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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Ouro Preto ser� palco para a estreia da �pera "Aleijadinho"

Produ��o da Funda��o Cl�vis Salgado com seus corpos est�veis e solistas convidados ser� apresentada nesta sexta (29/4), no adro da igreja S�o Francisco de Assis


27/04/2022 04:00 - atualizado 27/04/2022 07:35

Usando máscara preta, o maestro Silvio Viegas rege a Sinfônica de Minas Gerais, em sala de ensaios do Palácio das Artes
No �ltimo ensaio em BH, na segunda passada, orquestra e solistas tentaram simular a disposi��o em que ficar�o na estreia, no adro da igreja S�o Francisco de Assis (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
Enquanto o maestro Silvio Viegas regia a Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais dentro da sala de ensaios do Pal�cio das Artes, os cantores solistas convidados ficavam sentados � porta do recinto, olhando para o lado de fora, de onde o maestro Andr� Brant os conduzia. 

A inusitada din�mica no �ltimo ensaio da �pera “Aleijadinho” em Belo Horizonte, realizado na segunda-feira passada (25/4), se justifica pelo fato de que a estreia da produ��o ocorrer� no adro da igreja de S�o Francisco de Assis, em Ouro Preto, na pr�xima sexta-feira (29/4).

Silvio Viegas, que tamb�m responde pela dire��o musical desta que � a 90ª produ��o oper�stica da Funda��o Cl�vis Salgado, explica que, como n�o h� um fosso para a orquestra no local onde a �pera vai estrear e tampouco seria razo�vel deix�-la entre o p�blico e a cena, a op��o foi por posicion�-la lateralmente. 

“A quest�o � que, se eu me coloco na lateral da cena, o contato visual dos solistas comigo diminui. Quando percebemos isso, pedi ao maestro Andr� que fiz�ssemos o ensaio com ele dando as entradas para os solistas, at� para que pudessem se sentir seguros caso, na estreia em Ouro Preto, eles n�o consigam em absoluto me ver”, explica.

Composta por Ernani Aguiar a partir do libreto escrito por Andr� Cardoso, “Aleijadinho” se insere no programa de est�mulo � cria��o e difus�o nacional de �peras da Funda��o Cl�vis Salgado. Trata-se de uma investida vultosa, com a premi�re ao ar livre, na cidade onde nasceu e viveu o artista que � internacionalmente reconhecido como refer�ncia do barroco mineiro e cujas obras encontram-se espalhadas pelo estado.

Vestindo trajes de época, o cantor Johnny França se deita em colo de cantora e é observado por outro cantor, em cena de Aleijadinho
O cantor Johnny Fran�a assumiu o papel de Aleijadinho. Libreto se baseia em fatos hist�ricos sobre o escultor (foto: Paulo Lacerda/Divulga��o)

ELENCO

 A montagem, que tem dire��o c�nica de Julianna Santos, conta com as participa��es da Orquestra Sinf�nica e do Coral L�rico de Minas Gerais, da Cia. de Dan�a Pal�cio das Artes e dos solistas convidados Johnny Fran�a (Aleijadinho), Mar Oliveira (Manuel Francisco), Guilherme Moreira (Tom�s Ant�nio Gonzaga), Pedro Vianna (Alvarenga Peixoto), L�cio Bruno (Lobo de Mesquita), Luanda Siqueira (Joana) e Mauro Chantal (Vicente Ferreira).

Convencido das possibilidades dram�ticas sobre a vida do escultor, Andr� Cardoso rascunhou os primeiros esbo�os em forma de roteiro em julho de 2009, quando apresentou a ideia ao maestro e compositor Ernani Aguiar, que, imediatamente, se entusiasmou pelo projeto. Com a proximidade dos 280 anos de nascimento do artista, ocorrido entre 1737 e 1738, a ideia foi retomada e o libreto, conclu�do em 2016, foi repassado ao compositor.

Cardoso diz que o est�mulo inicial para come�ar a trabalhar nesse espet�culo foi a admira��o que tanto ele quanto Aguiar sempre nutriram pela obra de Aleijadinho. “Tamb�m passa pela rela��o que a gente tem com Minas, o Ernani at� mais do que eu; ele j� ganhou o t�tulo de cidad�o ouro-pretano. No meu caso, convivo com o repert�rio colonial mineiro n�o s� como int�rprete, mas tamb�m como pesquisador. Lobo de Mesquita e Sousa Lobo foram objetos de estudo no meu mestrado”, afirma.

