
Ao longo dos �ltimos 10 anos, BH tem se firmado como um polo nacional do acordeom. Entre 2013 e 2018, a cidade sediou um festival internacional dedicado ao instrumento, idealizado e capitaneado por C�lio Balona.
Agora, numa esp�cie de passagem de bast�o, estreia, nesta sexta-feira (24/6), o Sotaques da Sanfona Brasileira, que at� o pr�ximo domingo promove uma s�rie de shows gratuitos na Pra�a Duque de Caxias, em Santa Tereza.
Agora, numa esp�cie de passagem de bast�o, estreia, nesta sexta-feira (24/6), o Sotaques da Sanfona Brasileira, que at� o pr�ximo domingo promove uma s�rie de shows gratuitos na Pra�a Duque de Caxias, em Santa Tereza.
Acordeom, sanfona ou, ainda, gaita de fole, como � chamado no Sul do pa�s, o instrumento comporta diferentes nomes e tamb�m formas de express�o. Idealizado pela produtora Giselle Goldoni Tiso, o festival tem curadoria do paulista Toninho Ferragutti, que convidou m�sicos de diferentes estados.
V�o se apresentar o sergipano Mestrinho, o pernambucano Beto Hortis, a baiana L�via Mattos, os ga�chos Renato Borghetti e Beb� Kramer, os cearenses Nonato Lima e Adelson Viana, Marcelus Anderson, do Mato Grosso do Sul, os mineiros C�lio Balona e Rafael Martini, Gabriel Levy e Trio Mana Flor, de S�o Paulo, al�m do pr�prio Ferragutti.
O curador acredita que a sanfona vem, paulatinamente, rompendo essa barreira “regional” e se consolidando como um instrumento essencial nos mais diversos g�neros. “Ela ainda � vista como instrumento regional, porque � l� que ela reside musicalmente na maioria das vezes, mas ela vai se urbanizando, participando das v�rias vertentes, entrando para a academia, na mesma medida em que o pa�s vai se interessando por sua m�sica e costumes”, afirma.
ESCOLAS
Ferragutti diz que tomou como crit�rios para a escolha dos m�sicos participantes a singularidade e a diversidade. Ele considera que dessa forma pode contemplar os mais variados g�neros, desde o forr�, representado na programa��o pelo Trio Mana Flor, at� a m�sica do Leste Europeu, que Gabriel Levy explora, passando pelos ritmos pantaneiros, como o chamam�, por onde Marcelus Anderson transita.

“S�o escolas que v�o se fazendo presentes e marcando seu lugar. A gente associa a sanfona a determinados g�neros musicais, o que n�o � ruim, mas � importante ver o qu�o vers�til ela �. Trata-se de um instrumento como outro qualquer. Procurei real�ar essa caracter�stica com essa escala��o de artistas”, diz.
Na opini�o do m�sico, a associa��o que se faz da sanfona com determinados ritmos regionais se deve ao fato de ela ser capaz de fazer uma fotografia musical do local onde � tocada, j� que, durante muitos anos, a transmiss�o de conhecimento se deu no �mbito da cultura popular. “Quando voc� ouve o Marcelus tocar, por exemplo, parece que voc� � transportado para a regi�o pantaneira. A escola nordestina tamb�m � muito forte e provoca essa identifica��o.”
Mas o acordeom que se toca em S�o Paulo, no Rio ou em BH tamb�m tem um sotaque regional? Ferragutti acredita que s�o linguagens mais cosmopolitas as que se praticam em grandes centros urbanos, porque recebem influ�ncia de diversas partes n�o s� do pa�s, mas do mundo. “S�o ambientes em que voc� tem um pouco mais de liberdade para experimentar outras formas de atua��o com a sanfona”, destaca.
Ele pr�prio vai se apresentar acompanhado por um quinteto de cordas, de modo que a sanfona se insere no universo da m�sica de c�mara. O repert�rio que ser� apresentado em seu show se baseia no �lbum “De sol a sol”, lan�ado no ano passado, e que contou com essa mesma forma��o de baixo, dois violinos, violoncelo e viola em di�logo com a sanfona.
