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Estado de Minas FOLIA MODERADA

Dois nom�es do carnaval de rua de BH contam como se adaptaram a 2022

Aline Calixto e Gustavo Caetano optaram por pequenas apresenta��es em ambientes fechados e colocam suas esperan�as na em 2023 para a volta com for�a total


28/02/2022 04:00 - atualizado 28/02/2022 07:38

de vestido prateado e tênis, com microfone na mão, Aline Calixto canta no Restaurante do Ano
Aline Calixto foi a convidada da roda de samba do Queixinho no Restaurante do Ano, na noite de sexta passada (foto: Fotos: Marcos Vieira/EM/D.A.Press )

"Meu bloco movimenta mais de 100 pessoas, isso falando de trabalho direto, fora os indiretos. No atual cen�rio, para esses shows que temos feito, envolvo no m�ximo 15 pessoas. � dif�cil. Numa situa��o de normalidade, quantos postos de emprego estar�amos gerando? Estamos fazendo o que � poss�vel de ser feito"

Aline Calixto, cantora, fundadora do Bloco da Calixto



Para a cantora e compositora Aline Calixto, criadora do Bloco da Calixto, este � o carnaval do poss�vel. Para Gustavo Caetano, fundador e regente do Bloco Samba Queixinho, � o carnaval da reinven��o.

A soma dos dois pontos de vista, vindos de figuras emblem�ticas da folia na capital mineira, verdadeiros oper�rios da festa, talvez d� uma dimens�o mais precisa de um cen�rio em que, por um lado, n�o h�, oficialmente, blocos na rua, em raz�o de um quadro epidemiol�gico ainda preocupante, e por outro, j� � poss�vel, com o avan�o da vacina��o, a realiza��o de festas fechadas, seguindo os protocolos sanit�rios.

Eventos de maior vulto, voltados para grandes p�blicos, est�o na mira de embargos pela aglomera��o que provocam, mas as pequenas festas povoam o calend�rio cultural da cidade neste per�odo de Momo.

 Foi publicada na �ltima sexta-feira (25/2) uma decis�o da Justi�a acatando parcialmente um pedido do Minist�rio P�blico de Minas Gerais, proibindo a realiza��o de eventos carnavalescos que n�o tivessem condi��es de cumprir as devidas medidas sanit�rias.

Mas, assim como n�o h� restri��es para que pessoas saiam �s ruas – a Prefeitura de Belo Horizonte apenas disse que n�o haveria nenhum tipo de apoio ou estrutura para desfile de blocos –, os eventos de pequeno porte, voltados para p�blicos reduzidos, onde � poss�vel efetivamente seguir os protocolos de combate � COVID-19, est�o fora do raio de alcance da medida judicial.

Na �ltima sexta, por exemplo, o Samba Queixinho promoveu uma roda no Restaurante do Ano, tendo como convidada Aline Calixto. Ela voltou a se apresentar no s�bado, em uma roda de samba no Santo Boteco.

J� a agenda do Queixinho previa a participa��o em uma festa particular no s�bado, uma apresenta��o na Amadoria ontem e uma no Catavento Cultural nesta segunda-feira (28/2), al�m de um show programado para o pr�ximo dia 5, no Alpendre 70, no bairro Santa Tereza.

“Normalmente, o Samba Queixinho se apresentava com 13 pessoas no palco, nos shows que aconteciam ao longo do ano, no per�odo anterior � chegada da pandemia. Esse formato agora � invi�vel, porque existe o risco do embargo. Criamos um formato roda de samba, com quatro ou cinco pessoas, o que nos permite tocar em bares, casamento, enfim, atender a todo tipo de demanda”, diz Gustavo Caetano.

Medida de sobreviv�ncia

Ele explica que, desde o ano passado, entendeu que n�o haveria carnaval em 2022 e que, sem apoio institucional para o bloco, a solu��o seria apostar nas apresenta��es fechadas, como medida de sobreviv�ncia. “A gente tem tocado muito, praticamente todos os dias. S�o pequenos shows, com forma��o reduzida, que funcionam como uma forma de a gente se sustentar e de manter a chama acesa”, afirma.

A estrat�gia tem dado certo. O Samba Queixinho foi convidado para participar do Festival Casa Bloco, que vai ocorrer no Rio de Janeiro entre os dias 16 e 24 de abril – mesmo per�odo para o qual foram realocados os desfiles das escolas de samba na Sapuca�.

A programa��o do evento conta com Diogo Nogueira, Alcione e o grupo Cacique de Ramos. “Fomos convidados como representantes do carnaval de Minas Gerais”, ressalta Gustavo.

