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Estado de Minas LAN�AMENTO

Z�lia Duncan escolhe BH para fazer sua estreia como escritora

Cantora e compositora lan�a nesta quarta-feira (8/6) na capital mineira o livro "Benditas coisas que eu n�o sei - M�sicas, mem�rias, nostalgias felizes"


08/06/2022 04:00 - atualizado 08/06/2022 07:10

Vestindo calça e camisa brancas, sentada em cadeira de plateia vazia de teatro, Zélia Duncan sorri para a câmera
Z�lia Duncan diz que "a literatura arrebata da mesma maneira (que a m�sica), mas a forma como isso acontece � mais lenta" (foto: Divulga��o)

Em sua mais recente passagem por Belo Horizonte, em outubro de 2021, Z�lia Duncan escolheu a cidade como o ponto de partida da turn� do �lbum "Pelesp�rito" (2021), trabalho lan�ado em comemora��o aos seus 40 anos de carreira. 
Nesta quarta-feira (8/6), a artista est� de volta � capital mineira, com uma nova estreia, desta vez como autora. "Benditas coisas que eu n�o sei - M�sicas, mem�rias, nostalgias felizes" (Agir), seu primeiro livro, ser� o tema da edi��o de hoje do projeto Sempre um Papo.

Com 240 p�ginas recheadas de textos descompromissados, mas s�rios e reveladores, nos quais Z�lia conta sua hist�ria, em primeira pessoa, o volume detalha a profunda liga��o da artista com a m�sica, tanto do lugar de cantora e compositora quanto do de ouvinte. Como ela revela no pref�cio, o desejo de escrev�-lo � antigo, mas colocar isso em pr�tica s� ocorreu recentemente, na pandemia, em meio ao isolamento social que obrigou o mundo todo a ficar em casa.

"Um livro j� vinha me rondando h� muito tempo. Eu amo a palavra, antes de qualquer coisa. Antes da pr�pria m�sica, sei que � dif�cil acreditar. Ent�o escrever sempre esteve no meu espectro da vida. No in�cio da minha carreira, era eu que escrevia os textos de divulga��o dos meus discos. Assinava com outro nome. Depois escrevi para colegas. Mas j� a� eu comecei a exercitar esse of�cio. Sempre tive muito prazer em escrever", ela conta.

Entre 2015 e 2017, Z�lia Duncan assinou uma coluna semanal no caderno de cultura do jornal “O Globo”, na qual escrevia cr�nicas. Foi a partir da� que aprofundou o gosto pela escrita. Depois disso, assinou roteiros, um perfil de Dona Ivone Lara, uma pe�a de teatro, esquetes, textos de orelha, pref�cios e posf�cios.

''Esse livro ('Torto arado') mudou a minha vida. Mas para l�-lo voc� precisa de alguns dias. Uma m�sica n�o. Voc� pode estar no dentista, com dor nos dentes, e se uma m�sica come�ar a tocar e fizer sentido para voc�, ela vai te atravessar''

Z�lia Duncan, cantora, compositora e escritora


FOCO

"Escrever a coluna me deu uma capacidade de foco diferente de tudo o que eu j� tinha experimentado. E isso foi me dando um desejo cada vez maior de exercitar isso. At� que me sugeriram fazer um livro sobre m�sica, que n�o deu muito certo, porque eu n�o conseguia falar sobre m�sica sem levar para o lado pessoal. E foi a partir disso que o meu livro nasceu", ela explica.

De fato, "Benditas coisas que eu n�o sei" � um livro sobre m�sica, mas sob a �tica particular de uma artista com mais de quatro d�cadas de carreira. E � tamb�m um relato confessional sobre a vida da cantora. Nas brechas da hist�ria, ela reflete sobre assuntos relativos ao trabalho como artista, como a import�ncia da plateia e o desuso dos CDs e vinis.

No primeiro cap�tulo - n�o ironicamente intitulado "Primeira vez" - ela detalha a primeira vez em que subiu ao palco profissionalmente, em 1981, na Sala Funarte de Bras�lia, aos 16 anos. Nervosa, com a boca seca, quando chegou a hora de se dirigir ao palco saiu correndo de volta para o camarim, e depois reuniu a coragem para encarar o p�blico de fato.

