O Festival Internacional de Quadrinhos, cuja �ltima edi��o ocorreu em 2018, na Serraria Souza Pinto, se transfere para o Minascentro, recentemente reaberto (foto: Ricardo Laf/divulga��o)
O Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ-BH) chega � sua 11ª edi��o, que tem in�cio nesta quarta-feira (3/8) e segue at� o pr�ximo domingo (7/8), com uma vasta programa��o, totalmente gratuita, concentrada no Minascentro. O evento � uma realiza��o da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Funda��o Municipal de Cultura, em parceria com o Instituto Luminar.
Com uma hist�ria de duas d�cadas e meia desde a primeira edi��o, em 1997, e quatro anos ap�s a �ltima presencial, em 2018, o FIQ-BH retoma o modelo consagrado sob a tem�tica “Quadrinhos e o mundo do trabalho”, que guiou a montagem da programa��o. Ela inclui oficinas, exposi��es, sess�es de filmes, mesas de artistas, feira de quadrinhos, debates, sess�es de aut�grafos, duelos de HQs, rodada de neg�cios, entre outras atividades.
Os n�meros d�o a dimens�o do evento: s�o 30 horas de atividades no audit�rio, 25 mesas de debates, dois convidados internacionais, 26 convidados nacionais, 29 convidados locais, 189 mesas de artistas, cerca de 300 artistas na feira, 13 editoras na rodada de neg�cios, 138 artistas inscritos para a rodada, 30 horas de oficinas b�sicas, quatro oficinas de forma��o, 10 sess�es de filmes, duas exposi��es, cerca de 100 escolas inscritas para visita e 11 estandes.
Respons�vel pela curadoria, ao lado da jornalista e quadrinista baiana Amma, o mineiro Lucas Ed, que � psic�logo e pesquisador da representa��o social do feminino em HQs, diz que a escolha do tema desta edi��o reflete o cen�rio da pandemia. “Eu e Amma est�vamos conversando sobre como o pessoal dos quadrinhos foi afetado, porque sem a possibilidade de realiza��o de eventos, a divulga��o e a circula��o do que era produzido ficou comprometida”, diz.
Obras que repercutiram
Ele aponta, ainda, que dois trabalhos alcan�aram grande repercuss�o no per�odo pand�mico: a HQ “Confinada”, de Leandro Assis e Triscila Oliveira, sobre uma diarista que fica em isolamento social com sua patroa; e a s�rie de entrevistas com trabalhadores de diversas �reas feita pelo ga�cho Pablito Aguar e publicada em quadrinhos em seu site. “Observando esse cen�rio, a gente pensou: tem um neg�cio a�, vamos discutir isso.”
As quest�es relativas � tem�tica se refletem nas mesas-redondas, debates e conversas com convidados. A proposta � discorrer sobre os trabalhos envolvidos na produ��o de uma hist�ria em quadrinhos (pesquisa, planejamento, entrevistas, execu��o, divulga��o); as atividades em torno da produ��o, como o trabalho de tradutores; os quadrinhos que falam sobre trabalhadoras e trabalhadores e suas atividades; e o que representa ter essa arte como meio de vida.
“As atividades que comp�em a programa��o orbitam esse eixo principal, que prop�e que se fale do trabalho por meio dos quadrinhos e do trabalho que envolve produzir uma HQ”, diz Lucas Ed. Ele destaca que outras diretrizes importantes foram levadas em considera��o pela curadoria.
O artista paulistano Marcelo D%u2019Salete, autor de "Angola Janga", � o homenageado desta edi��o, com mostra pr�pria (foto: Rafael Roncato/divulga��o)
Produ��o atual
“Buscamos contemplar a diversidade e a contemporaneidade, focando em quem est� produzindo agora e quem est� produzindo das formas mais variadas poss�veis. Quisemos dosar esses universos, de uma produ��o atual, arejada, com o tema central, sem nos esquecer, naturalmente, da hist�ria dessa linguagem, com tudo o que j� foi feito”, aponta.
