
O rock dos anos 80 traz como marco introdut�rio o lan�amento do compacto de “Voc� n�o soube me amar”, da Blitz, em junho de 1982. A banda capitaneada por Evandro Mesquita foi realmente a primeira a estourar nacionalmente, mas, naquele per�odo, a efervesc�ncia da m�sica jovem era grande.
Um cantor, compositor, ator e pianista que n�o fazia exatamente parte daquela turma acabou flertando com o ent�o nascente rock Brasil. Segundo �lbum de Eduardo Dussek, “Cantando no banheiro”, lan�ado no mesmo junho de 1982, trazia a participa��o de Jo�o Penca & Seus Miquinhos Amestrados.
A inten��o inicial era que o �lbum fosse creditado a Dussek e � banda, mas acabou sendo lan�ado s� com o nome dele mesmo. No repert�rio, havia duas can��es de um compositor que integrava o Jo�o Penca: Leo Jaime � o autor de “Rock da cachorra” e “Enfant terrible” (esta com Tavinho Paes). “Cantando no banheiro” fez um sucesso tremendo e acabou tamb�m abrindo o caminho para Jo�o Penca e Leo Jaime.
Nos �ltimos dias do festival Rock Brasil 40 anos, que vai at� a pr�xima segunda (21/2), no Centro Cultural Banco do Brasil, haver� shows de ambos: neste s�bado (19/2), a atra��o � Leo Jaime, e no encerramento do evento, Jo�o Penca. A seguir, eles falam sobre suas trajet�rias, ontem e hoje.

LEO JAIME
O goiano Leo Jaime chegou ao Rio de Janeiro ainda adolescente para tentar a sorte. Antes, havia morado em S�o Paulo e em Bras�lia e feito de tudo um pouco. Foi office-boy, engraxate, vendedor de joias, mas sempre teve verve de artista.
Era ator de musicais quando conheceu o tecladista Leandro Verdeal. O m�sico, que j� era um “miquinho”, convidou-o para conhecer os caras do Jo�o Penca. “Durante um bom tempo, o repert�rio era basicamente meu e do Leandro”, conta Leo. At� que ele conseguiu um contrato com gravadora (a antiga CBS). Como o Jo�o Penca tamb�m iria lan�ar seu primeiro disco, Leo participou do �lbum, mas n�o cantou, porque tinha compromisso com seu pr�prio lan�amento.
“Como o meu era solo, demorou, e fiquei no fim da fila”, conta ele sobre o �lbum de estreia. Mesmo que a abertura pol�tica estivesse batendo � porta, o Brasil ainda vivia numa ditadura. Os censores n�o compraram as picardias de Leo Jaime. “Phodas C” – o t�tulo do �lbum fazia piada com a linha de navios Eug�nio C – foi recolhido em dezembro daquele 1983. S� liberado em mar�o de 1984, chegou lacrado �s lojas e com o aviso: “Proibido para menores de 18 anos”. A can��o “S�nia” foi proibida de tocar nas r�dios.
Apesar do come�o dif�cil, a carreira de Leo Jaime enfim decolou com “Sess�o da tarde” (1985), o segundo �lbum, que trazia “As sete vampiras”, “A f�rmula do amor” (com o Kid Abelha), “S�”, “A vida n�o presta” e “Solange” (baseada em “So lonely”, do The Police, com letra sobre Solange Hernandez, conhecida como Dona Solange ou “Tesourinha”, a maior censora da m�sica brasileira).
DANCE COMIGO
Boa parte desse repert�rio estar� na apresenta��o de hoje. “� o show ‘Dance comigo’, com m�sicas que o povo ama cantar junto”, comenta. Al�m daquelas da pr�pria lavra, Leo Jaime tamb�m far� covers: “Maior abandonado”, “Ser�” e “Boys don’t cry” est�o no set list.
Ser� o terceiro show dele desde que a pandemia come�ou. “Voltar depois de tanto tempo deu um friozinho na barriga. Ser� que ainda sei fazer isso? Fiquei muito tempo sem a banda e, quando voltei (em outubro passado, neste mesmo projeto, no Rio) fiquei apreensivo, nervoso.” Descobriu no palco que tocar � como andar de bicicleta. “Agora vou retomar com for�a total. J� tenho bastante coisa marcada, a �micron � que deu uma derrubada na agenda do come�o do ano.”
Mesmo que a m�sica seja hoje sua atividade principal, Leo Jaime se desdobrou em outras frentes, atuando como ator, jornalista e apresentador. “Escrever come�ou meio por acaso. Sempre tive paix�o e, em 1989, quando comecei a escrever no (jornal) O Globo, n�o parei mais. A carreira musical teve uns hiatos; a de colunista, menos, ainda que hoje n�o tenha compromisso fixo com nenhum ve�culo.”
