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Estado de Minas M�SICA

Arnaldo Cohen servir� um "champagne borbulhante musical" ao p�blico de BH

Ele ser� o solista no "Concerto para piano n� 1 em sol menor, op. 25", de Mendelssohn, em apresenta��o na Sala Minas Gerais, nesta quinta (14/7) e sexta (15/7)


13/07/2022 04:00 - atualizado 12/07/2022 19:21

Arnaldo Cohen, de preto, de pé, ao lado do piano, com músicos da Filarmônica de Minas Gerais atrás de si, no palco da Sala Minas Gerais
Hoje radicado nos Estados Unidos, o pianista brasileiro Arnaldo Cohen afirma que a capacidade de dizer n�o � o seu nirvana (foto: Rafael Motta/Divulga��o)

Arnaldo Cohen tinha 14 anos quando se apresentou pela primeira vez ao lado de uma orquestra. Lembra-se muito bem da noite ocorrida 60 anos atr�s. Vencedor do Concerto para Juventude, no Rio de Janeiro, iria executar com a Sinf�nica Brasileira o “Concerto para piano nº 1 em sol menor, op. 25”, de Mendelssohn.

“O �ltimo movimento � muito dif�cil. N�o era rezar, mas eu pedia a Deus, aos c�us, para me ajudar a terminar tudo sem eu parar, de tanta dor que sentia no bra�o”, conta ele, assumindo que, na �poca, n�o tinha t�cnica nenhuma. Nesta quinta (14/7) e sexta (15/7), Cohen retorna � Sala Minas Gerais para, ao lado da Orquestra Filarm�nica, executar a pe�a, composta pelo alem�o em 1831.

Al�m de Mendelssohn, o pianista, sob a reg�ncia de Fabio Mechetti, vai tocar “Raps�dia sobre um tema de Paganini, op. 43” (1934), de Rachmaninov. As duas noites tamb�m ter�o no programa a estreia da obra “Sel�h”, de Igor Maia, vencedor do Festival Tinta Fresca de 2019, e a “Raps�dia espanhola”, de Ravel (1895/1907, revis�o 1908).

Para Cohen, o concerto de Mendelssohn � um “champanhe borbulhante musical”. “� um dos primeiros concertos rom�nticos, e Mendelssohn, que na �poca tinha 20 anos, tinha uma capacidade de improvisa��o extraordin�ria. � uma pe�a de um vigor e de uma alegria muito grandes.”

Melancolia 

J� as varia��es sobre o tema de Paganini foram “a coroa��o” do compositor russo, diz Cohen. “Rachmaninov foi descrito por muitos de seus conterr�neos como um homem de 1m90 de melancolia russa. Ele mesmo dizia que tinha receio de n�o ter usado a pr�pria exist�ncia corretamente. Era de uma inseguran�a brutal.”



“O primeiro concerto foi uma cat�strofe, detest�vel. Come�ou a fazer psican�lise e no quarto concerto ainda n�o tinha tido sucesso”, cita. Depois de perder tudo na Revolu��o Russa de 1917, Rachmaninov emigrou para os Estados Unidos. 

“Escreveu nos EUA a ‘Raps�dia’, que, como forma e qualidade de composi��o, acho perfeita. Ele pretendia que a trilha fosse a parte musical de um bal� cujo tema seria o pr�prio Paganini. Corria a lenda de que Paganini teria feito um acerto com o diabo, que, em compensa��o, teria dado a ele o dom de tocar violino como ningu�m. Rachmaninov fez tudo em torno dessa ideia: s�o 24 varia��es de um camarada que vendeu a alma ao diabo.”

Cohen conta essa hist�ria com gra�a, pois ela tamb�m tem rela��o com sua pr�pria trajet�ria, j� que se relaciona com seus dois instrumentos, o piano e o violino. Como pianista, admite, � um “cavalo azar�o”. Todo pianista de proje��o internacional come�a a tocar piano na inf�ncia. Ele, n�o. 

"O grande piano � aquele que n�o soa como um piano, e esse � o grande paradoxo. Para o violino, voc� toca com o som muito perto do seu ouvido, ent�o a capacidade expressiva � maior. Para mim, ele serviu como inspira��o para eu tentar o mesmo tipo de expressividade com um instrumento de percuss�o"

Arnaldo Cohen, pianista

Violino

Carioca, filho de imigrantes judeus – o pai, nascido na Palestina, no que � hoje o Estado de Israel, chegou ao Brasil aos 11 anos, e a m�e, vinda para o pa�s na primeira inf�ncia, nasceu na Ucr�nia –, ele come�ou a ter aulas de m�sica quando pequeno. Come�ou no violino, pois o pai achava que piano era instrumento para mulher – ent�o este coube � sua irm� mais velha.

Por causa da irm�, Cohen passou tamb�m a se dedicar, al�m do violino, ao piano, “mas como um amador”. “Eu n�o sabia estudar, eram duas horas por semana quando tinham que ser oito por dia.” Ele diz que os professores das bancas examinadoras deveriam “ser surdos o suficiente” para deix�-lo passar de ano.

Mas Cohen continuou tocando os dois instrumentos, inclusive quando entrou para o curso de engenharia civil. “Certamente, se tivesse me formado, teria comprado um bom apartamento e um piano, para tocar todo contra�do.” Foi morar sozinho e, para se sustentar, entrou para a orquestra do Theatro Municipal.

Ficava na �ltima fila dos violinistas. “Como eu achava que tocava mal, tocava bem baixinho. Por causa da sonoridade da orquestra, eu praticamente n�o me ouvia, ent�o achava uma maravilha. Isso me lembra o tempo em que n�o sabia cozinhar. Tomava dois copos de vinho e preparava comida pronta de micro-ondas. Achava �timo, mas n�o era a comida, eram os dois copos de vinho.”

