
O calend�rio registra o 23 de abril – data em que nasceu Pixinguinha, h� 125 anos – como o Dia Nacional do Choro, mas as celebra��es em torno do g�nero, pelo menos em Belo Horizonte, est�o mesmo concentradas neste domingo (24/4).
A Pra�a Duque de Caxias, no bairro Santa Tereza, ser� palco para a retomada do projeto Minas ao Luar, que, em parceria com o Clube do Choro de Belo Horizonte, promove uma s�rie de shows, a partir das 9h. No Memorial Vale, o cavaquinhista Warley Henrique tamb�m se apresenta, com repert�rio focado em cl�ssicos do choro.
Ao longo da semana, entre a pr�xima quinta-feira (28/4) e o dia 1º de maio, os integrantes do Clube do Choro seguem com uma s�rie de rodas, em diferentes bares da cidade. J� o grupo Regional da Serra d� continuidade, tamb�m ao longo da semana, ao projeto “Encontro com o melhor p�blico”, que estreou no in�cio deste m�s e consiste em apresenta��es em diversas casas de amparo a idosos da cidade.
Tais eventos fazem emergir, ap�s mais de dois anos de restri��es impostas pela pandemia, o g�nero que, na capital mineira, sempre se mostrou vigoroso, com uma quantidade significativa de m�sicos, grupos, p�blico e espa�os que abrigam esse contingente.
Sobretudo a partir dos anos 2000, Belo Horizonte assistiu a uma constante renova��o no ecossistema do choro, com uma not�vel amplia��o de seu raio de alcance – o que redunda, tamb�m, na presen�a frequente na cidade de artistas de renome nacional que se dedicam ao g�nero.
O Minas ao Luar oferece um belo painel desse cen�rio. A programa��o prev� apresenta��es do Clube do Choro, do coletivo Abre a Roda - Mulheres no Choro e de uma sele��o nacional de acordeonistas – Marcelo Jiran (MG), Beb� Kramer (RS), Marcelo Caldi (RJ) e Luizinho Calixto (PB) – que ter�o seu momento solo e, ao final, se juntam aos m�sicos do Clube do Choro para o encerramento do show.
Acordeom
Atual diretor do Clube do Choro de Belo Horizonte, Paulo Ramos explica que, desde a primeira vez que a entidade promoveu uma celebra��o em torno do g�nero, o mote � a homenagem n�o a um artista, mas a um instrumento.

Ele adianta que o repert�rio que ser� apresentado se ancora, principalmente, nos cl�ssicos do g�nero que, ao longo do tempo, foram formatados com uma instrumenta��o que comporta o acordeom.
“Tem muita coisa da velha-guarda que se encaixa. ‘Santa morena’, do Jacob do Bandolim, certamente ser� executada, porque permite ao solista uma performance interessante no acordeom. Waldir Azevedo tamb�m se adapta muito bem a essa proposta. Teremos este ano um pouco menos de Pixinguinha, justamente por suas composi��es serem menos adapt�veis ao acordeom”, observa.
Se a apresenta��o do Clube do Choro � calcada na tradi��o, a do Abre a Roda - Mulheres no Choro (grupo que, como o nome entrega, � formado apenas por mulheres) traz ares de contemporaneidade ao Minas ao Luar, j� que o repert�rio que ser� executado mescla os cl�ssicos do g�nero com composi��es assinadas por suas integrantes.
Paulo Ramos credita a pujan�a do choro em Belo Horizonte, em grande parte, � constante renova��o de p�blico e de instrumentistas, que n�o apenas executam o repert�rio cl�ssico, mas tamb�m comp�em, num movimento de permanente arejamento do g�nero.
Mescla
“At� onde eu sei, Belo Horizonte � a �nica cidade do pa�s que tem uma agenda de choro a semana inteira, com rodas acontecendo de segunda a segunda em bares e espa�os culturais. � um g�nero muito bem recebido na cidade, com gente jovem ouvindo e fazendo choro. E existe uma mescla, porque os m�sicos da velha guarda tocam lado a lado com essa meninada”, comenta. Ele aponta que o Clube do Choro, que completa 16 anos de funda��o em maio, vai retomar um projeto que visa justamente jogar luzes sobre a atual produ��o do g�nero.
“� uma iniciativa nossa muito interessante que a pandemia interrompeu e que agora vamos ativar novamente. Existem muitos compositores de choro por a� cujos trabalhos nem sempre chegam ao p�blico. Esse projeto do Clube do Choro � um concurso de m�sicas in�ditas aberto para o Brasil inteiro. Quem sabe tem alguma p�rola escondida por a� que ainda n�o conhecemos? O Clube tem essa �tica da renova��o, porque tamb�m � uma forma de divulgar e de preservar. Tem quem j� fez, quem esteja fazendo e quem ainda vai fazer”, diz.
Ramos conta que trabalhou como produtor na Festa da M�sica, evento realizado ao longo de sete anos pela Funda��o Assis Chateaubriand, pelo jornal Estado de Minas e pela Guarani FM, e que essa foi uma inspira��o para que criasse, em 2008, o festival BH Choro – o que ele considera um marco do g�nero na capital.
“Criei esse projeto, que foi selecionado no primeiro edital Natura Musical. O BH Choro levou o g�nero, que estava limitado aos bares, para a pra�a p�blica. A gente tinha recursos, ent�o trouxemos Paulo Moura, Hamilton de Holanda, Silv�rio Pontes, Z� da Velha e juntamos com a nata do choro em BH. Acredito que tenha sido um ponto de virada, porque, a partir dali, come�aram a aparecer v�rios outros projetos similares. Nada acontece de forma isolada, mas o BH Choro foi um tijolo importante na constru��o desse cen�rio que temos hoje”, diz.