Para Ferragutti, a sanfona “vive um momento muito bom, com muita gente aprendendo, porque abriu-se esse espa�o na academia. Ao mesmo tempo, as pessoas se aproximam dela por meio de tutoriais na internet. Acredito, inclusive, que a sanfona aponta para uma discuss�o acerca do modelo de ensino de m�sica”, diz.
MODA
Para C�lio Balona, o instrumento teve sua �poca de ouro em meados do s�culo passado, quando, conforme aponta, praticamente todas as casas tinham pelo menos uma pessoa que sabia tocar. Ele credita essa popularidade de outrora a nomes como Luiz Gonzaga e Sivuca. Era o instrumento da moda at� perder esse posto para o viol�o, a partir do advento da bossa nova, segundo o m�sico.

“Antigamente a gente tinha aqui as escolas do M�rio Mascarenhas, que era paulista e influenciou praticamente uma gera��o inteira. Marcou �poca n�o s� em Minas, mas em todo o Brasil, com o m�todo que ele criou”, diz, lembrando que, depois de um per�odo relegada a um segundo plano no ambiente da m�sica brasileira, a sanfona voltou a conquistar espa�o.
Balona avalia que hoje � um instrumento que voltou a ter papel central, marcando presen�a em v�rios ambientes, das rodas de choro �s salas de concerto. Ele observa que o cen�rio da sanfona em Minas Gerais hoje � muito rico, com nomes como Marx Marreiro, L�o Magalh�es (do grupo Chama Chuva), Lucas Viotti, Julian Tarrag� e Rafael Martini.
Com show intitulado “A tradi��o da sanfona mineira”, Balona adianta que, al�m de m�sicas autorais e de compositores como Milton Nascimento e Jo�o Bosco, vai tocar temas de dom�nio p�blico que remetem �s manifesta��es folcl�ricas do estado. “Vou fazer como os sanfoneiros da ro�a fazem, com ‘Peixinhos do mar’ e outras coisas nessa linha. Vai ter um pot-pourri com esses temas”, diz.
Ele observa que a sanfona chegou ao Brasil por meio de italianos e alem�es, principalmente, o que reverbera mais notadamente nos ritmos do Sul do pa�s. Mas uma pesquisa informal o levou a considerar uma influ�ncia portuguesa marcante na sonoridade do instrumento em Minas Gerais.
“Minha av� era portuguesa, e era comum ela me pedir para tocar o vira (g�nero musical e coreogr�fico considerado uma das mais antigas dan�as portuguesas), que tem muito a ver com o nosso catop�, com a m�sica folcl�rica no interior de Minas, tocada pelos ternos, pelas marujadas; � uma divis�o r�tmica muito parecida. Acredito que, no nosso caso, a m�sica folcl�rica portuguesa teve muita influ�ncia, assim como a africana em termos de ritmo, e isso naturalmente est� presente no sotaque da sanfona que se toca aqui.”
Al�m das apresenta��es na Pra�a Duque de Caxias, o festival vai contar com atividades complementares. Hoje, ocorrem os workshops ‘Sotaques da sanfona do mundo’, com Gabriel Levy, e ‘Estudo di�rio para acordeonistas’, com Toninho Ferragutti, no Conservat�rio da UFMG. Amanh�, C�lio Balona, Nonato Lima e Beb� Kramer ministram a palestra ‘O sotaque e a regionalidade da sanfona no Brasil’, tamb�m no Conservat�rio da UFMG.
Um pocket-show, batizado “No degrau da sanfona”, vai colocar em di�logo os instrumentos de Ferragutti e de Marcelus Anderson amanh�, �s 11h, nas escadarias do Memorial Minas Gerais Vale.
SOTAQUES DA SANFONA BRASILEIRA
Shows e workshops, a partir das 18h, desta sexta (24/6) a domingo (26/6), na Pra�a Duque de Caxias, em Santa Tereza. Entrada franca. Hoje, apresentam-se Gabriel Levy (SP), Trio Mana Flor (SP), C�lio Balona (MG) e Renato Borghetti (RS). No s�bado, L�via Mattos (BA), Adelson Viana (CE), Marcelus Anderson (MS), Beto Hortis (PE) e Toninho Ferragutti e Quinteto de Cordas (SP). No domingo, Beb� Kramer (RS), Rafael Martini (MG), Nonato Lima (CE) e Mestrinho (SE).