Apesar de conseguir manter a chama acesa, como diz, ele considera frustrante que, neste per�odo pand�mico, em que n�o � poss�vel para os blocos manterem sua estrutura econ�mica girando, n�o haja apoio financeiro do poder p�blico ou da iniciativa privada. 

“Com a chegada dos blocos de rua, a partir de 2009, somamos for�as e ajudamos a construir uma visibilidade nacional para o carnaval de Belo Horizonte. A partir do momento em que a cidade assume um protagonismo no cen�rio nacional, n�o ter o reconhecimento dos setores p�blico e privado, n�o ter um suporte nesse per�odo de pandemia � realmente frustrante”, diz.

Ele ressalta que, para o Samba Queixinho, o carnaval acontece durante o ano todo, com os eventos promovidos pontualmente e com as aulas de percuss�o que, numa situa��o de normalidade, sem pandemia, s�o ministradas em sua sede. “Trabalho todo o ano em torno do carnaval; essa � uma realidade para v�rios blocos da cidade e � uma realidade em v�rios outros estados”, aponta.

Percussionistas do Samba Queixinho tocam seus instrumentos em roda de samba no Restaurante do Ano
Neste ano, o Samba Queixinho reduziu o n�mero de instrumentistas em suas apresenta��es no palco e adaptou o formato para roda de samba� (foto: DANIEL BARBOSA/EM/D.A PRESS )

"A gente tem tocado muito, praticamente todos os dias. S�o pequenos shows, com forma��o reduzida, que funcionam como uma forma de a gente se sustentar e de manter a chama acesa"

Gustavo Caetano, fundador e regente do Bloco Samba Queixinho


Reverbera��o  nacional


Aline Calixto tamb�m destaca a propor��o que o carnaval de rua de Belo Horizonte tomou ao longo de 10 anos. “N�s todos, dos blocos, juntos, fizemos os olhares da m�dia nacional se voltarem para BH. O carnaval aqui acontece h� muito tempo, com os desfiles dos blocos caricatos, mas o movimento dos blocos de rua fez com que a coisa reverberasse. Em 2017, o carnaval de BH entrou ao vivo na Globo; isso n�o acontecia, entrava Ouro Preto, Tiradentes, as cidades hist�rias, mas a capital simplesmente n�o estava no mapa da folia”, recorda.

Ela avalia que, em 2022, o que acontece � o carnaval que “deu para fazer”, levando-se em conta a situa��o sanit�ria. “Acredito que n�o � o momento de grandes aglomera��es, n�o d� para a geral ir para a rua. Fazendo pequenos eventos, onde d� para ter maior controle, seguindo os protocolos, a gente chega numa equa��o do que � poss�vel”, diz, chamando a aten��o, tamb�m, para a quest�o econ�mica.

“Com esses pequenos eventos voc� est� gerando, mesmo que numa escala menor, renda para as pessoas que s�o envolvidas com o carnaval. Meu bloco movimenta mais de 100 pessoas, isso falando de trabalho direto, fora os indiretos. No atual cen�rio, para esses shows que temos feito, envolvo no m�ximo 15 pessoas. � dif�cil. Numa situa��o de normalidade, quantos postos de emprego estar�amos gerando? Estamos fazendo o que � poss�vel de ser feito.”


Praia da Esta��o

Aline conta que sua hist�ria com o carnaval de Belo Horizonte teve in�cio entre o final da primeira d�cada deste s�culo e o in�cio da segunda, quando se tornou frequentadora da Praia da Esta��o, o movimento espont�neo que se criou a partir do momento em que a Prefeitura de Belo Horizonte, ent�o ocupada por M�rcio Lacerda, aventou regular a realiza��o de eventos em espa�os p�blicos.

“Aquele movimento todo da ocupa��o dos nossos espa�os, nossas pra�as, da indigna��o geral com o tolhimento vindo da prefeitura me encantou muito. Ali, naquele momento, algumas ideias j� borbulhavam na minha cabe�a”, conta. Ela recorda que, em 2012, mantinha o projeto Baile da Calixto e, entre 2013 e 2014, atenta � movimenta��o do crescente carnaval de rua da cidade, resolveu transform�-lo no Bloco da Calixto, que realizou o primeiro desfile em 2014.