A diversidade de que Lucas Ed fala se aplica n�o s� ao que � produzido, mas tamb�m a quem produz. A secret�ria municipal de cultura, Eliane Parreiras, destaca a representatividade do grupo de artistas convidados como um dos pontos altos desta edi��o. “A abordagem dos temas contempor�neos, a quest�o racial, a equidade de g�nero, o processo de se viver em sociedade, o di�logo dos quadrinhos com outras linguagens, tudo isso tem uma presen�a forte nesta edi��o do FIQ-BH”, diz.
N�o por acaso, o artista homenageado desta edi��o � o quadrinista, ilustrador e professor paulistano Marcelo D’Salete. Suas obras mais aclamadas tratam da hist�ria da resist�ncia � escravid�o no Brasil pela �tica dos povos negros: “Cumbe” (2014), que lhe rendeu um dos mais importantes pr�mios de quadrinhos do mundo – o Eisner de melhor edi��o americana de material estrangeiro, em 2018 –; e “Angola Janga” (2017), que, no ano de seu lan�amento, conquistou o Pr�mio Jabuti na categoria Hist�rias em Quadrinhos.
Zumbi dos Palmares
“Angola Janga”, seu quadrinho mais recente, � fruto de uma pesquisa de 10 anos sobre Zumbi dos Palmares, Ganga Zumba e o famoso quilombo. Al�m dos pr�mios que conquistou, “Angola Janga” j� � considerado pela cr�tica especializada como um dos mais importantes quadrinhos feitos e publicados no pa�s.
“Multipremiado no Brasil e no exterior, D’Salete sintetiza muito bem o esp�rito desta edi��o. ‘Angola Janga’, sua principal obra at� agora, � o resultado imperd�vel de anos de suor e pesquisa. E mais especial ainda � poder homenagear, pela primeira vez, um autor negro de quadrinhos”, celebra Lucas Ed.
O homenageado estar� presente no FIQ-BH 2022 com a mesa “Marcelo D’Salete entre far�is, favelas e quilombos”. Uma exposi��o com trabalhos e destaques de sua carreira tamb�m comp�e a programa��o do festival. Na mostra “Malungo D’Salete: entre far�is, favelas e quilombos”, o p�blico ter� a oportunidade de mergulhar no trabalho do quadrinista por meio de reprodu��es de p�ginas, v�deos, quadros, texturas, pinceladas, s�mbolos e palavras.
Equidade in�dita
O curador ressalta que o convite feito aos artistas participantes desta edi��o foi orientado, antes de mais nada, pela qualidade de seus trabalhos. Eliane Parreiras observa, por exemplo, uma equidade in�dita entre homens e mulheres na programa��o. “Temos, de maneira muito org�nica, essa presen�a feminina, o que � uma novidade, um marco do festival”, afirma.
Segundo Lucas Ed, ter equidade era uma quest�o importante para a curadoria. “Mas a gente n�o colocou a representatividade a qualquer custo, acima de tudo, seja no que diz respeito �s mulheres, aos negros ou � popula��o LGBTQIA+. Essas pessoas est�o presentes porque est�o produzindo. Pegamos trabalhos de ponta, independentemente de quem � o autor. O foco foi a qualidade. Foi mais f�cil chegar a essa equidade de g�nero, por exemplo, porque essas mulheres est�o a�, muito evidentes, com trabalhos incontorn�veis”, diz.
Ele destaca que as mesas-redondas, debates e bate-papos exemplificam bem o que a 11ª edi��o do FIQ-BH prop�e � luz do tema escolhido. Elemento que passa muitas vezes despercebido nas HQs, o roteiro � o ponto central da mesa “No in�cio era a palavra – cria��o e roteiro de quadrinhos”, que re�ne os convidados Carol Rossetti (BH), Ademar Vieira (AM) e Ing Lee (BH), prevista para esta quarta, �s 18h.
Grupo Galp�o
Tamb�m no primeiro dia de evento, �s 19h30, o Grupo Galp�o, que completa 40 anos, brinda o p�blico com a presen�a dos atores Eduardo Moreira, In�s Peixoto e Teuda Bara, na mesa “Quadrinhos na ribalta – os desafios do di�logo entre quadrinhos com teatro”.
