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Estado de Minas SOLID�O COMPARTILHADA

Jo�o Silv�rio Trevisan faz performance sobre sobreviv�ncia na quarentena

Escritor paulista conta neste s�bado (29/1) suas reflex�es e experi�ncias proporcionadas pelo isolamento imposto pelo "Sr. Corona"


29/01/2022 04:00 - atualizado 29/01/2022 07:08

Ilustração do escritor João Silvério Trevisan

"N�o existe nenhuma possibilidade de sobreviv�ncia atrav�s do negacionismo. S� vamos sobreviver se abra�armos e aceitarmos a realidade que nos rodeia, por mais desagrad�vel que ela possa ser, e n�o colocando pose de super-homem e supermacho. Esse � o fen�meno do negacionismo: n�o aceito a realidade, porque acho que sou super-homem. E isso vai at� o ponto de criar uma realidade paralela. Jair Bolsonaro e seu s�quito n�o sabem a li��o que est�o proporcionando ao Brasil"

Jo�o Silv�rio Trevisan, escritor



Em mar�o de 2020, quando a pandemia de COVID-10 come�ou, o escritor Jo�o Silv�rio Trevisan se trancou em casa. Tendo sofrido um infarto no ano anterior, ele fazia parte do grupo ao qual se recomendava uma precau��o ainda maior, “num momento em que est�vamos sendo encostados na parede por um v�rus desconhecido e com o qual t�nhamos que nos entender, at� o aparecimento da vacina”, conforme ele lembra.

Isolado em seu apartamento, em S�o Paulo, Trevisan n�o se sentiu sozinho com seus pensamentos. “Tinha a consci�ncia de que eu era um pontinho no meio de milh�es, de bilh�es de pontinhos. Era inescap�vel que eu tivesse uma consci�ncia de estar contextualizado, de fazer parte de uma coletividade. Esse dado era crucial para que eu pudesse ter as viv�ncias que tive. Eu n�o era um caso �nico. Est�vamos mundialmente assustad�ssimos. Isso potencializava tudo aquilo que eu estava sentindo”, afirma. 

Foi essa esp�cie de solid�o compartilhada que proporcionou ao escritor de 77 anos as condi��es para fazer o que ele define como “o mais profundo mergulho” em sua individualidade. � essa experi�ncia que ele dividir� neste s�bado (29/1) com o p�blico do projeto Travessias – Como permanecemos vivas, promovido pelo Ita� Cultural, no qual artistas de distintas �reas descrevem como sobreviveram � fase mais aguda da pandemia. 

O companheiro do escritor nessa jornada confessional � o bailarino baiano Edu O., diretor do Grupo X de Improvisa��o em Dan�a, que apresentar� a performance “Calundu”.
 
Trevisan, por sua vez, n�o pretende oferecer ao p�blico nesta noite um manual de sobreviv�ncia a situa��es extremas. “H� um risco muito grande de n�o se interpretar a realidade quando as solu��es chegam atrav�s de manuais. Desconfio muito de manuais que nos prop�em sa�das e de mitos que nos prop�em a salva��o, sejam eles de que colora��o pol�tica ou religiosa forem, porque est�o propondo uma salva��o que n�o est� ao alcance deles. A salva��o, se existir, � algo a ser constru�do. N�o h� a grande salva��o. S�o pequenas salva��es para situa��es espec�ficas”, afirma. 

FRACASSO 

Com a ressalva, portanto, de que essa n�o � uma regra, o escritor convidar� seus leitores/espectadores a pensarem que a aceita��o do fracasso � o caminho mais adequado para lidar com a realidade. O fracasso, aqui compreendido como uma derrota mai�scula, “o fracasso b�sico da condi��o humana”, que ele assim descreve: “Vivenciamos durante a pandemia a revela��o de  que somos ef�meros, fr�geis, provavelmente incompetentes, e n�o somos super-homens. Tudo isso s�o elementos que comp�em a perspectiva da castra��o. N�o podemos ser o que queremos. Nunca seremos imortais. Temos um prazo de validade”.

Na avalia��o de Trevisan, “dispomos na contemporaneidade de uma grande quantidade de ferramentas para evitar pensar na ideia de que somos finitos e somos imperfeitos. � um momento de narcisismo em todos os sentidos, e o narcisismo � uma tentativa de postergar a mortalidade, � como se fosse um formol da alma”.  

Durante a quarentena, ele refletiu sobre um aspecto espec�fico da recusa ao autoexame  de consci�ncia e de comportamento – aquele pr�prio do masculino, que torna “o g�nero masculino terrivelmente cheio de defesas, terrivelmente problem�tico e terrivelmente perigoso”.

Disposto a fazer uma edi��o revista e ampliada de seu livro “Seis balas num buraco s�”, ensaio sobre a masculinidade lan�ado originalmente em 1998, Trevisan empregou boa parte do tempo da quarentena empreendendo pesquisas para a atualiza��o da obra. 

“E s� encontrei elementos que me indicavam que a situa��o complexa do g�nero masculino tinha piorado, porque aumentou muito a presen�a e a atua��o do masculino t�xico”, comenta. O novo cen�rio levou-o a acrescentar cap�tulos inteiros ao livro. “� claro que eu tive que mergulhar na ascens�o do Jair Bolsonaro. Um dos v�rios cap�tulos novos que introduzi � inteiro sobre o bolsonarismo. � assustador quando voc� junta essas pe�as todas, num contexto hist�rico do masculino. Jair Bolsonaro significa algo muito atual: o masculino falocr�tico tomou o poder federal no Brasil.”

ESPERAN�A 

Passado o momento de perplexidade com a constata��o de que as desalentadoras conclus�es de 1998 s�o agora ainda mais sombrias, Trevisan foi buscar “elementos de esperan�a e rea��o de sobreviv�ncia”. 

Encontrou-os sobretudo nos novos feminismos e assinalou nos cap�tulos finais do livro “a import�ncia que o feminismo tem para que o g�nero masculino tenha uma percep��o mais adequada da sua problem�tica e das suas dores que n�o querem ser examinadas. Ele faz a norma, acha que n�o tem que ser examinado para saber se est� ou n�o dentro da norma, por isso � um completo desconhecedor de si mesmo”. 

Em paralelo ao trabalho para a nova edi��o de “Seis balas num buraco s�”, Trevisan escreveu regularmente durante a quarentena as ideias que o “Sr. Corona” lhe inspirava. Publicava esses pensamentos em sua conta no Facebook, acompanhados de ilustra��es feitas pela cartunista Laerte. Esse material dever� agora ganhar a forma de livro. 

TRAVESSIAS – COMO PERMANECEMOS VIVAS

Performances do escritor paulista Jo�o Silv�rio Trevisan e do bailarino baiano Edu O. Neste s�bado (29/1), �s 20h. No domingo (30/1), �s 19h,  apresentam-se a atriz e cantora cearense Marta Aur�lia e a multiartista maranhense Zahy Guajajara. Transmiss�o pelo site do Ita� Cultural 


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