
A vida da atriz Suzana Pires rende um livro. Aos 15 anos, ela come�ou a carreira e, 10 anos depois, a trajet�ria como autora. Fez teatro e cinema, mas � na televis�o que est�o as grandes lembran�as para o p�blico e especialmente para a atriz. Algumas est�o longe do glamour associado ao of�cio. Como o estresse durante as grava��es de “Sol nascente” (2016). A novela j� estava no ar quando Walter Negr�o, autor da trama, sofreu um AVC e foi internado.
“Era uma novela que ia dar muito errado. Estava com 17 pontos (no Ibope), mas, gra�as a Deus, consegui entregar com pico de 27 (pontos) e m�dia de 24 (pontos)”, relembra ela, que fez parte do trio de autores, ao lado de J�lio Fischer .
“Eu fiz a Janete Clair, amor. Fiz uma explos�o (na fict�cia Arraial), mudei a porra toda”, diz, citando a mais cultuada escritora de novelas, que, com terremoto, matou mais de 100 personagens em “Anast�cia – A mulher sem destino” (1967). “Al�m do Negr�o, meu pai tamb�m estava internado com c�ncer. Gra�as a Deus, os dois est�o vivos”, diz.
Apesar da situa��o adversa, Suzana seguiu adiante e, segundo ela, focando em seus deveres como autora. “Eu fui muito cartesiana, muito racional. Levava o laptop, fazia reuni�o dentro do quarto de hospital, porque isso passou a fazer parte da minha vida, n�?”.
PRE�O
Mas, como tudo nesta vida tem um pre�o, a conta de Suzana veio em forma de esgotamento emocional. “Segurei uma onda muito grande e fiquei esgotada. Temos que entender que precisamos de tempo para nos recuperar de tanta coisa. Uma hora voc� tem que ser muito racional, porque voc� tem que resolver aquilo, mas tamb�m existe o tempo seguinte,que vai ter o pre�o disso. Acho que este tipo de consci�ncia talvez fa�a com que a gente fique de p�.”
Foi a�, que, por acaso, sem ter a menor no��o do futuro, o livro de Suzana come�ou literalmente a ser escrito. Logo depois do fim da novela, a atriz foi convidada por Marina Caruso, na �poca editora da Marie Claire, para assinar uma coluna na revista.
O convite foi aceito na hora. Ela viu na oportunidade o momento para se colocar como Suzana. “O tempo inteiro me preservei muito para os personagens, sabe? Comecei a escrever sobre as minhas dificuldades, das coisas que eu encarava. Cara, a coluna come�ou a ser a mais lida da plataforma, em seis meses era um hit e a� virou marca”, comemora.
Com o nome Dona de Si, a coluna se expandiu, gerou um instituto, que, entre outras coisas, estimula o empreendedorismo para mulheres no pa�s inteiro. No pr�ximo m�s de mar�o, chega �s livrarias, com t�tulo hom�nimo, o livro no qual Suzana aborda o m�todo desenvolvido por ela e que � a base do instituto.
“Mapeei a sobrecarga, a opress�o e a solid�o como as tr�s grandes dores que as meninas enfrentam. A partir da�, criei esse m�todo, que come�a pelo desenvolvimento pessoal, porque a sobrecarga faz a gente esquecer que a gente existe. A mulher tem esse problema, principalmente a mulher latina”, afirma.
O trabalho tem ainda um tom biogr�fico. “Escrevi o livro cruzando com experi�ncias pessoais. Muita coisa na minha vida deu errado. Para eu chegar aqui, lidei com muitas fragilidades. Principalmente pelo fato de ser mulher, querendo construir uma carreira original, pr�pria, com as minhas escolhas.”
PLATAFORMA
O Instituto Dona de si, segundo Suzana, vai muito bem, obrigada, com mais de mil mulheres beneficiadas, sendo acompanhadas na plataforma por assistentes sociais do projeto. Os temas s�o variados. Desde viol�ncia dom�stica at� d�vidas sobre empreendedorismo.
Como as atividades eram presenciais, com o in�cio da pandemia ela conta que quase surtou. “Achei que o Instituto ia acabar, me preocupei com o destino das mulheres que est�vamos atendendo. Comprei uma luz, um celular novo, comecei a gravar tudo na minha casa, mandava para a minha editora e falava: ‘Vamos botar em uma plataforma!’”, recorda, satisfeita com o resultado.
“Foi a melhor decis�o que tomamos. Agora, temos a forma��o na plataforma, e cada assistente social cuida de 50 mulheres. E as assistentes sociais ajudam a resolver problemas, a fazer as tarefas de ensino para as pessoas adultas. Nas redes sociais, fazemos turmas, e elas come�am a fazer neg�cios entre elas. � mulher de Bel�m fazendo neg�cio com mulher do Sul, � uma doideira, muito legal, elas n�o se sentem mais sozinhas. E nem eu, depois disso eu nunca mais fiquei sozinha”, diz, entre risos.
H� vagas gratuitas para mulheres interessadas em participar das atividades do instituto. Elas s�o garantidas por doa��es de colegas artistas de Suzana ou empresas privadas. Os recursos s�o a garantia de custeio do projeto. J� as que podem pagam R$ 50 para frequentar o projeto.
Apaixonada pelo cinema, onde encontra mais liberdade criativa por seu car�ter autoral, Suzana diz ter 10 projetos j� encaminhados para a telona. “V�o acontecer cada um num momento, em uns eu sou atriz, em outros n�o. Uns eu escrevi para algu�m que me encomendou.” Com a pandemia, ela conta que teve que se dedicar mais � escrita. “Todos os dias eu tinha que escrever, inclusive o livro.”
Entre os projetos adiantados, dois longas-metragens (“C�ncer com ascendente em Peixes”, que deve rodar neste ano, e “De perto ela n�o � normal 2”, previsto para o ano que vem) e tr�s s�ries para tr�s canais de streaming sobre as quais, por enquanto, como est�o sob termo de confidencialidade, Suzana n�o d� detalhes.