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Estado de Minas M�SICA

Marcelo Veronez est� de volta ao palco para cantar os absurdos do mundo

Cantor e ator reestreia seu 'show discurso', cuja temporada foi interrompida pela pandemia. In�dita est� no repert�rio desta quinta (5/5), no Sesiminas


03/05/2022 04:00 - atualizado 03/05/2022 01:00

Marcelo Veronez está deitado, à meia luz, com o rosto virando para cima, com o braço erguido e segurando a própria roupa atrás da cabeça
Marcelo Veronez retoma o show 'Como se n�o tivesse acontecido nada', com novos elementos ligados � pandemia (foto: ALEXANDRE HUGO/DIVULGA��O)

'Tenho feito apresenta��es para at� 60 pessoas sentadas. Todas ficam no maior sil�ncio e concentra��o. As pessoas se emocionam muito, tem gente que chora no meio do show'

Marcelo Veronez, cantor e ator


Em 1974, final dos anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), a mineira Maria Alcina interpretava, com fina ironia, “Como se n�o tivesse acontecido nada”. Em 2019, 45 anos mais tarde, o cantor e ator Marcelo Veronez pegou emprestada a can��o de Miguel Paiva e Ricardo Guinsburg para nomear seu novo show. Naquele momento, ele diz, a ideia era lidar “com os absurdos que vivemos diariamente”.

E veio a crise sanit�ria. “Neste p�s-pandemia, o t�tulo ganha outro sentido”, comenta Veronez, citando os versos finais da can��o: “Como se n�o tivesse acontecido o sono/ Como se n�o tivesse adormecido tudo /Como se n�o tivesse acontecido nada/ Tudo que aconteceu, nada/ Nada.”

De volta aos palcos, ele apresenta nesta quinta-feira (5/5), no Teatro Sesiminas, o show “Como se n�o tivesse acontecido nada”.

HIBERNA��O 

Houve poucas apresenta��es do espet�culo em BH no ano de estreia e duas em S�o Paulo no final de 2021. O per�odo de hiberna��o levou o artista a retrabalhar o show, ao lado do baixista Pedro Fonseca e do baterista Yuri Vellasco, que assinam a dire��o musical. Com “mais corpo”, o espet�culo mant�m a veia cr�tica e ir�nica que permeia a trajet�ria de Veronez, que prefere cham�-lo de “show discurso”.

“O formato � um pouco parecido com os discos ao vivo da Maria Beth�nia nos anos 1970, dirigidos pelo Fauzi Arap. Constru�mos temas e dramaturgias a partir das letras, que passam a se completar”, conta. A partir da ideia dos absurdos que as pessoas comuns enfrentam em seu cotidiano, Veronez perpassa a pr�pria trajet�ria, de garoto sa�do do interior que veio pra cidade grande e se tornou artista.

“O show � dividido em blocos. O primeiro mostra a sa�da do interior, desse lugar absolutamente natural, de banho de rio”, conta Veronez. Nascido em BH, ele foi criado na zona rural de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha.

“O segundo bloco � da chegada a uma cidade industrial. Normalmente, quem vem do interior n�o vai parar em apartamento chique da Zona Sul, vai para a periferia”, diz. Veronez viveu sua juventude em Contagem.

O terceiro e �ltimo bloco � como “um cabar�, o lugar discuss�o art�stica”, acrescenta ele, referindo-se � sua trajet�ria na m�sica e no teatro em Belo Horizonte. � um show curto, de 50 minutos a uma hora, mas com muitas m�sicas – 15, ao todo.
 

''N�o vou trabalhar com streaming, pois sou contra a ideia da 'uberiza��o' da m�sica''

Marcelo Veronez, cantor e ator

 

FAC�NORA

“A minha luta est� ligada � comunidade LGBTQIA+, mas ela � atravessada por outras, como a quest�o ind�gena, territorial, dos sem teto... Como unir as coisas todas em prol da ideia de um bem comum, de distribui��o de renda, de uma pol�tica menos fac�nora? Como permitimos um Bolsonaro governar o Brasil? Para mim, a causa disso tudo vem da ideia da ditadura. Apesar de n�o ter vivido aquela �poca, acho que as quest�es contempor�neas v�m do per�odo nefasto que o pa�s viveu. O show trata de v�rios absurdos que estamos vivendo.”

Acompanhado por banda formada por Davi Fonseca (piano), Let�cia Leal (viola caipira), Sarah Assis (acordeom) e Car� Renn� (voz), al�m dos j� citados Fonseca e Vellasco, Veronez desfia “m�sicas pouco conhecidas de autores cl�ssicos”. Une Roberto e Erasmo a Marku Ribas, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Jo�o Bosco, Aldir Blanc, Jards Macal� e Chico Buarque, al�m de Zez� Motta, Cida Moreira, Maria Alice Vergueiro e Maria Alcina.

H� textos costurando tal narrativa, um deles da dramaturga Idylla Silmarovi. Neste show, Veronez lan�a a balada in�dita “Hora de partir”, de sua parceira Milena Torres. A faixa vem sendo executada h� algumas semanas na r�dio Inconfid�ncia. Nesta ter�a-feira (3/5), ela ser� lan�ada no YouTube. “N�o vou trabalhar com streaming, pois sou contra a ideia da ‘uberiza��o’ da m�sica (nas plataformas de m�sica digital).”
 
