
Frutas, legumes, m�sica, verduras, artes visuais, performance – tudo isso se mistura na ocupa��o do Mercado Novo proposta pelas artistas Carolina Botura, Chris Tigra, Fernanda Branco Polse, Julia Baumfeld, Maria Moreira e Sara N�o Tem Nome.
Elas est�o por tr�s da Casa P��a, espa�o de experimenta��o e resid�ncia art�stica aberto temporariamente no t�rreo do hist�rico centro comercial, na lateral da feira livre, onde est�o sendo desenvolvidas diversas atividades, at� o pr�ximo dia 28.
A ocupa��o teve in�cio na �ltima segunda-feira (18/7), mas com uma programa��o fechada entre as residentes. A abertura para o p�blico em geral ocorre nesta quinta-feira (21/7), com uma “Manifesta” – evento festivo de apresenta��o do espa�o, das artistas e das duas convidadas de outras regi�es: as cantoras e compositoras Jadsa, da Bahia, e S�skia, do Rio Grande do Sul.
Idealizada pelas artistas residentes do projeto, que conta com patroc�nio da Natura Musical, por meio da Lei Estadual de Incentivo � Cultura, a Casa P��a � um espa�o para o risco art�stico. Sua origem remonta a 2019, quando elas se reuniram pela primeira vez para uma resid�ncia de uma semana na galeria de arte Mama/Cadela.
Sara N�o Tem Nome conta que a resid�ncia partiu do desejo de Julia Baumfeld de promover um encontro entre essas mulheres artistas. “Ela foi conversando com cada uma de n�s, todo mundo topou e a gente fez aquela primeira edi��o. Foi um momento a partir do qual a gente se conectou muito, porque foi um encontro muito frut�fero, muito legal, e ali j� come�amos a conversar sobre fazer uma segunda edi��o”, conta.
"A proposta � de encontro, troca e divers�o. Essa ocupa��o tem uma dimens�o pol�tica, mas num lugar de fluxo, de arte; n�o � algo panflet�rio, mas sim uma proposta criativa. Queremos ter n�o s� a palavra e a ideia, mas tamb�m o corpo e a intera��o. Acreditamos que seja poss�vel fazer algo pol�tico, art�stico e tamb�m divertido, porque estamos num momento de muita tens�o, pr�ximos de uma elei��o importante, ent�o esse espa�o � necess�rio"
Sara N�o Tem Nome, artista
�lbum visual
Sara diz que a iniciativa nasceu independente, pequena, e que as artistas tiveram a vontade de fazer algo maior, mais estruturado, viabilizado por meio de edital, que pudesse alcan�ar um p�blico mais amplo. Al�m da programa��o prevista, a resid�ncia Casa P��a no Mercado Novo vai gerar um �lbum visual, com o registro de tudo o que for produzido por l� ao longo desses dias, segundo a artista.
Depois da “Manifesta” de abertura para o p�blico, amanh�, a Casa P��a promove, em parceria com o Festival Son�ncias, na sexta-feira, um bate-papo com S�skia e Jadsa, sobre o tema “M�sica, experimento, arte, teia e express�o”. Na sequ�ncia, o p�blico tamb�m poder� conferir um pocket show de Jadsa. No domingo (24/7), a partir das 14h, o espa�o abriga o ateli� Desenho S�nico, que convida as pessoas presentes a participarem dos processos de cria��o.
“Essa vai ser uma atividade aberta. A gente deu esse nome porque a ideia � fazer a capta��o sonora dos desenhos, que podem ser feitos com l�pis, carv�o, com o pr�prio corpo ou at� com legumes e verduras do Mercado. Vamos usar microfones de contato. Al�m da intera��o com o p�blico, essa proposta passa pela ideia do desenho que tem som, que n�o � s� uma express�o visual”, explica Sara.
“Rolezim” no Mercado
No in�cio da pr�xima semana, a Casa P��a mant�m atividades restritas entre as residentes e volta a receber o p�blico no dia 27, quarta-feira, quando ser� realizado um “Rolezim” pelo Mercado Central. “O ‘Rolezim’ � essa express�o que vem da periferia, dos moleques ocupando lugares onde n�o costumam ir, como shopping centers. Nossa proposta � fazer isso no Mercado”, diz.