Ele conta que empreendeu uma intensa pesquisa hist�rica para escrever o libreto. “Eu j� tinha uma bibliografia grande sobre Aleijadinho, ent�o comecei dali e fui ampliando, para que a �pera, mesmo sendo uma obra de fic��o, tivesse conex�o com os fatos hist�ricos. Usei desde a biografia escrita em 1858 pelo Bretas (o advogado e professor Rodrigo Jos� Ferreira Bretas), que chegou a conhecer a nora do Aleijadinho, at� uma bibliografia mais recente, com dados novos”, diz.

"A �pera n�o tem por objetivo ser um document�rio sobre a vida de Aleijadinho. � um drama, ent�o s�o necess�rios os elementos dram�ticos, o enredo com in�cio, meio e fim, o personagem principal, o antagonista"

Andr� Cardoso, autor do libreto


PERSONAGENS 

Todos os personagens que aparecem na �pera s�o reais e viveram em Vila Rica – como se chamava a tricenten�ria cidade – no mesmo per�odo de Aleijadinho, segundo Cardoso. Ele destaca que as situa��es mostradas em cena s�o ficcionais, mas seguem a cronologia da vida de Aleijadinho. 

“A �pera n�o tem por objetivo ser um document�rio sobre a vida de Aleijadinho. � um drama, ent�o s�o necess�rios os elementos dram�ticos, o enredo com in�cio, meio e fim, o personagem principal, o antagonista”, diz.

Ele observa que, logo na abertura da montagem, por exemplo, � encenado um encontro entre Aleijadinho e os inconfidentes, em uma taberna de Vila Rica. “� o maior ato da �pera, com a participa��o da Cia. de Dan�a do Pal�cio das Artes. Assim como esse encontro, a gente imagina outros, com Lobo de Mesquita, por exemplo.”

O autor do libreto comenta que tamb�m se valeu de uma tese da historiadora Isolde Venturelli, da d�cada de 1980. A despeito de n�o haver comprova��o de seu teor, h� uma grande carga dram�tica na tese segundo a qual Aleijadinho teria esculpido os profetas de Congonhas como representa��es dos inconfidentes. 

“A �pera termina dessa forma, com os profetas entrando em cena, como se fossem os inconfidentes, voltando para visitar Aleijadinho e lev�-lo embora na hora de sua morte”, adianta Cardoso.

"O bonito, no caso de 'Aleijadinho', � o fato de ser uma constru��o que parte do zero, feita a v�rias m�os, com cada um colocando uma pedrinha para fazer esse castelo enorme que � a �pera. Isso traz a sensa��o de voc� estar fazendo hist�ria"

Silvio Viegas, regente e diretor musical



Ernani Aguiar conta que, a partir do momento em que o libreto lhe foi entregue, teve in�cio um longo processo de idas e vindas e trocas de ideias entre ele e o autor. “Todo mundo me pergunta sobre meu processo composicional. Eu acredito em Deus. Para mim, toda inspira��o vem do Divino Esp�rito Santo; ela chega aqui e encontra a t�cnica que o compositor estudou para dominar e ser capaz de materializ�-la. No caso de um libreto, o pr�prio texto j� te transmite uma emo��o, �s vezes a melodia vem direto com a palavra. A partir da�, � um trabalho de matura��o”, diz.

Ele ressalta que, na composi��o, buscou dialogar com a m�sica da �poca, com as interven��es que realizou em uma obra de Lobo de Mesquita, ao criar uma linha de canto para Aleijadinho, por exemplo. O maestro resgatou tamb�m o estilo das serenatas mineiras, como no dueto de Joana e Manuel Francisco, no primeiro ato, e no prel�dio e no interl�dio do terceiro ato.

Instado a apontar o que considera a caracter�stica mais marcante de “Aleijadinho”, o maestro Silvio Viegas hesita, sem disfar�ar sua empolga��o. “S�o tantas qualidades, tantas nuances atrativas, tantos pontos positivos que � dif�cil dizer o que me chama mais a aten��o. Eu poderia falar da qualidade da m�sica e do texto, que s�o geniais”, diz, antes de afirmar que o poder de comunica��o da obra � seu maior trunfo.

PAIX�O 

“Quando a gente coloca uma pe�a para estreia mundial, cria-se naturalmente algum tipo de resist�ncia, as pessoas olham com desconfian�a, afinal, � algo desconhecido, mas o que aconteceu com essa �pera � que todo mundo se apaixonou por ela, a dire��o, os solistas, a orquestra, o coral”, afirma. 

