
O longa-metragem “O debate”, que chega nesta quinta-feira (25/8) �s salas de exibi��o, � caso raro, praticamente �nico, na cinematografia brasileira contempor�nea. Foi rodado entre junho e julho para ser lan�ado em agosto sobre um evento em outubro. A estreia de Caio Blat, de 42 anos, na dire��o n�o poderia ser diferente.
Com roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, o filme acompanha o �ltimo debate das elei��es presidenciais de 2022. O ponto de vista n�o � o dos candidatos, mas de dois jornalistas que trabalham na emissora de TV que transmite o enfrentamento: Marcos (Paulo Betti), o editor, e Paula (Debora Bloch), a �ncora.
Discutindo a rela��o no est�dio de TV
Rec�m-separados depois de 17 anos de casamento, os dois, em meio � transmiss�o, passam a limpo a rela��o no fum�dromo da emissora. Amor e pol�tica, dois temas universais, v�m � tona na longa conversa do ex-casal no tempo presente e tamb�m no passado, por meio de flashbacks que acompanham a rela��o nos �ltimos dois anos e meio, desde o in�cio da pandemia.
As opini�es divergem o tempo todo – n�o s� sobre o casamento, mas tamb�m sobre �tica profissional e ideologia. A despeito das diferen�as e da dor da separa��o, conseguem manter o di�logo. Que �, no fundo, o que Blat deseja.
“Se o filme tiver o poder de mudar a cabe�a de algu�m, vai ser m�gico. Mas a proposta � mesmo de que as pessoas retomem o di�logo afetuoso, respeitoso e baseado na verdade. � uma utopia no Brasil. A gente tem que discordar de quem ama sem romper ou agredir ningu�m. Isso porque vamos continuar sendo vizinhos dos nossos vizinhos, parentes dos nossos familiares (ap�s as elei��es)”, afirma Blat.
"� um filme totalmente jornal�stico, 'raspando' na realidade, tentando interferir nos fatos"
Caio Blat, ator e diretor
Sem Lula e Bolsonaro
Em nenhum momento o filme cita Jair Bolsonaro (PL) e Luiz In�cio Lula da Silva (PT), os dois principais advers�rios nas elei��es deste ano. Mas n�o precisa. No embate na tela, o atual presidente, de direita, est� quase empatado com seu oponente, de esquerda. Com grande n�mero de eleitores indecisos �s v�speras do segundo turno, o encontro dos advers�rios pode definir os rumos do pleito.
Todos os temas do pa�s discutidos por Paula e Marcos fizeram parte da vida recente dos brasileiros, com �nfase para a pandemia. Lockdown, tratamento precoce, abertura das atividades econ�micas, os dois divergem em muitas quest�es.
Marcos tende a ser mais pragm�tico, enquanto Paula � mais inflamada. Al�m da crise sanit�ria, os dois conversam sobre fatos de cunho social, como porte de armas e direito ao aborto. O recente caso da ju�za que proibiu a menina estuprada de abortar � citado na hist�ria.
Em dado momento, mesmo que o vi�s da fic��o seja mantido, “O debate” leva o espectador a uma esp�cie de espelho de tudo o que vivemos (ou assistimos) nos �ltimos tempos. “H� v�rios anos, estou tentando dirigir e, neste filme, pol�tica e amor est�o completamente amarrados. A separa��o do casal reflete a separa��o do pa�s”, continua Blat.

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Caio Blat, ator e diretor
Leitura dram�tica em BH
“O debate” nasceu como texto para teatro. Amigos e parceiros h� d�cadas, Jorge Furtado e Guel Arraes sempre criaram roteiros conjuntos a dist�ncia – “A com�dia da vida privada”, “Caramuru – A inven��o do Brasil”, “Lisbela e o prisioneiro”, entre outros. O ga�cho Furtado vive em Porto Alegre; o pernambucano Guel mora no Rio de Janeiro.
Dos encontros virtuais di�rios nasceu o texto, publicado h� um ano em livro da editora Cobog�. Em fevereiro, “O debate” ganhou sua primeira montagem, com leitura dram�tica dirigida por Adyr Assump��o, no Galp�o Cine Horto, em BH. Eduardo Moreira e �ngela Mour�o interpretaram Marcos e Paula.