Marcelo Veronez, cantor e ator, olha para a câmera. Metade de seu rosto está no escuro, a outra metade recebe foco de luz
(foto: ALEXANDRE HUGO/DIVULGA��O)

''A minha luta est� ligada � comunidade LGBTQIA , mas ela � atravessada por outras, como a quest�o ind�gena, territorial, dos sem teto... Como unir as coisas todas em prol da ideia de um bem comum, de distribui��o de renda, de uma pol�tica menos fac�nora? Como permitimos um Bolsonaro governar o Brasil? Para mim, a causa disso tudo vem da ideia da ditadura''

Marcelo Veronez, cantor e ator

 

MULTIARTISTA

Prestes a completar 41 anos (em 30 de julho), Veronez vai caminhando para os 20 de carreira. Teatro (formou-se em 2003 no Teatro Universit�rio, da UFMG), dan�a (passou pelo Primeiro Ato Centro de Dan�a) e m�sica (estudou na Anthonio Escola de Canto) sempre andaram lado a lado em sua trajet�ria.

Foi com um show que fez hist�ria no circuito independente de Belo Horizonte, “N�o sou nenhum Roberto” (2008), que ele efetivamente entrou no universo musical. Com essa pesquisa sobre o repert�rio de Roberto Carlos, Veronez, ousada e respeitosamente, conferiu autoralidade a can��es que fazem parte do imagin�rio popular. � muito mais interessante, vale dizer, ouvir Roberto Carlos sob o prisma de Veronez do que do pr�prio Rei, que se repete h� d�cadas.

Foram 14 anos em cartaz. Ainda que tenha o espet�culo na manga, acha que � hora de parar. “Quando estreei, tinha 27 anos. Minha condi��o f�sica � outra, minha forma de cantar tamb�m. � poss�vel que fa�a de novo no Natal, pois � uma grande piada. Esse show, hoje, existe s� em situa��es muito especiais.”


CASSIA E ROBERTO

Mas Veronez continua homenageando os �dolos, os dele e os de muitos de n�s. Estreou em 10 de dezembro de 2021, data de anivers�rio de C�ssia Eller, o show “C�ssia, te amo”. � uma rever�ncia mais intimista, sem a explos�o de cores e corpos do espet�culo dedicado a Roberto. Acompanhado de tr�s viol�es, interpreta o repert�rio da cantora, morta h� 20 anos.

“Tenho feito apresenta��es para at� 60 pessoas sentadas. Todas ficam no maior sil�ncio e concentra��o. As pessoas se emocionam muito, tem gente que chora no meio do show.” � um contraponto para a explos�o em cena no show de Roberto.

“Gosto de ter tr�s trabalhos no repert�rio. Tem o show de homenagem (de Roberto e o de C�ssia), o de baile (para eventos e festas) e o de disco”, comenta. “Como se n�o tivesse acontecido nada” faz parte do �ltimo formato. � o primeiro espet�culo do g�nero que Veronez montou desde “Narciso deu um grito” (2017), show de seu primeiro �lbum.

“Gosto da ideia dos revezes. ‘Narciso’ era muito festivo, carnavalesco. ‘Como se n�o tivesse acontecido nada’ � mais baseado na ironia e no deboche”, conta ele, que sonha em lan�ar um �lbum com o repert�rio que est� levando para o palco.

“Esse trabalho � o mais bem resolvido dos 20 anos em que venho trabalhando com m�sica e teatro. � um lugar onde consegui colocar mais a minha pesquisa, onde o encontro de m�sica e teatro se d� de forma mais forte e natural”, continua.

COMPADECIDA

N�o h� pressa, no entanto, j� que a carreira de Veronez se desdobra em v�rias. Al�m desse show, ele segue com o espet�culo “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, com o grupo Maria Cutia sob a dire��o de Gabriel Vilela. H� um m�s, a montagem, de 2019, foi reapresentada em BH. Agora o grupo se prepara para lev�-la a outras cidades.
 
“� um espet�culo que viaja muito. Entre junho de 2019 e fevereiro de 2020, quando paramos, foram 70 apresenta��es, apenas 12 delas em BH. � o maior cl�ssico da dramaturgia popular, um espet�culo que amo. Imagina, tenho a possibilidade de fazer o Padre Jo�o e o capeta”, comenta.

Tais projetos s�o de Veronez em cena. Fora dela, ele segue como gestor da Gruta!, espa�o cultural ao lado do Galp�o Cine Horto, em Belo Horizonte, voltado para a cultura underground e LGBTQIA . Neste m�s, come�a a trabalhar na terceira edi��o do projeto Rampa, de treinamento c�nico para artistas da cena musical. Ao lado de Marina Viana, ele vai montar o espet�culo “� tardinha no Ocidente” com os selecionados para essa vers�o do projeto.

MARCELO VERONEZ

Show “Como se n�o tivesse acontecido nada”. Nesta quinta-feira (5/5), �s 21h, no Teatro Sesiminas – Rua Padre Marinho, 60, Santa Efig�nia. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). � venda na plataforma sympla.com.br







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