A se��o de debates inclui, ainda, encontros para refletir a rela��o dos quadrinhos com o jornalismo, a cr�tica especializada, a internet e as redes sociais, entre outros recortes. Os temas se refletem em mesas como “Webcomics e redes sociais: produzindo para a internet nos dias de hoje”, que vai ocorrer na sexta-feira (5/8), �s 15h, com Benn� Oliveira (PE), Paulo Moreira (PB), Raphael Salimena (MG) e Hel� D’angelo (SP).
No que diz respeito aos lan�amentos, um dos destaques � o livro que comemora, com certa antecipa��o, os 50 anos das tirinhas “A caravela”, de Nilson Azevedo, que estreou sendo publicada no Estado de Minas, em 1975. O livro faz parte de um projeto maior, que re�ne em 128 p�ginas, al�m de “A caravela”, outras publica��es do cartunista, como “Pindorama”, “Situa��o”, “Milagre dos peixes” e “As invas�es portuguesas”. A obra ser� lan�ada na sexta-feira (5/8), �s 17h.
Convidados internacionais
Um dos convidados internacionais, Chlo� Cruchaudet � natural de Lyon, na Fran�a, onde estudou arquitetura e artes gr�ficas, antes de frequentar a escola de anima��o Gobelins. Isso fez com que ela desenvolvesse seu gosto pelo desenho in loco, o que trouxe uma abordagem cinematogr�fica para seu trabalho.
O outro convidado internacional � o tamb�m franc�s Fabien Toulm�, que tem publica��es no Brasil e que s�o sucesso mundo afora. Ele vai participar do bate-papo “Conversa em quadrinhos: as narrativas intimistas”, no s�bado (6/8), �s 15h.
Com uma produ��o inspirada em livros hist�ricos ou autobiografias, Chlo� Cruchaudet vai participar da mesa “Quadrinhos e transm�dia: anima��o e outro registros”, na quinta-feira (4/8), �s 18h, e recebe o p�blico para o bate-papo “Conversa em quadrinhos: fic��o hist�rica”, no s�bado, �s 13h30.
Transversalidade
A 11ª edi��o do FIQ-BH tem como uma de suas caracter�sticas marcantes refor�ar as interse��es da arte sequencial com outras linguagens, de acordo com a secret�ria de Cultura. “Cada edi��o traz tem�ticas que abordam quest�es pr�prias do momento, da contemporaneidade e que mostram o desenvolvimento dessa linguagem ao longo dos anos. Hoje a gente tem muito vis�vel uma transversalidade de linguagens e de est�ticas, com uma influenciando a outra. O transbordamento do quadrinho para o cinema ou o teatro � uma discuss�o que a gente traz este ano”, aponta.
Com efeito, entre as atividades desta edi��o, o FIQ-BH apresenta uma mostra de cinema com obras focadas tanto na tem�tica geral do evento quanto na interse��o dos quadrinhos com o mundo da anima��o. Ser�o seis filmes exibidos no Cine Santa Tereza, gratuitamente, entre eles “Culott�es”, de Mai Nguyen e Charlotte Cambon De La Valette; “Wood & Stock”, de Otto Guerra; e “Um homem est� morto”, de Olivier Cossu.
Al�m da exposi��o que celebra o homenageado do 11º FIQ-BH, as artes visuais tamb�m est�o representadas com a mostra “Gemini”, hist�ria em quadrinhos de Rogi Silva e Cl�mence Bourdaud, que parte do di�logo entre linguagens, artistas e culturas. Ele, brasileiro; e ela, francesa, transportam a HQ para uma instala��o digital e interativa, na qual o p�blico � convidado a fazer uma imers�o na hist�ria e conhecer uma nova perspectiva de narrativa. “Gemini” est� em cartaz na Casa Fiat de Cultura e pode ser vista presencialmente at� o pr�ximo dia 14.
FIQ BH 2022
11ª edi��o do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, desta quarta-feira (3/8) a domingo (7/8), no Minascentro (Rua Guajajaras, 1.022, Centro).Hor�rio: quarta-feira a sexta-feira, das 9h �s 21h; s�bado e domingo, das 10h �s 21h. Programa��o completa dispon�vel no site.
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