em decorr�ncia do imbr�glio com a Ag�ncia Nacional do Cinema (“censura”, de acordo com Wagner Moura, aqui estreante na dire��o de longas); e, posteriormente, por causa da pandemia.
Para se ter uma ideia, em 2019, o �ltimo ano antes da crise sanit�ria, houve tr�s produ��es nacionais entre as 20 mais vistas no pa�s. “Minha m�e � uma pe�a 3”, o terceiro longa melhor colocado daquele ano, levou 11,5 milh�es de brasileiros �s salas. Este ano, nenhuma produ��o brasileira figura entre as mais 20 maiores bilheterias brasileiras.
A pandemia mudou o cen�rio, mas n�o s� com a ocupa��o das salas. A explos�o do streaming vem impactando fortemente os lan�amentos. Nos �ltimos dois anos, dezenas de produ��es, filmes comerciais e produ��es independentes, de autor, estrearam diretamente nas plataformas.
Houve aqueles que preferiram esperar pelo cinema. Como os exibidores, depois de um ano de salas fechadas, est�o priorizando as grandes bilheterias, h� um gargalo enorme para produ��es menores. Belo Horizonte, que j� sofria com a falta de espa�o para a produ��o autoral antes da pandemia, continua com o mesmo problema. E isso ocorre tamb�m com produ��es com nomes conhecidos e cole��o de pr�mios.
Dois filmes vencedores do Oscar, “Minari: Em busca da felicidade” (melhor atriz coadjuvante para Yuh-Jung Youn) e “Bela vingan�a” (melhor roteiro original para Emerald Fennell), que chegaram aos cinemas de outras capitais brasileiras, s� puderam ser vistos em BH por meio do streaming.
Mais recente longa de Clint Eastwood e com um grande est�dio por tr�s (Warner Bros.), “Cry Macho: O caminho para reden��o” tampouco encontrou espa�o nas salas da cidade, mesmo tendo lan�amento nos cinemas brasileiros.
A janela de lan�amento para o streaming est� cada vez menor. “Marighella”, que continua em cartaz em BH, entrou para o cat�logo da Globoplay em 4 de dezembro, um m�s ap�s sua estreia nos cinemas.
DE OLHO NA JANELA
J� a superprodu��o “Duna” (11º filme mais visto nos cinemas tanto do mundo quanto do pa�s), ap�s estrear globalmente no final de outubro, chegou � HBO Max no fim de novembro. O lan�amento integra uma “promessa” da plataforma, que, como forma de arregimentar assinantes, criou a janela de 35 dias dos filmes da Warner Bros. do cinema para o streaming.
Com ou sem pandemia, o streaming veio para ficar, afirmam os especialistas (e tamb�m o p�blico, que cada vez mais deixa de lado a TV paga em prol das plataformas digitais). O setor tamb�m aposta no conv�vio entre os dois mercados de exibi��o.