''Ao longo de toda a minha vida, eu sempre declarei os meus posicionamentos nas minhas atitudes. Nunca disse que n�o tinha orgulho de ser como sou. Mas lidar com isso publicamente � algo que eu venho fazendo de uns cinco, seis anos para c�, quando comecei a entender um monte de coisas''

Z�lia Duncan, cantora, compositora e escritora


EMPURR�O

"A sensa��o que sempre me acompanha quando descrevo essa cena � a de que, desde ent�o, desde que me empurrei de volta para o palco, eu nunca mais sa�", ela escreve. Neste mesmo dia, ela escreveu a m�sica "Primeiro susto", lan�ada no �lbum "Intimidade" (1997).

No processo de escrita, Z�lia Duncan percebeu que redigir o livro n�o seria muito diferente de fazer um �lbum de m�sicas in�ditas. Ela at� compara o trabalho do editor com o do produtor musical. "S�o profissionais que nos ajudam a encontrar o melhor caminho", comenta.

No entanto, enquanto nas composi��es Z�lia assume uma voz po�tica, at� mesmo l�rica, no livro ela vai direto ao ponto. Os textos trazem uma linguagem acess�vel, nada rebuscada e soam como uma conversa. Em alguns trechos, ela convoca o leitor para dentro da hist�ria.

"A letra de m�sica tem que caber numa moldura. Em um livro, cada um faz o que quiser. As letras de m�sica s�o mais sint�ticas e r�pidas. O consumo delas � r�pido, elas t�m esse poder. Elas invadem. A literatura arrebata da mesma maneira, mas a forma como isso acontece � mais lenta", afirma.

Como exemplo, Z�lia cita "Torto arado", do escritor baiano Itamar Vieira Junior, do qual foi retirada a ep�grafe utilizada em seu livro. "Esse livro mudou a minha vida. Mas para l�-lo voc� precisa de alguns dias. Uma m�sica n�o. Voc� pode estar no dentista, com dor nos dentes, e se uma m�sica come�ar a tocar e fizer sentido para voc�, ela vai te atravessar."

Em "Benditas coisas que eu n�o sei", Z�lia Duncan afirma que, em 40 anos de carreira, o que tenta n�o perder de vista �: "Correr riscos, me jogar em aventuras para n�o perder o frescor e assim me divertir um tanto e continuar aprendendo com o que fa�o h� tanto tempo".

''Arriscado mesmo � n�o dar a cara a tapa. O risco � o meu normal. Me sinto bem nesse lugar de fazer o que eu nunca fiz. S� que eu n�o sou burra. Coloco algumas almofadas porque, se eu cair, a queda n�o vai ser t�o brusca. Tento me rodear de amigos extremamente talentosos. Ent�o, se eu vou cantar Milton Nascimento tem que ser ao lado de Jaques Morelenbaum''

Z�lia Duncan, cantora, compositora e escritora


EXPOSI��O

Para ela, isso se traduz na f�rmula de "fazer o que eu nunca fiz". O livro � um exemplo disso. "Quando escrevo, me sinto muito mais exposta do que cantando. Sinto esse peso agora. Uma vez, quando eu escrevia uma coluna, uma pessoa me parou na rua e disse que tinha lido o texto. Me deu uma vergonha, uma timidez que eu j� n�o tenho como cantora. � diferente. Ao escrever, eu me coloco na boca de cena sem maquiagem", ela brinca.

Um exemplo desse seu jeito arrojado de levar a carreira � o �lbum "Pelesp�rito", composto, produzido e gravado a dist�ncia. Sozinha em casa, ela aprendeu a captar as vozes e pass�-las para o computador. As lives da pandemia tamb�m foram outro desafio, ainda mais aquelas que teve que fazer sozinha.

"Mas arriscado mesmo � n�o dar a cara a tapa. O risco � o meu normal. Me sinto bem nesse lugar de fazer o que eu nunca fiz. S� que eu n�o sou burra. Coloco algumas almofadas porque, se eu cair, a queda n�o vai ser t�o brusca. Tento me rodear de amigos extremamente talentosos. Ent�o, se eu vou cantar Milton Nascimento tem que ser ao lado de Jaques Morelenbaum", ela diz.

