
"Fisicamente, o m�sico n�o tem a mesma for�a, a agilidade do jovem. Mas a� voc� vem com a experi�ncia, compensando com t�cnicas novas de executar o instrumento. S�o 55 anos que toco violoncelo, ent�o � muito tempo de contato"
Antonio Meneses, violoncelista
Estar com sa�de, com os amigos e ainda mais fazendo m�sica. O que mais se pode esperar de um anivers�rio?
“E j� faz tempo que n�o passo o dia no Brasil”, comenta o violoncelista Antonio Meneses, que completa 65 anos nesta ter�a-feira (23/8).Ele comemora a data em Belo Horizonte, onde faz dois concertos nesta semana, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Hoje e quinta-feira (25/8), ele se apresenta com programas e forma��es distintos, dentro do projeto Festival de Maio. Com o nome de “Antonio Meneses & amigos”, os dois concertos homenageiam o m�sico n�o s� pelo anivers�rio, mas tamb�m por duas efem�rides em 2022: 45 anos desde que ganhou o primeiro pr�mio no Concurso Internacional ARD, em Munique, e 40 anos do primeiro pr�mio e medalha de ouro no Concurso Tchaikovsky, em Moscou.
Imigrante na Alemanha
Meneses, recifense de nascimento, criado no Rio de Janeiro – a fam�lia se mudou quando o pai, o trompista Jo�o Jer�nimo, entrou para a orquestra do Theatro Municipal –, j� vivia na Alemanha havia quatro anos quando participou da primeira competi��o de peso.
“Quando cheguei a Munique para o concurso, estava em uma situa��o de extrema pobreza. Na �poca, n�o imaginava que chegaria ao fim (da disputa). Pensei que faria a primeira e a segunda provas e voltaria para casa”, relembra.
De repente, viu-se sozinho, sem dinheiro, e com outras etapas pela frente. “Pedi dinheiro emprestado sem saber se poderia devolver”, revela. Ao levar o primeiro lugar – “pelo menos, na �poca, nunca tinha visto tanto dinheiro” –, viu a vida mudar.
“Os concursos s�o uma possibilidade (do m�sico em in�cio de carreira se destacar), mas n�o a �nica. Mas � claro que ganhando concursos importantes a visibilidade aumenta muito. S� n�o significa que as portas sejam abertas s� por isso, pois elas podem se fechar”, comenta.
A Europa, onde vive desde os 16 anos – est� radicado h� d�cadas na Su��a –, tamb�m significou o ingresso definitivo no cen�rio da m�sica erudita. “Dos 14 aos 16 anos, eu j� tocava profissionalmente no Rio, mas n�o definia a carreira. Quando fui para a Europa � que realmente resolvi me tornar o melhor poss�vel.”

Compromisso com os mestres
Ser um dos melhores violoncelistas do mundo, Meneses diz, n�o traz peso. “O que existe � certa responsabilidade, pois voc� est� tratando da m�sica dos maiores de todos os tempos. Ent�o busco elevar ao n�vel dos grandes mestres, com o m�ximo de respeito”, diz.
A experi�ncia traz seguran�a, mas n�o muda a vida. “Agora mesmo, estava estudando as obras que vou tocar esta semana. Estou sempre tentando me aprofundar”, continua.
A idade traz pontos a favor e contra. “Fisicamente, o m�sico n�o tem a mesma for�a, a agilidade do jovem. Mas a� voc� vem com a experi�ncia, compensando com t�cnicas novas de executar o instrumento. S�o 55 anos que toco violoncelo, ent�o � muito tempo de contato”, comenta.
Os dois programas desta semana contemplam a obra de Beethoven. A programa��o, que comemoraria, em 2020, os 250 anos de nascimento do compositor alem�o, foi feita na �poca da pandemia e teve de ser adiada. “Adicionamos Villa-Lobos (esta noite), j� toquei muitas vezes com a Celina (Szrvinsk, pianista e organizadora do Festival de Maio), somos um duo”, continua.

Homenagem a Francisca Aquino
Na quinta-feira, ainda haver� a pe�a “Nina”, da pianista brasileira Francisca Aquino. Morta em 2019, ela seria homenageada pelo Festival de Maio no ano seguinte, quando tudo foi interrompido em decorr�ncia da crise sanit�ria.A �ltima vez que Meneses veio a BH foi em outubro de 2021, para se apresentar com a Orquestra Filarm�nica de Minas Gerais. “Com orquestras, sou solista, ent�o ela me acompanha. Na m�sica de c�mara a participa��o � mais democr�tica”, acrescenta o violoncelista. Ele afirma que, por ter se dedicado � carreira de solista, h� muito do repert�rio de c�mara que nunca tocou.
“Desde Mozart e Bach aos grandes compositores do s�culo 20. Tamb�m na vida de solista n�o posso dizer que toquei todos os concertos para violoncelo e orquestra. Mas s� o tempo � que vai dizer se vou realmente fazer tudo.”
"O p�blico brasileiro sempre foi fiel, querendo n�o s� me ouvir, mas todos os grandes que v�m de fora. Nunca faltou p�blico. O que falta, por causa da pandemia, � relembrar que temos que voltar aos teatros, �s salas de concerto"
Antonio Meneses, violoncelista
Aposentando-se da universidade em 2023 (� professor titular de violoncelo na Bern Academy of the Arts, na Su��a), ele continuar� dando suas masterclasses mundo afora. E n�o quer reduzir, por ora, o n�mero de concertos, seja com orquestra ou de c�mara.
“N�o gosto de falar de n�meros, pois eles n�o significam absolutamente nada. O importante � o resultado de cada apresenta��o. Estou me preparando para uma turn� no Jap�o no ano que vem; a agenda na Europa continua.”
Tamb�m prosseguem as vindas regulares ao Brasil.“O p�blico brasileiro sempre foi fiel, querendo n�o s� me ouvir, mas todos os grandes que v�m de fora. Nunca faltou p�blico. O que falta, por causa da pandemia, � relembrar que temos que voltar aos teatros, �s salas de concerto. Nada que voc� veja na tela ou ou�a em disco ou no Spotify se compara com o ao vivo”, finaliza Meneses.
8º FESTIVAL DE MAIO
Com o violoncelista Antonio Meneses. Nesta ter�a (23/8) e quinta (25/8), �s 20h30, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas – Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Ingressos:R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). � venda na bilheteria e no site eventim.com.br
PROGRAMAS
HOJE (23/8)
>> “Septeto em mi bemol maior, op.20”, de Beethoven
Com Antonio Meneses, cello; Priscila Rato, violino; Cindy Folly, viola; Walace Maur�cio, contrabaixo; Iura Rezende, clarineta; Catherine Carignan, fagote; e Alma Liebrecht, trompa
>> “Cantilena das Bachianas Brasileiras nº 5” e “Bachianas Brasileiras nº 2", de Villa-Lobos
Com Antonio Meneses, cello; Celina Szrvinsk, piano
QUINTA (25/8)
>> “Serenata para violino, viola e violoncelo em r� maior, op. 8”, de Beethoven
Com Antonio Meneses, cello; Priscila Rato, violino; e Cindy Folly, viola
>> “Nina”, de Francisca Aquino
Com Antonio Meneses, cello; Jana�na Salles, cello; e Rosiane Lemos, piano
>> “Trio em si bemol maior, op.11”, de Beethoven
Com Antonio Meneses, cello; Iura de Rezende, clarineta; e Elisa Galeano, piano