
Riobaldo Tatarana teve um grande amor na vida, o jagun�o Diadorim. Mas o personagem central do cl�ssico “Grande sert�o: Veredas” (1956) tamb�m se relacionou com a prostituta Nhorinh� e com Otac�lia, com quem se casou. � sobre amor e paix�o na obra m�xima de Guimar�es Rosa o mon�logo “Riobaldo”, que ser� apresentado desta sexta (3/6) a domingo (5/6), no Teatro Jos� Aparecido, na Biblioteca P�blica Estadual.
Em cena, o ator carioca Gilson de Barros � dirigido por Amir Haddad. O int�rprete conheceu o romance rosiano na juventude, quando participou de um espet�culo que trazia um trecho de “Grande sert�o”. Mesmo com um exemplar da obra desde os 18 anos, somente ao se aposentar, aos 55, Barros resolveu fazer uma imers�o na saga. N�o mais a largou.
Hoje, com 62, ele s� quer ir al�m. Tanto que � parte as tr�s sess�es de “Riobaldo”, ele tamb�m faz em Belo Horizonte leituras dram�ticas de “Maria Mutema e outros casos”, sua pr�xima montagem, com estreia prevista para mar�o de 2023, em S�o Paulo. O formato ser� o mesmo: s� em cena, sob a dire��o de Haddad.
Voltando a “Riobaldo”, o espet�culo que chega aqui agora � s�mbolo da resist�ncia do ator. O mon�logo estreou em 7 de mar�o de 2020, no Espa�o Cultural S�rgio Porto, no Rio de Janeiro. Com todos os ingressos vendidos nas primeiras sess�es e a promessa de boa temporada, uma semana mais tarde tudo fechou diante do in�cio da pandemia.
Sem patroc�nio e contando essencialmente com a verba dos ingressos vendidos, Barros afirma que fez o que, para ele, foi na �poca uma “maluquice”.
“Amir e eu est�vamos com muito tes�o em fazer a pe�a. Criamos uma temporada de ensaios abertos no Instagram”, relembra. Ele foi um dos primeiros atores a, no momento inicial da crise sanit�ria, trabalhar o teatro de forma on-line, uma novidade naqueles tempos.
ALTAS BRONCAS
“Era uma loucura, eu ensaiava com ele, que me dava altas broncas. E quando vi, eram 200, 300 pessoas assistindo, muitos colegas acompanhando. Parecia novela.” Adquiriu, na marra, expertise para levar a montagem, j� no formato espet�culo, para o modelo remoto. “O pessoal do Sympla (plataforma de venda de ingressos e gest�o de eventos) me ajudou muito”, diz o ator.
Questionado sobre quanto iria cobrar, Barros sugeriu R$ 20 por ingresso. “Eles me falaram que n�o, que colocasse os valores de R$ 20, R$ 40, R$ 80 e at� R$ 200, para quem quisesse ajudar artista na pandemia. Eu n�o tinha no��o de nada e, no virtual, o p�blico � o mundo. N�o imaginava que teria plateia na Fran�a, no Chile, no Canad�, nos EUA. Teve dia em que fiz bilheteria de R$ 6 mil. N�o conseguiria isso nunca no presencial.”
Dessa maneira, Gilson de Barros conseguiu manter equipe por tr�s temporadas virtuais. O formato, todos sabemos, acabou se esgotando e, no ano passado, finalmente “Riobaldo” voltou � cena, presencialmente – no Rio e depois em S�o Paulo.
Tudo o que Barros fala em cena foi escrito por Guimar�es Rosa. Mas o processo de adapta��o do texto levou o ator a uma pesquisa imensa de trabalhos acad�micos.
“Li por meio de todos os vieses: filosofia, literatura. Quando cheguei a uma pesquisa sobre os amores, de como as mulheres constru�ram aquele homem, encontrei a chave que queria”,diz.
Ao sentir que a adapta��o do texto estava mais madura, convidou Haddad para dirigi-lo. “Imaginei que seria uma pe�a com luz, som, movimento. No primeiro dia de ensaio, ele me disse que n�o seria nada daquilo. Me pediu para ficar sentado contando a hist�ria como o Riobaldo do livro. Me apavorei, a minha forma��o de ator � voltada para a interpreta��o dram�tica, e o Amir trabalha com a t�cnica de interpreta��o narrativa”, descreve.
Nessa t�cnica, basicamente o ator tem que criar o cen�rio na cabe�a do espectador, explica Barros. Ele demorou para entender e se relacionar com o processo, mas hoje n�o pensa em trabalhar de outra forma.
No mon�logo, fica durante 75 minutos sentado em um banco falando o texto rosiano. “N�o acreditei que fosse dar certo, mas, como o texto do Guimar�es cria muitas imagens, o p�blico vai viajando nos caminhos do sert�o amoroso”, comenta.
“RIOBALDO”
Espet�culo adaptado de “Grande sert�o: Veredas”, de Guimar�es Rosa, com atua��o de Gilson de Barros e dire��o de Amir Haddad. De sexta (3/6) a domingo (5/6), �s 19h30, no Teatro Jos� Aparecido de Oliveira – Biblioteca P�blica Estadual, Pra�a da Liberdade, 21, Funcion�rios. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). � venda no site.bileto.sympla.com.br/riobaldoteatro
LEITURAS DRAM�TICAS
Nesta temporada em BH, Gilson de Barros promove leituras dram�ticas gratuitas de “Maria Mutema e outros casos”. As sess�es ser�o nesta quinta (2/6), �s 15h, no audit�rio 2 do pr�dio 4 da PUC-Minas, no Cora��o Eucar�stico, com a professora M�rcia Marques de Morais; na sexta (3/6), �s 9h, na sala 3059 da Faculdade de Letras da UFMG – c�mpus Pampulha, com a professora Cl�udia Campos Soares; e no s�bado (4/6), �s 15h, no Espa�o do Conhecimento UFMG, Pra�a da Liberdade, 700, Funcion�rios.