Evandro Mesquita festeja 40 anos do BRock: 'Blitz fez underground emergir'
Cantor e compositor carioca afirma que a gera��o roqueira oitentista deu 'voz ativa' ao jovem no Brasil �s voltas com a ditadura militar e a censura
Evandro Mesquita se apresenta hoje no CCBB, com a banda The Fabulous Tab, no festival dedicado aos 40 anos do BRock (foto: Globo/divulga��o)
"Fabulous Tab � a reuni�o descontra�da de amigos que se dedica ao resgate de tudo o que influenciou a gente musicalmente e tamb�m na vida. � um som de beira de fogueira, meio ac�stico, em que a gente celebra nossas grandes refer�ncias na hist�ria do rock. Mas n�o � cover, s�o arranjos pr�prios"
Evandro Mesquita, m�sico e ator
Atra��o deste domingo do Festival Rock Brasil 40 Anos, Evandro Mesquita chega ao CCBB-BH com sua banda The Fabulous Tab – projeto paralelo que mant�m h� cinco anos, dedicado a releituras de Bob Dylan, Bob Marley, Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e Led Zeppelin, entre outros. Indissoci�vel da Blitz, grupo pioneiro da cena que o festival celebra, Mesquita guarda uma dose de saudade do passado, mant�m-se ativo no presente e mira o futuro com a cabe�a cheia de projetos.
A reverbera��o do chamado BRock, 40 anos depois de sua explos�o, deve-se fundamentalmente � qualidade musical do que foi criado � �poca, acredita o cantor e compositor. “Era uma produ��o muito boa e muito vasta, com v�rias bandas despontando. Isso numa �poca em que o jovem n�o tinha voz ativa. Est�vamos saindo de uma ditadura, de um per�odo grande de censura. A Blitz conseguiu rasgar a cortina de ferro e fazer o underground emergir”, diz.
O sucesso estrondoso da can��o “Voc� n�o soube me amar” abriu portas de gravadoras, r�dios e emissoras de televis�o para todas as bandas que estavam surgindo, destaca Evandro. “Foi um movimento muito forte, celebrado at� hoje com justi�a, do qual a Blitz foi pioneira.” A bordo dessas lembran�as, ele se diz saudosista numa medida razo�vel, o que n�o significa estagna��o.
“Existe, sim, saudade das coisas boas, n�o s� na m�sica, mas no teatro, no cinema, em tudo. Nossa vida � a conjun��o desses bons momentos, que a gente segue celebrando. Sempre vale muito a pena guardar isso com carinho, porque nos fortalece no presente e pode apontar uma luz para o futuro tamb�m”, afirma.
Consciente de que a gera��o roqueira oitentista abriu caminhos para quem veio a seguir, ele hesita em apontar legado ou heran�a no atual cen�rio. “Pode-se dizer que sim, essa heran�a existe pontualmente, e tamb�m que n�o, porque cada um tem o seu caminho, o seu estilo pr�prio. A vontade de fazer, de participar da cultura contempor�nea de alguma maneira, foi algo que plantamos e ficou”, considera.
A partir do BRock, as gravadoras passaram a pensar na possibilidade de abrir espa�o para artistas e grupos jovens e desconhecidos com algo interessante para mostrar, observa o fundador da Blitz. Mas pondera que o atual cen�rio n�o gira mais exclusivamente em torno das gravadoras e, por isso, � mais plural, o que � positivo. “O Brasil � muito grande, tem enorme variedade de possibilidades musicais. Tem gosto para tudo. Mesmo o nosso segmento continua forte, o que justifica essa celebra��o.”
Em 1982, a Blitz estourou com "Voc� n�o soube me amar", porta-voz de seu rock divertido e perform�tico (foto: Jos� Luiz Pederneiras/divulga��o)
FOCO NA BLITZ
Apesar de trazer para o festival o seu projeto paralelo, a Blitz est� no centro dos interesses de Mesquita, pois 2022 marca o anivers�rio de quatro d�cadas da banda. Formado no alvorecer da d�cada de 1980, o grupo, que at� 1982 se apresentava em bares da Zona Sul carioca, viu a carreira deslanchar a partir da chegada do Circo Voador – cujo primeiro endere�o era o Arpoador. Suas performances naquele palco eram teatrais, explosivas, interativas e conquistaram o p�blico.
No in�cio de 1982, “Voc� n�o soube me amar” foi lan�ada na trilha da novela “Sol de ver�o” (Globo), e o grupo alcan�ou as massas. A Blitz viveu seu auge at� 1986, per�odo em que lan�ou tr�s discos e se apresentou na hist�rica primeira edi��o do Rock in Rio.