Segundo o maestro, a montagem “tem uma capacidade de comunica��o que � impressionante. Nos ensaios, vejo os m�sicos e os cantores emocionados. � uma obra que fala diretamente com quem executa e com quem assiste, sem linguagem estranha, sem arroubos ou pretens�es”.

Viegas destaca, ainda, o fato de ser uma obra in�dita, feita por artistas contempor�neos, com os quais pode trocar impress�es relativas � sua execu��o e entender quais s�o suas inten��es e desejos. 

“Discutir e realizar altera��es � algo maravilhoso e que somente pode ser feito tendo seus criadores vivos e abertos a sugest�es e observa��es. � construir uma parte da hist�ria dessa �pera e fazer parte de um momento cultural hist�rico para nosso estado e nosso pa�s”, comenta.

“Quando a gente faz uma �pera conhecida, como ‘Traviata’, eu j� ouvi milhares de vezes, a orquestra conhece, ent�o, por mais que eu tenha meu conceito, sou influenciado por in�meros registros que est�o dentro de mim. O mesmo acontece com a orquestra”, diz o maestro. 

Viegas acrescenta que “o bonito, no caso de ‘Aleijadinho’, � o fato de ser uma constru��o que parte do zero, feita a v�rias m�os, com cada um colocando uma pedrinha para fazer esse castelo enorme que � a �pera. Isso traz a sensa��o de voc� estar fazendo hist�ria. Daqui a 50 anos, ningu�m vai se lembrar de mais uma montagem da ‘Traviata’, mas v�o falar da estreia de ‘Aleijadinho’. Estamos escrevendo uma p�gina da nossa cultura”. 

O maestro destaca ainda a pertin�ncia de a produ��o abordar Aleijadinho, um s�mbolo planet�rio da mineiridade. “N�o estamos falando de qualquer um, n�o s�o Romeu e Julieta, n�o � um personagem de Goethe, n�o estamos tratando de uma f�bula romena ou russa, mas de um artista brasileiro que deixou um legado fundamental. Estamos falando das nossas ra�zes e das nossas origens na arte. N�o d� para falar em arte no Brasil sem falar de Aleijadinho. Para chegar em Chico Buarque ou Portinari, precisou existir Aleijadinho”, aponta.

"Todo mundo me pergunta sobre meu processo composicional. Eu acredito em Deus. Para mim, toda inspira��o vem do Divino Esp�rito Santo; ela chega aqui e encontra a t�cnica que o compositor estudou para dominar e ser capaz de materializ�-la"

Ernani Aguiar, autor da m�sica


PATRONO DAS ARTES 

Para Ernani Aguar, o mestre do barroco tamb�m se eleva no plano das artes e � um nome fundamental para a constru��o da pr�pria identidade de Minas Gerais e do Brasil. “� o patrono das artes brasileiras, n�o h� outra coisa a dizer. Rui Mour�o, historiador que dirigiu o Museu da Inconfid�ncia durante uns 30 anos, fala muito bem disso. Os livros que ele escreveu mostram Aleijadinho quase como um esp�rito protetor das artes. Sou louco pela obra de Aleijadinho desde a inf�ncia”, afirma. 

O maestro e compositor n�o esconde sua expectativa com rela��o � estreia em Ouro Preto. “Vou deixar acontecer na hora. J� estou com 71 anos e todo mineiro � muito emotivo, ent�o sei que vou chegar l� e me lembrar dos meus professores, me lembrar de papai, e a� vou ter que me segurar bastante. Se eu tomar uma cachacinha antes, talvez eu consiga ter mais controle”, graceja. Ap�s a estreia em Ouro Preto, a montagem cumpre temporada no Pal�cio das Artes, com r�citas nos pr�ximos dias 14, 16, 18 e 20 de maio.

“ALEIJADINHO”

Composi��o de Ernani Aguiar e libreto de Andr� Cardoso. Com Orquestra Sinf�nica e Coral L�rico de Minas Gerais, Cia. de Dan�a do Pal�cio das Artes e solistas convidados, sob reg�ncia do maestro Silvio Viegas. Estreia nesta sexta-feira (29/4), �s 20h, no adro da Igreja de S�o Francisco de Assis (Largo da Coimbra, Centro de Ouro Preto). Acesso gratuito.  Mais informa��es para o p�blico: (31) 3236-7401.


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