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Estado de Minas LITERATURA

Thiago de Mello deixa legado em defesa da Amaz�nia e dos direitos humanos

Autor de 'Os estatutos do homem' e 'Faz escuro mas eu canto', entre outros livros, o poeta amazonense foi traduzido para 30 idiomas


15/01/2022 04:00 - atualizado 15/01/2022 08:27

Ilustração mostra o rosto do poeta Thiago de Mello

Poeta que sempre lutou pela preserva��o da Amaz�nia, Thiago de Mello morreu aos 95 anos em sua casa, em Manaus, na sexta-feira (14/1). Autor de obra ic�nica, ele alcan�ou reconhecimento internacional sem jamais perder de vista o car�ter regionalista em sua literatura.

Nascido em Porantim do Bom Socorro, no munic�pio de Barreirinha, no interior do Amazonas, em 30 de mar�o de 1926, Thiago foi um dos escritores mais influentes e respeitados do pa�s. Ficou famoso por usar a poesia para dar visibilidade n�o s� �s quest�es relativas � floresta, mas tamb�m aos direitos humanos.

Seu poema mais conhecido, “Os estatutos do homem”, foi escrito sob o impacto da ditadura militar no Brasil e se espalhou pelo mundo, traduzido para mais de 30 idiomas. “Fica decretado que agora vale a verdade/ que agora vale a vida/ e que de m�os dadas/ trabalharemos todos pela vida verdadeira”, diz a primeira estrofe.

Em 1984, publicou o livro “Manaus amor e mem�ria”, seguido por “Amazonas, p�tria da �gua”, de 1991, e “Amaz�nia – A menina dos olhos do mundo”, de 1992. Sua �ltima obra, “Not�cias da visita��o que fiz no ver�o de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos”, foi lan�ada no ano passado.

Em 2021, o poeta foi homenageado pela 34º Bienal de S�o Paulo, que usou o verso “Faz escuro mas eu canto” como tema do evento.

O verso faz parte do poema “Madrugada camponesa”, lan�ado em 1965. A obra, inclusive, ganhou vers�o musical, fruto da parceria do poeta com o compositor Monsueto Menezes.

Thiago se aproximou do universo da m�sica tamb�m por meio de “Os estatutos do homem”, que em abril de 1985 ganhou partitura escrita pelo maestro Cl�udio Santoro e abriu a temporada de concertos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
 

ADEUS � MEDICINA

Aos 20 anos, depois de passar a adolesc�ncia o in�cio da juventude em Manaus, Thiago de Mello mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer faculdade de medicina, mas trocou o curso pela carreira liter�ria. Aos 21, lan�ou seu primeiro livro de poesia, “Cora��o da terra”.

Em 1950, publicou o poema “Tenso por meus olhos” na primeira p�gina do Suplemento Liter�rio do jornal “Correio da Manh�”. Em 1951, veio “Sil�ncio e palavra”, livro acolhido pela cr�tica. Em seguida, lan�ou “Narciso cego”, em 1952, e “A lenda da rosa”, em 1957.

Naquele mesmo ano, Thiago de Mello foi convidado para dirigir o Departamento Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro. Em 1959 e 1960, foi adido cultural na Bol�via e no Peru. Em 1960, publicou “Canto geral”. Entre 1961 e 1964 foi adido cultural em Santiago, no Chile, onde conheceu o escritor Pablo Neruda e traduziu para o portugu�s uma antologia po�tica do futuro vencedor do Nobel de literatura.

Logo depois do golpe militar de 1964, Thiago de Mello renunciou ao posto de adido cultural e voltou a morar no Rio de Janeiro. Sua poesia ganhou forte conte�do pol�tico, movido pela indigna��o contra o “Ato Institucional nº 1” e por ver a dissemina��o da tortura, empregada como m�todo de interrogat�rio. Escrito mais de uma d�cada depois, em 1977, “Os estatutos do homem” reverberava esse sentimento.
 

DITADURA E EX�LIO

Perseguido pelo governo militar, o poeta amazonense retornou para Santiago, onde permaneceu exilado durante 10 anos. Nesse per�odo, estreitou sua rela��o com Pablo Neruda, com quem estabeleceu amizade e parceria liter�ria de anos.

Thiago tamb�m morou na Argentina, Portugal, Fran�a e Alemanha antes de voltar ao Brasil nos estertores do regime militar, em 1978, para se estabelecer em Barreirinha. Em 1975, foi reconhecido por sua luta em prol dos direitos humanos pela Associa��o Paulista dos Cr�ticos de Arte (APCA), que o aclamou pelo livro “Poesia comprometida com a minha e a tua vida”.

Ao longo de mais de seis d�cadas de carreira, ele publicou 12 livros de poesia e oito de prosa. Em 1992, saiu “Faz escuro mas eu canto”; em 1997 e 2000, ganhou o Pr�mio Jabuti com “De uma vez por todas” e “Campos dos milagres”, respectivamente. Anos depois, em 2018, recebeu outro Jabuti, o trof�u Personalidade Liter�ria, em reconhecimento ao conjunto de sua obra.

A editora Global, que publicava as obras do poeta, divulgou nota lamentando a morte dele. “Grande tradutor, ensa�sta e um dos nomes mais influentes e respeitados da poesia brasileira, Mello ficou conhecido como �cone da literatura regional e sua perda ser� sentida n�o apenas pela sua fam�lia e aqui na Global, mas em todo o pa�s”, diz o comunicado.

Por meio das redes sociais, o governador do Amazonas, Wilson Lima, e o prefeito de Manaus, David Almeida, decretaram luto oficial de tr�s dias pelo falecimento do poeta.

EXPOSI��O

No ano passado, a Prefeitura de Manaus realizou a exposi��o virtual “Thiago de Mello 95 anos de vida, poesia e amor por Manaus”, a partir de acervos pessoais e p�blicos do poeta, com fotos, entrevistas e v�deos, que est�o dispon�veis no link https://vidaecultura.manaus.am.gov.br/.

TRECHOS

OS ESTATUTOS DO HOMEM

(Ato Institucional Permanente)


“Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual ser� suprimida dos dicion�rios
e do p�ntano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade ser� algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada ser� sempre
o cora��o do homem.”

***

“Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas,
t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.”

***

“Fica decretado que, a partir deste instante,
haver� girass�is em todas as janelas,
que os girass�is ter�o direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperan�a.”

***

“Fica decretado que os homens
est�o livres do jugo da mentira.
Nunca mais ser� preciso usar
a coura�a do sil�ncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentar� � mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passar� a ser servida
antes da sobremesa.”

***

“Decreta-se que nada ser� obrigado nem proibido.
tudo ser� permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa beg�nia na lapela.”


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