
Muitos abra�os para matar as saudades, palavras carinhosas em todos os sentidos, algumas l�grimas iluminando rostos sorridentes. Parecia cena de um filme, mas, desta vez, a diretora de cinema Ad�lia Sampaio estava em um mundo bem real, com personagens que fazem parte da sua vida desde tempos inesquec�veis.
Na manh� deste domingo (14/8), a belo-horizontina de 80 anos, primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, visitou o Instituto S�o Jer�nimo, mantido pela Associa��o de Prote��o � Inf�ncia e Assist�ncia Social (Apias) de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Ela � de casa, reencontrou amigas e ficou muito � vontade.
Na d�cada de 1950, Ad�lia foi uma das internas da institui��o fundada h� 81 anos por Maria do Carmo Moreira (1898-1989), conhecida como Dona Mariinha e chamada pelas primeiras jovens acolhidas de M�e Mariinha.
“Dona Mariinha me falou, certa vez, que nunca devemos desistir de nossos sonhos, e esse ensinamento moveu minha vida”, contou Ad�lia, que chegou a Santa Luzia na noite de s�bado passado, com um atraso de horas. Ao seguir para o aeroporto no Rio de Janeiro, onde mora, o carro em que estava bateu e ela perdeu o voo para Confins. Bem-humorada, brincou sobre o epis�dio: “Tudo tem emo��o ... e o importante � que emo��es eu vivi!”.
Residente na capital fluminense desde a adolesc�ncia, Ad�lia Sampaio veio a Minas a convite da Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia, que, junto � dire��o do Instituto S�o Jer�nimo, criou recentemente no casar�o da Rua Floriano Peixoto, no Centro Hist�rico, um espa�o cultural e memorial com retratos de algumas das centenas de meninas ali educadas.
H� tamb�m documentos, m�veis, livros e um painel com o retrato de Mariinha Moreira, natural da cidade e considerada benem�rita pela grande obra social que dirigiu durante quase cinco d�cadas.

Document�rio
Recebida pela presidente do instituto, Elizabete de Almeida Teixeira T�fani, e pelo presidente da Associa��o Cultural Comunit�ria, Adalberto Andrade Mateus, Ad�lia disse que a diretora de televis�o Denise Saraceni est� fazendo um document�rio sobre sua vida: “Pode ser que uma parte seja gravada aqui. Desta vez, n�o dava para vir com equipe de filmagem. Vim sozinha”.Os abra�os e beijos come�aram no Centro Cultural e Memorial Mariinha Moreira, onde se destaca um grande quadro da fundadora. A primeira a chegar foi a amiga de longa data Maria de Lourdes Soares Santos, de 87, acompanhada da fam�lia.
“N�s estamos sempre nos falando pelo telefone, nunca perdemos o contato. A �ltima vez em que nos vimos foi h� quatro anos”, explicou Lourdes, ressaltando que h� uma colega morando na Espanha. “Somos todas irm�s de cria��o”, resumiu.
“N�s estamos sempre nos falando pelo telefone, nunca perdemos o contato. A �ltima vez em que nos vimos foi h� quatro anos”, explicou Lourdes, ressaltando que h� uma colega morando na Espanha. “Somos todas irm�s de cria��o”, resumiu.
Feliz da vida, acompanhada das filhas, estava Geralda Alves da Rocha, de 78, residente em Belo Horizonte: “� uma alegria muito grande, o cora��o est� batendo forte”. Depois da visita ao memorial, o grupo seguiu para a capela do instituto, onde Ad�lia recebeu uma placa de boas-vindas e reconhecimento pelo seu trabalho.
“A hist�ria de Ad�lia � de supera��o. Mulher, pobre e negra, venceu muitas barreiras. Dona Mariinha Moreira fundou o S�o Jer�nimo para que as pessoas tivessem forma��es religiosa, moral e escolar. Foi pioneira, no estado, ao criar a obra social que nunca precisaria de verbas p�blicas”, destacou a presidente.
No seu agradecimento, Ad�lia Sampaio contou um pouco da trajet�ria. Era filha de uma empregada dom�stica e, diante das dificuldades enfrentadas pela m�e, que morava na capital mineira, foi levada aos 5 anos para o S�o Jer�nimo, ficando acolhida at� os 13.
Pouco antes, diante do port�o principal, ela se comoveu, ao recordar que as outras internas recebiam visitas, menos ela, o que a deixava angustiada, embora estivesse muito bem acolhida por dona Mariinha.
