
A partir de sexta-feira (21/1), a Mostra de Tiradentes, o evento audiovisual mais tradicional de Minas Gerais, chega � 25ª edi��o na cidade onde nasceu.
A Universo Produ��o planejou evento h�brido, on-line e com plateia, mas, na sexta-feira (14/1) � noite, anunciou que n�o haver� programa��o presencial devido ao aumento de casos da COVID-19. Tamb�m foram on-line as �ltimas realiza��es da produtora: duas edi��es do CineOP, duas do CineBH e a pr�pria mostra de Tiradentes em 2021. A programa��o da nova mostra estar� dispon�vel pela plataforma do evento.
A efem�ride dos 25 anos s� aumentou a vontade de fazer evento marcante n�o s� para apresentar a nov�ssima produ��o audiovisual brasileira, mas tamb�m prestar contas ao passado. At� 29 de janeiro, ser�o exibidos 169 filmes de 21 estados, recorde para Tiradentes.
A crise do audiovisual em �mbito federal, com o desmantelamento da Ag�ncia Nacional do Cinema (Ancine), e estadual, com aus�ncia de pol�ticas p�blicas de est�mulo � produ��o mineira, impactou o setor.
Mas n�o na quantidade, comenta Raquel Hallak, que comanda a Universo Produ��o, realizadora de Tiradentes. A curadoria, coordenada por Francis Vogner dos Reis, teve de fazer uma sele��o entre mais de mil inscritos.
“Grande parte dos filmes, principalmente os curtas, foi realizada com a Lei Aldir Blanc. Muitos oferecem fragilidade t�cnica. Como a mostra trata do cinema brasileiro contempor�neo, fizemos quest�o dessa radiografia. Para mim, � este o recado desta edi��o de Tiradentes: ela mostra a realidade de se fazer filme no Brasil de hoje”, afirma Raquel Hallak.
Tanto por isso, a tem�tica � “Cinema em transi��o”. O tema abrange n�o s� a crise institucional, como as mudan�as sofridas na escala produtiva, de exibi��o e distribui��o, aceleradas pela pandemia.
A extensa programa��o ser� apresentada at� 29 deste m�s em 17 mostras, as principais s�o Aurora (dedicada a in�ditos de realizadores que fizeram at� tr�s longas), Olhos Livres (com t�tulos que primam pela experimenta��o est�tica) e homenagem, que vai celebrar a obra do cineasta Adirley Queir�s, de Bras�lia.
Entre os longas in�ditos nos cinemas que ter�o pr�-estreias em Tiradentes est�o “Carro Rei”, de Renata Pinheiro (cinco trof�us em Gramado em 2021), sobre a jovem que consegue se comunicar com carros desde a inf�ncia; o document�rio mineiro “Lavra”, de Lucas Bambozzi, sobre os impactos da minera��o no estado; e “Capitu e o cap�tulo”, novo filme de Julio Bressane, que rel� o cl�ssico “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
RUY GUERRA
Chegado aos 90 anos em 2021, Ruy Guerra, nome referencial da produ��o autoral brasileira, � tema do document�rio “Tempo Ruy”, de Adilson Mendes.
Haver� debates e as mostras “Homenagem”, “Cinema em transi��o”, “Panorama” e “25 anos”. Foram selecionadas 26 produ��es que tiveram “momento marcante na cena audiovisual”, segundo Raquel, a partir de sua exibi��o em Tiradentes.
25ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
De 21 a 29 de janeiro, na cidade hist�rica mineira. A programa��o ser� transmitida no site
www.mostratiradentes.com.br. Gratuito.
ENTREVISTA/ADIRLEY QUEIR�S

Dez anos atr�s, o realizador Adirley Queir�s, de Ceil�ndia, no Distrito Federal, exibiu em Tiradentes seu primeiro longa, “A cidade � uma s�?”. Misto de fic��o e document�rio, acompanha cinco personagens que foram removidos de Bras�lia para viver na periferia da capital federal. Foi a segunda exibi��o p�blica do filme. Queir�s saiu impactado da sess�o e com o principal pr�mio da mostra de 2012.
“Foi muito forte, emocionante, o filme deu uma ader�ncia imediata nas pessoas. Exibir em Tiradentes � um privil�gio, pois seu filme ecoa pela noite, pelos debates, � visto por gente que est� a fim de uma linguagem nova. J� circulei por festivais internacionais, mas nunca vi um evento no mundo que tivesse a energia de Tiradentes”, diz ele.
Uma d�cada mais tarde, Queir�s � o homenageado pela mostra. Ser�o exibidos sete filmes dele, entre curtas e longas. Na noite de abertura, vai passar “Fragmentos de 2016 em dois epis�dios”, resultado da montagem in�dita, feita especialmente para a mostra, de uma s�rie produzida para a TV Brasil.
“N�o � nada pretensioso. Revendo o material, vi um retrato muito foda de Bras�lia em 2016, exatamente no semestre do impeachment (de Dilma Rousseff), do avan�o da direita e de um sentimento j� muito pesado das coisas”, comenta Queir�s, que, este ano, vai lan�ar o longa “Mato seco em chamas”. Nos cinemas, pois o streaming n�o � a praia dele.
Estamos voltando a ver filme no cinema e em festivais depois de quase dois anos assistindo pela TV e pelo computador. Qual � a sua rela��o com o streaming?
� uma rela��o d�bia. No come�o, n�o queria ver streaming. Mas como vivemos a pandemia, fui entendendo o momento, inclusive a possibilidade de ver v�rios filmes que n�o veria na vida. Entendo perfeitamente os festivais exibirem on-line, e a gera��o mais nova conseguir se relacionar bem com isso. Mas, particularmente, n�o gosto de internet, sou velho nesse sentido, n�o tenho paci�ncia. Sei que � massa, importante, mas os filmes que fa�o necessitam da energia dos festivais, do p�blico, da cr�tica.
Ceil�ndia � sua grande personagem. J� pensou em filmar fora de casa?
A gente filma at� hoje na tora, no impulso, com a galera muito pr�xima. � sempre uma equipe muito pequena, quatro, cinco pessoas. Se couber em um carro est� �timo. Filmar vem do desejo, da aventura. � claro que existe a ideia do of�cio, do trabalho, mas acima de tudo do desejo de conversar com aquelas pessoas que sempre viveram em Ceil�ndia, cidade muito fascinante para mim. Existe ali um mundo que n�o consigo explorar. As hist�rias, mem�rias, a pr�pria din�mica da cidade. N�o � que n�o tenha o desejo de filmar fora, mas � que gosto de filmar ali, j� que meu modelo de produ��o � muito simples, n�o tem a ideia de mercado, de laborat�rio de roteiro. A gente vai e filma.
A fic��o cient�fica � marcante em seus filmes. O que estamos vivendo hoje � mais estranho do que a fic��o?
Total, a realidade � muito mais pesada. Filmamos “Mato seco em chamas” (coprodu��o Brasil/Portugal, dirigida com a portuguesa Joana Pimenta) em 2017 e 2018. � filme de pandemia, pois basicamente um v�rus ataca Ceil�ndia, come�a a morrer gente na cidade e o Estado a isola, o que gera uma guerra. Filmamos com Ex�rcito na rua, muita gente de m�scara. Quando come�aram a aparecer as imagens desta pandemia, achei as nossas superinocentes. A realidade sempre � mais poderosa
EM CARTAZ
169 filmes
69 longas- metragens
2 m�dias-metragens
102 curtas-metragens
10 oficinas
52 debates