Bom frasista, desfia nas redes sociais coment�rios irreverentes sobre toda sorte de temas. Atualmente, vem se dedicando ao “BBB”. “� uma novela, entre aspas, que � escrita em parceria com o p�blico. � medida que vai se comentando, a intera��o aumenta. Tem este lado interessante. Agora, se voc� for assistir a ‘Get back’, dos Beatles (a s�rie documental por Peter Jackson � lan�ada pelo Disney+), vai encontrar um reality genial, com um elenco excelente”, afirma.
JO�O PENCA
O per�odo de atividade de Jo�o Penca e os Miquinhos Amestrados vai do final da d�cada de 1970 at� meados da de 1990. O revival dos anos 1980 levou o grupo a se reunir em 2004 – a �ltima apresenta��o foi em dezembro de 2008, no Circo Voador, no Rio.
“N�o se pode dizer que o Jo�o Penca n�o existe, pois ele faz parte da hist�ria da gente, � uma manifesta��o da amizade de amigos de inf�ncia”, afirma Avellar Love, ou Luiz Carlos de Avellar J�nior, um dos tr�s vocalistas do grupo – os demais s�o Selvagem Big Abreu (S�rgio Ricardo Abreu) e Bob Gallo (Marcelo Ferreira Knudsen).
H� pouco mais de um ano, eles voltaram a se encontrar. Cada um seguiu uma carreira, e Avellar, engenheiro de planejamento de aeroporto, foi o �nico que continuou na vida art�stica, atuando por v�rios anos em teatro musical.
Quando foi lan�ado o projeto Rock Brasil 40 anos, no CCBB do Rio, fizeram um primeiro show em outubro. O da pr�xima segunda � o segundo em mais de uma d�cada. Ser�o sete no palco: os tr�s vocalistas mais o tecladista Leandro Verdeal (autor de “Popstar” e “L�grimas de crocodilo”), o baixista D�do Ferreira, o baterista Cadu Menezes e o guitarrista Felipe Ayer.
O show vai compilar os sucessos dos cinco �lbuns do grupo, lan�ados entre 1983 e 1991. “N�o � show para a plateia, � show com a plateia. Nossa abordagem sempre foi a de nos divertir junto com o p�blico”, diz Avellar, lembrando que quando a banda surgiu, “eram 16 amigos que subiam no palco para se divertir”.
VERS�ES
A brincadeira deu certo por um tempo, ainda que no come�o eles estivessem longe de levar a s�rio o que faziam. Banda que se pautou por tocar rockabilly, surf music, m�sicas leves e bem-humoradas, shows-espet�culo com figurinos e muitas vers�es de sucessos gringos, o Jo�o Penca, ap�s o in�cio acompanhando Dussek, conseguiu fechar um contrato com gravadora, a Ariola.
Repert�rio para um disco j� tinham – boa parte das can��es de “Os maiores sucessos de Jo�o Penca & Seus Miquinhos Amestrados” (1983) � de vers�es. Na volta de um dos ensaios, no Fusca de Cl�udio Killer, primeiro tecladista do grupo, os amigos, brincando, fizeram uma vers�o para “Tell me once again”, m�sica de 1972 do Light Reflections, na verdade um grupo brasileiro que cantava em ingl�s, como pedia a �poca.
Ali, de brincadeira, saiu “Cal�nias (Telma eu n�o sou gay)”. “O Ney (Matogrosso) frequentava os shows da gente e algu�m teve a brilhante ideia de convid�-lo para gravar. O Ney gravou de primeira e, no in�cio, a inten��o era dividir a can��o com ele. Mas resolvemos deixar o Ney cantar tudo”, conta Avellar. O ent�o diretor art�stico da Ariola gostou tanto do resultado que resolveu inclu�-la tamb�m no �lbum “Pois �”, de Ney.
A mesma grava��o foi para os dois discos. “O do Ney vendeu disco de platina antecipado; o nosso, 3 mil c�pias”, comenta. O Jo�o Penca foi, de acordo com Avellar, “expulso” da gravadora. “O diretor ficava enrolando, n�o recebendo a gente. Um dia, invadimos a sala dele. T�nhamos um carimbo com o nome da banda. Carimbamos a parede branca com Jo�o Penca & Seus Miquinhos Amestrados at� o teto.”
A partir deste in�cio nada animador, a banda foi mudando de gravadora. Foi um disco a cada dois anos, com hits como “Romance em alto-mar”, “Papa uma-ma”, “Matin� no Rian”. Todos eles estar�o no show. Que o p�blico de BH s� n�o espere a vers�o que Jo�o Penca gravou para o hino do Clube Atl�tico Mineiro (inclu�do em 1996 em um �lbum lan�ado pela revista “Placar”). “N�o, n�o podemos fazer isso. Cometemos este erro uma vez e metade da plateia aplaudia e a outra metade vaiava. Foi �dio no cora��o.”
ROCK BRASIL 40 ANOS
At� segunda (21/2), no Centro Cultural Banco do Brasil, Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, (31) 3431-9400. Ingressos esgotados para os shows de L�o Jaime (neste s�bado, 19/2) e Jo�o Penca e Seus Miquinhos Amestrados (na segunda, 21/2). Filmes e exposi��es gratuitos. Informa��es: bb.com.br/cultura