Na �poca, segundo Cohen diz, ele achava essa temporada como violonista desnecess�ria. “Deveria estar estudando piano e n�o tocando com orquestra.” Mas o fazia porque precisava do sal�rio para se sustentar – posteriormente, abandonou a engenharia no �ltimo semestre. 

Amigo

Hoje, olhando para tr�s, v� que o violino foi essencial para sua forma��o como pianista. “Ele foi meu melhor amigo. Por causa dele, conheci um repert�rio completamente diferente, tive experi�ncia junto a colegas e regentes. N�o tem a menor import�ncia o fato de tocar muito bem ou n�o.”

E o violino, na opini�o de Cohen, tem muito mais hist�ria do que o piano. “O primeiro grande violino, um Stradivarius, � de 1709. Mozart nasceu em 1756. Na �poca, o que havia era um pianinho. Ent�o, as express�es musicais, sobretudo dos s�culos 18 e 19, v�m de outros instrumentos que n�o o piano.”

Na opini�o dele, tocar piano muito bem “� um ato de ilusionismo”. “Voc� tem que dar impress�o ao ouvinte de que ele est� ouvindo um instrumento potente, e n�o de percuss�o. O grande piano � aquele que n�o soa como um piano, e esse � o grande paradoxo. Para o violino, voc� toca com o som muito perto do seu ouvido, ent�o a capacidade expressiva � maior. Para mim, ele serviu como inspira��o para eu tentar o mesmo tipo de expressividade com um instrumento de percuss�o.”

A grande virada na carreira de Cohen se deu em 1972, quando ele, aos 24 anos, ganhou o Concurso Internacional de Piano Ferruccio Busoni, na It�lia. “A L�cia Branco, que foi tamb�m professora do Nelson Freire, do Arthur Moreira Lima, sempre respondia a mesma coisa quando um aluno lhe perguntava se podia ser pianista. Ela dizia que claro, mas que tem o pianista internacional, o nacional, o do estado, o do munic�pio, o do bairro, o do quarteir�o, o da rua e o do edif�cio. Dizia que o aluno poderia ser um pianista, mas n�o saberia qual deles. Entre os 20 e os 24 anos, eu diria que era o pianista do bairro”, diz Cohen.

As portas se abriram para Cohen a partir de 1972 e ele, ao longo das d�cadas seguintes, atingiu o topo da escala internacional de solistas. A partir dos anos 1980, foi viver na Europa e, em 2004, partiu para os EUA, quando se tornou professor da Universidade de Indiana – obteve, em 2019, o t�tulo de distinguished professor, o mais alto na hierarquia acad�mica daquele pa�s. 

Ao longo da carreira, tocou com as grandes orquestras do mundo, com grupos de c�mara, em recitais solo – � hoje o maior pianista brasileiro em atividade. Tinha em m�dia 80 concertos por ano ao redor do planeta. A� veio a pandemia e mudou tudo. 

A curta temporada no Brasil vai contar com os dois concertos com a Filarm�nica, com quem n�o tocava desde 2019 – astro das programa��es de 2020 e 2021, Cohen n�o p�de vir por causa da crise sanit�ria – e uma apresenta��o beneficente em Curitiba.

Objetivo

“Na realidade, ainda n�o retomei a minha agenda. Estou come�ando agora. A pandemia me fez repensar no objetivo das coisas, nas minhas necessidades. A m�sica, para mim, � um pouco como o ar. Preciso dela. Mas cheguei � conclus�o de que n�o quero mais aceitar todos os concertos. Voc� vai para as cidades e mal tem tempo para ir ao museu, s� conhece o percurso do aeroporto, hotel, sala de concerto. Tocava um repert�rio muito grande e resolvi diminuir, pois n�o tenho voca��o para ser super-homem.”

Ainda falando sobre a crise sanit�ria, ele diz que a pandemia foi horrorosa. “Perdi minha m�e e n�o pude vir para o enterro. S�o muitas trag�dias para muita gente. O que sobrou disso foi um repensar sobre a vida, fazer um redimensionamento.” Ele voltou aos palcos no final de 2021 e, desde ent�o, acredita ter feito n�o mais do que uma d�zia de concertos.

“Querer, hoje, abra�ar o mundo com as pernas como se tivesse 20 anos s� vai causar frustra��o. Tenho que fazer as coisas dentro do meu ritmo, do meu gosto. Pessoalmente, o conceito de liberdade para um m�sico � somente um: a possibilidade de dizer n�o. N�o se pode dizer n�o para tudo, mas se voc� puder dizer n�o o m�ximo poss�vel, numa boa, com convic��o, para mim � um nirvana, sobretudo para um artista.”

Diante de tanta hist�ria – e tanta m�sica – h� alguma pe�a que Cohen ainda n�o tocou (e deseje faz�-lo)? “O segundo concerto de Brahms � um concerto que me preparei v�rias vezes para tocar, mas n�o me senti, n�o vou dizer que preparado, mas n�o me senti � vontade para tocar. J� toquei coisas t�o dif�ceis quanto, e n�o � quest�o de dificuldade, mas s�o aspectos mais emocionais. A minha dificuldade, eventualmente, n�o teria sido percebida pelo p�blico. Mas acho que se voc� n�o tiver convic��o do que faz, n�o pode convencer ningu�m de coisa nenhuma”, afirma.

ORQUESTRA FILARM�NICA DE MINAS GERAIS
Reg�ncia de Fabio Mechetti, com Arnaldo Cohen como solista convidado. Nesta quinta (14/7) e sexta (15/7), �s 20h30, na Sala Minas Gerais, Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto. Ingressos: R$ 50 a R$ 167 (valores de entrada inteira). � venda no local e no site da Filarm�nica


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