“J� para o primeiro cortejo, pensei que n�o queria fazer s� samba, da� tive a ideia de trabalhar com temas espec�ficos a cada ano e abra�ar todos os ritmos carnavalescos – marchinha, frevo, funk, um pouco de tudo. Quando criei o bloco, batizei com meu nome, porque eu j� era uma cantora com carreira consolidada. Acho que fui a primeira mulher ‘puxadora’ de bloco em BH. � importante falar do papel das mulheres dentro do carnaval da cidade, foi algo que s� cresceu”, aponta, observando que, a partir daquele momento at� 2020, o bloco saiu �s ruas ininterruptamente, todos os anos.

Festa democr�tica

Como cidad� e foli�, Aline acredita que o carnaval de rua de Belo Horizonte cumpre um papel muito importante para a popula��o. “� uma festa que representa liberdade, resist�ncia, democratiza��o, porque � um carnaval democr�tico, todo mundo pode ir para a rua, a coisa de n�o ter cobran�a... � o que eu quero e � o que todos querem, um carnaval democr�tico. Aqui n�s temos isso.”

Para Gustavo Caetano, o carnaval de Belo Horizonte representa uma declara��o de amor � cidade. “A partir do momento em que voc�, no carnaval, pode viver a rua, estar na rua, curtir a rua de uma forma diferente do que voc� faz no dia a dia, isso traz um sentimento grande de pertencimento. Em vez de viajar, a gente fica aqui, no lugar que a gente ama. � muito legal depois de tocar voc� ir comer no boteco que voc� conhece e gosta”, ressalta.

Ele conta que sua rela��o com o carnaval de Belo Horizonte vem desde a inf�ncia, quando, em Santa Tereza, bairro em que nasceu, ia acompanhar, com 3 ou 4 anos, o Bloco dos Inocentes, formado pelos moradores locais, que faziam a festa na pra�a Duque de Caxias – que ainda n�o tinha esse nome, chamava-se apenas pra�a de Santa Tereza.

“Minha fam�lia toda � do sub�rbio carioca, Realengo, Itaquera, ent�o a galera tem uma tradi��o de viver o carnaval o ano inteiro. Eu acompanhava os ensaios do Bloco dos Inocentes, mas, quando chegava o per�odo do carnaval mesmo, eu ia com minha m�e para a casa que a gente tinha em Saquarema, para ver os desfiles das escolas na Pra�a 11 e na Sapuca�”, recorda.

Surgimento do Queixinho

Romper com a tradi��o de viajar para o Rio de Janeiro durante o carnaval foi o pontap� inicial para o surgimento do Queixinho, segundo Gustavo. “Em 2009, eu e uma turma resolvemos ficar em BH e montar um bloco, da� nasceu o Samba Queixinho. Naquele ano mesmo a gente foi para a rua, com um ‘desconcentra mas n�o sai’ no bar do Orlando, em Santa Tereza. Juntamos umas 10 pessoas ali, mas eu j� levei camisa do bloco e tudo. O pessoal n�o acreditou. A gente virou a madrugada l� e no s�bado de carnaval a gente fez um cortejo saindo do coreto do parque municipal, seguindo pela Sapuca� e terminando na Pra�a da Esta��o. Conseguimos arrastar muita gente”, conta.

Ele diz que, desde ent�o, o Queixinho j� “subiu muitos degraus”: ao longo da d�cada passada, cresceu, aglutinou muitas pessoas em diversas fun��es, abriu uma sede pr�pria, promoveu diversos eventos, criou um curso de percuss�o, sediou oficinas do Monobloco e fez seu nome no carnaval de Belo Horizonte. “Entendo o Queixinho como uma escola de samba de rua, uma escola fundamental para quem quer aprender a tocar um instrumento. O Queixinho foi a base formadora de v�rios blocos da cidade.”

Progn�stico otimista

Tanto Aline quanto Gustavo acreditam que, considerando o atual momento, � poss�vel fazer um progn�stico otimista em rela��o ao futuro do carnaval de rua de BH. “Atualmente, desde 2020, vivo entre Brasil e Fran�a, onde meu companheiro est� trabalhando. Por l�, daqui a pouco n�o vai mais precisar usar m�scara e n�o ser� mais exigido o passe sanit�rio. Acho que estamos chegando no fim dessa pandemia – aqui no Brasil, tardiamente, porque n�o tivemos um dirigente com compet�ncia para agir contra ela”, diz a cantora.

“De qualquer forma, acho que estamos caminhando para a reta final, isso gra�as � popula��o brasileira, que tem o h�bito de se vacinar, e ao SUS. S�o esses dois agentes os respons�veis por uma progressiva melhoria da situa��o epidemiol�gica. Acho que em 2023 vamos ter um carnaval nos moldes aos quais a gente se acostumou ao longo da �ltima d�cada. Tenho esse desejo e acho que ele vai se realizar”, diz Aline.


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