Ela observa que o pr�dio, atualmente, est� dividido em dois universos distintos – o terceiro e quarto pisos, que ao longo dos �ltimos anos foram requalificados e hoje s�o ocupados por lojas e bares descolados, uma esp�cie de point da moda; e o t�rreo, que mant�m as caracter�sticas hist�ricas de com�rcio popular, voltado para um p�blico distinto do que frequenta os andares superiores.
A artista aponta que essa configura��o foi um dos motivos pelos quais o Mercado Novo foi o espa�o escolhido para abrigar esta segunda edi��o da Casa P��a. “A gente queria um lugar que j� tivesse uma frequ�ncia de p�blico e, ao mesmo tempo, fosse um ponto hist�rico de Belo Horizonte. A gente se interessou pelo t�rreo, a parte que tem a feira, com uma din�mica pr�pria, diferente do espa�o requalificado dos pisos superiores”, diz.
Interesse de ocupa��o
Ela destaca que o t�rreo � uma esp�cie de subsolo que n�o despertou um interesse de ocupa��o como se viu no terceiro e quarto andares. “Quisemos chamar a aten��o para esse espa�o, que � onde chegam as verduras, os legumes, com uma movimenta��o intensa de madrugada, por conta do fluxo de entrega e distribui��o desses hortifr�tis, que v�o para os restaurantes, bares e lanchonetes da cidade”, ressalta.
O pr�dio da d�cada de 60 � feito de cobog�s de cer�mica, o que proporciona ventila��o e luz natural. As artistas consideram a territorialidade do espa�o uma influ�ncia pulsante, por conta da profus�o de estabelecimentos culturais e gastron�micos que possuem um valor afetivo para a cidade e por causa da circula��o social diversa.
Sobre a presen�a de Jadsa e S�skia, Sara diz que elas fazem parte dessa imers�o art�stica, criando, al�m de participar do bate-papo e, no caso da primeira, apresentar o pocket show. “Quando a gente fez o projeto, uma das propostas era ter artistas convidadas participando. A Jadsa, a gente j� conhecia o trabalho dela, ent�o chamamos para criar junto, e nessa o festival Son�ncias entrou como parceiro”, diz.
Ela diz que foi tamb�m por meio dessa parceria que o coletivo chegou a S�skia. “A ideia � que elas fiquem mais dias aqui com a gente, propondo, experimentando, conversando sobre esse tr�nsito entre m�sica, artes visuais, performance. Depois vamos tamb�m nos apresentar conjuntamente.”
Quase um est�dio
Com rela��o ao �lbum visual que a resid�ncia vai gerar, Sara aponta que foi montada uma estrutura que � “quase um est�dio” na loja 10 do Mercado, alugada para abrir a Casa P��a. “A gente tem l� os instrumentos e o equipamento todo necess�rio. Vamos registrando, filmando, fotografando todas as atividades desenvolvidas ao longo desses dias para, depois que acabar, a gente entrar num processo de mixagem e masteriza��o do material para finalizar esse �lbum visual”, explica.
Ela diz que a loja em si � bem pequena, mas que o espa�o externo, na lateral da feira livre, tamb�m ser� usado. “Do lado de fora, a gente colocou umas mesas, para criar novos espa�os. � uma �rea aberta, ampla, que d� acesso ao estacionamento do Mercado”, explica.
Sobre as “Manifestas” de abertura, amanh�, e de encerramento, no pr�ximo dia 28, a artista afirma que elas se prop�em a ser um manifesto festivo. Trata-se, segundo Sara N�o Tem Nome, de um ambiente em que se possam desenvolver ideias e expressar desejos que tamb�m sirvam de alimento para a resid�ncia art�stica.
“A proposta � de encontro, troca e divers�o. Essa ocupa��o tem uma dimens�o pol�tica, mas num lugar de fluxo, de arte; n�o � algo panflet�rio, mas sim uma proposta criativa. Queremos ter n�o s� a palavra e a ideia, mas tamb�m o corpo e a intera��o. Acreditamos que seja poss�vel fazer algo pol�tico, art�stico e tamb�m divertido, porque estamos num momento de muita tens�o, pr�ximos de uma elei��o importante, ent�o esse espa�o � necess�rio”, salienta.