Mulheres
Formado por Maria Elisa Pompeu (cavaquinho), Luciana Alvarenga (piano), Alice Valle (flauta), Thamiris Cunha (clarinete), Marina Gomes (cantora e percussionista), Ra�ssa Anastasia (flauta e bandolim), Maria Bragan�a (sax), Shari Simpson (flauta), Fernanda Vasconcelos (viol�o), Claudia Sampaio (sax) e B�rbara Veronez (canto), o Abre a Roda - Mulheres no Choro tamb�m � um bom exemplo de como o g�nero se espraia pela cidade.
Tamb�m diretora musical do grupo, Ra�ssa conta que o Abre a Roda surgiu, em 2017, a partir da percep��o de que n�o havia mulheres nas rodas de choro que aconteciam na cidade. “A gente, que frequentava as rodas, sentia essa aus�ncia de mulheres tocando. Foi a Michelle Barreto, que tamb�m � cantora e atriz, quem teve a ideia de montar um grupo e aglutinou o pessoal”, afirma.
Ela recorda que, no in�cio, eram mais de 20 musicistas integrando a forma��o, todas diletantes, mas algumas com pouca ou nenhuma experi�ncia de tocar em uma roda de choro. “Ensaiamos e depois passamos a nos apresentar em bares. Come�amos com o repert�rio tradicional do choro. Eu n�o compunha antes, me tornei compositora a partir da cria��o do grupo. � um movimento muito interessante, muito acolhedor, porque a gente se fortalece como coletivo, como mulheres e como musicistas”, diz, acrescentando que a forma��o do grupo muda constantemente, sempre com algumas integrantes saindo e outras chegando.
Autorais
Na apresenta��o de hoje no Minas ao Luar, Luciana Alvarenga e Maria Bragan�a estar�o ausentes, em raz�o de outros compromissos, mas todas as outras sobem ao palco para executar um repert�rio que inclui tanto os cl�ssicos do g�nero quanto temas autorais. A forma��o se completa com a presen�a do cavaquinhista Z� Carlos, que � padrinho do grupo e comparece como convidado especial, executando temas de Waldir Azevedo.
Ra�ssa destaca que o roteiro musical privilegia obras de compositoras, o que � uma premissa do grupo desde sua cria��o. “� uma forma de dar visibilidade para as mulheres no �mbito da m�sica instrumental. Tem cl�ssicos do g�nero, de Chiquinha Gonzaga a Luciana Rabello, mas tamb�m tem composi��es minhas, da Thamiris, da Luiza Mitre e da Mariana Bruckers, que s�o ex-integrantes do grupo”, diz.
Essa ser� a primeira apresenta��o em palco desde a chegada da pandemia – o grupo vinha fazendo, desde dezembro do ano passado, uma roda fixa, �s ter�as-feiras, com forma��o reduzida a cinco instrumentistas, no Santo Boteco, no bairro S�o Pedro.
P�blico cativo
ara Warley Henrique, n�o � de hoje que Belo Horizonte � um importante polo para o cen�rio do choro em �mbito nacional. Ele tamb�m destaca o fato de as rodas acontecerem de segunda a segunda, sempre mobilizando um p�blico cativo e numeroso. “Era uma realidade anterior � pandemia e que agora voltou a ser. Isso se mant�m porque sempre aparecem grupos novos. � uma presen�a cada vez mais marcante”, diz.
Veterano da cena, ele considera gratificante perceber que as sementes lan�adas seguem dando frutos. “Sou de uma gera��o que ocupou muito a cidade com rodas de choro, descobrimos e nos instalamos em v�rios espa�os. � muito bom ver esse cen�rio se expandindo, com uma outra gera��o chegando e dando continuidade. Essa ideia de descobrir e ocupar permanece”, diz.
Warley destaca o surgimento de novos redutos do g�nero, como o que ele pr�prio mant�m na Pampulha, a Vila Cultural Chora Cavaco, na Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, que recebe rodas de choro todos os domingos.
“� um g�nero que atravessou o s�culo e segue firme, com os m�sicos se apropriando dessa linguagem, tocando, compondo, gravando, promovendo festivais. � um estilo de m�sica muito potente e que continua a�, na ordem do dia”, destaca.
Sua apresenta��o de logo mais no Memorial Vale, em duo com o percussionista Robson Batata, em celebra��o pelo Dia Nacional do Choro, ser� pautada por um repert�rio focado principalmente em Pixinguinha, mas que tamb�m contempla nomes como Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim, com temas como “Carinhoso”, “Rosa”, “Naquele tempo” e “Pedacinhos do c�u”.
PROJETO MINAS AO LUAR
Com Clube do Choro, Abre a Roda - Mulheres no Choro, Marcelo Jiran, Beb� Kramer, Luizinho Calixto e Marcelo Caldi, neste domingo (24/4), das 9h �s 13h, na Pra�a Duque de Caxias, Santa Tereza. Gratuito
WARLEY HENRIQUE E ROBSON BATATA
Show do cavaquinista e do percussionista, em homenagem ao Dia Nacional do Choro, neste domingo (24/4), �s 11h, no Memorial Vale (Pra�a da Liberdade, 640, Funcion�rios). Entrada franca, mediante retirada antecipada de ingresso no local.