
Quando a COVID-19 chegou � Amaz�nia brasileira e uma tribo ind�gena fechou o acesso a seu territ�rio, o diretor Alex Pritz encontrou uma forma inovadora de concluir seu document�rio: ele entregou as c�meras aos pr�prios uru-eu-wau-wau. "The territory", que estreou no canal National Geographic na sexta-feira (19), acompanha a dif�cil situa��o de quase 200 ca�adores-coletores que vivem em uma �rea protegida de floresta, cercada e invadidas por grileiros e madeireiros agressivos e ilegais.
Embora no filme apare�am com trajes tradicionais e honrando os costumes ancestrais, os uru-eu-wau-wau e seu jovem l�der Bitate – protagonista do document�rio – ficaram mais do que felizes em utilizar a tecnologia moderna para sua defesa.
"Quando a COVID aconteceu, Bitate tomou a decis�o realmente ousada de dizer 'OK, sem jornalistas entrando em nosso territ�rio, n�o h� mais cineastas, n�o h� mais Alex, n�o h� mais equipe de document�rios, ningu�m'", disse Pritz. "Precisamos ter uma conversa com ele, algo como 'OK, n�s j� terminamos o filme? Temos tudo o que precisamos? H� algo mais? Devemos come�ar a editar?'".
"Bitate foi muito claro: 'N�o, n�o terminamos. Ainda temos muito por fazer. Voc�s n�o tinham terminado antes, por que deveriam terminar agora?. Basta nos enviar c�meras melhores, enviem equipamentos de �udio, e n�s vamos filmar e produzir a �ltima parte do filme'".
O resultado foi um "modelo de coprodu��o", no qual um uru-eu-wau-wau ficou respons�vel pela dire��o do filme e a comunidade em geral assumiu a produ��o, com participa��o nos lucros e voz nas decis�es comerciais sobre a distribui��o.
Al�m de permitir que as filmagens continuassem durante a pandemia, Pritz acredita que a decis�o de fornecer equipamentos e treinamento direto aos uru-eu-wau-wau beneficiou o filme ao adicionar uma "perspectiva em primeira m�o" sobre as atividades do grupo, que incluem patrulhas na �rea para impedir invasores.
"Eu filmei v�rias miss�es de vigil�ncia. Nenhuma entrou no corte final", disse Pritz. "N�o porque quer�amos transferir as filmagens... era mais cru, era mais urgente".
"Crian�as digitais"
Antes mesmo da chegada da equipe de Pritz, os uru-eu-wau-wau j� haviam se tornado adeptos do poder da tecnologia moderna e dos meios de comunica��o para defender sua causa, presentes no cen�rio global como guardi�es de uma floresta cuja sobreviv�ncia est� ligada a quest�es de mudan�as clim�ticas e biodiversidade."Bitate e esta gera��o mais jovem dentro do uru-eu-wau-wau s�o crian�as digitais. Ele nasceu no fim dos anos 1990. Ele est� no Instagram. E isso � parte de sua forma de relacionamento com o mundo", disse Pritz.
Segundo o diretor, quando os drones que registraram imagens impressionantes e angustiantes de um grande desmatamento aparecem no in�cio do document�rio, muitos espectadores imaginam que pertencem aos cineastas. Mas, de fato, as c�meras voadoras foram compradas e operadas pelos pr�prios uru-eu-wau-wau.
"Enquanto teria levado quatro dias para atravessar a p� as montanhas na floresta espessa e densa, com o drone voc� chega no destino em 30 minutos e tem imagens marcadas com metadados", explica Pritz. "As pessoas n�o podem argumentar contra isso".
Bitate e esta gera��o mais jovem dentro do uru-eu-wau-wau s�o crian�as digitais. Ele nasceu no fim dos anos 1990. Ele est� no Instagram. E isso � parte de sua forma de relacionamento com o mundo
Alex Pritz, diretor de ''The territory''
Crime na floresta
E este � um grande contraste com os grileiros, tamb�m personagens centrais do document�rio. O filme mostra um grupo no momento em que derruba e incendeia florestas sob prote��o, abrindo espa�o de maneira ilegal para rodovias em um territ�rio que um dia desejam estabelecer e reivindicar como pr�prio.O acesso foi poss�vel porque muitos grileiros se consideram pioneiros heroicos. Nas entrevistas com Pritz, eles falam sobre a abertura da floresta tropical para o bem da na��o. � uma mistura explosiva de cultura dos cowboys do "oeste selvagem" de filmes americanos e propaganda nacionalista alimentada pelo presidente Jair Bolsonaro.
"Eram pessoas ing�nuas que n�o entendiam o contexto hist�rico de suas a��es, as consequ�ncias ecol�gicas, o que estavam fazendo para o resto do planeta", disse Alex Pritz. Para os invasores, muitos deles sem educa��o formal ou qualquer outra oportunidade econ�mica, "era apenas sobre 'eu e o que � meu', 'apenas este pequeno lote', 'se eu conseguir apenas isto'".
"Bitate tem a perspectiva expansiva, ele est� pensando na mudan�a clim�tica. Ele est� pensando no planeta. Ele � politicamente experiente, orientado para a m�dia", afirma o cineasta.
Este ano, "The Territory" levou dois pr�mios no Festival de Sundance, nos Estados Unidos: preferido do mundo/document�rio mundial e pr�mio especial do j�ri. Tamb�m foi premiado em festivais internacionais na Filadelfia e em Seattle.