Novo disco p�e Ala�de Costa no topo da MPB, lugar que sempre foi dela
Aos 86 anos, cantora grava m�sicas que C�u, Ivan Lins, Erasmo Carlos e Guilherme Arantes fizeram para ela. Emicida, Pupillo e Marcus Preto dirigiram o projeto
Ala�de Costa enfrentou o ostracismo e o preconceito racial, mas n�o fez concess�es em rela��o � sua m�sica (foto: Enio Cesar/Divulga��o)
� incontorn�vel a compara��o entre Ala�de Costa – por conta do lan�amento de seu novo �lbum, “O que meus calos dizem sobre mim” – com Elza Soares. Ambas cantoras gigantes, negras, que enfrentaram longos per�odos de ostracismo e com a idade avan�ada encontraram em m�sicos e produtores de uma gera��o bem mais jovem a oportunidade de voltar ao lugar merecido, com destaque e visibilidade.
H�, naturalmente, diferen�as entre uma e outra, mas diferen�as que sublinham identidades. Depois de passar as d�cadas de 1980 e 1990 � margem, numa esp�cie de limbo imposto pela ind�stria fonogr�fica, desinteressada no que ela fazia ou poderia fazer, Elza lan�ou, em 2002, j� na casa dos 70 anos, o �lbum “Do c�ccix at� o pesco�o”. Produzido por Jos� Miguel Wisnik, o disco repercutiu e a recolocou nos trilhos do sucesso de p�blico e cr�tica.
Dali em diante, ela emplacou discos que reverberaram, com diferentes produtores e sempre se moldando ao que eles propunham. Em “Vivo feliz” (2004), Elza flertou abertamente com o rap e a m�sica eletr�nica, ambientes pelos quais transitava Arthur Joly, que capitaneou o trabalho.
Com “A mulher do fim do mundo” (2015) n�o foi diferente. Ela abra�ou a est�tica proposta por Guilherme Kastrup e uma turma de m�sicos paulistanos – Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, R�mulo Froes, entre outros – respons�veis por formatar o trabalho que a catapultou ao topo do p�dio da MPB.
Universo musical de Ala�de Costa ganha nova dimens�o com a produ��o de Emicida e Marcus Preto (foto: Enio Cesar/Divulga��o)
“O que meus calos dizem sobre mim” tamb�m � resultado do interesse de uma gera��o mais nova pelo trabalho de Ala�de Costa. Diferentemente de Elza, no entanto, ela n�o migrou para o lugar, esteticamente falando, onde os produtores estavam. O rapper Emicida e Marcus Preto – diretor musical de discos de Gal Costa, Erasmo Carlos e Nando Reis – s�o os nomes por tr�s de “O que meus calos dizem sobre mim”. Foram eles que sa�ram de seus postos para visitar o espa�o onde Ala�de gosta de estar.
BAILE
O �lbum traz can��es rom�nticas e bossas l�ricas sofisticadas, entoadas pela veterana cantora, de 86 anos, com sincera devo��o. Respons�vel pela dire��o musical, Pupillo, de 47, imergiu nas �guas mansas da express�o art�stica da cantora. Quem acompanhou o trabalho dele como m�sico no grupo Na��o Zumbi ou como produtor em �lbuns como “Tropix”, de C�u, vai se surpreender com os arranjos e a sonoridade. “O que meus calos dizem sobre mim” remete aos conjuntos de baile dos anos 1950, quando Ala�de iniciou sua carreira.
O time de instrumentistas oferece a Ala�de cama de pura seda, onde pode deitar sua voz profunda e cristalina confortavelmente a servi�o de can��es feitas especialmente para ela. Preto e Emicida foram certeiros ao convidar uma gama variada de compositores para criar os temas do repert�rio.
O disco traz oito faixas: “Turmalina negra” (C�u e Diogo Po�as), “Nenhuma ilus�o” (F�tima Guedes), “Tristonho” (Ala�de Costa e Nando Reis), “Berceuse” (Guilherme Arantes), “Pessoa-Ilha” (Ivan Lins e Emicida), “Praga” (Erasmo Carlos e Tim Bernardes), “Aos meus p�s” (Jo�o Bosco e Francisco Bosco) e “Aurorear” (Joyce e Emicida). Todas inspirad�ssimas e criadas sob medida para Ala�de, que j� declarou que seu maior orgulho � nunca ter feito concess�es. “O que meus calos dizem sobre mim” reafirma essa postura.
Com exce��o, talvez, de “Pessoa-Ilha” – em que a l�rica de Emicida versa mais sobre quest�es sociais –, as demais trafegam por entre dores de amores e tons confessionais. Sim, as m�sicas foram feitas para Ala�de com o desejo de que ela pudesse cantar a pr�pria vida – uma vida que teve mais tristezas do que alegrias na profiss�o, conforme declarou recentemente, por causa dos longos per�odos que ficou sem gravar.
Para Ala�de Costa, os per�odos de ostracismo se devem ao fato de n�o fazer concess�es e tamb�m por preconceito racial velado, que identifica at� mesmo no ber�o da bossa nova. Era a �nica negra do n�cleo formado por Jo�o Gilberto, Tom Jobim, Nara Le�o, Carlos Lyra e Roberto Menescal, entre outros.
Ala�de Costa, nos anos 1960, com Oscar Castro Neves, Luiz E�a, Roberto Menescal e Olivia Hime, entre outros talentos da MPB (foto: Acervo pessoal)
S� CRAQUES
O chamamento de Emicida e Preto para que figuras proeminentes da MPB compusessem para a voz de Ala�de foi ouvido em larga escala. V�rios nomes, al�m dos que est�o presentes em “O que meus calos dizem sobre mim”, enviaram m�sicas, entre eles Jo�o Donato, Francis Hime, Marcos Valle, Guinga e Gilson Peranzzetta.
Marisa Monte a Carlinhos Brown enviaram “Mo�o”. Rubel e Emicida j� t�m pronta “Bilhetinho”.
Esse material vai gerar o segundo �lbum, ainda sem previs�o de lan�amento. Que venha. Ala�de e os ouvintes atentos � sofistica��o e ao refinamento de seu canto merecem.
“O QUE MEUS CALOS DIZEM SOBRE MIM”
. Disco de Ala�de Costa
. Oito faixas
. Samba Rock Discos
. Dispon�vel nas plataformas de streaming
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