CASA P��A
Aberta ao p�blico no Mercado Novo (Rua Rio Grande do Sul, 499, Centro), na quinta (21/7), “Manifesta” de abertura, com as residentes da Casa P��a + convidadas Jadsa e S�skia, �s 19h, com entrada franca. Na sexta (22/7), �s 19h, Casa Po�a conversa com Jadsa e S�skia Pocket show de Jadsa. No domingo (24/7), �s 14h, Ateli� Aberto - Desenho S�nico. No dia 27/7, �s 17h: Rolezim P��a no Mercado Novo. No dia 28/7, �s 19h: “Manifesta” de encerramento exposi��o aberta.
QUEM � QUEM
Conhe�a as moradoras da Casa P��a
Carolina Botura
Graduada em pintura e escultura pela Escola Guignard, da UEMG, � artista visual, performer, poeta e mestre em Reiki. Participou de resid�ncias e exposi��es individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Publicou os livros de poemas “Parque” e “AguaPedra”, ambos pela editora Curiango. Vive e trabalha em Belo Horizonte.
Chris Triga
Chris Tigra trabalha com linguagens diversas, tratando a arte como parte de uma cultura de ativismo em busca de transforma��o social. Artista visual, musicista e comunicadora social, � p�s-graduada em artes e contemporaneidade pela Escola Guignard. Nascida em S�o Paulo, vive e trabalha em Belo Horizonte.
Fernanda Branco Polse
Fernanda Branco Polse � cantora, compositora e artista visual, graduada em artes pl�sticas pela Escola Guignard e em jornalismo pela PUC-Minas. Como cantora, j� se apresentou em diversos festivais e casas de show de BH, e como performer circulou por cidades como Los Angeles, Amsterd�, Montreal e Bogot�, entre outras. Lan�ado em 2016, “Bicho Branco Polse” � seu �lbum de estreia. Natural de Londrina, viveu em S�o Paulo e h� mais de 10 anos reside em BH.
Julia Baumfeld
Julia Baumfeld transita entre as linguagens das artes visuais, do cinema e da m�sica. Natural de Belo Horizonte, � graduada em artes pl�sticas pela Escola Guignard. J� realizou diversos curtas-metragens, dentre eles o document�rio “Marco”, lan�ado no ano passado, sobre o m�sico Marco Ant�nio Guimar�es, fundador do Grupo Uakti. Em 2020, lan�ou seu primeiro livro, “Meio dil�vio meio suspiro”, (Fera Mi�da). � uma das fundadoras da banda/projeto audiovisual Tarda, onde atua como compositora e baterista. Neste ano lan�ou seu primeiro �lbum solo, “Turva”.
Maria Moreira
Maria Moreira � artista pl�stica, fot�grafa, performer, pesquisadora sonora e articuladora cultural. Habilitada em xilogravura pela Escola Guignard, foi contemplada por dois anos consecutivos com o Pr�mio Ibema de gravura. Integrou o Coletivo Zona em 2015; idealizou em 2018 a Coletiva Casarelas, programa de resid�ncias multiart�sticas entre mulheres; e tamb�m faz parte do Coletivo P��a desde 2019.
Sara N�o Tem Nome
Sara N�o Tem Nome nasceu em Contagem e vem trilhando sua carreira em diversas �reas, transitando pelas artes visuais, a m�sica e o cinema desde 2014. Em 2015, gravou seu primeiro �lbum, “�mega III”. Em 2017, foi uma das criadoras do projeto audiovisual Tarda e recebeu o pr�mio BDMG de curta de baixo or�amento com “Buraco de afundar”. Bacharel em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG., fez sua primeira turn� internacional, com shows em Portugal e na Finl�ndia, em 2019; realizou sua primeira exposi��o individual, “Situa��es”, no Memorial Minas Gerais Vale; e participou da Resid�ncia P��a. Atualmente trabalha no �lbum “A situa��o”.