� justamente no palco do Circo Voador, agora na Lapa, que a Blitz far�, em 5 de fevereiro, mais um show comemorativo de seus 40 anos, contando com a participa��o de Fernanda Abreu, integrante da forma��o original e tamb�m inclu�da na programa��o do CCBB-BH.
“Seguimos muito amigos, ela est� sempre por perto e � muito legal essa parceria de tanto tempo”, diz Mesquita, destacando a grande expectativa em rela��o � celebra��o no Circo Voador. “Em dezembro do ano passado, fizemos um show com os Paralamas (do Sucesso) no Morro da Urca, que a gente frequentava desde o in�cio das nossas trajet�rias, e foi um encontro hist�rico. Vamos ter celebra��es ao longo de todo este ano, se a COVID-19 deixar”, adianta.
O repert�rio da festa de 40 anos se ancora, naturalmente, nos hits, mas tamb�m contempla o que se produziu mais recentemente. Mesquita garante que a banda nunca se acomodou na condi��o de cover de si mesma. Tanto � assim, aponta, que em 2017 foi indicada ao Grammy Latino por “Aventuras II”, disco de in�ditas.
“Estamos vivos e somos uma banda atual que, sim, tem muitos cl�ssicos na bagagem, mas segue produzindo. Produzimos muito durante a pandemia”, ressalta.
Nada menos de quatro discos j� est�o engatilhados. “Blitz hits” traz regrava��es. “� uma forma de a gente ter os nossos fonogramas, agora com qualidade bem melhor, o que tecnologias de grava��o atuais possibilitam”, diz Evandro.
Dialogando com “Blitz hits”, o �lbum “Lado Blitz” recupera as faixas lado B da banda. “S�o m�sicas que a gente adora e n�o tiveram tanta exposi��o”, aponta Mesquita. O terceiro �lbum � dedicado a in�ditas, enquanto o quarto trar� m�sicas de outros artistas. “Este estamos chamando de ‘Blitz no dos outros’. Vai ter Roberto e Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Belchior, Z� K�ti, Paulo Diniz e v�rios outros autores”, adianta.
As datas de lan�amento ainda n�o est�o definidas. “� poss�vel que a gente lance dois ao longo deste ano e guarde os outros dois para soltar em 2023. Pode ser a forma de um n�o atropelar o outro, de a gente conseguir se dedicar com mais cuidado � divulga��o de cada um deles”, considera.
ROTEIRISTA E ATOR
Mesquita, que exercita sua verve em outras frentes, vem escrevendo roteiros. “� para um longa-metragem, meio road movie, e para uma s�rie. Ainda n�o posso falar do que se trata, mas boto muita f� de que v�o sair do papel em breve”, ele adianta.
Como ator, o momento � de muito trabalho – dois filmes dele ser�o lan�ados este ano. “Um � do F�bio Porchat e se chama ‘Palestrante’; o outro � o filme de a��o ‘Carga m�xima’, produzido pela Gullane, com dire��o do Tom�s Portella, com Thiago Martins, Sheron Menezzes e Paulo Vilhena no elenco”, adianta. “Carga m�xima” � o primeiro filme de a��o brasileiro da Netflix.
M�sico, ator e roteirista, Mesquita est� acostumado a se equilibrar entre os v�rios of�cios. “Tem fases em que uma coisa puxa mais do que a outra, mas sempre d� para encaixar. Sempre fiz isso. Sempre tive banda, sempre atuei, coisas que seguem me dando muito prazer. Aprendi a trabalhar com essa agenda.”
Aos 69 anos – completa 70 em fevereiro –, o carioca destaca a import�ncia de se manter em movimento, mas pondera que o atual cen�rio pol�tico, social e cultural do Brasil n�o � o mais prop�cio para os artistas.
“� um momento muito dif�cil, com essa crise enorme e a cultura abandonada, marginalizada. � uma pena, porque o Brasil sempre teve grande frescor na sua produ��o cultural. Agora estamos atravessando essa tempestade, mas espero que passe logo. Espero que a gente possa ter de novo a alegria que a cultura proporciona acompanhando nossa hist�ria”, diz Mesquita.
EVANDRO MESQUITA E THE FABULOUS TAB
Festival Rock Brasil 40 anos. Neste domingo (30/1), �s 20h, no Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil (Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Informa��es: (31) 3431- 9400. Programa��o completa: bb.com.br/cultura.