Caio Blat, na �poca, j� estava envolvido com a adapta��o cinematogr�fica. Logo no in�cio do projeto ficou acertado que o filme estrearia em 25 de agosto. “O objetivo do Guel e do Jorge sempre foi exibir o filme durante a campanha. Houve at� uma proposta de or�amento maior para o projeto, mas para lan��-lo depois das elei��es. Eles recusaram”, conta o diretor.
Para colocar o filme nas salas de cinema em tempo recorde, houve esfor�o coletivo de todos os envolvidos para que o projeto fosse vi�vel – eram pouco tempo e dinheiro. “O debate” tem apenas tr�s loca��es: a emissora onde os personagens trabalham, o apartamento em que vivem e o fum�dromo da reda��o.
VEJA trailer de "O debate":
As filmagens foram divididas entre o Rio de Janeiro e Juiz de Fora, onde fica a TV Diversa, emissora educativa onde est�o os est�dios e a reda��o retratados no longa. “Filmamos em uma reda��o funcionando, transmitindo o jornal local. Dessa maneira, � um filme totalmente jornal�stico, ‘raspando’ na realidade, tentando interferir nos fatos”, diz Blat.
O apartamento de Marcos e Paula � o pr�prio apartamento em que Blat vive com a mulher, a atriz Luisa Arraes, filha de Guel e Virginia Cavendish. J� o fum�dromo � o terra�o de um pr�dio no Centro do Rio, com vista para a Praia de Botafogo e o Aeroporto Santos Dumont.
Todo o processo de realiza��o do longa teve grande senso de urg�ncia. “Desde o momento em que recebi o convite para dirigir, fiquei alucinado, comecei a estudar e infernizar o Guel e o Jorge. Houve uma pesquisa grande, pois n�o se podia errar. Todos os monitores da TV que exibem not�cias de outros canais e pa�ses foram mat�rias (fict�cias) que tive de produzir antes de filmar. As vinhetas do jornal tamb�m foram criadas antes. Normalmente, a gente filmaria em cima da tela verde e depois incluiria as mat�rias. N�o tinha como. O filme foi um exerc�cio de coordena��o de departamentos para que tudo ficasse pronto em 60 dias”, acrescenta Blat.
Debora Bloch e Paulo Betti: guerreiros
Obviamente, houve percal�os no per�odo. A come�ar pelos protagonistas. Paulo Betti e Debora Bloch n�o foram as primeiras op��es. A uma semana do in�cio das filmagens, os atores que fariam os dois jornalistas foram diagnosticados com COVID-19.
“E eles estavam com a agenda presa com outros trabalhos. N�o dava para esperar que melhorassem”, conta Blat. Dessa maneira, Debora e Betti entraram para o filme, que � baseado, quase exclusivamente, nos di�logos, a poucos dias do in�cio das filmagens.
“Eles foram extremamente guerreiros, confiaram em mim e fizeram um trabalho de supera��o. O Paulo estava fazendo novela ao mesmo tempo e teve COVID no meio das filmagens. Ou seja, estava refletindo a realidade o tempo todo. Apesar do susto, a presen�a dos dois acabou sendo um grande acerto”, conta Blat.
Ainda que “O debate” seja um filme que reflita sobre o presente,o diretor acredita que a conversa que a hist�ria prop�e pode ir al�m do pleito.
“Mesmo depois das elei��es, os assuntos v�o permanecer no pa�s. O movimento de extrema-direita acontece no mundo inteiro, reflete o que j� aconteceu nos Estados Unidos, na R�ssia. O filme tem potencial para promover novos encontros e di�logos”, finaliza Caio Blat.
"O DEBATE"
(Brasil, 2022, 80min., de Caio Blat, com Paulo Betti e Debora Bloch) – Estreia nesta quinta-feira (25/8), no BH 9, �s 19h15 e 21h40; Cidade 7, �s 13h50 (somente dom) e 14h50 (exceto dom); Cidade 8, �s 19h55 (somente dom) e 20h45 (exceto dom); Del Rey 1, �s 13h50; Del Rey 6, �s 21h; P�tio 2, �s 13h (sab), 15h15 (quin, seg e qua); P�tio 3, �s 15h15 (sex e ter); P�tio 7, �s 13h20 (dom) e 18h15.