O motivo � que a patroa de sua m�e, � revelia dela, comprara o enxoval muito caro para a menina ficar no instituto, mas descontava mensalmente a quantia. Quando finalmente se reencontraram, e a menina Ad�lia quis saber se a m�e ainda gostava dela, teve como resposta que “o dinheiro do sal�rio nunca sobrava para fazer a visita e busc�-la”.
O motivo � que a patroa de sua m�e, � revelia dela, comprara o enxoval muito caro para a menina ficar no instituto, mas descontava mensalmente a quantia. Quando finalmente se reencontraram, e a menina Ad�lia quis saber se a m�e ainda gostava dela, teve como resposta que “o dinheiro do sal�rio nunca sobrava para fazer a visita e busc�-la”.
Aos 13, Ad�lia mudou-se para o Rio de Janeiro com a fam�lia, indo morar com sua irm�, que trabalhava em uma empresa distribuidora de filmes russos. L�, pela primeira vez, entrou em uma sala de cinema e assistiu ao filme “Ivan, o terr�vel”, de Serguei Eisenstein (1898-1948).
A partir da�, a futura cineasta desempenhou v�rias fun��es (continu�sta, maquiadora, c�mera, montadora e produtora) at� estrear como diretora, em 1979, com o curta-metragem “Den�ncia vazia”.
A partir da�, a futura cineasta desempenhou v�rias fun��es (continu�sta, maquiadora, c�mera, montadora e produtora) at� estrear como diretora, em 1979, com o curta-metragem “Den�ncia vazia”.

Espelho da vida
Em 1984, Ad�lia Sampaio lan�ou seu primeiro longa-metragem, “Amor maldito”, escrito por Jos� Louzeiro (1932-2017), com um conte�do bem transgressor para a �poca. No centro da trama, est� o amor entre duas mulheres, Fernanda, vivida por Monique Lafond, e Sueli (Wilma Dias).O filme � a deixa para Ad�lia falar sobre o poder da arte na luta contra o preconceito, o racismo e a homofobia. “O filme fala sobre a quest�o LGBTQIA+, � baseado numa hist�ria real. Fico feliz que a juventude, hoje, veja meus filmes, e que eu seja refer�ncia. “H� pouco tempo, durante um debate, uma jovem de 17 anos me disse que eu era uma refer�ncia para ela”, orgulha-se a cineasta, vi�va do jornalista Pedro Porf�rio (1943-2018), com quem teve dois filhos.
Entre os trabalhos de Ad�lia Sampaio, est�o seis curta-metragens, o document�rio “Fugindo do passado”, de 1987, sobre a ditadura militar, e o longa-metragem “AI-5 – O dia que n�o existiu” (2001), em parceria com o jornalista Paulo Markun. O �ltimo lan�amento, de 2018, � “O mundo de dentro”, com a atriz Stella Miranda.
OITO D�CADAS DE HIST�RIA
O Instituto S�o Jer�nimo, onde Ad�lia Sampaio passou sua inf�ncia, acumula oito d�cadas de hist�ria, com centenas de crian�as e adolescentes acolhidos ao longo do tempo e mais de 6 mil metros quadrados de �rea com equipamentos socioeducativos, alguns sob frondosas mangueiras.
Embora superlativos, apenas n�meros n�o conseguem traduzir toda a grandeza da entidade, mantida com a Creche Mariinha Moreira, pela Associa��o de Prote��o � Inf�ncia e Assist�ncia Social (Apias) de Santa Luzia.
Os ideais do S�o Jer�nimo, fundado em 20 de julho de 1941, refletem a inspiradora a��o de Mariinha Moreira, empenhada em criar uma institui��o capaz de abrigar crian�as em situa��o de vulnerabilidade, com respeito � dignidade humana. Segundo a dire��o da casa, algumas institui��es, nas �ltimas oito d�cadas, surgiram na cidade, mas nenhuma alcan�ou longevidade como o instituto.
Embora superlativos, apenas n�meros n�o conseguem traduzir toda a grandeza da entidade, mantida com a Creche Mariinha Moreira, pela Associa��o de Prote��o � Inf�ncia e Assist�ncia Social (Apias) de Santa Luzia.
Os ideais do S�o Jer�nimo, fundado em 20 de julho de 1941, refletem a inspiradora a��o de Mariinha Moreira, empenhada em criar uma institui��o capaz de abrigar crian�as em situa��o de vulnerabilidade, com respeito � dignidade humana. Segundo a dire��o da casa, algumas institui��es, nas �ltimas oito d�cadas, surgiram na cidade, mas nenhuma alcan�ou longevidade como o instituto.