Para o livro, Z�lia convocou a poeta Alice Ruiz, que assina a apresenta��o, e a cantora Fernanda Takai, que assina uma pequena resenha na quarta capa. No texto, Takai afirma que Z�lia tem "superpoderes": “Canta, toca, comp�e, atua, corre maratonas, tem e d� opini�o, ama muito os bichos, as gentes e a natureza, n�o desiste de fazer do Brasil um lugar melhor e agora escreveu um livro!”.

Z�lia Duncan fica lisonjeada com os elogios e, ao ser questionada sobre o que poderia fazer do Brasil um lugar melhor, � assertiva: "Ganhar a elei��o em outubro". Ela j� declarou voto em Lula e � uma das artistas que cantam o jingle da campanha do ex-presidente.

''Por isso eu fui para a internet, por isso eu tento estar presente. Para que, de alguma forma, eu possa apoiar as causas que est�o em jogo. Todo mundo pode fazer alguma coisa. E eu n�o fa�o isso porque eu sou cantora, eu fa�o isso porque eu sou Z�lia Cristina Duncan Gon�alves Moreira, uma pessoa que ainda acredita neste pa�s. Tudo o que eu fa�o qualquer pessoa pode fazer. � uma luta que n�o precisa ser individual''

Z�lia Duncan, cantora, compositora e escritora


CONSCIENTIZA��O

"Como cidad�, estou focada nisso. Em 2018, eu entendi que precisamos fazer um trabalho de 'formiguinha'. Se eu pensar que n�o tenho como interferir nas imensas destrui��es que est�o acontecendo, eu n�o vou sair do lugar. Precisamos come�ar do micro, um trabalho pequeno, para conscientizar as pessoas", ela afirma.

"Por isso eu fui para a internet, por isso eu tento estar presente. Para que, de alguma forma, eu possa apoiar as causas que est�o em jogo. Todo mundo pode fazer alguma coisa. E eu n�o fa�o isso porque eu sou cantora, eu fa�o isso porque eu sou Z�lia Cristina Duncan Gon�alves Moreira, uma pessoa que ainda acredita neste pa�s. Tudo o que eu fa�o qualquer pessoa pode fazer. � uma luta que n�o precisa ser individual", ela aponta.

Posicionar-se publicamente sobre quest�es pol�ticas ou em prol da comunidade LGBTQIA+ � algo recente na vida de Z�lia Duncan. "Foi acontecendo porque eu me escondia muito por conta da minha orienta��o sexual. N�o queria ser diferente, mas eu sempre fui. Ent�o percorri um longo caminho e tudo come�ou comigo enviando mensagens para as pessoas nas minhas letras", ela conta.

Segundo a artista, isso aconteceu com a m�sica "Bom pra voc�", lan�ada no �lbum "Intimidade" (1996). "Hoje eu vejo como ali havia um desejo de me comunicar com meus iguais. Elas come�avam a me procurar, entrar no meu camarim, e isso mudou a minha vida. Se eu estou dizendo isso, eu tenho que ser isso. E foi a partir da� que eu consegui me assumir como mulher l�sbica", comenta.

Recentemente, a cantora encarou a fun��o de atriz no curta-metragem "Uma paci�ncia selvagem me trouxe at� aqui", da diretora e roteirista �rica Sarmet, no qual d� vida a uma motoqueira solit�ria que se envolve com um grupo de jovens mulheres. A produ��o foi selecionada para o Festival de Sundance deste ano de 2022.

"Participei desse curta, que tem no elenco meninas mais novas. E foi extremamente desafiador para mim. Ao longo de toda a minha vida, eu sempre declarei os meus posicionamentos nas minhas atitudes. Nunca disse que n�o tinha orgulho de ser como sou. Mas lidar com isso publicamente � algo que eu venho fazendo de uns cinco, seis anos para c�, quando comecei a entender um monte de coisas", diz.
 
capa do livro 'BENDITAS COISAS QUE EU NÃO SEI - MÚSICAS, MEMÓRIAS, NOSTALGIAS FELIZES'
(foto: Editora Agir/Divulga��o)
"BENDITAS COISAS QUE EU N�O SEI - M�SICAS, MEM�RIAS, NOSTALGIAS FELIZES"
• Z�lia Duncan
• Editora Agir (240 p�gs.)
• R$ 69,90
• Lan�amento nesta quarta-feira (8/6), �s 19h, no projeto Sempre um Papo. Audit�rio da Cemig (Av. Barbacena, 1.200, Santo Agostinho) Entrada franca.


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